- A perspectiva do jogador. Ricardo Quaresma já não estava no FC Porto. Na verdade, o próprio tinha assumido isso mesmo por diversas vezes de forma mais ou menos óbvia ao longo dos últimos meses em diversas entrevistas. Achava já ter ganho tudo no FC Porto e pouco mais ter a aprender e evoluir quer com Jesualdo, quer com uma equipa de segunda linha na Europa como o FC Porto. Cada um tem de tomar as suas opções e Quaresma tem de estar preparado para as suas consequências, sejam elas quais forem. Segundo o próprio, queria "voltar a um grande" e o clube azul e branco nem concebeu a hipótese de o colocar a jogar estando a sua cabeça noutro lugar que não dentro do balneário e dos objectivos do clube.
- A perspectiva do FC Porto. O clube português "livra-se", por assim dizer, de um jogador que estava a ameaçar tornar-se um foco de instabilidade para o balneário e para o treinador, acima de tudo. Se Quaresma ficasse, seria complicado tê-lo a jogar, o que implicaria algumas dificuldades na gestão do onze, uma vez que seria sempre difícil explicar a sua titularidade a jogadores mais envolvidos nos objectivos do clube, mas seria sem dúvida muito mais complicado colocá-lo no banco. Apesar de dois campeonatos ganhos, Jesualdo continua a não ser uma figura consensual no Dragão e bastariam um ou dois maus resultados para uma grande parte da massa associativa demonstrar o seu desagrado e falta de apoio. O clube obtém um receita razoável, ainda que longe dos números que Pinto da Costa adiantara, acreditando que Quaresma vai provar no Inter que o seu falhanço no Barcelona de Rijkaard se deveu a imaturidade e alguma falta de sorte. O FC Porto pode ter perdido o "mágico", mas ganhou consistência e regularidade.
- A perspectiva do Inter. Não, não vou afirmar que Mourinho é o único treinador que consegue pôr Quaresma "na linha". Por mais que Adriaanse não fizesse parte do meu rol de preferências, teve a audácia de mostrar claramente que Quaresma tinha de aprender a ser mais jogador de equipa, mais inteligente e menos egoísta. O jogador parece ter aprendido a lição, mas a sua atitude nos últimos meses estava longe de ser a desejada. Mourinho já mostrou ser capaz de aproveitar jogadores da melhor maneira (de Marco Ferreira a Jankauskas, de van Hooijdonk a Tiago, não esquecendo o exemplo óbvio de Joe Cole, em risco até 2004 de se confirmar como mais uma promessa sempre adiada do futebol inglês) e não perdeu tempo a mostrar a Quaresma os limites, afirmando que o jogador vai ter de se habituar a jogar onde o treinador quiser, nem que seja na bancada.
Conclusão: o FC Porto fez um negócio razoável. Apesar da venda por números relativamente baixos quando comparado com o que Pinto da Costa afirmara anteriormente, o clube português conseguiu resgatar Pelé (naquilo que me parece um bom negócio) e salvaguardar não só compensações financeiras em função do rendimento futuro do jogador, como também a garantia de que o jogador, a regressar para Portugal, apenas o poderá fazer para o FC Porto. Quanto ao Inter, terá de ver se o jogador está definitivamente empenhado em tornar-se um futebolista, e não um malabarista. Basta Quaresma olhar para onde poderia estar se se tivesse dedicado a ser um melhor jogador como Ronaldo o fez, sabendo que há uma altura para adornar, uma hora para arriscar e um momento para ser eficaz, simples e prático. Quaresma ainda não o sabe. Se Mourinho conseguir explicar-lhe essa simples realidade (que o jogador não estava interessado em apreender no FC Porto), poderá explodir em definitivo. Caso contrário, será mais um ilusionista, e nunca um mágico.
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