O FC Porto venceu nos derradeiros instantes do Dínamo de Kiev. A vitória em si, bem como todas as consequências que encerra, foi caída do céu. Em apenas vinte minutos, a equipa portista passou de uma hipotética quarta derrota consecutiva ao que já se apelida agora de "fim da crise". Pessoalmente, não creio que uma equipa possa de um momento para o outro passar de uma situação de crise para o patamar a que deveria pertencer.
Não obstante tudo isto, a vitória foi um alívio, não só pelo resultado em si, mas também pela forma como aconteceu - depois de mais uma bola no ferro enviada por Raúl Meireles, de o adversário marcar primeiro na primeira vez que foi à baliza de Helton (Jesualdo deixou finalmente a sua teimosia no banco), de o Dínamo ter enviado também uma bola ao mesmo poste, etc. Num ápice, os jogadores azuis e brancos passaram a estar convencidos de que a sorte voltara (Hulk até havia feito dois passes durante o jogo!). Esse alívio, essa remoção da frustação acumulada ao longo de uma semana e meia terrível, foi notório na expressão de Jesualdo na entrevista e dos jogadores quando ainda estavam em campo - abraçados, aos saltos, de braços apontados aos céus, como que a agradecer a divina mudança do vento.
Posto isto, continuo a não me desviar muito do que achava. A vitória de ontem foi extremamente importante, mas a crise não está (não poderá estar) ultrapassada - independentemente do resultado de Domingo, frente ao Sporting. O FC Porto continua com falta de soluções a vários níveis, apesar de ontem se ter aproximado bastante do onze que deverá ser titular nos próximos jogos, com a eventual alteração de Tarik por Tomás Costa. Pode ser que, deste modo, os dragões consigam fazer o que não conseguiram até aqui: estabilizar o seu modelo de jogo.
Gostaria por fim de destacar dois jogadores. O primeiro é Pedro Emanuel. Não tanto pelo que jogou, mas sim pela atitude e raça que emprestou à equipa, mostrando como jogar e explicando ao nível prático o que era a mística. Numa defesa tão volátil e necessitada de uma voz de comando, Pedro Emanuel fez aquilo que tão bem sabe fazer: entregou-se ao jogo, lutou, mesmo estando fora do seu habitat natural, e defendeu. O segundo jogador que gostaria de realçar é Pelé. Se Fernando tem cumprido muito razoavelmente com as suas obrigações, manifesta algumas limitações (o jogo de ontem evidenciou-as por demais) ao nível ofensivo e do controlo de bola. Após a entrada do ex-jogador do Inter, o FC Porto conseguiu ter alguém capaz de recuperar a bola e lançar contra-ataques através de passes longos, deixando de obrigar Raúl Meireles ou Lucho a recuarem para fazerem as chamadas transições rápidas. Da boa integração e desenvolvimento de Pelé (e de Tarik, já agora) poderá depender o futuro da equipa e do treinador a breve prazo.
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