Wednesday, January 26, 2011

Uma incompetência gritante


As questiúnculas da arbitragem nunca encontraram lugar neste espaço, pois não acho que o futebol deva sequer girar em torno das mesmas. No entanto, há sempre lugar para a discussão sobre uma perspectiva mais abrangente da arbitragem e seus meandros. Depois de ver a actuação de Bruno Paixão no passado sábado, continuo sem compreender os critérios (absolutamente insondáveis) que permitem não só que Paixão continue a apitar, como seja dos árbitros mais antigos de primeira categoria.

Se é verdade que jogadores e treinadores encontram não raramente nos juízes de campos as desculpas perfeitas para escamotear as suas responsabilidades, não é menos verdade que o mero nome do árbitro em questão é mais do que suficiente para pôr os cabelos em pé a muitos dos treinadores portugueses, graças ao seu desrespeito pelo espírito do jogo, à sua ineficácia técnica e disciplinar e à forma como não parece aprender, erro após erro após erro.

Tuesday, January 25, 2011

A inversão do paradigma

Antes da Lei Bosman, em 1995, era quase impossível aos jogadores de futebol decidir sobre o seu futuro, pois o clube que representavam tinha sempre a última palavra. Com a alteração desse estatuto, os jogadores passaram a ter o poder de escolher o clube que queriam representar e durante quanto tempo queriam representá-lo. Há uma panóplia de estudos que, com base em evidências sólidas, apontam a correlação entre o disparar dos ordenados dos jogadores e esta legislação.

Hoje em dia, vemos o absoluto oposto: jogadores que forçam a saída dos clubes ameaçando os mesmos que, se não quiserem vendê-los quando e para onde querem, abandonam a entidade patronal sem que esta tenha direito a qualquer compensação. Abordo esta questão a propósito do interesse do Real Madrid em Ruud van Nistelrooy (ex-jogador dos merengues).

O jogador holandês foi transferido para o Hamburgo há duas épocas, pois encontrava-se já na fase descendente da sua carreira e não encontrava o espaço que julgava merecedor para a sua valia. Como tal, rumou à Alemanhã, em tudo à imagem do que aconteceu com o antigo capitão da mesma equipa, Raúl. Subitamente, o Real, com todos os problemas que vem enfrentando devido à escassez de opções na posição 9, manifesta o seu interesse em Nistelrooy, que força a saída, mostrando-se disposto a pagar do seu próprio bolso para jogar novamente no Santiago Bernabéu.

O Hamburgo, clube que desembolsou largos milhões de euros pela transferência e salário do jogador, negou a pretensão do jogador, demonstrando o evidente: o momento da época é crítico, o clube fez um forte investimento no jogador, definiu um determinado número de anos para a duração do contrato e, como tal, não está minimamente interessado em sair prejudicado de toda esta confusão.

Pois bem, pudemos ler há pouco as palavras do empresário do holandês, que veio a terreiro manifestar o descontentamento do jogador: "Ele não consegue entendê-lo, e é um problema. É muito, muito doloroso para ele. É triste porque o Hamburgo não sabe o que fez a Ruud com esta decisão."

Em suma, hoje em dia, qualquer futebolista crê poder assustar e "aterrorizar" o seu clube, não dando qualquer prova de interesse em cumprir o contrato que assinou, com todas as possibilidades de escolha e decisão. Mais do que o amor à camisola, perdeu-se o respeito pela palavra e pelo acordo.