No grupo B, o denominado grupo da morte, tudo está ainda por definir, mesmo para a Alemanha, com seis pontos. Nenhuma equipa tem o apuramento garantido e todas podem ainda ser eliminadas, com o conjunto de resultados adequado. No próximo domingo, Portugal e Holanda encontram-se numa partida decisiva, uma partida que os holandeses necessitam de vencer com uma diferença de dois golos e esperar que a Alemanha não repouse sobre os louros contra a Dinamarca.
- Ataque.
A equipa de Bert van Marwijk está longe de ser sólida e coesa. Muitas das vezes, acaba por se partir em dois blocos bem distintos: os 4 defesas mais Van Bommel e De Jong, e os quatro jogadores mais avançados. Com ambos os defesas-centrais com dificuldades evidentes no controlo da bola e com pouca criatividade proveniente dos dois médios mais recuados, a Holanda depende em excesso das iniciativas de Robben, da visão de Sneijder ou das penetrações de Van Persie nas costas da defesa. Todos estes componentes poderiam constituir uma interessante manobra ofensiva, mas os jogadores não parecem ter uma ideia colectiva sobre quando tomar a decisão mais acertada - os insistentes dribles de Robben para dentro, seguidos de remates mais ou menos disparatados, são um bom exemplo disso mesmo.
Ainda assim, convém não esquecer que se trata de uma equipa com alguns jogadores de nível mundial e que, conforme Van Persie mostrou contra a Alemanha, conceder alguns metros a mais a qualquer um desses jogadores poderá revelar-se fatal. Por exemplo, Robben tem tendência a jogar no lado esquerdo de Portugal, a ala que Cristiano Ronaldo deixa habitualmente desprotegida (muito provavelmente seguindo as instruções de Paulo Bento). Com Van der Wiel acostumado a subir sempre que possível, Fábio Coentrão poderá vir a passar novamente por dificuldades. Contudo, ambos os extremos holandeses tendem a driblar para dentro, algo que convirá a Portugal, dado que se trata de uma área em que a selecção nacional se tem mostrado mais forte do que nas alas.
Adicionalmente, devido à ausência de uma ideia colectiva e de movimentações, a Holanda opta frequentemente por passes longos para Van Persie. Neste jogo em particular, Paulo Bento poderia optar por permitir que Pepe actuasse mais em cobertura (uma vez que é mais rápido e mais intenso) e que Bruno Alves se assumisse como primeiro elemento da linha defensiva central, uma vez que tal impediria que os extremos holandeses flectissem para dentro e fizessem passes de ruptura para Van Persie e as suas diagonais curtas.
Cientes de que a Holanda necessita de vencer o jogo com uma margem de dois golos e que irá provavelmente pretender assumir o controlo da partida, Portugal poderá optar por assumir uma postura mais expectante à imagem do que aconteceu contra a Dinamarca (após o primeiro golo) e Alemanha, permitindo que os defesas-centrais e médios-centro progridam com a bola e aproveitando em seguida os erros que tendem a cometer - embora uma melhor finalização seja absolutamente fundamental.
Van Persie tende a procurar o espaço nas costas da defesa contrária. |
- Defesa.
Apesar de contar com os médios de contenção Van Bommel e De Jong, esta equipa holandesa não parece tão estanque quanto se mostrou há dois anos, na África do Sul, ainda que muitos dos titulares se tenham mantido. Tendo em consideração que são dois jogadores com tamanha experiência, tanto Van Bommel como De Jong têm sido desposicionados com excessiva facilidade, embora convenha referir o imenso espaço que têm para cobrir, dada a falta de apoio defensivo dos quatro jogadores mais adiantados. No último jogo, por exemplo, a maioria das oportunidades de golo da Alemanha passaram por criar situações de superioridade numérica no lado esquerdo holandês, atraindo os dois médios pivôs defensivos para essa zona, e atacar em seguida o espaço onde deveriam estar. Apesar de todos os esforços envidados por Willem, a equipa permanece reticente em deixá-lo à sua sorte face a extemos mais agressivos.
Van Bommel e De Jong tendem a ajudar defensivamente no lado esquerdo. |
As duas assistências da Alemanha tiveram origem em áreas e jogadas semelhantes, após arrastar os dois médios holandeses para áreas exteriores. |
A Holanda dedica maior atenção ao seu lado esquerdo, quase ignorando o centro do terreno. |
Para além disso, Mathijsen e Heitinga são defesas-centrais lentos que não apreciam particularmente avançados rápidos ou trocas posicionais. Poderá ser uma boa ocasião para pedir a Postiga que se desmarque para os flancos, arrastando consigo um dos centrais, e instruir Ronaldo ou Nani para aproveitarem o espaço criado nas zonas centrais da defesa holandesa.
Por último, uma questão igualmente importante. A Holanda joga com uma linha defensiva (relativamente) alta, mas não exercem a pressão necessária sobre o portador da bola, permitindo-lhe muitas das vezes fazer passes de ruptura para a grande área, onde a finalização de Ronaldo e Nani poderá revelar-se decisiva.
- Conclusão.
Se o futebol fosse uma questão teórica, este jogo teria um resultado final previsível. Portugal está mais bem organizado, é defensivamente mais forte nas zonas centrais e prefere jogar em contra-ataque. Para além disso, a velocidade e capacidade técnica dos seus extremos são o oposto das características da defesa holandesa. Com os quatro jogadores mais adiantados de Van Marwijk pouco inclinados para as tarefas defensivas, Portugal poderá acabar por vencer apenas por ser mais inteligente. Por outro lado, dado o perfil da equipa holandesa, Hugo Viana poderia ser uma boa opção de Paulo Bento, uma vez que o médio do Braga é perito em queimar linhas ao descobrir avançados a 30 ou 40 metros de distância com os seus passes teleguiados (embora esta opção seja altamente improvável).
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Este artigo estará igualmente disponível (na versão inglesa) em PortuGOAL.net.