Thursday, March 8, 2012

"Em Roma, sê romano"


Equipas e movimentações iniciais


Num encontro fechado, o Sporting conquistou uma vitória por 1-0 que poderá revelar-se decisiva quando as equipas se encontrarem novamente, de hoje a uma semana. Ricardo Sá Pinto mostrou ser suficientemente humilde para aprender com os erros do FC Porto na última eliminatória perante o mesmo adversário e optou por uma estratégia bem diferente da abordagem de Vítor Pereira.

Com efeito, Sá Pinto escalou um invulgar (para equipas portuguesas) 4x4x2 assimétrico (ver imagem mais abaixo), imitando na perfeição o onze previsível do City. Carriço e Schaars tinham como missão proteger a sua linha defensiva e, embora Capel e Izmailov completassem uma segunda linha de quatro no meio-campo, o russo ocupou mais interiores, provavelmente prevendo a tendência de David Silva de descair para o centro. Foi pedido a Schaars que jogasse um pouco mais avançado em relação a Carriço, no sentido de ocupar o espaço entre sectores.



O Manchester City mostrou a sua postura habitual nos jogos longe do seu reduto. Com Clichy no lugar de Micah Richards a lateral-direito, Milner como falso ala direito e Silva à esquerda, não restava outra alternativa ao City senão jogar pelo centro, deparando-se com uma compacta defesa leonina.

Em vez de jogar olhos nos olhos com o seu adversário, os leões entraram de forma cautelosa, receosos de subir o bloco e, com isso, exporem a sua linha defensiva (à imagem do que o FC Porto fez nos dois jogos com os citizens). Confrontado com uma equipa inglesa com ADN italiano, Sá Pinto não teve pejo em conceder o favoritismo e o domínio de jogo à equipa de Roberto Mancini, esperando que o Sporting fosse capaz de lançar rápidos contra-ataques. Com Izmailov a criar superioridade numérica no centro do terreno, quase todas as bolas recuperadas iam rapidamente ao encontro de João Pereira, especialmente porque - como é do conhecimento geral - David Silva não é particularmente adepto de auxiliar nas tarefas defensivas.

Os ingleses mostravam-se lentos e pareciam crer que o problema se resolveria naturalmente, limitando-se a rodar a bola, esperando que Silva sacasse um coelho da cartola. Por seu turno, Van Wolfswinkel e Matías Fernández, batalharam com afinco no sentido de reduzir os espaços e fechar as linhas de passe aos médios-centro do City. Ao fim dos primeiros 25 minutos, o Sporting tornou-se menos calculista e temeroso e começou a mostrar que pretendia discutir o jogo, nomeadamente através de remates de longe.

A primeira parte chegou ao fim, com ambas as equipas aparentemente mais interessadas em não sofrer do que em marcar. Xandão marcou um delicioso golo de calcanhar e presumiu-se que o jogo abriria aí a partir de então. Embora a equipa da capital se tenha mostrado aqui e ali algo sôfrega em acompanhar o entusiasmo da multidão nos minutos que se seguiram, conseguiu manter o seu controlo emocional e resistiu à tentação de partir para cima do adversário, cingindo-se ao seu plano de jogo.

Enquanto que Mancini substituiu Dzeko (mais uma exibição desinspirada do bósnio) por Balotelli, Sá Pinto tentou garantir que o Sporting não sofria um golo potencialmente fatal ao mandar para o terreno de jogo Pereirinha e Renato Neto para os lugares de Izmailov e Matías, respectivamente. A mensagem era clara: o resultado era perfeito e a vantagem de um golo deveria permanecer intacta. Balotelli foi na verdade o único citizen capaz de causar problemas ao Sporting (principalmente ao irascível João Pereira) e o City ficou muito próximo do golo da igualdade na parte final do encontro, incluindo uma cabeçada de Balotelli à barra.

Em jeito de conclusão, o treinador do Sporting reconheceu as diferenças entre as duas equipas e foi capaz de convencer os seus jogadores que teriam de trabalhar muito e estar dispostos a ter menos a bola em sua posse para serem bem sucedidos. A sua abordagem italiana funcionou na perfeição e Mancini insiste em demonstrar que as noites europeias permanecem pesadelos, mesmo se é verdade que o resultado foi lisonjeiro para o Sporting.

Individualmente, gostaria de destacar Matías Fernández pela sua capacidade de trabalho e presença de espírito, uma vez que se assumiu como o principal elo de ligação entre defesa e ataque, oferecendo uma bola de saída, mas gostaria igualmente de elogiar o mal-amado Anderson Polga. Embora Xandão tenha mostrado mais uma vez que poderá ser uma adição valiosa para a equipa, o campeão do mundo mostrou que continua a ser um excelente jogador quando a sua equipa não é constantemente apanhada em contrapé.

Wednesday, March 7, 2012

Uma estrada de sentido único


O encontro de ontem entre Benfica e Zenit de São Petersburgo assemelhou-se a um déjà vu. Tal como tinha acontecido na partida frente ao FC Porto na fase de grupos, a equipa russa cedeu por completo a iniciativa ao seu adversário, originando uma estrada de sentido único. Mesmo quando se viram a perder e foram forçados a alargar a frente de ataque, os russos não foram capazes de fazer mais de um remate à baliza. Como tal, a análise desta partida abordará algumas questões sobre o Benfica - a única que quis efectivamente jogar futebol - e um pouco sobre o Zenit. Seguem-se cinco pontos sobre o jogo de ontem.

  1. Ao contrário do jogo contra o FC Porto da passada sexta-feira, Jorge Jesus permitiu que Witsel jogasse mais adiantado. Embora isso tenha deixado Javi García em inferioridade numérica na batalha do meio-campo, permitiu que as águias pressionassem em zonas mais adiantadas ao defender e que criassem desequilíbrios nas alas ao atacar. Não foi por acaso que o Benfica passou toda a primeira parte a massacrar o lado esquerdo do Zenit.
  2. Maxi Pereira merece maior reconhecimento. Maxi não o merece pelo golo decisivo que marcou ontem. O uruguaio é capaz de percorrer todo o seu flanco durante o jogo, fazer a sobreposição ao seu extremo, rematar à baliza e, acima de tudo, estar no sítio certo para interceptar uma bola alguns segundos depois. Maxi é definitivamente o motor deste Benfica.
  3. Nélson Oliveira é claramente jogador para este Benfica. Ao tomar notas sobre o jogo durante a primeira parte, dei por mim a rabiscar algo do género "Porque não Nélson Oliveira no lugar do Rodrigo?". Não é minha intenção arrogar-me em profundo conhecedor de tudo o que é futebol, mas o avançado português mostrou no último Campeonato do Mundo de sub-20 que é capaz de batalhar sozinho contra uma defesa inteira, se necessário for. Embora seja tecnicamente menos evoluído do que Rodrigo, é muito mais combativo e intenso, características de que o Benfica necessitava ontem, especialmente quando as atenções estavam concentradas em Cardozo.
  4. Jorge Jesus parece ter finalmente compreendido a necessidade de fechar o jogo, por vezes. Após marcar o primeiro golo, a equipa não pareceu ansiosa por marcar o segundo, o terceiro e o quarto, abrindo com isso brechas nas suas costas. Aliás, os encarnados terão porventura recuado em demasia, mas controlar o jogo é essencial, particularmente na Liga dos Campeões. A entrada de Matic para o lugar de Gaitán foi a prova de que o treinador português é capaz de aprender com os seus erros.
  5. Apesar dos inúmeros jogadores russos na sua equipa, o Zenit é claramente uma equipa italiana. Luciano Spalletti logrou implementar os típicos valores transalpinos na sua equipa, levando-nos de volta aos anos '90, o apogeu do catenaccio. O único problema dessa abordagem reside no facto de, depois de nos vermos a correr atrás da eliminatória, termos em mãos uma equipa planeada e escalada para um empate. Tal como muitos treinadores descobrem mais cedo do que tarde, mudar o chip de uma equipa durante um jogo é uma das tarefas mais difíceis de uma carreira.

Tuesday, March 6, 2012

World Class Coaching

A análise da mais recente partida entre Milan e Juventus para o campeonato italiano está agora disponível no excelente blog World Class Coaching, no endereço http://www.worldclasscoaching.com/blog. Quaisquer comentários, sugestões ou críticas serão, como sempre, bem-vindos.