Saturday, August 18, 2012

Estamos de volta!

Equipas iniciais

O mais importante em primeiro lugar: que belo início do campeonato português. Um jogo interessante, duas equipas interessadas em vencer, incerteza no resultado, subtis nuances tácticas, uma grande penalidade e uma expulsão. Resta-nos esperar que o encontro de hoje seja apenas um aperitivo para o que aí vem.

Um dos aspectos mais relevantes reside na diferença de comportamento do Sporting de Braga. Há não muito tempo atrás, esperava-se que a maioria das equipas se apresentasse no Estádio da Luz de forma tímida, sem qualquer problema em ceder a iniciativa de jogo à equipa da casa. Como tal, foi extremamente positivo ver os homens de José Peseiro a recusarem essa abordagem e tentarem controlar a partida. Na verdade, esse poderá ser precisamente um dos motivos para a escolha de Beto em detrimento de Quim, dado o maior à-vontade do primeiro a jogar com os pés, o que permitiu ao Sporting de Braga jogar entre os defesas-centrais e o guarda-redes, tentando assim evitar qualquer potencial pressão que o Benfica pudesse tentar exercer mais à frente - por vezes, de forma algo exagerada.

Por outro lado, Jorge Jesus parece insistir em vincar as suas ideias e o seu onze soou quase a um testemunho da sua relutância em abdicar do seu poder de fogo. Em encontros tão equilibrados como este, a prudência aconselharia possivelmente uma equipa mais harmoniosa (como se pôde ver na época passada, por exemplo), mas Jesus optou por colocar Cardozo, Rodrigo, Bruno César e Salvio em zonas mais avançadas. Isto significava que o Benfica estava inclusivamente disposto a iniciar os seus ataques com o recuo de Javi García, transformando praticamente a equipa num 3x3x3x1.

Javi García recuava e ambos os centrais abriam,
com Maxi Pereira e Melgarejo a avançarem.

Por seu turno, o Sporting de Braga tinha bem definidas as suas zonas de pressão, permitindo geralmente que os três jogadores adversários mais recuados retivessem a posse de bola e apertando Witsel (ou qualquer outro jogador que pudesse recuar), frustrando com isso as tentativas do Benfica de sair a jogar a partir de trás. Peseiro parecia ter instruído os seus jogadores para explorarem o espaço nas costas de (e dos restantes quatro jogadores mais adiantados), o que funcionou algumas vezes até à meia-hora.

As qualidades

Uma das qualidades de Peseiro do conhecimento público reside na quantidade e qualidade de trabalho dedicado à posse de bola e movimentações. Não só a linha mais recuada do Sporting de Braga se mostrou extremamente cómoda com a bola, mas pudemos ver também a qualidade das movimentações dos jogadores com a bola e no espaço. Para além disso, com Viana, Mossoró e Lima, trata-se de uma equipa capaz de mudar rapidamente o centro de jogo (como poucas outras) e, com isso, cansar o seu oponente.

Mossoró deslocou-se com frequência para a direita, tentando criar situações de superioridade numérica para o estreante Melgarejo (um infeliz início com a camisola encarnada por parte da jovem esperança), o qual contava com pouco apoio por parte de Bruno César. Pior ainda, Lima afastava-se repetidas vezes dos seus (supostos) marcadores e criava confusão sobre quem deveria marcá-lo, impedindo Javi García de socorrer o mais recente lateral-esquerdo do Benfica.

Por outro lado, Jorge Jesus é conhecido pelo trabalho exaustivo ao nível das bolas paradas, as quais se têm revelado extremamente profícuas, especialmente neste tipo de encontros. O jogo de hoje ofereceu um exemplo perfeito de que até um livre indirecto tão simples quanto este pode proporcionar uma clara ocasião de golo, desde que todos saibam a sua função.

Bruno César (vermelho) faz um bloqueio, impedindo que qualquer arsenalista
se atravesse no caminho de Maxi Pereira (verde).
Com um movimento simples e coordenado,
Maxi corre sem oposição e quase oferece uma assistência.

Segunda parte

A segunda parte trouxe o que havia faltado na primeira - os golos. Tudo começou com o primeiro tento do Benfica, aos 49 minutos. Considerando que haviam estado por cima da partida até então, foi estranho ver os guerreiros do Minho algo alienados - ao mesmo tempo, foi possível constatar a importância da proximidade das linhas.

Rodrigo atrai dois adversários e Ismaily (azul) oferece a cobertura correcta.
Estranhamente, nenhum jogador bracarense pareceu preocupado com Salvio (amarelo).

Conforme seria de esperar, a segunda bola sobra para Salvio,
completamente sozinho, com Custódio recuando devagar.

O Benfica passava para a frente e os minhotos pareceram algo perdidos durante algum tempo. Apesar da exibição intermitente, talvez o golo fosse aquilo de que as águias necessitavam para elevarem a qualidade do seu jogo e assumirem de vez o encontro. Não obstante, o Benfica voltou a oferecer mais provas da enorme dificuldade em ditar o ritmo de jogo e subjugar o seu adversário, poucos minutos depois. Tal como aconteceu por diversas vezes na época passada, o centro do terreno permanece desprotegido e Javi García e Witsel são frequentemente atropelados. O primeiro tento do Braga foi disso um bom exemplo.

Paulo Vinicius faz um passe simples para Lima (azul), o qual recuara.
Com medo de perder Lima, Garay (vermelho) acompanha-o e abre espaço nas costas.
Maxi preocupa-se com Amorim (verde), o qual flecte para dentro,
abrindo caminho para Ismaily.

Ismaily tem caminho livre à sua frente.
Garay (vermelho) permanece desposicionado e abre um buraco no centro da defesa.

O encontro abrandou bastante pouco depois, excepção feita a Rodrigo e Mossoró. Os dois golos que se seguiriam tiveram origem em situações quase aleatórias, e não no seguimento de jogadas ou movimentações cuidadas. Ainda assim, convém notar que, apesar da boa resposta do Sporting de Braga à situação de inferioridade numérica, Custódio, Viana e Amorim pareceram exaustos à medida que o encontro se aproximava do fim, sem dúvida devido à sua presença no Euro.

Conclusão

Em resumo, foi um encontro extremamente interessante. Embora estejamos ainda no início da época, o Sporting de Braga deu mostras de estar bem orientado para os meses que se avizinham, com noções muito interessantes ao nível da posse de bola, as quais tenderão a melhorar à medida que a competição se for desenrolando. No que diz respeito ao Benfica, foi difícil não vislumbrar alguns dos erros da época passada, mas Jesus é um treinador inteligente que saberá com certeza retirar o melhor dos seus jogadores. Afinal de contas, este foi apenas o primeiro de muitos, muitos jogos.