Thursday, April 2, 2009

Onde reside a força?

Numa declaração proferida esta semana, Carlo Ancelotti, treinador do AC Milan, afirmou algo que reflecte a minha opinião pessoal. Segundo o técnico transalpino, o Liverpool é a equipa mais difícil de defrontar. Ancelotti admitiu que o Manchester United era mais forte, mas que era uma equipa que deixava jogar o adversário, ao contrário dos de Liverpool, que defendem muito bem e têm um contra-ataque quase perfeito, nas palavras do técnico rossonero.

Esta afirmação vem de encontro à minha perspectiva sobre o sorteio da Liga dos Campeões, pois creio que, apesar de o Manchester United ser um adversário temível, tem algumas características que poderão vir a revelar-se favoráveis ao FC Porto ao longo da eliminatória. De todas as equipas presentes no sorteio dos quartos-de-final, o Liverpool parecia-me a mais problemática - por defender muito bem e por apostar num tipo de jogo frequentemente semelhante ao que o FC Porto irá previsivelmente adoptar nesta eliminatória.

O estado da nação


Por vias da minha actividade profissional, dei por mim na semana passada a visitar algumas fábricas de uma região portuguesa aparentemente em crise. Confesso que, ao início, a minha apreensão era grande - receava que o choque de realidades fosse demasiado abrupto. No entanto, a única coisa que posso fazer é tecer os mais rasgados elogios aos gerentes e administradores das empresas - que parecem continuar a conseguir fazer milagres, descobrindo constantemente nichos de mercado - e, acima de tudo, aos funcionários dessas empresas, por continuarem a dar o litro, por preferirem trabalhar a viver à custa dos muitos subsídios que por aí há, por não virarem a cara aos momentos difíceis.

Mas o que tem isto a ver com futebol? Na minha opinião, tudo. Foi revigorante ver empresas com mais de 800 funcionários a operarem na perfeição, com todo o respeito pelos direitos dos trabalhadores. Foi estranhamente inesperado entrevistar colaboradores das mais variadas empresas e constatar que o respeito que a administração possa ter ou não por essas pessoas continua a ser tão ou mais importante do que o salário ao final do mês (embora todos nós gostássemos de ganhar mais dinheiro, naturalmente). Mas, acima de tudo - no que diz respeito a este blogue, pelo menos -, foi um óptimo alimento para a alma verificar que é possível ter as contas controladas, saber onde param os activos, quanto se pode gastar no período fiscal seguinte ou onde estão os possíveis nichos de mercado do futuro.

A única coisa que me vinha à mente era sempre idêntica: porque é que é tão difícil fazer isto no futebol? Por que razão continuamos a fazer vista grossa a tantas evidências de que algo está mal? Quantas mais greves como as do Estrela da Amadora ou do Vitória de Setúbal teremos de ver até nos capacitarmos que temos mesmo de inverter a situação?

"Mea culpa"


Há muitos motivos pelos quais admiro o trabalho de José Mourinho, actual treinador do Inter de Milão. Aprecio a sua capacidade de trabalho, de análise da sua equipa e do adversário, de contínua sistematização das suas ideias no treino e no jogo e de conseguir retirar rendimento de jogadores que, à primeira vista, pareciam estar fadados para o insucesso. Aprendi a vê-lo colocar jogadores medianos a render o que nunca tinham rendido até então e nunca mais renderam desde esse momento (o caso de Joe Cole ou Marco Ferreira vem-me imediatamente à memória).

No entanto, há uma outra parte de Mourinho que me cativa: a sua frontalidade em algumas ocasiões. Numa entrevista realizada ontem num canal televisivo italiano, o treinador português não teve qualquer problema em admitir que a contratação de Quaresma não só tinha sido um erro, como admitiu também tratar-se de um erro seu. Não conheço muitos treinadores que não se refugiem na diplomacia das respostas-tipo a este tipo de questões, mesmo depois de se retirarem do activo. Mourinho não teve papas na língua e assumiu uma má contratação (e dispendiosa) feita pelo clube no qual ainda se encontra.

Na minha opinião, são pequenas atitudes como estas que vão aproximando os adeptos das equipas de Mourinho dos jogadores. Mourinho podia ter contornado a questão ou atirado a responsabilidade para um qualquer infortúnio do destino. Ao invés, assumiu a sua culpa, mostrando aos adeptos interistas que não só é capaz de errar, como também de reconhecer os seus próprios erros. Qualquer adepto ficaria contente por ver o seu treinador fazer um mea culpa por uma contratação cara falhada, não?

A lei da simulação


Lisandro López foi ontem castigado com um jogo por ter originado o penalty que viria a dar o golo do FC Porto no recente derby que opôs FC Porto e Benfica. Já ouvi hoje inúmeras vozes levantarem-se contra a decisão pelos mais diversos motivos - desde logo, perguntando se esta terá sido o único caso desta estirpe nos últimos dois anos desde que o actual regulamente foi aprovado. Não obstante as eventuais questões que possam levantar-se à volta da decisão, creio que terá sido dado um bom passo. Esperemos que, daqui para a frente, quem pretenda simular faltas hesite antes de o fazer. Todos nós que gostamos de futebol teríamos a ganhar.

Como praticante, reconheço que é quase sempre necessária uma boa dose de matreirice. No entanto, traço uma distinção clara entre ser mais inteligente do que o adversário e levá-lo a cometer falta e fingir ser tocado para daí tirar vantagem. Colocando a questão em termos práticos: saber posicionarmo-nos para provocar a falta ao adversário é sinal de inteligência e boa leitura de jogo. Mergulhar sem qualquer acção do oponente é faltar à verdade desportiva.

O único comentário adicional que gostaria de tecer é tão só e apenas: mantenha-se a consistência e haja coragem para continuar a tomar estas decisões.

PS: Não obstante tudo o que escrevi atrás, creio que os órgãos disciplinares da Liga poderão vir a deparar-se com um problema, pois haverá agora muito mais vozes atentas a possíveis simulações e que bradarão igual tratamento. A ver vamos se não se abrirá mais uma caixa de Pandora na arbitragem portuguesa.