Friday, March 30, 2012

O (improvável) golo da época?

Destaques do próximo fim-de-semana futebolístico


À medida que entramos no momento de todas as decisões na maioria das ligas europeias, o próximo fim-de-semana futebolístico está recheado de jogos interessantes de resultado imprevisível. Lançamos mais abaixo um breve olhar sobre alguns dos confrontos mais interessantes.

Em Portugal, o Sporting de Braga lidera o campeonato, com um ponto de vantagem sobre o FC Porto e dois relativamente ao Benfica. Os encarnados defrontam o Sporting de Braga encontrar-se-ão amanhã, no Estádio da Luz, enquanto os dragões recebem o Olhanense no seu reduto duas horas antes, num encontro que são obrigados a vencer. Conseguirá o Benfica ultrapassar o Sporting de Braga, que já não vence as águias na Luz há várias décadas? Na próxima jornada, o Sporting de Braga recebe o FC Porto e o Benfica vai a Alvalade.

Em Itália, teremos um clássico decisivo para ambas as equipas - Juventus e Nápoles. Os bianconeri estão a quatro pontos do Milan e não se podem dar ao luxo de desperdiçar mais pontos, se ainda pretenderem conquistar o título. Por seu turno, os comandados de Walter Mazzarri, estão em quarto (em igualdade pontual com a Udinese), a três pontos da Lázio, na luta pelo último lugar de acesso à Liga dos Campeões. Tudo isto significa que nenhuma das equipas poderá recorrer ao seu tipo de jogo preferencial - esperar pelo adversário e lançar contra-ataques.

Em Espanha, o encontro mais interessante opõe Barcelona ao Atlético de Bilbau, particularmente porque o encontro dista apenas 48 horas da fantástica vitória da equipa basca (2-3) no terreno do Schalke. Uma vez que nenhuma das equipas pode perder pontos e o seu jogo se baseia numa pressão (quase) constante, que partida teremos? Será que o Marcelo Bielsa mudará metade dos seus jogadores para manter o seu pressing? Pep Guardiola fará o mesmo?

Por fim, em Inglaterra, há alguma expectativa face às opções de Roberto Di Matteo para o encontro em casa do Aston Villa. Descartará metade da equipa que venceu na Luz na passada terça-feira ou manterá o seu onze vencedor intacto? No domingo, Newcastle defrontará o Liverpool, na esperança de que o Chelsea tenha perdido pontos na véspera, de moo a poder continuar a sonhar com a participação na próxima edição da Liga dos Campeões. Por outro lado, o Liverpool, tendo garantido o regresso às noites europeias através da sua vitória na Taça da Liga, parece estar claramente a aguardar calmamente pelo final da época.

Wednesday, March 28, 2012

A Liga dos Campeões em todo o seu esplendor

Equipas e movimentações iniciais


Benfica e Chelsea defrontaram-se ontem no Estádio da Luz para apurar quem seguiria para as meias-finais da Liga dos Campeões. O que se viu foi uma partida típica da prova rainha a nível europeu, com a equipa de menor dimensão a jogar melhor futebol e os favoritos a resistirem a ondas de ataques sucessivos (ficando perto de sofrer um golo), marcando nos últimos minutos num rápido contra-ataque.

Jorge Jesus, treinador dos encarnados, escalou o onze esperado, com Gaitán e Bruno César nas alas e Aimar por trás de Cardozo. Ao invés, o treinador interino do Chelsea, Roberto Di Matteo, promoveu seis alterações e deixou Bosingwa, Cahill, Essien, Lampard, Sturridge e Drogba de fora (com a chamada altamente improvável de Paulo Ferreira à titularidade), assumindo o objectivo para o encontro - e demonstrando que todos os jogadores do plantel do Chelsea terão a sua oportunidade.

O plano de jogo dos londrinos era de fácil compreensão: actuar em bloco baixo, ceder a iniciativa de jogo, tentar controlar a posse de bola (mesmo que tal não significasse progredir com a mesma) e um contra-ataque, se possível. O Benfica mostrava-se receoso de exercer a sua habitual pressão alta e, com isso, os defesas e médios blues puderam desfrutar de inúmeros momentos para abrandar o ritmo de jogo à sua conveniência, incomodando os adeptos encarnados. Di Matteo tinha feito o trabalho de casa e fez alinhar Kalou (mais diligente e consciente em termos tácticos) na ala esquerda, no sentido de tentar estancar a via preferencial do ataque das águias - o flanco direito. Para além disso, Torres tinha ordens para descair para o espaço que Maxi Pereira abria nas suas costas, de modo a tirar proveito do posicionamento mais atrevido do lateral-direito - e arrastando o seu marcador directo consigo.

Torres recebe uma bola longa nas costas de Maxi Pereira, arrastando Luisão consigo.
Kalou ocupa o espaço criado pelo seu companheiro.

Nesta imagem, Luisão tenta recuperar a posição e é o omnipresente Javi García que faz a compensação.

Esta simples movimentação liberta Meireles e oferece-lhe espaço para rematar
(Maxi, já atrasado, ocupa o lugar de Javi García)

Como habitualmente, o Benfica atacou primordialmente pela direita, com Gaitán, Witsel e Aimar a ocuparem alternadamente a ala, tentando desposicionar Meireles e Mikel - tendo sido bem sucedidos em determinados momentos, mas de forma menos frequente do que o esperado. O problema residia no já infame lado esquerdo. Embora Emerson venha a ser alvo de inúmeras críticas ao longo de toda a temporada, a culpa nem sempre é exclusivamente sua, como o encontro de ontem demonstrou. Ramires, jogando sobre a direita, mas em zonas mais centrais do que Kalou, ajudava a criar superioridade numérica no centro do terreno e tentou repetidamente ultrapassar Emerson, uma vez que Bruno César (e Gaitán, depois de se mudar definitivamente para a esquerda) raramente recuava, deixando demasiado espaço para o Queniano Azul explorar (veja-se a área amarela no gráfico no início da página). Como se constataria mais tarde, esse seria o erro fatal do Benfica.

Ramires (n.º 7), presumível médio-direito, ocupou zonas mais centrais
Embora pareça tratar-se de um contra-ataque, é apenas uma normal jogada corrida.
Ramires tem já imenso espaço à sua volta

Com ambas as equipas dispostas de forma semelhante, tudo se resumiria à velocidade e criatividade. O Chelsea, conforme analisado noutro artigo, é actualmente uma equipa mais calma, bem organizada e menos vulnerável a desmarcações e contra-ataques. Paulo Ferreira foi essencial para a recém-descoberta estabilidade no lado direito da equipa londrina, graças à sua maior fiabilidade defensiva e melhor compreensão das tarefas de um defesa-lateral. As águias teriam de ser mais expeditas na segunda parte.

Foi precisamente isso que se verificou. Tal como acontece recorrentemente nas fases mais adiantadas desta competição, os favoritos foram alvo de ataques cerrados durante os primeiros 15 minutos da segunda parte, um período em que o Benfica podia (e deveria) ter marcado. Cech fez grandes defesas, David Luiz salvou corajosamente um potente remate de Cardozo em cima da linha e parecia que a fortaleza do Chelsea estava prestes a ruir. Era evidente que a maior velocidade de Witsel (jogador que demonstrou novamente ser a peça que faltava ao Benfica para encontros desta magnitude), Aimar e Gaitán (o qual rendeu muito mais na esquerda) estava a causar dificuldades a Meireles e - particularmente - Mikel, especialmente porque Torres estava mais uma vez longe do seu melhor, incapaz de segurar uma bola. Com Mata perdido (parece óbvio que não tem características para iniciar os seus movimentos a partir do centro), Ramires oferecia a única saída para os blues.

Jesus queria desesperadamente vencer o jogo e substituiu Aimar e Bruno César por Rodrigo e Matic, o que significava que Witsel iria para a direita, Matic ocuparia o seu lugar ligeiramente à frente de Javi García e Rodrigo jogaria por trás de Cardozo - e foi então que tudo começou a esfumar-se. À imagem do que tem acontecido em algumas ocasiões, a tentativa do Benfica de vencer o jogo desequilibrou toda a equipa. A influência de Witsel diminuiu na direita e a equipa lisboeta começou a perder o controlo da partida. Embora o golo do Chelsea seja a súmula dos seus actuais pontos fortes (experiência, resiliência, meio-campo mais compacto e contra-ataques), é algo que se tem visto com inusitada frequência no Benfica: a sua vontade de vencer a todo o custo significa muitas das vezes que a equipa fica partida.

Início da jogada que culminaria no golo do Chelsea. Note-se quão adiantado Emerson está, sem cobertura ofensiva.

Após a impressionante corrida de Ramires, cabe a Torres prosseguir a jogada.
Matic prova que ainda não está à altura de jogos desta importância.
A seta verde indica o local em que deveria estar para oferecer cobertura defensiva.

Por fim, há algo que vale a pena referir. Os treinadores afirmar repetidamente que há sempre uma estratégia por trás das suas decisões, mas, por vezes, é difícil fazer sentido. Qual será a lógica de deslocar Witsel para a direita e devolvê-lo à posição original uma dezena de minutos depois? Como é evidente, Jesus está longe de ser o único treinador a fazê-lo; resta-nos apenas esperar que, um dia, um treinador nos dê uma resposta honesta a esta questão.

Monday, March 26, 2012

Benfica-Chelsea: antevisão



Benfica e Chelsea defrontam-se amanhã na primeira mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões, num embate que poderá revelar-se extremamente interessante e imprevisível. São apresentados mais abaixo alguns motivos que poderão explicar por que motivo uma destas equipas passará à fase seguinte.


3 motivos para a vitória do Chelsea

1) Resiliência. Se a partida contra o Nápoles nos ensinou algo, foi que esta equipa não é tão fraca quanto a maioria de nós parece pensar e que ainda tem algo a mostrar. Os jogadores do núcleo duro do Chelsea são vencedores de outras batalhas, capazes de reunir as suas forças quando necessário – os encontros contra o Valência e o Nápoles deverão ser um aviso às hostes encarnadas.

2) Uma tendência para atacar pelo centro. Apesar da mais recente (e ligeira) mudança de ideias de Roberto Di Matteo, Sturridge ocupa habitualmente o lado direito, com tendência para flectir para dentro (ou na esquerda, onde é claramente menos eficaz). Mata, partindo tradicionalmente da asa esquerda, tem igualmente tendência para procurar zonas mais interiores e Drogba é um monstro competitivo que prospera com bolas longas – a alternativa escolhida pelo Chelsea nos últimos jogos. Dado que as águias tendem a deixar o centro do terreno para Javi García de forma quase exclusiva, esta poderá ser uma boa opção para o onze inglês.

3) Um meio-campo mais compacto. Se é verdade que o Chelsea ataca pelo centro, não é menos verdade que defendem melhor nessa zona. Embora ainda esteja distante do que já foi, Essien está cada vez mais próximo dos seus níveis físicos de outrora. Por seu turno, Lampard tem jogado mais recuado do que costumava fazer, mas ainda é capaz de distribuir longas bolas diagonais por cima da última linha contrária, algo a que o Benfica é por vezes vulnerável.


3 motivos para a vitória do Benfica

1) Movimento ofensivo. A abordagem do Benfica passa sempre por lançar vários homens da frente de ataque, mesmo quando essa opção não é necessariamente a mais aconselhável. Nesse aspecto, Gaitán, Bruno César, Nolito e Maxi Pereira são exímios a criar situações de superioridade numérica nas alas e realizar penetrações em "tabelas". Embora alguns membros do plantel do Chelsea ainda se lembrem de como defender devidamente, a fluidez do Benfica poderá ser uma tarefa demasiado hercúlea para os londrinos.

2) Marcação individual do Chelsea. A opção preferencial dos blues em situações defensivas de bolas paradas passa pela marcação individual, podendo revelar-se um ponto fulcral de ataque para as águias. A obsessão de Jesus com os esquemas tácticos poderá ser decisiva para desfazer o impasse.

3) Rápidas transições ofensivas. Um dos principais atributos do Benfica reside na sua velocidade vertical, ou seja, a rapidez com que consegue transformar uma situação defensiva numa clara oportunidade de golo para a sua equipa. Ao invés, as transições defensivas são um dos pontos mais fracos do Chelsea, dado que Mata e Sturridge desprezam com frequência as suas tarefas defensivas e apenas Ramires recua. Com Maxi, Witsel e Gaitán, entre outros, a intensidade do Benfica poderá ser o ponto de partida para a qualificação para as meias-finais.

Como não marcar correctamente Hulk



O encontro do passado Domingo entre Paços de Ferreira e FC Porto, a contar para o campeonato português, ofereceu-nos um exemplo acabado de como não defender - em particular contra um jogador potente e rápido como Hulk.

O Paços de Ferreira defende incorrectamente e o FC Porto marca o primeiro golo do jogo.
Note-se o enorme espaço atrás dos dois jogadores do Paços de  Ferreira (área amarela).
É certo e sabido que, quando temos dois jogadores a defender um adversário, o primeiro deverá atacar a bola e o segundo deverá fornecer cobertura, para o caso de o primeiro defensor ser batido e/ou para avisar o adversário de que o espaço atrás do primeiro defensor está ocupado. No entanto, há uma vasta diferença entre dizê-lo ou escrevê-lo e fazê-lo em condições de jogo, sendo necessárias para tal horas de treino e coordenação.

Nesta jogada específica, Hulk enfrenta dois jogadores do Paços. O primeiro (círculo vermelho) toma a atitude correcta ao proteger o corredor central (e, simultaneamente, o pé mais forte de Hulk). No entanto, o segundo defensor deveria fornecer cobertura, com a seta verde a indicar a sua posição correcta, em circunstâncias ideais. Dado o que seu posicionamento não foi o melhor, Hulk pôde acelerar, ultrapassar os dois adversários e cruzar para golo (marcado involuntariamente na própria baliza por um terceiro defensor).

O inebriante receio da derrota


Equipas e movimentações iniciais
Chelsea e Tottenham encontraram-se no passado sábado para tentar ganhar vantagem na corrida para o lugar que dá acesso à Liga dos Campeões, nos jogos que faltam. No entanto, o receio da derrota foi claramente demasiado grande para ambas as equipas, proporcionando um jogo bastante fechado, cujas melhores oportunidades de golo tiveram origem em lances de bola parada.

O Chelsea entrou em campo sem Meireles, Luiz, Torres e Ivanovic, ao passo que o Tottenham não podia contar com Lennon, fazendo com que van der Vaart fosse colocado na asa direita do seu meio-campo para as tarefas defensivas. A equipa de Harry Redknapp actuou com um bloco baixo e cedeu de bom grado a iniciativa de jogo, com Sandro a receber instruções para subir e perturbar a primeira zona de construção do Chelsea.

No que diz respeito a Roberto Di Matteo, a sua principal preocupação pareceu ser a ameaça de Gareth Bale, ordenando a Ramires que se juntasse a Bosingwa para que fossem constantemente criadas situações de 2v1 contra o veloz galês, o que acaba por explicar o jogo mais discreto. A dupla de meio-campo constituída por Essien e Lampard mostrou-se lenta, como seria de esperar, apesar da crescente combatividade de Essien. Com Ramires estacionado na direita, Sturridge foi colocado na esquerda e Mata atrás de Drogba. O extremo inglês é claramente menos eficaz no lado esquerdo, uma vez que deixa de poder fazer a sua movimentação preferencial e flectir para dentro, e o espanhol sente-se menos à vontade no centro do terreno, pois significa que é o constante alvo de marcação de um defesa-central ou médio-defensivo, em vez de os surpreender com movimentos interiores.

O plano atacante dos homens de Di Matteo era evidente: tirar proveito da presença de Lampard e da sua capacidade de lançar bolas para as costas da defesa contrária, tanto para Sturridge (que ocupava o espaço criado por Drogba) ou pelo próprio Drogba, sempre disposto a batalhar. Perto do intervalo, o Tottenham avançou um pouco mais e tornou o jogo mais interessante, chegando mesmo perto de marcar.

Na segunda metade, Bale e Van der Vaart receberam ordens para jogar mais no centro, asfixiando o meio-campo do Chelsea. Para além disso, o resultado era mais favorável à equipa de Redknapp, o que significava que o Tottenham era mais paciente a rodar a bola de lado para lado. Por seu turno, o Chelsea, mostrava-se sempre mais perigoso quando abria mão de passes diagonais longos para as costas da linha defensiva do seu adversário.

Aos 75 minutos, Torres entrou para o lugar de Essien, dando a entender que o Chelsea iria dar o tudo por tudo. Tal como havia acontecido no encontro em casa contra o Arsenal (ainda no tempo de Villas-Boas), os blues desequilibraram-se, abriram espaços e estiveram muito perto de perder a partida.

Em resumo, o encontro não foi particularmente interessante, mesmo no que se refere à parta mais táctica, vincando um claro contraste com o que tem sido regra nos encontros entre os 5 primeiros classificados da Premier League - jogos com muitos golos, sem grandes cuidados defensivos. Nenhuma equipa queria perder este embate e, com isso, ver esfumar-se a hipótese de aceder à edição do próximo ano da Liga dos Campeões.