Tuesday, December 23, 2008

Um bom 2008

Pois bem, somos chegados ao final de 2008 e às vésperas da quadra natalícia. Como tal, não queria deixar de agradecer a quem vai visitando este pequeno espaço onde coloco as minhas diatribes e enviar-vos um grande bem-haja. Não queria também deixar de agradecer a quem me vai incentivando a continuar a escrever e a todos aqueles que perdem um bocadinho do seu tempo a comentar o que escrevo.

Que 2009 seja um bom ano para todos e que os posts futebolísticos não parem de surgir - são os meus desejos para os leitores deste blog.

Até breve,
Vasco

Wednesday, December 10, 2008

O silêncio, finalmente

Foram necessárias onze longas jornadas para não ver as parangonas habituais nos jornais desportivos sobre a arbitragem. Será que se deve ao facto de os três grandes terem ganho na mesma jornada...? Ou terá a arbitragem portuguesa renascido das cinzas num ápice? Com sorte, Bruno Paixão nem terá apitado nenhum jogo e terá deixado incólume a paciência de adeptos e jogadores. Pena é que não seja sempre assim. Para a semana, alguém virá novamente defender o "ano zero" da arbitragem e do sistema. Pela minha parte, aposto no(s) grande(s) que não vencer(em).

Saturday, November 29, 2008

Aragonés

Deparei-me agora com um texto anterior e volto a reforçar a minha ideia. A vitória da Espanha no Europeu poderá ter sido totalmente merecida, mas Aragonés continua igual a si próprio, deixando o perfume do seu futebol (ou a falta dele) por todo o lado onde passa. Até os menos capazes acertam...

Leõzinhos com as garras recolhidas

É muito estranho constatar que, no cúmulo dos dois jogos com o Barcelona, o Sporting encaixou nada menos do que nove golos. Sim, poderíamos aqui abrir um espaço para abordar todas as maravilhas do futebol dos catalães, para referir que já aplicaram várias vezes a famosa "chapa 5" a adversários ao longo desta temporada. No entanto, não deixa de ser curioso que um treinador tão afeiçoado à construção de uma equipa de trás para a frente, como é o caso de Paulo Bento, não consiga ter um remédio para pelo menos estancar a hemorragia, aparentemente.

Independenetemente de todos os méritos tácticos e técnicos do Barcelona, os leões pareciam completamente adormecidos, apáticos e desinteressados. E isso começa a ser já uma regularidade assustadora no onze do Sporting - e, para mim, pelo menos, totalmente imprevista. Não sei até que ponto a constante instabilidade emocional de Paulo Bento na sua relação com os árbitros e questões afins se imiscuiu no balneário ou se há egos a mais à espera da (suposta) contratação por um tubarão europeu. Seja como for, é difícil conquistar títulos quando se anda constantemente a recuperar de desvantagens.

"Nem tão maus antes, nem tão bons agora"

Acabei agora mesmo de ler esta frase de Jesualdo Ferreira. Mesmo não sendo um dos maiores defensores do treinador do FC Porto, reconheço sem qualquer problema que era um homem com quem gostaria de ter uma conversa franca e aberta, sem os subterfúrgios de quem o quer apanhar num qualquer mal-entendido ou de quem não quer deixar entrever nada do que de menos bom se possa passar na sua casa. A sua frase de hoje serve-me de leitmotiv para escrever sobre o momento do FC Porto. Depois de um início de época algo tremido (as famosas três derrotas consecutivas com Dinamo de Kiev, Naval e Leixões, para além da copiosa derrota no terreno do Arsenal), a equipa azul e branca conseguiu por fim encontrar o seu rumo. Ainda longe de encantar os espectadores com o seu futebol (como aconteceu em alguns momentos da época passada), o plantel do Dragão já começa a dar sinais de outra atitude, acima de tudo.

Creio que uma justificação (forçosamente simplista) incluirá dois pontos fundamentais: o tempo e a estabilização. O primeiro ponto é algo que raramente existe no futebol, especialmente o português, pois esperamos sempre que o nosso clube, seja ele qual for, seja capaz de espezinhar todos os adversários - nacionais e europeus - em menos de um fósforo. Não queremos esperar por uma melhoria constante, pela integração de novos jogadores (muitas vezes, jovens), pela eventual alteração do modelo de jogo no caso da partida de um jogador fundamental na época anterior. Em contraponto, tenho de louvar os dirigentes das SAD dos três "grandes", pois todos eles foram capazes de resistir à tentação face a resultados extremamente pesados que todos eles sofreram ao longo dos últimos dois meses.

O segundo ponto terá necessariamente a ver, na minha opinião, com a estabilização do onze titular. Jesualdo conseguiu por fim reencontrar o seu caminho (parecendo estar muito tempo, talvez demasiado, transviado em relação aos seus princípios fundamentais), assentando cada vez mais numa equipa-tipo, com uma ou outra hesitação. Seja como for, a equipa parece agora muito mais identificada com o modelo de jogo que o treinador pretende implementar e já nem a saída de Lucho é capaz de impedir uma das melhores exibições da época do FC Porto, em pleno inferno turco.

Gostaria no entanto de alertar para algumas fragilidades dos dragões:
  • Rodríguez continua a não conseguir mostrar todos os argumentos que o notabilizaram na Luz. O jogador uruguaio, com efeito, continua a debater-se com enormes dificuldades para mostrar todo o seu potencial, em grande parte por jogar demasiado encostado à linha e por raramente ter liberdade de aparecer de frente para os seus opositores, dificultando em grande medida o seu arranque.
  • Hulk continua a ser o exemplo mais paradigmático de "besta/bestial". Tanto é capaz de reduzir os seus adversários a pó com a sua força e velocidade, como demonstra como é possível desperdiçar óptimas oportunidades de finalização ou de contra-ataque com o seu individualismo. Se o jogo na Turquia era à medida para as suas características, poucos jogos daqui para a frente contarão com um adversário tão voltado para a frente e tão desprotegido nas suas costas, o que nos leva ao terceiro ponto.
  • Sim, as famosas transições rápidas de Jesualdo têm funcionado melhor, sem dúvida. No entanto, o FC Porto raramente irá encontrar, ao longo do que resta da época, adversários tão adequados ao seu modelo de jogo. Na sua maioria, os azuis e brancos vão enfrentar equipas muito mais resguardadas, à espera do erro portista (que não tem sido raro, nesta temporada). As fragilidades do ataque continuado continuam à vista e por resolver. A ver vamos o que nos mostrará o jogo frente à Académica.
  • Lisandro. Creio que não faltará muito para podermos dar resposta a uma questão importante: custará mais dinheiro ao FC Porto aumentar o salário de Lisandro ou não o aumentar?

O Benfica

Antes de mais uma ronda, tinha intenção de escrever um texto elogioso para com Quique Flores. Infelizmente, não me tem sobrado muito tempo para ver futebol, quanto mais comentá-lo. Seja como for, cheguei à conclusão de que este texto faz ainda mais sentido hoje, dois dias depois da pesada derrota do Benfica na Grécia (declaração de honestidade: não vi o jogo de quinta-feira e, como tal, posso não partilhar da revolta de muitos dos que puderam ver a suposta "tragédia" em directo).

Quique é um bom treinador. Mais, creio que é o treinador de que o Benfica precisa. Na verdade, creio que é o treinador (ou, pelo menos, um dos treinadores) de que Portugal precisava. É equilibrado no que diz, mostra-se sempre cortês, não perde as estribeiras, não se deita a lançar críticas aos árbitros, ao "sistema", à federação, à liga e a tudo o mais que esteja minimamente relacionado com o futebol quando perde. Pelo contrário. Assume sempre as suas responsabilidades e vai dando inúmeras pistas que vão permitindo vislumbrar para onde quer ir - tanto a nós, meros espectadores, como aos jogadores. Tinha aqui escrito, no início da época, que Quique tinha tudo para ser um dos melhores treinadores do Benfica, assim lhe dessem tempo. Pessoalmente, continuo a achar o mesmo, passados alguns meses. A equipa encarnada pode ainda não ter futebol suficiente para ombrear com os melhores da Europa, mas tem pelo menos algumas metas e objectivos definidos. E isso é sem dúvida um excelente ponto de partida.

Deixo apenas um ponto para reflexão: Alex Ferguson, por muitos considerado um dos melhores treinadores do mundo, não foi capaz de conquistar qualquer troféu durante os seus primeiros quatro anos. Até que ponto Ferguson não estaria no desemprego, se trabalhasse em Portugal? Se o Manchester United não tivesse tido paciência e a noção de que tinha feito a escolha acertada para um futuro mais alargado do que o mero resultado do fim-de-semana, os portugueses poderiam ter perdido a melhor versão de Cristiano Ronaldo.

Bola de Ouro para Ronaldo, já!

Depois de ver os três últimos jogos de Cristiano Ronaldo, venho juntar-me às vozes que reclamam a eleição do 7 do Manchester United como o melhor jogador do ano (essencialmente, as várias vozes de Ronaldo em todos os meios de comunicação onde lhe permitem reivindicar o direito exclusivo aos três primeiros lugares). Se essa for a solução para começar a passar a bola, saber ouvir os assobios dos adeptos e não levar a peito qualquer toque ou gesto de adversários, parece-me óptimo. Se essa for também a forma de a imprensa - desportiva e não só - deixar o assunto morrer em paz, tanto melhor. Pela minha parte, digo com toda a convicção: Bola de Ouro para Ronaldo, já!

Wednesday, November 12, 2008

Hulk, o indescritível

O FC Porto venceu o Sporting na mais recente eliminatória da Taça de Portugal, em grande parte graças ao golo de Hulk, titular pela primeira vez na principal equipa do FC Porto (já o tinha sido na Taça, frente ao Sertanense). Se é indesmentível que foi o seu golo que permitiu que o FC Porto marcasse quando nada o fazia prever, pois o colectivo portista não funcionava de todo, é também inequívoco que Hulk continua a exagerar no individualismo, levando quase à loucura os seus companheiros. Se é verdade que pode resolver um ou outro jogo, a probabilidade é que complique em maior número do que aqueles que irá resolver. Como se deverá abordar um jogador com estas características? E como se deverá aproveitá-lo...?

Portugal na UEFA

Graças às maravilhas da tecnologia, pude ver na passada quinta-feira os dois jogos das equipas portuguesas na Taça UEFA. Braga e Benfica tinham a oportunidade de completar o ramalhete de pontuação, depois das vitórias de FC Porto e Sporting nos dias anteriores. Dos dois, a equipa arsenalista era a que tinha uma missão mais difícil, quase hercúlea, ao defrontar o todo-poderoso AC Milan em pleno San Siro. Curiosamente, foi de longe a equipa que melhor se cotou. Ancelotti fez o que costuma fazer nestas ocasiões, mudando o onze titular qualquer por completo. Pirlo, Nesta, Maldini, Seedorf, Ronaldinho, Ambrosini e Abbiatti foram todos relegados para o banco ou para a bancada, inclusive. O Braga, por seu turno, entrou com a equipa mais ofensiva que Jesus costuma colocar a jogar, com Vandinho na parte de trás do losango, Luís Aguiar na frente e César Peixoto e Alan nas alas, com Rentería e Meyong.

Digamos apenas que nunca uma equipa portuguesa terá tido uma oportunidade tão atractiva para pontuar ou quiçá vencer em San Siro (sim, estou ao corrente das vitórias do FC Porto em 1978 e 1996). O Braga jogou de igual para igual com o seu adversário, olhos nos olhos, e foi-lhe superior em muitos momentos, na verdade. Não fosse Rentería e a sua já proverbial repulsa pelos golos, o Sporting de Braga poderia ter trazido na bagagem um resultado histórico. Bateu-se com valentia, mostrando a todos que é possível explorar as fraquezas de todos os adversários, chamem-se eles Milan ou Artmedia. A equipa bracarense perdeu, sim, mas com toda a dignidade, tendo sido abatida apenas no último minuto com um lance de génio de Ronaldinho. Jorge Jesus pode ter perdido, mas percebeu que não precisa de se esconder de ninguém nem de ter vergonha da sua própria equipa. Ao contrário do costume, tive orgulho em ver uma equipa portuguesa na UEFA.

Se ao menos houvesse mais gente assim no país, talvez conseguíssemos fazer entender que somos tão bons ou melhores do que quem nos rodeia - apenas vendemos pior aquilo que fazemos.

Da arbitragem

Sim, tinha dito no primeiro post deste blog que não se falaria aqui de arbitragem. Sim, acho que se perde tempo incontável a discutir pormenores irrelevantes e a fazer uma contabilidade que nunca leva a lado nenhum. E depois, esquecemo-nos de abordar aquilo que interessa mesmo: a incompetência.

Bruno Paixão é um árbitro inolvidável. Regra geral, nunca sei quem são os árbitros dos jogos, porque não preciso de ter os penalties não marcados pelos juízes como pretexto pronto a lançar para justificar resultados. Posto isto, há um árbitro que me tira do sério: Bruno Paixão. Um pouco à imagem de Mariano González (ver texto mais abaixo), não deixa de ser curioso como Paixão continua a ser solicitado para jogos de tamanha importância. Em Alvalade, não marcou penalties, forçou expulsões, não mostrou cartões durante uma parte inteira, para depois os exibir como se estivesse possuído por uma qualquer força exterior. E, no entanto, o orgão responsável pela arbitragem vem dizer que nada se passou de errado e, com sorte, o mesmo árbitro há-de estar presente num jogo da próxima jornada. Quantas vezes é preciso ser-se medíocre (a roçar o muito mau) para se ser considerado incompetente ou para se descer de categoria, pelo menos?

Do jeito

Há jogadores de futebol que não tenho bem a certeza como terão chegado a profissionais. É óbvio que há jogadores com mais ou menos inclinação para a modalidade, com mais ou menos técnica, mas, geralmente, compensam a falta de técnica com outros atributos. Por exemplo, os ingleses estão longe de serem os reis do domínio do esférico, como toda a gente sabe, mas ninguém os supera no que toca ao empenho e dedicação à causa. Se os defesas-centrais britânicos são lentos, são por outro lado duros e impiedosos.

Vem isto a propósito de Mariano González. Como dizia no início, há jogadores de futebol que não tenho bem a certeza como terão chegado a profissionais. Mais, não sei sequer como conseguiu chegar a um clube de primeira divisão da Argentina, ser transferido para Itália, jogar por empréstimo no Inter (!) e ter um clube português a pagar 4,5 milhões de euros pelo seu passe.

Reconheço sem qualquer hesitação que Mariano é um jogador esforçado, inteligente e honesto - coisa rara no futebol dos dias de hoje. No entanto, isso não faz dele um bom jogador de futebol. Jesualdo já tentou colocá-lo a jogar em todos os lados em todas as competições, à espera de uma qualquer epifania, mas creio que o que é demais é erro. Mariano não é rápido, não finta, não é tecnicista, não é um bom recuperador de bolas; na verdade, passar a bola ao destinatário correcto no momento certo é já por vezes um desafio.

É mais do que natural que haja futebolistas deste calibre. Só não consigo compreender como chegam a um clube de segunda linha do futebol europeu - como funcionará afinal o departamento de prospecção...?

Thursday, November 6, 2008

A confirmação

É muito bom ver o Sporting nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Na sua terceira presença consecutiva nesta competição, o Sporting voltou a melhorar o registo da época anterior, tal como havia feito na última edição da Liga milionária. Mais, os leões têm-se revelado mestres e senhores do 1-0. Se é verdade que não estão a lograr fazer exibições de encher o olho (as assistências são o reflexo disso mesmo), é indiscutível que a equipa de Paulo Bento tem sabido crescer com o tempo e com os jogos efectuados. Mesmo descontando o facto de o grupo em que os verde e brancos estão inseridos ter uma qualidade abaixo da média, excepção feita ao Barcelona, não é menos verdade que é frequente ver as equipas portuguesas desperdiçarem excelentes oportunidades de passarem às fases seguintes. Como tal, é de louvar a luta, o carácter e persistência de Paulo Bento e da sua SAD.

Continuo a achar que a equipa leonina foi a que melhor se apetrechou no defeso e que é a que mais hipóteses tem de chegar ao título nacional. Para além disso, conseguiu juntar a essa capacidade a vontade de lutar por algo mais, na Europa. Creio que estará na altura de o clube de Alvalade abandonar de vez os seus queixumes das limitações de orçamento, pois creio que se tem vindo a provar que muito dinheiro não equivale necessariamente a muitos títulos.

Gostaria por fim de deixar uma palavra de apreço ao treinador do Sporting e à sua SAD. Ao primeiro por saber que caminho pretende trilhar, com que jogadores e de que forma. À segunda, por ter sabido não desistir do seu treinador, antes o apoiando sempre nas alturas mais difíceis. Creio que este apuramento é também fruto dessa estabilidade. E, num ápice, o Sporting passou de equipa em crise a equipa que dá passos seguros e decisivos. As maravilhas do mundo da bola...

Um balão de oxigénio

O FC Porto venceu nos derradeiros instantes do Dínamo de Kiev. A vitória em si, bem como todas as consequências que encerra, foi caída do céu. Em apenas vinte minutos, a equipa portista passou de uma hipotética quarta derrota consecutiva ao que já se apelida agora de "fim da crise". Pessoalmente, não creio que uma equipa possa de um momento para o outro passar de uma situação de crise para o patamar a que deveria pertencer.

Não obstante tudo isto, a vitória foi um alívio, não só pelo resultado em si, mas também pela forma como aconteceu - depois de mais uma bola no ferro enviada por Raúl Meireles, de o adversário marcar primeiro na primeira vez que foi à baliza de Helton (Jesualdo deixou finalmente a sua teimosia no banco), de o Dínamo ter enviado também uma bola ao mesmo poste, etc. Num ápice, os jogadores azuis e brancos passaram a estar convencidos de que a sorte voltara (Hulk até havia feito dois passes durante o jogo!). Esse alívio, essa remoção da frustação acumulada ao longo de uma semana e meia terrível, foi notório na expressão de Jesualdo na entrevista e dos jogadores quando ainda estavam em campo - abraçados, aos saltos, de braços apontados aos céus, como que a agradecer a divina mudança do vento.

Posto isto, continuo a não me desviar muito do que achava. A vitória de ontem foi extremamente importante, mas a crise não está (não poderá estar) ultrapassada - independentemente do resultado de Domingo, frente ao Sporting. O FC Porto continua com falta de soluções a vários níveis, apesar de ontem se ter aproximado bastante do onze que deverá ser titular nos próximos jogos, com a eventual alteração de Tarik por Tomás Costa. Pode ser que, deste modo, os dragões consigam fazer o que não conseguiram até aqui: estabilizar o seu modelo de jogo.

Gostaria por fim de destacar dois jogadores. O primeiro é Pedro Emanuel. Não tanto pelo que jogou, mas sim pela atitude e raça que emprestou à equipa, mostrando como jogar e explicando ao nível prático o que era a mística. Numa defesa tão volátil e necessitada de uma voz de comando, Pedro Emanuel fez aquilo que tão bem sabe fazer: entregou-se ao jogo, lutou, mesmo estando fora do seu habitat natural, e defendeu. O segundo jogador que gostaria de realçar é Pelé. Se Fernando tem cumprido muito razoavelmente com as suas obrigações, manifesta algumas limitações (o jogo de ontem evidenciou-as por demais) ao nível ofensivo e do controlo de bola. Após a entrada do ex-jogador do Inter, o FC Porto conseguiu ter alguém capaz de recuperar a bola e lançar contra-ataques através de passes longos, deixando de obrigar Raúl Meireles ou Lucho a recuarem para fazerem as chamadas transições rápidas. Da boa integração e desenvolvimento de Pelé (e de Tarik, já agora) poderá depender o futuro da equipa e do treinador a breve prazo.

Tuesday, October 28, 2008

O mister

Os treinadores portugueses conseguem juntar o melhor e o pior. Como pior, vem-me imediatamente à cabeça a exibição do Guimarães no jogo fora contra o Portsmouth. Três centrais, dois trincos, equipa sempre atrás da linha da bola, libertando dois/três homens na frente quando tinham a posse de bola. Em pouco tempo, viram-se a perder por dois zero. Foi então que Cajuda (não tão mau como se diz, mas de longe não tão bom como se possa imaginar) resolveu apostar tudo e voltar a jogar normalmente. Resultado? O Vitória dominou o resto desse jogo e nunca mais o Portsmouth conseguiu fazer o que vinha fazendo até então.

No jogo da segunda mão, já com nada a perder, o Vitória agigantou-se, como é típico das equipas lusas, e partiu para cima do adversário. Conseguiram empatar surpreendentemente a eliminatória, mas, quando era novamente necessário, tremeram as pernas e sofreram dois golos. Faltou, como sempre, o chamado "killer instinct". Quantas vezes vimos esse cenário no campeonato português...?

Como melhor, é impossível não me recordar instantaneamente da copiosa derrota inflingida por Jorge Jesus e o seu Braga ao mesmo Portsmouth. 3-0 foi o resultado desse encontro, tendo Jesus tido no fim a enorme coragem de dizer aquilo que alguns de nós pensam mas têm medo de dizer: os treinadores ingleses (por exemplo) são muito básicos e fáceis de entender. É absolutamente evidente que, regra geral, têm equipas muito melhores, mas os treinadores portugueses em nada ficam atrás.

Perdão, não é bem assim. Precisamos quase sempre do estigma de "coitadinhos" para conseguirmos elevar-nos ao nosso estatuto. Precisamos que nos considerem "pequenos", precisamos de estar a fazer muitas contas, de dizer que o árbitro está contra nós por causa dos "grandes da UEFA", etc. É por isso que, para mim, a vitória do Braga foi tão importante - pode ser que, a partir de agora, as equipas portuguesas não tenham medo de olhar as equipas dos outros países como papões, porque, na verdade, não o são. Têm pontos fracos, como todos os plantéis. Têm jogadores menos bons. Têm terrenos e estilos de jogo onde se sentem pouco à vontade. Avancemos para cima dessas fraquezas, mesmo que o adversário seja de peso. Se não arriscarmos, nunca conseguiremos vencer.

Gostaria apenas por último de destacar José Mota. Se Mota fosse italiano, estaria na Roma ou na Fiorentina. Pouco adepto de futebol defensivo, mas obrigando as suas equipas a defender com uma enorme intensidade e levando os seus jogadores a crerem que são muito melhores do que na realidade são, Mota consegue fazer das suas equipas um adversário que ninguém deixa de temer, mesmo quando jogam fora. É óbvio que o FC Porto atravessa um momento complicado, que o Leixões teve alguma sorte em marcar um golo logo a abrir, mas teve o enorme mérito de saber defender longe da sua baliza, de não perder de vista o objectivo de atacar sempre que possível e de explorar as fraquezas do adversário (Mariano na esquerda do FC Porto? Zé Manel na direita do ataque do Leixões). Num repente, o Leixões esteve mais perto de golear do que de sofrer.

Houvesse mais treinadores assim e o campeonato estaria obrigatoriamente nivelado por cima.

Queiroz e a Selecção

A Selecção Nacional está a um pequeno passo de não ser sequer apurada para a fase final do Mundial de 2010, na África do Sul. Creio que estamos perante um facto indiscutível. Queiroz está longe de obter os resultados que se exigiam. Creio que estamos perante um facto indiscutível. A culpa é toda do seleccionador nacional. Pessoalmente, esta última afirmação parece-me menos incontestável.

Não querendo detalhar em demasia a minha opinião, gostaria contudo de enumerar um ou outro ponto. Em primeiro lugar, a já habitual comparação entre Scolari e Queiroz está a ser tudo menos justa, uma vez que se ouve muitas vezes como Scolari quase foi campeão da Europa ou quase foi campeão do Mundo ou quase vencia a Alemanha e passava às meias-finais. Scolari está para mim ao nível dos treinadores como João Vieira Pinto ao nível dos jogadores. Ambos eram bons no que faziam, mas não conseguiram passar de "figuras quase". Sim, sei que tanto um como outro ganharam títulos, mas até Tiago ou Capucho têm o título da Taça UEFA no seu palmarés.

Vencer um título não é fácil, mas consegue-se. Vencer muitos ao longo de uma carreira de forma consistente é significativamente mais difícil. Não querendo de todo pôr o trabalho de Scolari em causa (é indiscustível que o treinador brasileiro conseguiu incutir muito mais alma a uma selecção que, não raramente, sente tanta falta de estímulos positivos), custa-me um pouco ouvir apenas maravilhas do seu trabalho.

Scolari foi o mesmo que quase não conseguia o apuramento para o último Europeu. É o mesmo que toda a gente assobiava (à imagem do que acontece agora com Queiroz) nos jogos de preparação para o Euro 2004 e que toda a gente apupou quando Portugal perdeu o jogo inicial contra a Grécia. Scolari teve cerca de uma dezena de jogos para rotinar a equipa e, mesmo assim, só mudou tudo na segunda jornada de grupos do Euro 2004. Scolari teve a sorte e o condão de aproveitar o núcleo duro do FC Porto campeão europeu. Senão, vejamos como os seus resultados foram caindo sucessivamente à medida que esse núcleo duro se ia desfazendo. Perguntemo-nos por que razão Ronaldo não tinha de longe o aproveitamento na Selecção que demonstrava no seu clube ou por que razão o treinador brasileiro nunca conseguiu vencer uma selecção que estivesse numa posição superior no ranking das equipas europeias.

Queiroz cometeu alguns erros, naturalmente. No entanto, se Portugal tivesse ganho a partida frente à Dinamarca, a Internet estaria neste momento inundada de comentários sobre as maravilhas de Queiroz face a Scolari - do desmantelamento do "clube dos 20 amigos" (Ricardo nunca mais se viu) à chamada de jogadores que mereciam pelo menos uma hipótese (de Danny a Eduardo, de Pedro Mendes a Antunes). Infelizmente para todos nós, perdeu esse encontro e empatou frente à Albânia. Resultados decepcionantes? Sim, sem dúvida, mas isso leva-nos ao segundo ponto.

Scolari veio revolucionar em parte o futebol da Selecção portuguesa. Num repente, toda a gente passou a considerar que o apuramento para as fases finais das competições de selecções era obrigatório (e muito bem, na minha opinião). No entanto, o investimento em Scolari e restante equipa levou a um desinvestimento óbvio no resto do edifício da selecção. De um momento para o outro, a formação - uma das principais características transversais do futebol português - quase deixou de existir. Em simultâneo com as grandes façanhas da selecção principal, as selecções mais jovens foram começando a desaparecer do roteiro dos torneios mais importantes (muitos lembrar-se-ão do fracasso do Euro 2007 de sub-21, organizado em Portugal ou dos sub-20 há dois anos). Com efeito, os jogadores jovens, já com tão pouco espaço no clube, deixaram de ter as condições e os incentivos que iam tendo até então nas selecções mais jovens em detrimento da equipa nacional.

Pessoalmente, creio que Queiroz está a fazer um pouco o contrário, ao tentar conciliar melhor essas duas vertentes - criar uma equipa competitiva sem com isso esmagar o desenvolvimento das camadas jovens. E é isso que lhe estão a cobrar: o adiamento da construção de uma equipa que tem de começar a vencer já (e Queiroz está ainda longe de ter conseguido encontrar uma equipa tipo) de modo a não hipotecar o futuro dos futebolistas portugueses que começam hoje a despontar nos seus clubes. Se Scolari não foi despedido antes do Euro 2004, numa altura em que toda a gente pedia a sua cabeça por não conseguir construir uma equipa fantástica com tantos jogadores de primeira linha, porque não dar algum tempo a Queiroz? E até que ponto seria assim tão prejudicial perder inclusivamente o comboio deste Mundial para conseguirmos ter um desenvolvimento sustentável nos anos vindouros?

Um Porto em lume brando

Desde a época de 2004/05 (a de del Neri, Fernandez e Couceiro, de má memória para os portistas) que o FC Porto não tinha tão poucos pontos para o campeonato. Estranhamente, tal não se deveu às deslocações que teve de fazer aos terrenos de Sporting e Benfica, onde por sinal até conseguiu empatar uma partida e vencer a outra. Pelo contrário, o resultado inclui um empate no terreno do Rio Ave e uma derrota em casa contra o Leixões. Pelo meio, vitória em Alvalade, empate na Luz, derrota estrondosa em Londres e em casa contra o Dínamo de Kiev. Em todos estes jogos, o FC Porto foi capaz de conciliar o melhor (a exibição na Luz foi muito bem conseguida, por exemplo) com o pior (a exibição de Londres é muito má e os sinais deixados nalguns outros campos não apontam para o melhor sentido).

É difícil, a tarefa de Jesualdo? Sem dúvida. Conseguir fazer uma equipa este ano terá sido das tarefas mais árduas da carreira do treinador portista. Ficar sem Bosingwa, Paulo Assunção e Quaresma no mesmo ano não é propriamente "pera doce", particularmente quando os substitutos são jogadores senão com menos valor, com um estatuto incomparavelmente menor.

Sapunaru está a atravessar um momento difícil, hesitando a atacar (logo, não dando profundidade a um sector já de si muito manco) e complicando a defender. A meio, quando se pensava que o substituto estava encontrado, e já depois de alguns elogios da praça pública e consequente renovação de contrato, eis que Fernando perde a titularidade. Paulo Assunção faz falta para dar ordem à equipa, algo que ninguém tem conseguido fazer melhor do que Fernando, para já. Na frente, alguns equívocos. Rodríguez virá ainda a dar frutos. É um jogador jovem, inteligente, mas a quem ainda falta alguma liberdade de movimentos e compreensão dos 4x3x3. Não obstante, tem sido por aí que o FC Porto tem canalizado o seu jogo, especialmente porque no lado direito não mora ninguém. Se, nos jogos grandes, Tomás Costa (uma excelente contratação) consegue fazer o lugar de extremo-direito para ajudar Sapunaru nas tarefas defensivas, nos jogos em que a iniciativa ofensiva pertence aos dragões, não há alternativas credíveis para o lado direito, um fenómeno tanto mais estranho quando essa foi a posição em que o FC Porto mais "despachou" jogadores.

Compreende-se mal que Farías nunca seja opção para Jesualdo, mas que Adriano, por exemplo, um jogador que já se relevou muito útil, não esteja sequer inscrito. Compreende-se mal que Tarik faça quase um jogo inteiro e desapareça da lista de convocados no seguinte. Compreende-se mal que se contrate Benítez, se mantenha Lino e se venda Cech, um jogador muito mais evoluído e inteligente. Por último, compreende-se mal que Hulk, ainda que dotado de uma força física notável, entre de supetão na equipa, quando é tão óbvio que está ainda muito longe de estar preparado, mental e tacticamente, para jogar no futebol europeu. Isto não significa que não possa vir a ser um bom jogador, num futuro próximo, mas, neste momento, contribui muito mais para a desorganização da equipa (ofensiva e defensiva) do que para bons resultados. Provas? Pense-se nos dois últimos jogos que o FC Porto efectuou, nos respectivos resultados e manobras ofensivas. Pessoalmente, vem-me um exemplo claro à memória. A partir do momento em que Jesualdo Ferreira tirou Rodríguez, não mais o FC Porto conseguiu criar espaços no lado esquerdo, lado pelo qual surgiram os dois últimos golos do Leixões (um dos quais mal anulado). Coincidência, porventura...?

O nível do campeonato

Ao fim de 6 jornadas, eis-nos com uma classificação no mínimo estranha, com Leixões e Nacional a liderarem o campeonato nacional, especialmente tendo em conta que os de Matosinhos já empataram com o Benfica e foram vencer ao Dragão. Gostaria muito de poder dizer que isto seria o aumento de qualidade de que todos estávamos à procura (especialmente desde a tão badalada redução do número de equipas para 16 e os supostos resultados miraculosos) - o propalado "nivelamento por cima". Infelizmente, não é o que se passa. Por mais que me agrade a perspectiva de os jogos terem neste momento uma maior dose de incerteza, não tenho bem a certeza de que isso seja necessariamente o reflexo de uma melhoria de qualidade quer do campeonato, quer das equipas nele envolvidas.

Por um lado, é mais ou menos incontestável que as equipas ditas "pequenas" estão bastante mais apetrechadas, quer ao nível das infra-estruturas, quer ao nível dos responsáveis técnicos e das qualificações destes. Ou seja, por si só, as equipas que lutam constantemente pela manutenção e pela Europa foram conseguindo encurtar distâncias face aos três crónicos candidatos ao título.

No entanto, não creio que essa seja a única resposta. Na realidade, creio que o nivelamento se rege bastante mais pelo andamento das equipas grandes - e estas têm vindo a perder sucessivamente poder de compra, sendo contudo obrigadas a manter as exigências. Senão, vejamos: nos últimos 5 anos, o futebol português perdeu Ronaldo, Quaresma (duas vezes), Simão (duas vezes), Anderson, Ricardo Carvalho, Deco, Nani, Boswingwa e Pepe, por exemplo, não falando de Maniche, Costinha, Nuno Valente, Paulo Ferreira, Derlei (agora regressado), Danny (o tal dos 30 milhões de euros do Zenit), entre muitos outros. Com efeito, nenhum dos três grandes foi conseguindo fazer frente à procura de novos talentos e à venda dos seus melhores activos, em grande parte necessária para o equilíbrio das contas, uma vez que os clubes portugueses continuam sem saber como vender o seu produto - mas isso será tema para outra conversa.

Como conclusão, e porque as análises costumam ser bastante subjectivas, lanço apenas a questão dos resultados das equipas portuguesas nas competições europeias, em primeiro lugar. O Guimarães não conseguiu sequer chegar à Liga dos Campeões frente ao modestíssimo Basileia e muito menos logrou vencer o Portsmouth. O Setúbal foi copiosamente afastado por uma equipa do meio da tabela holandesa. Tanto FC Porto como Sporting foram absolutamente dizimados no reduto do cabeça de série do respectivo grupo e manifestam algumas dificuldades. Do lote, creio que apenas o Braga conseguiu remar contra a maré e aplicar "chapa três" a uma equipa com um orçamento várias vezes superior ao seu. Em segundo lugar, gostaria apenas de referir que, neste momento, as equipas portuguesas têm três saídas: contratação de jogadores de créditos mais ou menos firmados, mas em sentido descendente (Reyes ou Aimar, por exemplo), investimento claro e assumido nas camadas jovens e tentativa de máxima rentabilização e contratação de jogadores (ainda jovens) dos mercados de segunda e terceira linhas na esperança de descobrirem "pérolas" no meio da areia antes dos tubarões europeus. Com estes pressupostos, é difícil fazer uma equipa, quanto mais mantê-la.

Tuesday, September 16, 2008

Richard Wright

Um pequeno parêntesis que nada tem a ver com futebol, mas que se revela muito mais importante para mim, neste momento.



Sempre que alguém como Richard Wright morre, o mundo fica um pouco mais pobre. Um homem com um vastíssimo conhecimento musical (e não só), com uma enorme sensibilidade estética - tanto mais impressionante quando sabemos que foi um auto-didacta durante muito tempo - e sempre reservado é uma pérola, especialmente nos dias que correm. Sempre mais preocupado em fazer música do que em reclamar o mérito de quem ou o quê representava os Pink Floyd, como diz David Gilmour no seu comunicado, Wright distinguiu-se como teclista dos Pink Floyd, mostrando que, muitas das vezes, não nos apercebemos das maravilhas que acontecem quando não estamos a olhar (neste caso, a ouvir). Não podendo ser propriamente elevado à categoria de génio, era um artista extremamente subvalorizado que, pessoalmente, me marcou para sempre.

Dúvida existencial

Se há coisa que não compreendo nem consigo conceber é como é que um treinador (neste caso, Casemiro Mior) é capaz de afirmar, dois meses depois do início oficial da época, que, se calhar, ainda não encontrou a melhor táctica e, por isso mesmo, ainda anda a experimentar todas as soluções possíveis para ver qual delas é a melhor. Este é, na minha opinião, o principal problema de muitos treinadores. Ao deixarem-se levar pelo modo como as coisas sempre foram feitas, esqueceram-se de que o futebol mudou radical e velozmente nos últimos anos. Ao insistirem em pré-épocas quase sem treino táctico, perdem tempo precioso que poderia ser aproveitado a exercitar mecanismos que se aplicassem ao jogar pretendido pelo treinador. Ao invés, os treinadores convecem-se de que haverá sempre tempo para se irem afinando esses mecanismos. De que interessa o físico se os jogadores não souberem ao serviço de que esquema táctico o irão utilizar? O estilo de jogo, as nuances tácticas - tudo isso afecta sobremaneira a forma, o momento e necessidades físicas da equipa.

The Champions

Tem hoje início mais uma edição da Liga dos Campeões. Por mais que os campeonatos nacionais se possam assumir como barómetros das equipas a nível interno, é no cenário europeu que todas as equipas participantes na prova máxima da UEFA querem provar o seu valor. Pessoalmente, para mim começa hoje a época propriamente dita. Acabaram-se as desculpas do pouco tempo do treinador à frente da equipa, o período de adaptação das novas contratações - tudo. A partir de hoje, todos querem saber de resultados. O que nos ditará o futuro?

Espero honestamente que as equipas portuguesas consigam fazer melhor figura do que no ano passado e que seja desta feita que o Sporting consegue transitar para os oitavos-de-final, para que o prestígio do futebol português continue a aumentar e, em última análise, para que as equipas portuguesas sejam cada vez mais colocadas em xeque, de modo a que alguns dos corpos mais estranhos e nocivos do nosso futebol sejam removidos (de forma permanente, esperamos).

Monday, September 8, 2008

A minha verdade, também

Luís Sobral, editor do MaisFutebol, manifesta no texto abaixo apresentado várias opiniões que se aproximam em grande parte da minha própria visão do mundo futebolístico. Na verdade, tento alhear-me destes pontos negativos, embora reconheça que, quando leio e ouço alguns comentários, dos quais tento alhear-me, penso se será possível apreciar o futebol em estado puro, conforme diz o título deste blogue. A ler com atenção.



Os maus sinais do costume
Luís Sobral

O campeonato português começou com os maus sinais do costume.


Nas duas primeiras jornadas, o cenário foi este: poucos golos, jogo sofríveis, muitos cartões, mais faltas, um sumaríssimo e um adepto que entrou em campo para agarrar um auxiliar, em pleno clássico.


Sim, também houve bons golos. Quatro ou cinco. Bons, mas nenhum inesquecível.


Os comentários do Maisfutebol são um barómetro razoável da realidade: a maior parte dos adeptos que frequentam o jornal e deixam a sua opinião mostram disponibilidade para analisar (estou a ser simpático...) os casos. Mas falta-lhes a paciência para elogiar os grandes momentos. Discorda? Faça um exercício. Procure as crónicas dos jogos do Leixões, da Académica e do Paços de Ferreira, por exemplo. Veja quantos assinalaram os grandes golos de Garcés, Zé Manuel ou Zé Pedro ou quem foi capaz de reconhecer o feito de William.



Não conheço todos os adeptos de futebol, claro. Mas os que comentam aqui, mais os que são ouvidos nas televisões e os que encontro nos cafés são, de uma forma geral, duvidosos apreciadores do jogo. Entusiasmam-se com o seu clube. Criticam o adversário. E por aí fica o seu entendimento do jogo.



Quando chegam aos estádios (e é justo referir que a maior parte das pessoas que assiste a jogos de futebol o faz pela televisão, não participando no acontecimento ao vivo), estes adeptos reproduzem aos gritos o seu modelo de análise (para voltar a ser simpático).



Com a aprovação das massas, treinadores, jogadores e dirigentes mantém a sua estranha forma de estar no futebol.



Olhemos para o mercado, por exemplo. Que justificação existirá para um clube trocar, de uma época para a outra, dez, 15, até 17 jogadores? O bom senso manda responder nenhuma. Mas na realidade isso acontece.



A troca incessante de jogadores e treinadores acentua a insegurança de quem tem de montar uma equipa e dificulta a identificação dos adeptos com aqueles que os representam de camisola vestida no relvado.



Portugal é o país das desculpas tolas e o futebol um laboratório único. Num cenário em que tudo serve de justificação, tão importante como não perder é encontrar o culpado certo. O jogo, a qualidade do futebol, é um detalhe sem importância. No fundo, faz sentido. Há muito que os adeptos deixaram de clamar por bom futebol. Ganhar chega-lhes. Ou pelo menos não perder. ~



Lá bem no fundo, a maioria já ficaria satisfeita se pudesse entrar num relvado e satisfazer o secreto e cobarde desejo de apertar o pescoço a um árbitro. Nem que fosse só por um instante.



Pior que o nosso futebol só mesmo muitos dos adeptos que temos. Bem merecem os joguinhos fracos ao fim-de-semana.



PS: O que mais me irrita no futebol inglês é a estatística ao intervalo. Por exemplo o Tottenham. Vai a casa do Chelsea, chega ao descanso empatado 1-1 e comete apenas um, duas, no máximo três faltas. Como se isto fizesse algum sentido.

A hora do adeus

Ricardo Quaresma já não é jogador do FC Porto. Na verdade, já foi contratado pelo Inter de Milão há oito dias, no último dia do mercado de transferências de Verão. A análise pela perspectiva dos três lados.

  1. A perspectiva do jogador. Ricardo Quaresma já não estava no FC Porto. Na verdade, o próprio tinha assumido isso mesmo por diversas vezes de forma mais ou menos óbvia ao longo dos últimos meses em diversas entrevistas. Achava já ter ganho tudo no FC Porto e pouco mais ter a aprender e evoluir quer com Jesualdo, quer com uma equipa de segunda linha na Europa como o FC Porto. Cada um tem de tomar as suas opções e Quaresma tem de estar preparado para as suas consequências, sejam elas quais forem. Segundo o próprio, queria "voltar a um grande" e o clube azul e branco nem concebeu a hipótese de o colocar a jogar estando a sua cabeça noutro lugar que não dentro do balneário e dos objectivos do clube.
  2. A perspectiva do FC Porto. O clube português "livra-se", por assim dizer, de um jogador que estava a ameaçar tornar-se um foco de instabilidade para o balneário e para o treinador, acima de tudo. Se Quaresma ficasse, seria complicado tê-lo a jogar, o que implicaria algumas dificuldades na gestão do onze, uma vez que seria sempre difícil explicar a sua titularidade a jogadores mais envolvidos nos objectivos do clube, mas seria sem dúvida muito mais complicado colocá-lo no banco. Apesar de dois campeonatos ganhos, Jesualdo continua a não ser uma figura consensual no Dragão e bastariam um ou dois maus resultados para uma grande parte da massa associativa demonstrar o seu desagrado e falta de apoio. O clube obtém um receita razoável, ainda que longe dos números que Pinto da Costa adiantara, acreditando que Quaresma vai provar no Inter que o seu falhanço no Barcelona de Rijkaard se deveu a imaturidade e alguma falta de sorte. O FC Porto pode ter perdido o "mágico", mas ganhou consistência e regularidade.
  3. A perspectiva do Inter. Não, não vou afirmar que Mourinho é o único treinador que consegue pôr Quaresma "na linha". Por mais que Adriaanse não fizesse parte do meu rol de preferências, teve a audácia de mostrar claramente que Quaresma tinha de aprender a ser mais jogador de equipa, mais inteligente e menos egoísta. O jogador parece ter aprendido a lição, mas a sua atitude nos últimos meses estava longe de ser a desejada. Mourinho já mostrou ser capaz de aproveitar jogadores da melhor maneira (de Marco Ferreira a Jankauskas, de van Hooijdonk a Tiago, não esquecendo o exemplo óbvio de Joe Cole, em risco até 2004 de se confirmar como mais uma promessa sempre adiada do futebol inglês) e não perdeu tempo a mostrar a Quaresma os limites, afirmando que o jogador vai ter de se habituar a jogar onde o treinador quiser, nem que seja na bancada.

Conclusão: o FC Porto fez um negócio razoável. Apesar da venda por números relativamente baixos quando comparado com o que Pinto da Costa afirmara anteriormente, o clube português conseguiu resgatar Pelé (naquilo que me parece um bom negócio) e salvaguardar não só compensações financeiras em função do rendimento futuro do jogador, como também a garantia de que o jogador, a regressar para Portugal, apenas o poderá fazer para o FC Porto. Quanto ao Inter, terá de ver se o jogador está definitivamente empenhado em tornar-se um futebolista, e não um malabarista. Basta Quaresma olhar para onde poderia estar se se tivesse dedicado a ser um melhor jogador como Ronaldo o fez, sabendo que há uma altura para adornar, uma hora para arriscar e um momento para ser eficaz, simples e prático. Quaresma ainda não o sabe. Se Mourinho conseguir explicar-lhe essa simples realidade (que o jogador não estava interessado em apreender no FC Porto), poderá explodir em definitivo. Caso contrário, será mais um ilusionista, e nunca um mágico.

Porque os grandes também se enganam...

...quanto mais eu. Sou razoavelmente conhecido no meu meio por não ser um dos maiores defensores de Jesualdo Ferreira, especialmente quando defronta equipas de valia igual ou superior, especialmente fora de casa, altura em que quase sempre opta por apresentar revoluções não só no onze titular como na forma de jogar da sua equipa. Não obstante, tenho de tirar o chapéu à estratégia que adoptou no último clássico entre FC Porto e Benfica. Mostrando conhecer de antemão o sistema táctico de Quique Flores (quanto a mim, estranhamente inflexível), o treinador portista foi inteligente ao colocar os seus jogadores em campo, comprovando perante milhares de (tele)espectadores que o Benfica tem ainda um longo caminho a percorrer.

Com efeito, o 4x3x3 foi colocado de lado em detrimento de um 4x4x2 extremamente moldável, consoante a equipa estivesse em posse de bola ou a defender. Com Fucile na esquerda para travar Di María ou Reyes, Fernando à frente da defesa para encurtar o espaço de acção de Aimar (tarefa que, neste momento parece impossível de executar por Guarín e que retiraria Raúl Meireles das transições rápidas que o treinador portista tanto aprecia), Tomás Costa imbuído de travar as subidas de Leo para que Sapunaru tivesse apenas de se preocupar com Reyes, o combate a meio-campo estava ganho, em termos práticos, uma vez que ainda sobrava Lucho e Meireles para a luta directa, tanto ofensiva como defensiva, com Carlos Martins e Yebda, ainda demasiado "verdes", na minha opinião, para conseguir dar seguimento ao sistema que Quique pretende impor.

É indiscutível que o penalty marcado aos 10 minutos deu ao FC Porto uma margem de manobra e um conforto que não teria tido, possivelmente, se não tivesse logrado colocar-se em vantagem tão cedo. Seja como for, tenho de admitir que Rodríguez foi quase sempre uma dor de cabeça para a defesa benfiquista, com as suas constantes diagonais para o centro do terreno e/ou subidas pelo flanco, sendo que Lisandro fez mais uma exibição muito bem conseguida, dando trabalho de sobra aos centrais benfiquistas e Lucho deambulou por todo o terreno, ofereceu boas combinações aos seus companheiros, deu uma ajuda a defender, sofreu e marcou o penalty e mostrou que qualquer dependência de Quaresma era mera fantasia. Confesso-me curiosíssimo por saber até que ponto a estratégia de Jesualdo frente ao Arsenal daqui por três semanas se revelará acertada. Todos nós acertamos uma vez. Os bons acertam mais do que erram.

Friday, August 29, 2008

Um olhar por outros campeonatos

Porque, por mais que gostasse, não tenho a mínima hipótese de ver os jogos que quero dos campeonatos que me interessam e porque hoje é dia de ter outros a falar por mim, deixo que Gabrielle Marcotti, da Sports Illustrated, exprima o seu conhecimento sobre a Série A e respectivas expectativas, contratações e fait-divers.



The buzz has returned to Serie A

Gabriele Marcotti


If there's a new feeling of buzz around the Italian Serie A this season, much of it comes down to two men who are walking, talking hype machines: Ronaldinho and José Mourinho.

It's not a knock on either one; being able to generate buzz just by showing up and being among the very best in the world at what you do are not mutually exclusive qualities. It's just that when Mourinho is able to seduce the notoriously cynical Italian media in less than 48 hours and when Ronaldinho is able to bring 40,000 fans to the San Siro just to watch him wave to the crowd, well, you know you have something special on your hands.

Of course, now they'll need to live up to the hype. Mourinho needs to surpass his predecessor, Roberto Mancini (and, given that Mancini delivered three straight titles to Inter Milan, that means the Special One will have to conjure up a Champions League crown). Ronaldinho needs to prove that 18 sub-standard months at Barcelona don't make him a washed-up property at 28. Seeing how it all pans out will be one hell of a ride.

Inter is the favorite and it really couldn't be otherwise. It's not just that Mourinho effect, it's a squad that's deep in every department. Sulley Muntari brings his hyperactivity to an already stacked midfield, which, if it buys into Mourinho's plan, will be long on ball-winning and leadership (the likes of Patrick Vieira, Esteban Cambiasso and Dejan Stankovic).

The "other" Mancini, picked up from Roma, fits seamlessly out wide in Mourinho's old school 4-3-3. If Inter picks up Ricardo Quaresma as well (negotiations are ongoing), it will have a matching pair of high-quality wide men. If it doesn't, Mourinho will have to hope that 18-year-old wunderkind Mario Balotelli really is the second coming.

Weaknesses? Well, maybe just one. In the new formation, there's room for just one striker. That begs the question of how Mourinho will keep Inter's five highly paid center forwards -- Zlatan Ibrahimovic, Hernán Crespo, Julio Cruz and the returning Adriano -- happy. Furthermore, Mourinho's system thrived with a strong, athletic target man like Didier Drogba; whatever else Ibrahimovic is (and he's penciled in as the starter), he's very different from the Ivorian international.

Across town, AC Milan embarked on its rebuilding job with gusto. The likes of Marco Borriello (who notched 19 Serie A goals for Genoa last season), Gianluca Zambrotta, Mathieu Flamini and Philippe Senderos add some much needed depth (and, Zambrotta apart, youth) to the squad.
Up front, there's an array of questions. Can Ronaldinho play week in, week out, alongside Kaká? Where does Clarence Seedorf fit? Does Alexandre Pato, still just 18, get the starting job? Or do you go for the more traditional Borriello? Or, since Milan made such a big deal out of signing him, do you give Andriy Shevchenko a shot at redemption? Too many questions for my liking.

Roma, a strong runner-up last year, looks better and could challenge, despite losing Mancini. "The Beast," Júlio Baptista, gives the Giallorossi a physical presence they haven't had in years: He's a gamble, but a smart one. John Arne Riise will come in handy in certain situations (not the most complete player, but he smacks the cover off the ball). But, most of all, Francesco Totti is fit again and Alberto Aquilani is a year older and wiser. With Luciano Spalletti, one of the few true visionary coaches around, pulling the strings, Roma will be competitive.

Having burst into a Champions League spot in its first season back in Serie A, Juventus faces a transition year. With money still a little tight (all those years away from the Champions League honey pot have taken their toll), the Bianconeri are building from the bottom up.

Olof Mellberg is a handy pickup at the back, and Amauri, if he lives up to his potential, can be a devastating force up front (though it remains to be seen how Claudio Ranieri parcels out the playing time to keep all his strikers -- Amauri, Alessandro Del Piero, Vincenzo Iaquinta and David Trezeguet -- happy).

But two other signings could prove decisive down the stretch. Christian Poulsen is a smart, uncompromising and sometimes downright nasty holding midfielder, the kind coaches love (he was integral to Sevilla's success in Spain). And tiny starlet Sebastian Giovinco is a special talent who looks ready to grow into the poor man's Leo Messi.

Fiorentina burst into the top four last season and will be difficult to dislodge. Signing Alberto Gilardino, written off by Milan, could prove to be the coup of the summer: He's still just 26 and has all the skills to be a top-drawer striker. He's the ideal man to turn the magic created by Riccardo Montolivo (another young midfielder who is going to the next level) and Adrian Mutu into goals. Meanwhile, at the back, Juan Vargas could well be the "sleeper" buy of the summer: The Peruvian left back is one of the most underrated players around.

Let's not kid ourselves, Serie A is nowhere near returning to the glory days of the early 1990s or even the big spending days of the turn of the Millennium. But, having sunk so far, so fast and having nearly self-destructed thanks to the Calciopoli match-fixing scandal of '06, financial mismanagement, myopic leadership and fan violence, you do get the sense that the league has hit rock bottom and is now on the way back.

Mourinho and Ronaldinho can do their part. But the most important thing will be remembering the mistakes and excesses of the past and steering clear of them.

Dos árbitros

Nem sempre temos tempo para fazer todas as coisas que queremos, felizmente. Só assim podemos conseguir saber o que realmente no move e atribuir diferentes prioridades ao que é mais importante para nós. Vem isto a propósito de não ter conseguido alinhar dois ou três pensamentos a propósito do sempre quente clássico que se avizinha, independentemente de se disputar à segunda jornada. Seja como for, Filipe Caetano, do MaisFutebol, redigiu algo que me passa muitas vezes pelo pensamento, sendo o máximo que se abordará a questão da arbitragem neste blogue. Em semana de Benfica-FC Porto, era bom que nos preocupássemos com o jogo.


Opinião: Os coitados dos juízes

[ 2008/08/28 00:46 ] Filipe Caetano

Futebolfilia

Vivemos tempos conturbados neste oásis. Os entendidos dizem que já não somos um país de brandos costumes e até o Presidente da República está preocupado com a onda de crimes que assola o país. Os criminosos estão mais activos, as forças da ordem não estão a conseguir acompanhá-los e os juízes não escapam às críticas, parecendo demasiadadamente preparados para assinar termos de identidade e residência.

Tudo isto é importante, mas se há algo que indigna realmente os portugueses é uma má arbitragem. Um penalty mal assinalado, um fora-de-jogo escandaloso, um jogador que já devia ter sido expulso na primeira parte. Bastou começar a Liga (e as provas europeias) para começarmos a ouvir a mesma lengalenga. Coitados dos juízess, aqueles que também conhecemos como árbitros.

Estamos em semana de clássico e é normal que todos falem nele. Para acabar com especulações, Vítor Pereira escolheu o melhor da época passada: Jorge Sousa. Num passado recente, seria um escândalo escolher alguém da AF Porto para arbitrar um Benfica-Porto. No máximo alguém de Setúbal ou de Leiria. Talvez por isso, muitas vezes surgiram problemas e polémicas. No fundo, não eram escolhidos os melhores. Talvez seja um sinal de maturidade. Assim o esperamos. Pelo menos até este sábado, enquanto não vier alguém protestar.

Jorge Sousa apenas tem de acreditar no seu trabalho e esperar que os seus auxiliares mantenham os níveis de competência. Para o juiz não profissional, que passa grande parte do dia a gerir madeiras em Paredes, a única meta possível é obter respeito entre os pares e, se possível, entre os adeptos menos viscerais. De nada lhe valerá o treino ao fim de cada dia, ou as horas de jogos acumuladas, se um artista se atirar para o chão no risco da área. Não há outro meio senão utilizar o par de olhos, um pouco de intuição e a ajuda de outros dois pares de olhos, que assistem a tudo, igualmente atentas, de outras partes do campo, com uma bandeirinha nas mãos.

Absurdamente, Jorge Sousa não vai poder contar com as mesmas tecnologias que auxiliam Carlos Ramos, o melhor árbitro de ténis do mundo. Que só por acaso (ou talvez não), também é português. Numa entrevista recente, Ramos confessou que preferia arbitrar em Wimbledon, mas não regateia uma boa final em Roland Garros ou na Austrália. Ele está lá, sentadinho, com o auxílio de mais dez juízes de linha e ainda a tecnologia "olho de falcão", que permite tirar as dúvidas das dúvidas, naquelas situações impossíveis para o olho humano. Em desportos mais evoluídos, como o ténis, o cricket, ou o futebol americano, já todos perceberam que as inovações ajudam a encontrar a verdade e nunca a desvirtuam.

Nos Jogos Olímpicos vimos Phelps conquistar uma das oito medalhas com o auxílio do photo-finish, no atletismo a mesma tecnologia é utilizada há décadas, mas no futebol, ahhh, aí não, porque se nos tirarem uma boa roubalheira a coisa nunca terá tanta piada. De que é que iríamos falar na mesa de café? Coitados dos juízes...

Friday, August 22, 2008

O craque da minha vida

Dando seguimento ao anterior texto, da autoria de Sérgio Pereira, venho destacar o craque da minha vida. Ao contrário do jornalista do MaisFutebol, não tive grandes dúvidas. Sim, aprecio imenso a forma de estar e de jogar de alguns jogadores - sendo Deco e Pirlo os exemplos mais imediatos, pelo que jogam, fazem jogar e pela sua modéstia -, mas nenhum jogador me marcou mais do que Vítor Baía, o até há pouco aparentemente insubstituível e eterno guarda-redes portista.

Antes de mais, a declaração de conflito de interesses: cresci portista e acabei por virar guarda-redes. Como no caso de quase todos os miúdos que vão parar a essa posição, não tinha grande jeito para a bola e essa acabava por ser a única posição que me permitia jogar sempre. Como tal, fui ficando e fui tentando aprender com tudo o que via à minha volta. Nessa altura, Baía defendia as redes do FC Porto há já alguns anos e sempre tinha admirado a sua serenidade e qualidade, tanto entre como fora dos postes.

No entanto, o que não faltam por aí são bons guarda-redes, prontos a serem idolatrados pelos mais diversos motivos. Não obstante, havia algo mais, para mim: Baía era o primeiro a sair em defesa do clube, juntamente com Jorge Costa ou João Pinto, não se refugiava no silêncio quando as coisas saíam mal, era exigente consigo mesmo e com os outros e impunha uma atitude de respeito de toda a gente. Sempre calmo e munido do seu habitual fair play, não hesitava em defender o seu grupo, os seus colegas, sempre que lhes parecessem atacados por algum lado.

Sofri a bom sofrer durante a penúria de Baía em Barcelona. Custava-me ver como o melhor guarda-redes que eu já tinha visto jogar ser criticado (quase sempre de forma justa, embora por vezes exagerada), cometer fífias que ninguém lhe conhecia, comprometer resultados e ser tratado de forma venal por Van Gaal. Ainda me custa, hoje em dia, ver a reacção dos catalães quando se fala de Baía - possivelmente o maior flop de sempre, dizem eles. Para os portistas, isso era quase inconcebível e, como tal, foi sem surpresa que foi recebido de braços abertos por uma vasta multidão quando foi emprestado ao FC Porto durante a última metade da época 1998/99. De repente, o clube recuperava o seu guarda-redes, o seu filho pródigo, um dos seus símbolos máximos.

Felizmente, o final da sua carreira ainda lhe proporcionou juntar mais de uma mão-cheia de títulos ao seu (até agora) insuperável pecúlio, ao vencer a Liga dos Campeões e a Taça UEFA com o clube do seu coração. Acima de tudo, ficar-me-á para sempre na memória a sua vontade infindável de vencer, as muitas defesas fantásticas que o vi fazer, a sua constante frontalidade e defesa dos valores que julgavam ser os mais correctos. Num mundo (de futebol, mas não só) cada vez mais estéril, estereotipado e oco, no qual os jogadores receiam pensar em pisar o risco, Baía parecia-me um oásis. A todos aqueles que o criticavam por não saber estar no banco, Baía deu uma lição: na sua última temporada enquanto jogador, esteve sempre no banco, sempre de pé a apoiar, a comandar, quase como técnico principal, e era para ele que muitos jogadores (inclusivamente Quaresma, o enfant térrible) corriam quando marcavam um golo. Nunca se lhe ouviu uma palavra ou um gesto de descontentamento, de enfado, de superioridade. O clube acima de tudo.

Thursday, August 21, 2008

O craque das nossas vidas

Mais um belo texto e uma questão sempre pertinente: o craque das nossas vidas.


O craque das nossas vidas
Sérgio Pereira


A ideia surgiu ao ler um texto de um colega aqui da redacção num blog brasileiro. Um jornalista pedia a vários outros jornalistas que escrevessem sobre o craque da vida deles. Num instante estava eu próprio a perguntar-me quem era o craque da minha vida. É incontrolável.

Nesta altura o leitor deve estar a fazer a mesma pergunta. Se não se importa, vou interrompê-lo por mais um bocadinho. Afinal este texto é meu e faço com ele o que quero.

O craque é o mais genuíno que existe no futebol. Podemos gostar de uma equipa, de uma selecção ou de uma ideia. Eu, já disse, gosto da filosofia do Barcelona. Mas um craque é diferente. Uma equipa, uma selecção ou uma ideia é amor. Um craque é paixão.

Um craque é recordação de sorriso nos lábios. Todos teremos um craque. O craque das nossas vidas. José Mourinho, por exemplo, tem Lampard. Scolari tem Ricardo e Ulisses Morais tem Jorge Baptista.

Eu, confesso, tenho Pedro Barbosa. Podia ter Rui Costa. Podia ter Deco. Definitivamente podia ter Deco. Podia ter Figo, o Figo do último ano em Barcelona, o Figo do golo ao Real Madrid com Roberto Carlos pregado ao chão. Podia até ter Lucho González, o comandante que joga sempre de fato de gala.

Mas não, eu tenho Pedro Barbosa.

Quando penso em craque da minha vida, o nome de Pedro Barbosa surge-me mais rápido do que ele próprio alguma vez foi. Mas não interessa. A mim é Pedro Barbosa que me traz a recordação de sorriso nos lábios.

Talvez pelo golo com a camisola nacional em Eidhoven. Ou talvez por nenhuma razão em particular.

Pedro Barbosa sempre foi o mais próximo que vi da nostalgia de infância. A forma como parava, olhava e pensava fazia-me lembrar um miúdo no recreio da escola. Depois caminhava. Enquanto todos corriam, ele caminhava. Parecia provocação, mas não, ele era mesmo assim.

Nele tudo era natural. E ao mesmo tempo tão belo. A bola parecia mais educada. A simulação era mais redonda e o remate mais arqueado. Falta-lhe a consagração de outros jogadores, mas que importa? As paixões não se explicam e Pedro Barbosa é o craque da minha vida.

Agora sim, pode fazer a mesma pergunta a si próprio.

Wednesday, August 20, 2008

3x3 - Parte III

Passemos agora para o outro lado da Segunda Circular para ver os altos e baixos do Sporting.

Mais:
  1. Plantel equilibrado. Finalmente o Sporting consegue iniciar uma época com um plantel bom e equilibrado. As saídas foram mais do que razoáveis, escoando os excessos, e os jogadores contratados estão não só identificados com o futebol português, mas também, na maior parte dos casos, com a equipa leonina, especificamente. Rochemback, Postiga, Caneira (para além das confirmações de Grimi e Izmailov) vêm oferecer a Paulo Bento uma maior amplitude de opções, tanto ao nível do esquema táctico como da rotatividade que poderá empregar nas diferentes fases da época - algo que não pôde fazer no ano passado.
  2. Estrutura dirigente consciente e inteligente. A SAD do Sporting terá os seus defeitos, naturalmente, mas soube contratar a preceito e com um enorme rigor financeiro. Para além disso, assume-se como um organismo no qual Paulo Bento se pode respaldar (como já vimos em situações delicadas na última época) sempre que a sua nau se desgovernar. Uma boa ligação entre as chefias, técnica e administrativa, continua a ser fundamental e, não raras vezes, uma garantia de sucesso.
  3. Dinâmica de vitória. Apesar de ter o orçamento mais pequeno dos três grandes, Paulo Bento conseguiu incutir uma excelente dinâmica de conquista, assumindo-se como uma verdadeira máquina de conquistar taças. A vitória da última Taça de Portugal e das duas últimas Supertaças (a Taça da Liga foi perdida nos penalties) demonstrou que esta equipa, em boas condições, é capaz de produzir bom futebol - de forma inteligente e perspicaz.

Menos:

  1. Alas. O treinador do Sporting sempre deu preferência ao 4x4x2 losango, apesar de, nesta pré-época, ter mostrado que queria ter à sua disposição, pelo menos, um 4x4x2 mais clássico. No entanto, parece-me que lhe faltam as alas, habitualmente preenchidas pelas subidas de Grimi e Abel. No entanto, na longa época que se avizinha, não creio que os dois laterais consigam aguentar o exigente ritmo de todas as competições ao mesmo nível e, como se viu, na época passada, o Sporting sofre muito quando não consegue fazer subir os seus laterais. Para além disso, em jogos mais fechados, os jogadores leoninos mostraram algumas dificuldades em jogar pelas alas, pois não existem jogadores talhados para isso - os melhores serão Izmailov, Derlei, Djaló ou até Vukcevic, que poderão descair para as alas, sem contudo se afirmarem como verdadeiros extremos.
  2. Balneário. O Sporting arriscou bastante ao contratar bons jogadores para posições que já estavam aparentemente preenchidas. Postiga, Rochemback e Vukcevic, por exemplo, são jogadores que, como já se viu noutras ocasiões, são capazes de colocar os seus interesses e frustrações acima dos interesses do grupo. Paulo Bento terá de ser muito inteligente a gerir todas as situações de rotatividade e titularidade, sob pena de ficar com um balneário fissurado.
  3. Rui Patrício. Uma equipa "grande" precisa de um grande guarda-redes. Não necessariamente de um guarda-redes que faça muitas defesas vistosas, mas sim de alguém fiável e pouco dado ao erro (o exemplo de Ricardo parece-me óbvio). Não obstante a sua exibição na Supertaça, o guarda-redes sportinguista ainda precisa de amadurecer e desenvolver algumas das suas capacidades. Na verdade, não creio que transmita ainda a segurança necessária aos seus companheiros de defesa, não se encontrando, na minha opinião, ao nível de Quim ou Helton. Na última época, os seus erros custaram alguns pontos. A ver vamos o que nos traz esta temporada.

Conclusão:

Paulo Bento tem à sua disposição o melhor plantel das últimas épocas. Se conseguir manter o seu plantel concentrado nos objectivos certos, terá tudo para conseguir o campeonato que foge há seis anos à equipa de Alvalade. A gestão interna do balneário afigura-se difícil, mas Paulo Bento já mostrou anteriormente que não permite grandes veleidades a jogadores com complexos de vedeta.

3x3 - Parte II

Façamos agora uma viagem mais a Norte, rumo às paragens do Dragão.


Mais:

  1. Manutenção da estrutura. O FC Porto é campeão há três anos consecutivos e venceu a Liga dos Campeões e a Taça UEFA há muito pouco tempo. É um clube que tem um hábito e uma sede de vitória quase viciante. Os (poucos) jogadores da casa identificam-se quase por completo com o espírito guerreiro que reina no Dragão. O treinador ficou para o seu terceiro ano de reinado, situação muito rara para os lados das Antas, assim como uma boa parte do onze titular.
  2. Plantel. A equipa azul e branca continua a contar com jogadores muito acima da média, de Lucho a Lisandro, de Bruno Alves a Helton, incluindo naturalmente Rodríguez. Embora seja verdade que os bons jogadores por si só nada vencem, não há dúvida de que ajudam imenso.
  3. Apito Dourado. Por mais que a pena aplicada ao FC Porto não tenha tido resultados práticos na classificação das equipas (apenas a pontuação foi alterada), toda a controvérsia gerada em torno do mérito da equipa na conquista do campeonato e inerente lugar na Liga dos Campeões beliscou o brio do grupo, a avaliar pelas palavras de vários jogadores, especialmente o seu capitão, Pedro Emanuel. Arriscar-me-ia a dizer que o plantel do campeão vão ter algo a provar este ano, particularmente depois de mais uma derrota frente ao Sporting.

Menos:

  1. Campeões. Em todas as equipas habituadas a vencer, há sempre uma parte descendente do ciclo, um momento em que as diferentes vontades não se alinham. Parte dos jogadores quer rumar a outras paragens (falo especialmente de Lucho, Quaresma e Lisandro, por exemplo), parte sente-se menos motivada por já ter conquistado tudo o que havia para conquistar, dando origem a uma falsa sensação de superioridade face aos adversários, tendo em conta que os últimos três títulos foram parar ao mostruário do Dragão.
  2. Falta de alternativas. Se é verdade que o Benfica dispõe de poucas opções viáveis no banco, os suplentes do FC Porto ainda estão longe de mostrar que podem ser concorrentes à altura do onze titular. Bollatti, Fernando, Candeias, Tomás Costa, entre outros, ainda parecem estar uns furos abaixo do que é exigido ao campeão nacional, particularmente se tivermos em conta de que ainda terão de se adaptar à Liga dos Campeões, também. Vejo com alguma dificuldade a aposta quase exclusiva em jogadores estrangeiros, pouco ou nada identificados com o futebol nacional.
  3. Saídas. A partida de Paulo Assunção e Bosingwa, para além da saga de Quaresma sem fim à vista, deixaram o FC Porto órfão de muitos dos seus mecanismos. Creio que Jesualdo terá muitas dificuldades neste início de época, uma vez que Guarín defende bastante pior do que Paulo Assunção (apesar de conferir outra dinâmica ofensiva), o que obriga Lucho e Raúl Meireles a desdobrarem-se no apoio defensivo, desgastando-se e desposicionando-se para os movimentos ofensivos. Sapunaru ainda está longe de conseguir dar a profundidade ofensiva emprestada por Bosingwa - responsável por grande parte das saídas de bola da equipa, se nos recordarmos. Se Quaresma sair, efectivamente (o que me parece altamente improvável), as alas do FC Porto estarão substancialmente enfraquecidas.

Conclusão:

O FC Porto parece-me notoriamente enfraquecido, quando comparado com a época transacta. A equipa e o plantel estão mais desequilibrados e o onze titular afigura-se manifestamente superior às alternativas. Jesualdo continua a não conseguir apagar a imagem dos sucessivos falhanços nas alturas mais críticas e alguns jogadores querem sair. Pessoalmente, diria que este ano tem tudo para ser uma época difícil para o FC Porto, especialmente tendo em conta o calendário apertado logo ao início. Um mau princípio de ano poderá condicionar tudo, neste caso.

3x3 - Parte I

Três equipas. Três pontos positivos. Três pontos negativos. Uma conclusão.

Comecemos antes de mais pelo Benfica - por ser o clube português com mais adeptos, por ser aquele que arrasta mais debates televisivos aparentemente intermináveis independentemente de estar a jogar bem ou mal, por ser, enfim, o Benfica.

Mais:
  1. A habitual euforia que todos os Verões (após o campeonato) se apodera do clube da Luz. O defeso é para o Benfica, ainda e sempre, a época de todas as esperanças, o momento em que todos esquecem o ano anterior - geralmente nefasto - e apostam tudo nos novos craques e no novo treinador. Pessoalmente, parece-me que, este ano, o circo montado à volta do maior clube português foi apesar de tudo menor (não obstante a novela da contratação de Aimar) e que isso poderá ter efeitos positivos a breve prazo. Veremos quanto tempo dura este estado de graça.
  2. Rui Costa. Bem sei que elogiar Rui Costa e o seu papel é já um cliché, apesar de não estar há mais de dois meses em funções. Seja como for, a escolha do treinador foi sua, bem como a responsabilidade de lidar com algumas das contratações mais difíceis de sempre do futebol português. Trouxe ânimo a todos - e não só aos benfiquistas - ao trazer Aimar e Reyes e ao manter Cardozo. O futebol português agradece.
  3. Quique Flores. É mais do que possível que, daqui a seis meses, o treinador do Benfica esteja a ser atacado por todo o lado, "estando-se mesmo a ver" no que iam dar os seus métodos e opções. Pessoalmente, parece-me uma excelente escolha. Calmo, ponderado, sem os trejeitos dramáticos de Camacho, mas com muito mais substância futebolística, poderá ser, se lhe derem tempo, um dos mais bem sucedidos treinadores do Benfica dos últimos tempos.

Menos:

  1. A habitual "depressão" que habitualmente se gera após um ou outro desaire, especialmente devido às enormes expectativas que todos os anos os adeptos benfiquistas depositam na sua equipa, criticando-a sem pejo em seguida por não conseguir atingir os objectivos. Num ano em que o clube contratou muita gente nova e dispensou outros tantos, não será fácil acompanhar o ritmo de quem tem outro andamento, apesar de tudo.
  2. Banco. O Benfica poderá ter um onze muito razoável (embora mantenha as minhas dúvidas em algumas das posições), mas a falta de opções no banco é gritante, especialmente tendo em conta que a época é muito longa - 3 competições internas e a Taça UEFA. Creio que Quique Flores não poderá promover uma grande rotatitividade.
  3. Yebda e Binya. O meio-campo do Benfica, não obstante todos os elogios feitos a Carlos Martins, está longe ainda de estar perfeitamente oleado. Na verdade, no esquema táctico preferido do técnico encarnado, tanto o franco-argelino como o camaronês me parecem extremamente agressivos e permeáveis em termos tácticos. Não foi raro ver autênticos buracos defensivos deixados tanto por Martins como por Yebda, num esquema que implica que os dois médios-centro sejam extremamente inteligentes. A analisar a reacção da equipa quando estiver a perder; pessoalmente, parece-me extremamente permeável.

Conclusão:

Salvo alguma hecatombe simultânea em Porto e Sporting ou uma caminhada surpreendentemente fulgurante da equipa encarnada, não creio que o Benfica tenha já este ano capacidade para conseguir ombrear com os seus mais directos rivais. Ainda assim, parecem-me estar lançadas boas bases para um futuro promissor.

A história repete-se

O Sporting venceu mais uma vez uma Supertaça ao FC Porto. Nada poderia ser mais taxativo e repetitivo. Uma vez mais, a equipa de Jesualdo Ferreira perdeu uma competição a disputar num único jogo, demonstrando novamente enormes dificuldades contra adversários que saibam estudar bem os seus oponentes, como é o caso de Paulo Bento. Creio que se impõe que Jesualdo reflicta demoradamente nas suas estatísticas quando confrontado com o treinador leonino. Na verdade, os dragões parecem sempre deparar-se com inusitadas dificuldades sempre que jogam contra a equipa de Alvalade, especialmente ao nível táctico. Com efeito, o 4x4x2 do Sporting, com avançados móveis e defesas-laterais que sabem subir para apoiar o ataque, parece ser sempre demasiado complicado para o tradicional 4x3x3 do treinador portista, que parece sempre inventar quando não deveria, aparentemente.

Seja como for, tenho de admitir que o Sporting não fez o jogo fantástico que os seus adeptos querem fazer crer, muito pelo contrário. Na verdade, após os primeiros dez minutos, o onze verde e branco parecia completamente perdido em termos organizacionais - mais por seu demérito do que por mérito das investidas da turma das Antas. Rodríguez parecia ser o único com força e sentido de oportunidade para levar as suas intenções avante, sendo apenas parado pelas constantes faltas do meio-campo e defesa sportinguistas. Ao marcar o golo ao cair do pano da primeira parte, o Sporting ficou com uma mão na taça e não mais a largou.

Apesar da vitória, relembro que foi o próprio Paulo Bento quem referiu que o resultado não espelhava de forma justa a diferença entre as duas equipas, uma postura louvável e honesta, coisa rara nos treinadores de futebol. Na verdade, o Sporting pareceu-me ainda longe do seu esplendor organizacional e da sagacidade táctica que o seu treinador parece pedir sempre aos seus jogadores. Djaló marcou dois golos, é certo, é a coqueluche da nossa praça nos dias que correm, mas parece-me continuar a sofrer de longas ausências do jogo, deixando a equipa por vezes manca e recuperando o seu ânimo apenas quando as coisas lhe correm melhor.

Por seu turno, Farías continua a demorar a explodir de uma vez. Apesar das oportunidades que lhe têm sido dadas ao longo do tempo, o avançado argentino continua longe de impressionar treinador e adeptos. A opção de Jesualdo por colocá-lo a ponta-de-lança fez com que a equipa portista perdesse todas as referências e mecanismos, pois a rotina de jogar na frente com Lisandro, um jogador muito mais poderoso, móvel e rápido, perdeu-se por completo. Como tal, o FC Porto perdeu não só um extremo, mas também um ponta-de-lança, tendo sido possível ver os passes transviados de Lucho devido à manifesta falta de velocidade de Farías.

Pessoalmente, continuo a crer que o Sporting tem não só o melhor plantel, como o melhor treinador. Convém não esquecer que o orçamento leonino é manifestamente inferior ao orçamento azul e branco, o que atesta bem a capacidade de fazer mais e/ou melhores omoletes com menos ovos, com contratações acertadas e extremamente criteriosas. Pela minha parte, tenho enormes dúvidas quanto à adaptação de Guarín à posição 6 (foram notórias as suas dificuldades em grandes porções do jogo) e quanto aos laterais-esquerdos, todos eles com grandes debilidades num ou noutro nível, excepção feita ao adaptado Fucile. Creio que a recente aposta portista (quase exclusiva) no mercado sul-americano é muito arriscada, uma vez que a adaptação ao campeonato português é quase sempre demorada e, algumas vezes, nunca chega a acontecer efectivamente.

Monday, July 28, 2008

Um certo Aimar

Aviso à tripulação: Aimar está longe de ser o meu jogador favorito. Posto isto, posso dizer que fiquei agradevelmente surpreendido com a sua contratação (embora, dadas as constantes actualizações das negociações, "surpreendido" possa parecer uma palavra forte). Creio que a contratação do argentino era não só fundamental para o Benfica conseguir desviar atenções da decisão desfavorável relativa à sua participação na Liga dos Campeões, como também para assegurar aos benfiquistas (jogadores e associados) a continuidade do testemunho da camisola 10. No entanto, este texto não se deve a nada disso. Deve-se, isso sim, à constatação que, afinal, o campeonato português já não é só a localização dos coitadinhos, conforme os Luisões, Quaresmas e Moutinhos deste país nos fazem sentir, defeso após defeso, como se lhes devêssemos prestar vassalagem por se dignarem a passear a sua classe nos nossos campos.

Afinal, ao contrário do que suspeitávamos, há uma porta de entrada grande para o nosso campeonato, não só de saída. Afinal, é possível que um jogador prefira vir jogar para o Benfica em vez de ficar rico a jogar no Newcastle, 12º classificado da liga inglesa. Afinal, o campeonato português ainda vai tendo os seus atractivos, não obstante os constantes assassínios de carácter por quem (supostamente) deveria cuidar dos seus interesses. E isso é bom de ver. E é por isso que Aimar terá ao longo deste campeonato um maior capital de simpatia do que o capitão do Sporting, o central encarnado ou o mago portista.

PS: Algumas palavras rápidas sobre a questão do esclavagismo: gostava muito que o presidente da FIFA me explicasse a comparação absurda entre um dos maiores flagelos da história da humanidade e a impossibilidade de um jogador quebrar um contrato que assinou de livre vontade no momento em que de um outro clube lhe acenam com mais dinheiro. Pensava que era assim que se regiam a maior parte das relações profissionais - assina-se um contrato no melhor interesse de ambas as partes e ou se cumpre ou se submete às decisões da entidade empregadora. Gostava de saber em que sistema esclavagista os "escravos" continuam a receber chorudos salários de clubes onde já não jogam ou nunca jogaram (relembro apenas os casos de Peixe, Ibarra, Porfírio, entre muitos, muitos outros), apesar de há muito não servirem os interesses dos clubes. Num sistema esclavagista, esses jogadores seriam descartados sem qualquer direito.

Um Sporting coeso e equilibrado

O Sporting promete. Pessoalmente, creio que a equipa leonina tem tudo para dar algumas alegrias aos seus sócios e simpatizantes. A direcção da SAD conseguiu fazer excelentes negócios (excepção feita a Izmailov - na minha opinião, demasiado caro para as suas oscilações) com as entradas de Grimi, Caneira, Rochemback e Postiga. No entanto, o maior trunfo terá sido porventura conseguir segurar e precaver as eventuais saídas de Miguel Veloso e João Moutinho. Bem sei que este último anunciou alto e bom som a sua intenção de sair - uma atitude pouco previsível, creio, do capitão do Sporting, que terá perdido porventura algum do capital de confiança junto da SAD, do treinador e dos adeptos ao vir assumir a sua vontade em plena praça pública.

Seja como for, o fim-de-semana revelou aquilo que se imaginava: uma equipa completamente identificada com o seu treinador, concepção de jogo e esquema táctico (apesar de haver ainda, é claro, muito a fazer) e uma segunda linha que rapidamente discutirá a titularidade, especialmente dado o exigente calendário que se avizinha. Não obstante as minhas dúvidas relativamente à versão mais clássica do 4x4x2 que Paulo Bento pretende, uma vez que o Sporting não conta propriamente com muitos médios-ala, a equipa pareceu-me equilibrada nos vários momentos - excepção feita à adaptação de Caneira a trinco, uma opção que julgo meramente circunstancial - e a dupla Liedson-Derlei fará muito provavelmente alguns estragos com a sua capacidade de luta e de pressão alta.

Com este esquema mais clássico, Paulo Bento conseguirá uma maior capacidade de desequilíbrio, mas creio que perderá algum do domínio do jogo que tanto gosta de ter. Rochemback poderá revelar-se uma excelente ajuda no meio-campo na criação de passes de ruptura, mas as suas oscilações físicas (muito provavelmente causadas pelo seu constante excesso de peso e aparente falta daquilo a que se chama "treino invisível") e Romagnoli vai ter de se aplicar a fundo, tal como Vukcevic e Izmailov, para garantirem um lugar no onze. Quanto a Postiga e Djaló, serão boas alternativas a Derlei, especialmente, uma vez que, aos 33 anos e depois de uma operação tão delicada, poderá não ter fôlego para as várias dezenas de jogos que aí vêm. Não houvera um Rui Patrício ainda com algumas "tremideiras" e arriscar-me-ia a apostar no Sporting como campeão.

Um Befinca (ainda) à deriva

E eis que a competição começa lentamente a regressar ao seu local habitual: às televisões. Depois de um bom Campeonato da Europa, todo o verdadeiro adepto de futebol que se preze está ansioso por duas coisas - férias e o início da Superliga. Como tal, os jogos de pré-época são devorados como se de finais da Liga dos Campeões se tratasse. Afinal de contas, há quanto tempo já não vemos a nossa equipa ou os adversários? Neste momento, tudo é importante!

Eu sou sem dúvida um destes incondicionais. Ver FC Porto, Benfica e Sporting vira hábito há muito perdido, absoluta e completamente inculcado. Como tal, não foi com grande surpresa que dei por mim a tentar ver todos os jogos deste fim-de-semana futebolístico. Infelizmente, apenas consegui ver os jogos de Benfica e Sporting.

Costuma dizer a sabedoria (?) popular que os resultados são o que menos interessam por estes dias. Compreendo o princípio que norteia esse argumento, mas não creio que seja tanto assim, e não apenas pelos adeptos, sempre desejosos de ver o seu clube vencer. Não acho, por exemplo, que seja coincidência, azar ou pouco preocupante o saldo final da participação do Benfica neste Torneio do Guadiana. Aliás, se estivesse na posição de homem-forte do clube encarnado, nunca teria sancionado a participação dos encarnados nesta prova. Sabendo, como todos sabemos, que o Benfica é, dos três grandes, aquele onde menos tempo parece haver e que Quique Flores tem ainda muito por fazer, não vejo grande interesse em colocar a equipa frente a um Sporting ao fim de pouco tempo. Não era difícil adivinhar o desfecho final do embate entre estas duas equipas, o que poderá retirar alguma margem de manobra ao treinador da Luz, uma vez que o que os adeptos viram foi uma absoluta incapacidade de atacar, opções confusas, "carradas" de jogadores que não têm nem terão lugar no plantel (Edcarlos é apenas um deles) e imensas experiências. Luís Sobral dizia algo com que concordo: hoje em dia, há inúmeras formas de se conhecer os jogadores que vão fazer parte de um planter - dos vídeos aos relatórios de campo, entre muitas outras. Não são (ou não deveriam ser) três jogos a fazer a diferença.

Compreendo com alguma dificuldade que, para os lados da Luz, se continue a afirmar que ainda vão entrar vários jogadores (independentemente da sua qualidade). Afinal de contas, parece subsistir para as bandas da Segunda Circular o hábito de não definir de princípio o grupo com que se vai trabalhar, fundamentar opções atempadamente ou resolver questões pendentes de modo a oferecer as melhores condições ao treinador. E convenhamos que ter quase 40 jogadores à sua disposição não facilita em nada as decisões do treinador.

De resto, pelo que vi, ainda há muito trabalho a fazer a todos os níveis. Não há, pelo que se vê, qualquer esboço de onze titular e as segundas opções estão ainda muito verdes, estando algumas delas claramente descontextualizadas. Creio que, especialmente devido ao início do campeonato, o Benfica deveria ter optado por opções mais atempadas, decididas e fundamentadas. Das mais recnetes contratações, não apostava que mais do que duas fossem bem sucedidas, no rescaldo da época que nós, treinadores de bancada, haveremos de fazer.

Thursday, July 3, 2008

Os altos e baixos do Euro 2008

Em jeito de balanço, gostaria de destacar três pontos altos e três aspectos menos positivos do Euro que findou no último Domingo. Com efeito, creio que existirá uma unanimidade relativamente à boa qualidade do futebol praticado, competitivade do torneio e vencedor inesperado, dado o seu historial. Não obstante, nem só de coisas boas se fez este Europeu. Comecemos então pelas questões menos positivas:

  • Grécia. Teria sempre de se esperar muito mais dos campeões europeus em 2004. Creio que Otto Rehagel não foi lesto a retirar as devidas ilações do apuramento para o Mundial de 2006. O futebol que lhe permitiu levar de vencida o campeonato organizado em Portugal foi perdendo os seus encantos e necessitava de evoluir. Ao recusar fazê-lo, Rehagel acabou por cavar um buraco na areia para si e para os seus jogadores. Grande parte das selecções sabia perfeitamente o que fazer para vencer a Grécia. Notou-se.
  • França e Itália. Pessoalmente, creio que a desilusão francesa é incomparavelmente maior, uma vez que parece decididamente uma embarcação completamente à deriva, sem rumo nem timoneiro. Quanto à Itália, apesar dos meus progonósticos, acabou eliminada nos penalties às mãos dos futuros campeões europeus, revelando falta de eficácia tanto a atacar como a defender e a ausência de desequilibradores para além de Pirlo.
  • A estrutura da competição. Muito já se falou, antes do Europeu, sobre a esquematização do mesmo. Emparelhar dois grupos até à final poderia ter-se relevado complicado, causando repetições de jogos de duas partidas após o final dessa fase. Creio que não haveria essa necessidade.

Em relação aos pontos altos, havendo muitos a destacar, gostaria de realçar três, começando pelo óbvio:

  • Espanha. Boa organização de jogo, boa forma de encapotar as falhas da sua própria equipa, um guarda-redes que não comprometeu e dois avançados muito bons (embora Torres tenha estado um pouco aquém das suas prestações em Inglaterra, o que nos poderia levar para a questão da qualidade dos defesas em terras de Sua Majestade). Xavi e Marcos Senna foram duas peças fundamentais, mas convém não esquecer Fabregas, Iniesta ou Villa.
  • Alemanha. Terceiro lugar no último mundial e finalista vencida no último Europeu. Se levarmos em conta as prestações anteriores a essas competições, poderemos ver que a Mannschaft foi capaz de dar a volta a uma tendência negativa que se vinha desenhando há alguns anos a esta parte, provando que uma boa mentalidade e eficiência são capazes de disfarçar falhas aparantemente muito importantes.
  • Turquia. Bem sei que, quando se fala na equipa de Ancara, se fala especialmente do seu "coração", fazendo referência à sua capacidade de luta. No entanto, por mais importante que seja, os turcos demonstraram algo mais do que isso - boa qualidade de jogo, boas movimentações, excelente leitura do jogo adversário e uma invulgar capacidade de sofrimento e entreajuda. Ao contrário do que o próprio afirmara anteriormente, o seleccionador Fatih Terim continuará até 2012.

Monday, June 30, 2008

Um vencedor inesperado

A Espanha nunca seria a minha aposta para vencer o Euro 2008. Não porque tivesse uma má equipa ou não merecesse estar na competição, mas sim pela já famosa tremideira nas pernas sempre que a ocasião era importante e por Aragonés. Não tendo idade suficiente para me lembrar de todas as glórias do decano treinador espanhol, propaladas sempre que é interveniente num jogo, apenas me recordo dos constantes disparates do mister espanhol, sejam eles tácticos ou mais sérios (como o caso de Reyes e Henry, por exemplo). Na verdade, sempre que vi equipas orientadas por Aragonés, vi onzes confusos, sem grandes ideias e uma leitura de jogo a fazer lembrar Scolari. Para além disso, havia a questão Raúl; hoje, dia a seguir à final do Euro, não se ouvirá ninguém dizer que foi uma má decisão, mas relembro o ruído que se gerou em Espanha devido a tal opinião.

Não obstante o que pudesse pensar, a Espanha foi a melhor equipa do Europeu, especialmente por ter sido a mais constante, a que melhor noção tinha do jogo que queria implementar e como poderia levar as suas intenções avante. Ontem, os espanhóis apenas sentiram algumas dificuldades no início (provando que tanto Puyol como Sérgio Ramos eram vulneráveis), devido ao pressing alemão que fez com que La Roja não tivesse o espaço necessário para criar jogo numa primeira fase. Ao fim dos primeiros 15 minutos, a Espanha desembaraçou-se e não mais recolheu as garras.

Com efeito, com Torres sozinho na frente de ataque, a equipa espanhola jogava num 4x1x4x1, com Senna atrás de Xavi, Iniesta, Fabregas e Silva. Desta forma, com algumas movimentações interessantes de Fernando Torres -ontem melhor do que no resto da competição - (ora caindo para a faixa lateral, ora apostando na sua velocidade e na lentidão dos defesas germânicos), havia sempre pelo menos um homem solto, graças também às trocas de bola e posição entre os homens do meio-campo, trabalhando sempre para que um deles pudesse encarar o meio-campo adversário e, com isso, fazer passes em profundidade para as costas dos laterais espanhóis. Foi assim que, aos poucos, a Espanha foi empurrando uma Alemanha que demonstrou todas as falhas que se lhe conheciam. A diferença foi que, desta vez, não houve Ricardo nem Rüstü e, como tal, nunca a Espanha teve de andar atrás do resultado.

Por seu turno, a Alemanha demonstrava o que se adivinhava: centrais com imensas dificuldades ao nível técnico e da velocidade, Lahm com um desempenho sofrível em termos defensivos (o primeiro golo foi mais um exemplo disso mesmo) e um Hitzlsperger que parece fazer pouco na equipa. Ballack pareceu sempre alheado do jogo (como quase sempre acontece), mas, desta feita, não teve livres nem remates de fora para brilhar - e isso costuma ser muitas vezes suficiente para fazer com que o capitão da Mannschaft não mais apareça em jogo. Klose bem lutou entre os centrais espanhóis, mas, sem apoio em condições, era difícil fazer melhor.

O outro momento em que a Espanha vacilou e que poderia ter alterado o rumo dos acontecimentos foi a entrada de Kuranyi para o lugar do inadequado Hitzlsperger. Durante 5 a 10 minutos, a Espanha pareceu não estar preparada para a alteração táctica (4x4x2, com Podolski e Schweinsteiger nas alas e Ballack e Frings no meio) e chegou mesmo a mostrar-se confusa. No entanto, a entrada de Xabi Alonso reequilibrou as contas e a Espanha continuou a fazer o que queria da defesa alemã e só não marcou porque não quis, ficando a dever a si própria vários golos mais.

Pessoalmente, tenho de confessar que preferia uma vitória da Espanha, embora temesse uma reedição da tradicional falta de nervo espanhola em momentos importantes, quer antes da final, quer durante os primeiros 15 minutos. No entanto, esta selecção pareceu quase sempre bastante focada no objectivo final e (estranhamente para mim) bem orientada em termos tácticos, raramente abdicando do seu jogo. Tenho para mim que, não fora Marcos Senna, a Espanha não teria conseguido chegar tão longe, pois sempre teve jogadores de craveira igual ou superior à de Xavi, Iniesta ou Silva, mas raramente pôde contar com um jogador tão inteligente, disponível e físico como o brasileiro naturalizado espanhol do Villareal. Graças a ele, os restantes elementos do meio-campo e da defesa puderam encarregar-se mais descansadamente das suas acções. Graças a ele, Ballack não se viu e a Alemanha quase nunca conseguiu entrar pelo meio. Graças (também) a ele, a Espanha tinha sempre uma boa hipótese de começar ou continuar o seu jogo ofensivo e um constante equilíbrio defensivo.

Friday, June 27, 2008

Derrota por falta de comparência

Como que para comprovar a minha ignorância e a falibilidade das minhas "previsões", a Rússia perdeu ontem de forma absoluta. Não perdeu, como a Turquia, porque a sorte lhe foi madrasta, por ter do outro lado uma equipa alemã com a estrelinha de campeã ou por um qualquer capricho do árbitro. Pelo contrário, ao invés do que tinha dito, a selecção russa foi categoricamente derrotada, com a mesma diferença de golos do jogo da primeira jornada: 3-0. Muito honestamente, creio que a Rússia perdeu por culpa própria. Não faltam nem faltarão os arautos das qualidades espanholas, de Xavi a Iniesta (excelente assistência no primeiro golo - vamos fazer de contas que a intenção não era rematar à baliza, mas sim um passe magistral para Xavi), de Fabregas a Villa, o grande ausente da final; eu não serei um desses arautos.

A Rússia perdeu porque nem sequer entrou em campo. Na verdade, o seu Europeu pareceu terminar no momento em que o árbitro deu como terminado o jogo dos quartos-de-final frente à Holanda. Enquanto via esse jogo com amigos, foram vários os que manifestaram a sua surpresa para com a forma física da Rússia, como se parecessem querer trucidar os holandeses, independentemente do lugar nas meias-finais. Nenhum de nós conseguia perceber como é que aquela selecção parecia estar em tão melhor forma física e de que forma é que todo aquele entusiasmo não teria reflexos nocivos no jogo seguinte. Pois bem, os reflexos foram muito mais do que nocivos. A selecção russa não compareceu ao jogo.

Há que dar mérito ao plano de jogo espanhol, naturalmente, mas não demasiado. Não creio, à semelhança dos vários textos que já li hoje, que tenha sido a Espanha a anular as principais armas russas. Se é certo que Sérgio Ramos escolheu precisamente o jogo de ontem para me fazer ver que é melhor jogador do que eu penso, colocando imensas dificuldades a Zhirkov, não é menos verdade que a Rússia esteve longe de desenvolver as suas movimentações e muito mais longe de interpretar bem a táctica da Espanha (que não surpreendeu nada nem ninguém com a sua forma de jogar). Tenho noção de que "queimei a língua", como se costuma dizer, ao apostar na Rússia para vencer a Espanha, mas não nego que o jogo da armanda espanhola emperra muito facilmente se lhe retirarem o comando do jogo (como os russos haviam feito à Holanda) e com uma pressão mais alta, uma vez que os castelhanos privilegiam o ritmo lento e em progressão, ficando muitas vezes desposicionados ao defender.

Parabéns à Espanha - acima de tudo, por ter conseguido chegar até aqui, algo que não faziam há várias décadas. Esta geração demonstrou, não obstante todas as suas falhas, maior força de carácter do que as anteriores fornadas de Michel, Hierro, Butragueño, entre outros.

Gostava apenas de acrescentar uma última nota: a Espanha dominou todo o jogo, indiscutivelmente, mas os golos apenas surgiram depois da substituição de Villa por Fabregas. Com esta alteração, a Espanha deixou de ser a única equipa a actuar com dois pontas-de-lança (com Villa a sobrepor-se de forma notória a Torres em todos os aspectos), para passar a actuar mais perto de um 4x2x31, muito semelhante ao alemão). Duvido que Aragonés arrisque na colocação de Güiza no onze inicial, o que, a acontecer, deverá proporcionar um maior equilíbrio entre as partes.