Saturday, August 25, 2012

Abrir o jogo

Equipas e movimentações iniciais

Ao contrário do que muitas vezes se pensa, os campeonatos dos diferentes países não se limitam apenas às três ou quatro principais equipas. Como tal, este blog e o site Portugoal.net têm o maior em abrir o seu espectro e analisar mais de perto as restantes equipas do campeonato português. Na verdade, é no mínimo justo que valorizemos o trabalho dos jogadores e treinadores dessas equipas.

O primeiro encontro da segunda jornada da Liga Zon Sagres envolveu duas equipas com grande potencial, orientadas por dois jovens e aguerridos treinadores - Pedro Emanuel e Sérgio Conceição -, razões mais do que suficientes para aguçar o apetite à volta do resultado final. Com efeito, a partida não desiludiu e ofereceu inúmeros motivos de interesse - acima de tudo, a predisposição de duas equipas para jogarem de forma positiva é algo de que o principal campeonato português bem precisa.

A Académica começou melhor e, aos 10 minutos, registava já duas claras oportunidades de golo, ambas com origem no flanco direito. Os estudantes eram mais agressivos sobre a bola e quebraram inclusivamente o actual mandamento táctico seguido pela maioria das equipas: em vez do usual 4x2x3x1, Pedro Emanuel dispôs a sua equipa num 4x3x3. Adicionalmente, atreveu-se a ordenar a Flávio Ferreira (o pivô defensivo da Académica) que recuasse, à imagem do que Javi García tem feito no Benfica, e se assumisse como o ponto de partida dos ataques conimbricenses. Com essa organização, tanto Rodrigo Galo como Hélder Cabral puderam jogar em zonas mais avançadas, beneficiando das inteligentes movimentações de Cissé e Marinho.

Babanco (vermelho) não teve a melhor prestação defensiva.
Neste caso, nem sequer oferece a cobertura defensiva correcta.
Ao não se colocar entre o atacante e a sua baliza,
Babanco expõe a sua equipa ao resultado do duelo aéreo de Maurício.

Com Rui Duarte isolado mais adiante nas costas de Yontcha, Fernando Alexandre e Jander viam-se a braços com sucessivas ondas ofensivas do adversário. Os extremos da Académica flectiam recorrentemente para dentro e confundiam as marcações dos algarvios. Na verdade, os laterais não sabiam se deveriam acompanhá-los ou deixá-los para serem marcados noutras zonas do terreno, o que abriu caminho para as muitas incursões de Rodrigo Galo (na primeira parte) e Hélder Cabral (na segunda metade).

Ao moverem-se para dentro, os extremos da Académica sobrecarregavam o centro,
abrindo espaço para as investidas dos seus laterais.

Por seu turno, o Olhanense parecia algo perdido em campo, em parte porque o seu jogador mais cerebral, Rui Duarte, jogava demasiado longe do seu raio de acção preferencial e era obrigado a jogar de costas para a baliza. Para além disso, a sua presença em áreas tão avançadas significava que a Académica era capaz de recuperar as segundas bolas rechaçadas pelos defesas algarvios.

Por conseguinte, o golo da Académica não apanhou ninguém de surpresa, dada a corrente do jogo. Quanto muito, terá até chegado tarde, uma vez que, por essa altura, o Olhanense se mostrava mais próximo do seu real valor. Sérgio Conceição substituiu o ineficaz Abdi por David Silva, uma alteração que viria a dar grandes dividendos.

Não obstante as suas intenções ofensivas, a Académica necessita de melhorar ao nível das transições defensivas - os estudantes envolvem frequentemente demasiados homens no ataque, em zonas afastadas da bola, o que tende a deixá-los vulneráveis na defesa - e de aprender a controlar as partidas. Embora tenham tentado abrandar o ritmo do jogo, não foram bem sucedidos a esse nível e permitiram que o Olhanense, agora mais afoito, fosse atrás do resultado.

O golo de David Silva serviu para mostrar que o 4x2x3x1, a opção actual da maioria dos treinadores, exige uma grande mobilidade. Caso contrário, pode revelar-se demasiado previsível e estático. Ao arriscar mais nas suas desmarcações, Silva provocou maiores incómodos para a defesa academista, a qual não podia agora dar-se ao luxo de se preocupar exclusivamente com Yontcha. Quando o fizeram, o Olhanense chegou ao golo.

Os dois defesas-centrais (amarelo e azul) estão atentos a Yontcha.
Ao acompanhá-lo, abrem espaços nas costas para a diagonal de Silva. 

Em resumo, tratou-se de um encontro extremamente interessante que ajudou a demonstrar que a liga portuguesa tem muito para oferecer, caso haja predisposição para tal da parte de todos os intervenientes. Por outro lado, convém referir que as duas equipas em acção não se limitam a jogar exclusivamente em nome dos pontos (necessários) e que tentam efectivamente jogar um futebol atractivo.

Por fim, Marinho fez uma bela partida e poderá estar a aprontar-se para voos mais altos, Makelele é um trabalhador incansável e Cissé é claramente um jogador para acompanhar de perto. A sua recepção, movimento e leitura de jogo são evidentes à vista desarmada. Não é provável que a sua estadia na Briosa dure mais do que a presente época.