Wednesday, December 21, 2011

Tudo a zeros

Equipas e movimentações iniciais
No encontro que opunha o segundo e terceiro classificados do campeonato italiano, esperava-se algo mais do que o cancelamento táctico mútuo. No entanto, a partida de hoje foi um dos melhores exemplos do motivo por que a maioria dos espectadores dá preferência à Premier League.

No futebol - como em quase tudo o resto -, as evoluções tácticas ficam mais a dever à moda do momento do que a uma qualquer revolução intelectual ou filosófica. Como tal, foi curioso dois onzes dispostos exactamente da mesma forma, com o cada vez mais tradicional trio de centrais e dois laterais. Esta equivalência táctica significaria que a batalha táctica seria ganha pelo triunvirato de centrocampistas que apresentasse melhor movimentação ofensiva e maior capacidade de recolocação.

Não obstante disputar a partida no seu reduto, a equipa de Udine preferiu conceder a iniciativa do jogo ao adversário desde o primeiro momento, preferindo apostar no contra-ataque. Foi precisamente essa estratégia que provocou grandes calafrios, de início, pois Asamoah encostava muito ao flanco esquerdo - a única via de ataque da Udinese -, abrindo todo o centro do terreno, em grande parte graças à excelente exibição de Vidal, que, com 4 desarmes e 3 recuperações (cortesia de whoscored.com), foi o elemento mais interventivo na manobra defensiva da equipa. Após a recepção, a transição passava sempre pelos pés de Pirlo e por lançamentos longos para o flanco direito, aproveitando o posicionamento sempre suspeito de Basta e a velocidade de Estigarribia.

Na frente, Matri estava demasiado longe da baliza, obrigando-o a conduzir a bola durante demasiado tempo para as suas capacidades e a tomar decisões de desenvolvimento dos contra-ataques - claramente uma pecha no perfil deste avançado. Quanto a Di Natale, a grande esperança dos de Friuli, a sua exibição foi muito pobre, como o comprovam os 21 (!) toques durante todo o jogo, quase sempre sem qualquer consequência.

A segunda parte trouxe consigo uma Udinese mais ofensiva, ainda que de forma muito desorganizada. Com efeito, metade da equipa tentava pressionar mais à frente, ao passo que a outra metade preferia não abrir espaços nas costas, o que deixava enormes brechas para o trabalhador meio-campo da Juve. Com Basta apostado em pressionar sempre alto e a ser constantemente ultrapassado através de simples tabelas, a Vecchia Signora parecia sempre mais perto do golo, o que não viria a acontecer.

Em resumo, um jogo que prometia bastante, mas em que o medo de perder foi manifestamente superior à vontade de superar o adversário. Em Itália, mais do que em qualquer outro campeonato, sabe-se que 1 ponto é sempre melhor do que 0 e que o campeonato é muito longo.

Thursday, December 15, 2011

Em banho de humildade

Nos dias que correm, não é costume vermos grandes manifestações públicas de modéstia, seja em que área for. No futebol, em particular, dos melhores (ver o caso de Lampard ou Ballotelli) aos amadores (ver ou ouvir os jogadores em qualquer banco ou bancada de quase todos os clubes), todos se preocupam em demasia em pavonear as suas qualidades, ao invés de analisarem a questão de forma racional e em conversa com o treinador, por exemplo.

Contudo, eis que chega Roderick. De um defesa-central titularíssimo na selecção nacional de sub-20 que disputou a final do último campeonato do mundo e com contrato com um dos grandes de Portugal, esperar-se-ia que se pusesse em bicos de pés, reclamasse oportunidades e demonstrasse algum tipo de desagrado por ser emprestado mais uma vez pelo seu clube. Ao invés, eis as palavras de um homem de apenas 20 anos em entrevista ao Maisfutebol:  "Se tinha lugar no plantel? Não, não tinha. A defesa é muito boa, com Luisão e Garay, dois excelentes jogadores. O Jardel agora também está a corresponder muito bem. Sei o potencial que posso ter, mas também sei o valor que tenho neste momento."

Sunday, December 11, 2011

A vitória de uma visão


Equipas e movimentações iniciais

O tão aguardado (primeiro) clássico da época espanhola trouxe consigo tudo o que se esperava: golos, duelos tácticos, incerteza no resultado e um Real Madrid muito mais próximo do seu adversário. Sem Ricardo Carvalho, Mourinho foi forçado a desviar Sérgio Ramos para o centro da defesa e adaptar Fábio Coentrão ao lado direito. Do lado do Barcelona, nem Pedro nem Villa tiveram lugar no onze, dando lugar a Fàbregas e Aléxis Sánchez.

O jogo teve início de acordo com os sonhos mais optimistas da equipa madrilena: aos 21 segundos, já a bola estava dentro da baliza de Valdés, depois de um erro deste na colocação de bola com os pés, em grande parte graças à pressão que o Real fez (e viria a fazer) sempre que o guarda-redes se predispunha a movimentar a bola como jogador de campo adicional - tarefa fundamental para a organização ofensiva dos catalães.

Momento imediatamente anterior ao golo do Real Madrid

Mostrando ter aprendido as diversas lições da época passada, Mourinho montou um esquema defensivo de pressão intensa, evitando o erro do primeiro clássico do ano transacto de dar demasiado espaço à primeira fase de construção de jogo ofensivo do adversário. Com efeito, Özil encarregava-se de marcar Busquets, ao passo que Xabi Alonso encostava em Xavi e Lass em Fàbregas ou Iniesta (os quais iam trocando regularmente de posição).

Organização defensiva do Real Madrid

Com isso, o treinador dos blancos ocupava desde logo espaços fundamentais para a manobra do Barça, obrigando a que os médios baixassem para que a equipa saísse a jogar, deixando um enorme espaço entre a linha média e os três avançados. Como se pode ver pela imagem mais acima, o Barça vai tendo cada vez mais dificuldades em jogos mais importantes, pois os seus oponentes vão compreendendo o carácter fundamental de defender em bloco no corredor central. Com efeito, o onze catalão mostrou imensas dificuldades para impor o seu jogo durante a primeira meia-hora, dada a intensidade da pressão madridista, excepção feita ao remate de Messi aos 6', para uma grande defesa de Casillas.

Mostrando mais uma vez ter a lição bem estudada, a equipa da capital tirava enorme proveito dos cantos da equipa contrária (a qual, estranhamente, apostava em cantos longos), provando ser a equipa mais mortífera do momento em contra-ataque. Aliás, o contra-ataque do adversário poderá ter sido o factor que inibiu a habitual intensidade defensiva do Barcelona e costumeira pressão alta.

O jogo começou a inclinar-se a favor do Barça a partir dos 30', momento em que marcou o golo do empate, sem ainda ter justificado esse resultado. No entanto, Messi não se compadece com semelhantes racionalizações. Em mais uma das suas arrancadas (na primeira parte, não foram muitas, dado o excelente trabalho defensivo de Lass e Xabi Alonso), foi superior a 4 adversários e assistiu Aléxis Sánchez para uma diagonal curta e remate bem colocado. O astro argentino mostrava mais uma vez ser um jogador mais colectivo do que Ronaldo, sempre mais apostado em iniciativas individuais e menos dado a colaborar com os colegas para uma movimentação harmoniosa da equipa, acabando mesmo o jogo como o jogador com mais remates.

A partir de então, o jogo ficou mais equilibrado, o Real Madrid acusou o toque e pareceu reconhecer ali a primeira evidência da sua falibilidade. Por seu turno, os de Barcelona mostravam-se fiéis aos seus princípios, continuando a jogar com Valdés mesmo quando este era incomodado pelos oponentes, não obstante o primeiro golo.

A segunda parte trouxe consigo algo de diferente. A grande característica diferenciadora dos visionários é - muito mais do que a sua ideia supostamente luminosa - o trabalho anterior à sua colocação em prática. Guardiola revelou ao mundo, num dos jogos mais importantes da época, que o seu 3x4x3, tão criticado nos últimos tempos, era uma arma para os encontros fundamentais, e não apenas mais uma diatribe do técnico de Santpedor. Dessa forma, a defesa blaugrana ficou organizada com Piqué ao centro, Abidal na meia-esquerda e Puyol na meia-direita, com Dani Alves a avançar para uma posição de centrocampista.

Equipas e movimentações da segunda parte

Com esta alteração aparentemente subtil, Guardiola mostrava-se capaz de admitir decisões menos felizes e dono de uma leitura de jogo invejável. Ao invés de assumir uma maior contenção defensiva, em particular no seu lado direito - massacrado pela inversão de papéis entre Benzema e Ronaldo -, o Barça apostou em aproveitar a enorme bolsa de espaço atrás de Ronaldo e a menor competência defensiva de Marcelo.

Foi assim sem surpresa que vimos um Barça mais fiel aos seus princípios, organizado sobre os seus princípios de jogo curto e apoiado, com maior dinâmica das desmarcações no centro do terreno. Com Messi descaído para a meia-direita com o intuito de sobrecarregar esse mesmo lado e abrir espaços para Dani Alves, o Real foi abrindo brechas, mostrando-se incapaz de fechar as linhas de passe, tal como tinha feito na primeira metade. O 1-2 foi um golo com uma boa dose de felicidade, mas resulta de algum cansaço evidenciado pelos madridistas de correr atrás da bola e de um desposicionamento colectivo.

Depois desse momento, os jogadores do Real Madrid baixaram a cabeça e, com isso, deixaram o meio-campo desprotegido, situação em que os comandados de Guardiola são exímios. A sua equipa passou a convergir toda ela para o meio - Xavi, Messi, Iniesta e Fàbregas -, sendo que Özil já não mostrava a mesma predisposição para defender e Lass não podia cobrir todos os centímetros do campo.

Aos 65', contra a corrente do jogo, Ronaldo falha aquilo que seria o golo do empate e, no minuto seguinte, o Barça dá a machadada final no encontro e no resultado. Iniesta consegue fugir à pressão de Coentrão ainda no seu meio-campo, abre para Messi (descaído para a meia-direita, mais uma vez), o qual entrega a Dani Alves para este cruzar para a cabeça de Fàbregas.

Há a retirar deste golo algumas ilações: com o Real inclinado para a frente na procura de um outro resultado, Messi depara-se com a ausência total de meio-campo e apenas três adversários pela sua frente - Pepe, Sérgio Ramos e Marcelo. Com Sánchez a ocupar os centrais, Dani Alves tem o seu correder livre e Coentrão, envolvido na disputa com Iniesta no início da jogada e sem protecção do seu meio-campo, chega atrasado à marcação de Fàbregas.

Em resumo, Mourinho mostrou que o seu Real está a uma distância muito menor do seu eterno rival, com uma equipa mais pressionante, madura e letal, mas Guardiola insiste em permanecer alguns passos à sua frente, revelando antídotos para os problemas que os seus adversários lhe vão lançando nos momentos mais importantes. O treinador português falou da falta de sorte, mas será forçado a admitir que haverá algo (embora não muito) a melhorar para lograr levar de vencida a sua némesis.

Monday, December 5, 2011

As razões de um amuo

No passado Sábado, Frank Lampard foi substituído aos 60 minutos de jogo por Raúl Meireles. Habituado a assumir-se como figura de destaque no jogo dos blues, Lampard saiu visivelmente agastado, permanecendo nessa disposição enquanto esteve no banco de suplentes, ainda que a sua equipa estivesse a vencer e viesse a triunfar no reduto da equipa sensação da Premier League por três golos sem resposta.


É apresentado mais abaixo um gráfico que tenta servir de comparação entre as prestações de Lampard e Meireles, em particular ao nível do passe - sendo também certo que a melhor fase do jogo dos londrinos coincidiu com a entrada do ex-jogador do FC Porto (maior estabilização defensiva, dois golos marcados e várias ocasiões de golo criadas).

   

   

   

   

   

   

   


 by Guardian Chalkboards


Terá a reacção do jogador inglês ficado a dever-se ao facto de não gostar de ser substituído ou ver o seu presente e futuro a esfurmarem-se?

Wednesday, November 30, 2011

Nápoles ameaça, mas Juventus permanece invicta

Equipas e movimentações iniciais



































Num encontro que opunha as duas equipas italianas que melhor futebol praticam na actualidade, todas as promessas foram cumpridas. Um jogo vivo, intenso, pleno de nuances tácticas e com muitos golos. Embora tenha chegado ao intervalo com uma vantagem de dois golos, o onze napolitano não conseguiu segurar a vitória.

Enquanto admirador confesso das equipas montadas por Walter Mazzarri durante a sua estadia no Nápoles, nutro sempre alguma curiosidade sobre os duelos contra equipas mais poderosas e com sistemas tácticos mais convencionais. Como tal, esta era uma oportunidade a não perder. Contudo, o treinador da Vecchia Signora, Antonio Conte, não optou pelo seu habitual 4x4x2, mas sim por uma espécie de 4x3x3, com Pirlo no seu lugar de eleição, Pepe e Vidal à sua frente para fazerem o trabalho defensivo, Vucinic ligeiramente descaído na meia-direita do ataque, Estigarriglia na ala esquerda e Matri mais adiantado. Aparentemente, os de Turim tinham vantagem de 3x2 no meio-campo, uma zona onde o Nápoles apenas contava (no papel) com Gargano e Inler.

Com Chiellini nominalmente no lugar de lateral-esquerdo, a Juve atacava apenas pelo lado direito, através do excelente Lichsteiner, dando muitas vezes a ideia de ficar apenas com uma linha defensiva de três elementos, dado que Chiellini encostava aos defesas-centrais. Nos primeiros 20 minutos, os bianconeri tiveram o domínio (consentido) do jogo, em boa parte por intermédio do eterno Pirlo. No entanto, o treinador napolitano, conhecido pelos seus micro-ajustes entre e durante as partidas, mudou Pandev para a direita, Lavezzi para a esquerda e Hamsik para uma posição central mais recuada, qual número 10 - em boa medida para estancar a criatividade de Pirlo (ver imagem mais abaixo).

Nápoles em momento defensivo, criando superioridade numérica e anulando Pirlo
Com esse movimento defensivo e uma pressão alta nos pontapés de baliza (acção pouco habitual numa equipa dedicada de alma e coração ao contra-ataque), os pupilos de Mazzarri manietavam a equipa de Turim e obrigavam a bolas longas para Matri, às quais Pepe e Vidal chegavam invariavelmente atrasados. Por seu turno, ambos os interiores se mostravam renitentes em atacar o espaço entre as linhas média e defensiva do seu adversário - o que, aliado ao facto de a zona do ponta-de-lança ser apenas ocupada por um jogador à vez, permitia que um dos centrais ocupasse um lugar adicional no meio-campo e saísse na pressão sobre a bola.

Durante toda a primeira parte, a Juventus não pareceu minimamente interessada em pressionar alto, permitindo que o seu oponente saísse a jogar a seu bel-prazer. Dessa forma, a suposta superioridade numérica que teria no centro do terreno era anulada, especialmente pelas movimentações dos três jogadores mais avançados, não hesitando em recuar para criar linhas de passe e contornar o meio-campo da Juve.

Dessa forma, foi sem surpresa que o Nápoles chegou ao intervalo a vencer por dois golos. Contudo, a segunda parte trouxe uma Juve mais intensa e aguerrida, pressionando logo na primeira zona de construção. Para além disso, Pepe e Vidal pareceram finalmente ter autorização para subirem no terreno. Com efeito, 3 minutos depois, Vidal penetrou no espaço entre a defesa e o meio-campo, assistindo Matri para o 2-1 - tornando o jogo numa montanha-russa.

Com Chiellini finalmente a assumir-se como lateral esquerdo de pleno direito, o adiantamento de Vucinic, a pressão dos seus interiores e o Nápoles a ceder o domínio do jogo, a Juve partiu para cima do adversário, já sem pernasos últimos 20 minutos de intensa pressão da equipa do norte de Itália (devido à intensa sucessão de jogos importantes). Exercendo pressão sobre a primeira fase de construção, os bianconeri abriram brechas na muralha defensiva, brechas essas aproveitadas tanto por Pepe como Vidal.

Em resumo, assistiu-se a um jogo atípico para o campeonato italiano (salvo o resultado, claro está), em que pudemos ver tudo aquilo por que esta liga é conhecida: constantes ajustes tácticos dos treinadores, qual jogo de xadrez. A primeira parte foi de clara vitória estratégica do Nápoles, mas a Juve soube corrigir as suas lacunas ao intervalo e, com isso, permanecer invicta.

Tuesday, November 29, 2011



































Numa tentativa de melhor demonstrar o que se vai dizendo neste pasquim, dou hoje início ao acompanhamento visual dos jogos analisados. Quaisquer comentários, sugestões ou críticas serão mais do que bem-vindos, naturalmente.

Monday, November 28, 2011

"Não há forma física"

Dou início a este artigo parafraseando um antigo treinador do FC Porto, alguém que, entretanto, foi coleccionado uma ou outra mão-cheia de títulos. Dizia esse líder que não entendia a forma física isoladamente, mas sim num contexto que integrava a forma física, técnica, táctica e psicológica. Se me debruço sobre este antes da análise do jogo propriamente dita, é pelo simples facto de muitos de nós terem colocado em causa desde há vários meses os métodos e resultados da preparação física ministrada pela equipa técnica. Aparentemente, o desgaste físico é irrisório mesmo quando se faz uma longa viagem de regresso e se joga um encontro importante para o campeonato - desde que se ganhe, claro está.

Aproveitando o embalo da partida de Donetsk, Vítor Pereira optou por manter exactamente o mesmo onze, incluindo Maicon a lateral-direito, mas desta feita com uma diferença: em vez de jogar a par de Fernando, como na Ucrânia, Moutinho jogava no seu lugar habitual, mais próximo de Defour. Por seu turno, o Sporting de Braga parecia querer mostrar desde logo que ia ao Dragão disputar o jogo olhos nos olhos, com Mérida atrás de Lima, com Alan e Paulo César nas alas.


Os primeiros minutos da partida confirmaram que a estratégia de Donetsk não tinha sido um caso isolado. Com efeito, o treinador portista parece ter aprendido a lição e a pressão alta - estouvada e aleatória - parece definitivamente afastada. Pelo contrário, os dragões jogavam num bloco mais baixo, preferindo aproveitar as costas do meio-campo bracarense. Com os seus movimentos interiores, Djalma e James causavam uma superioridade numérica no centro do terreno, uma vez que tanto Alan como Paulo César se mostravam renitentes em acompanharem os seus adversários directos. Com isso e com um Defour particularmente dinâmico na abertura de linhas de passe e movimentações sem bola, as alas ofensivas abriam-se repetidamente (em especial para Álvaro Pereira, como seria de esperar), fornecendo bons indícios.

O Sporting de Braga tentou opor a esta atitude portista um veneno semelhante, com Hugo Viana e particularmente Quim a não terem receio de dirigirem passes longos para Lima, com tendência para descair para as alas. No entanto, com a equipa menos subida, o timing da pressão azul e branca foi incomparavelmente melhor do que os últimos jogos e a defesa raramente foi apanhada em contrapé, uma vez que os médios estavam sempre mais próximos - Fernando, como sempre, foi inultrapassável.

Graças em boa parte a essa segurança defensiva, as transições ofensivas mostravam-se muito mais perigosas, uma vez que a equipa não corria o risco de se partir. Com Hulk no meio, notavam-se ainda algumas lacunas no brasileiro, resultantes da falta de rotina da posição, nomeadamente em lances de contra-ataque, em que o apoio frontal é tão fundamental como saber o momento certo para libertar a bola.

À medida que os minutos iam passando, a equipa minhota foi começando a perder alguma compostura defensiva, perdendo os momentos para introduzir a transição, dada a maior certeza no momento defensivo. Assim, ainda que não havendo grandes lances de perigo a demonstrá-lo, o FC Porto mantinha-se sempre por cima do encontro e foi sem surpresa que chegou ao primeiro golo - um belo movimento ofensivo, com Defour a arrancar para trás e a confundir marcações com a sua penetração, libertando para James para este cruzar para a cabeça de Hulk a régua e esquadro. Corria o minuto 36.

A segunda parte trouxe um dragão mais cauteloso e um Sporting de Braga algo perdido em relação ao que pretendia do jogo, proporcionando uma fase mais incaracterística até aos 63', altura em que Djalma e Defour deram lugar a Cristián Rodríguez e Souza, respectivamente. O público nas bancadas pareceu não gostar da intenção de Vítor Pereira de fechar o castelo a sete chaves e os minutos seguintes pareceram comprovar que os jogadores também não. Com a saída de Defour, os portistas dispuseram-se num 4x2x3x1, com Moutinho nas costas de Hulk, o que, na modesta opinião deste cronista, poderia ter sido um erro mais complicado do que acabou por vir a ser - Souza é consideravelmente mais lento do que Moutinho na pressão sobre a bola e na ocupação de espaços e Moutinho nunca será um 10. Dessa forma, a equipa não só passou a ter mais dificuldades a defender, como não conseguia encontrar a saída de pressão que Defour oferecia até então.


Pouco depois, o Braga demonstrava querer o empate, pelo menos. Hugo Viana viu o seu perigoso remate prensado aos 68' (depois de uma má transição ofensiva) e Alan permitiu uma bela defesa a Helton com um grande remate. Adivinhavam.se momentos enervantes, com as bancadas já inquietas. Contudo, Leonardo Jardim cometeu o pecado de retirar o equilibrador Djamal, deixando Hugo Viana sozinho na zona do meio-campo. Ora, foi precisamente essa área que viria a ser fundamental para o segundo golo portista, no minuto imediatamente a seguir. Na única vez que Moutinho conseguiu abrir espaços mais à frente, tabelou com Hulk, que beneficiou da ausência de pressão de Djamal (Viana ainda vinha em recuperação), flectiu para o meio e marcou um grande golo.

O jogo parecia resolvido quando Kléber, que tinha entrado para o lugar de James, encostou para o terceiro, depois de mais uma arrancada de Hulk pela direita. A equipa visitante estava absolutamente partida e o terceiro golo permitiu que a equipa entrasse em descompressão, aparentemente mais interessada em comungar da festa com o público. Assim, o penalty cometido por Hulk aos 87' parecia nada mais do que um fait-divers, mas a apatia colectiva permitiu ainda o bis de Lima aos 91', proporcionando dois minutos finais de algum nervosismo - sem necessidade alguma, note-se.


Monday, November 7, 2011

A outra face do espelho

Viver em isolamento, seja em que área da vida for, é raramente fácil. Permanecer convicto das nossas perspectivas quando não somos respaldados por mundivisões semelhantes roça muitas vezes a teimosia, a irmã afastada da persistência. Como tal, é muito bom constatar de vez em quando que outros existem no mundo que partilham algumas características, nem que seja uma paixão assolapada por um desporto de onze contra onze, com uma bola no meio. Para quem tiver paciência, aqui deixo um artigo sobre Guardiola e Bielsa, dois camaradas loucos.

Tuesday, September 6, 2011

Uma forma de estar diferente

Embora não goste de me juntar ao senso comum de forma arbitrária, sou forçado a render-me a uma nova forma de estar e de jogar que este Barça representa. Em vez de me alongar nas minhas palavras, deixo mais abaixo excertos da entrevista de Fàbregas, esta semana.


"P. ¿Resultó más triste dejar al Arsenal o, en su día, al Barça?

R. Yo creo que era más inconsciente cuando dejé el Barça. Era pequeño. Yo no pensaba que llegaría nunca al primer equipo del Barça porque en aquella época no era como ahora. Mire el caso de Andrés [Iniesta]. Tenía 23 años y no fue titular en la final de París, pero hasta que salió él no empezaron a jugar... Yo pensé: "Si Andrés no juega, ¿dónde estaría yo?". Era juvenil, así que estaría en el juvenil. Al irme ahora de Londres lo he hecho viviendo mucho más lo que estaba sucediendo, consciente de lo que dejaba y de adonde iba. Un poco más triste, es verdad.

P.¿Ya se intuía que Messi sería tan bueno?

R. Era el mejor, pero eso nunca lo sabes. Si alguien llegaba, era él, eso es evidente. Era el más desequilibrante. Técnicamente, siempre ha sido el mejor. Físicamente, le ves ahora y no le tumbas. Antes era el más pequeño y, como jugábamos contra gente mayor, todavía se notaba más. Es muy listo. Lo pilla todo y a veces parece que no está o que no tiene carácter, pero por dentro es un ganador nato que lo procesa absolutamente todo.

P. ¿Que dejan futbolísticamente seis años en la Premier?

R. Lecciones. El espíritu de competitividad. Su fútbol es más alocado que el de la Liga española, más disciplinada y táctica, de toque, de jugar. Allí no se piensa en las posiciones. Se ataca incluso cuando no lo necesitas. ¡La afición te aprieta tanto! A la gente no le gusta que te repliegues. Aquí necesitas más posición, control para romper... Allí vas y vas y, al final, de tanto ir... Y los árbitros son más condescendientes, permiten más. Aquí me amonestaron por no guardar la distancia en la barrera y allí, en Inglaterra, me habrían dicho: "¡Va, Cesc, échese para atrás, vamos!".

P. ¿Su ventaja es que llega enseñado por su paso por el fútbol base azulgrana?

R. No. Tengo la sensación de que aún me falta mucho por aprender. Este equipo está muy mecanizado y hay cosas que debo pillar. La gente se queda con los goles, pero yo veo otras cosas. En especial, a nivel defensivo. No he visto nunca a un equipo que esté tan concentrado en la transición ataque-defensa. Jugar contra el Barça es muy complicado, pero jugar en el Barça tampoco es tan fácil. Ese es el reto. Yo, sinceramente, tengo la sensación de que les estorbo un poco todavía, pero que son tan buenos que lo arreglan y lo disimulan. Intento interpretar sus pases, trato de aprovecharme de eso en el ataque. Debo adaptarme a ellos. Defensivamente, tengo mucho que aprender.

P. ¿Qué es lo primero que ha aprendido en el Barça?

R. Que lo más difícil es jugar muy fácil. Ves a Messi, a Iniesta, a Xavi. ¡Es tan difícil jugar tan fácil! Y también, que presionar como lo hace este equipo es realmente difícil.

P. El cuerpo técnico está convencido de que incluso defensivamente puede aportar mucho.

R. Yo también. Tengo una suerte: durante cuatro o cinco años fui uno de los jugadores que más corrían por partido en la Champions. Eso garantiza mucho dinamismo por mis condiciones. Y lo aprovecho. Pero tengo la sensación de que me queda un mundo por aprender. Tengo 24 años y a menudo se me valora como si tuviera 30.

P. ¿Es cierto, como dice Xavi, que en este Barça lo mejor son los entrenamientos?

R. Sí. Es la cosa más bonita que he visto en mi vida. Solo se oye la pelota. Tac, tac, tac... La presión de cuatro al tiempo... Jamás vi entrenamientos de tanto nivel. El día a día de entrenamientos es mucho mejor que los partidos; no vi nada parecido.

P. ¿Está preparado para jugar los minutos que le toquen, para chupar banquillo?

R. Es evidente que solo los futbolistas como Xavi, Iniesta o Messi podrían quejarse por falta de minutos. Y si ellos no se quejan... Les debo un respeto, así que jugaré cuando me toque."

Tuesday, August 30, 2011

"O que é de mais é erro"

Arsène Wenger será muito provavelmente um dos alvos preferidos de todos quantos comentem o desporto-rei, de forma mais ou menos séria. Com efeito, procurei nos catrapaços deste mesmo blog o que já havia sido escrito sobre o professor francês e deparei-me com estes dois artigos: "Quando uma boa decisão se transforma num erro" e "O princípio da demência II". Se este último poderá ser suspeito por se tratar de um texto deste mesmo ano, o primeiro artigo refere-se a 2009, pasme-se! Ressalvo apenas um par de frases que me deixaram estarrecido ao ver a data da publicação: "Sim, o mister francês granjeou uma reputação de descobrir jovens talentos, mas a equipa londrina parece sempre um onze desgarrado, ainda e sempre sem maturidade táctica e mental para vingar nos momentos decisivos." e "Quando é que este Arsenal deixa de ser uma equipa em constante evolução - especialmente quando está longe de estar coarctada em termos orçamentais".


Vem isto a propósito da mais recente (e copiosa) derrota do Arsenal às mãos do Manchester United. Na verdade, os oito golos sofridos podem até ser considerados uma espécie de benção, dados os inúmeros lances de perigo iminente criados pela equipa de Alex Ferguson. A desculpa de Wenger (de que a sua equipa é constituída por jovens, que necessitam de tempo para despontar), não colhe, pura e simplesmente - especialmente quando, no outro lado, estava uma equipa exactamente com a mesma média de idades que, uma semana antes, tinha aplicado "chapa três" ao Tottenham, uma outra equipa de Londres.

Sendo o primeiro a criticar o extremo do caso de Portugal, onde se despedem treinadores em Agosto (vide o caso de Manuel Machado), não posso deixar de ficar boquiaberto ao ver épocas consecutivas de desculpas esfarrapadas, objectivos falhados e um desfiar de contratações que raramente vêm a materializar-se nas perspectivas que Wenger promete.

Monday, August 29, 2011

As desventuras da Liga

À hora a que escrevo, está a terminar o encontro do Sporting de Braga e o Benfica prepara-se para entrar em campo. Como se não chegasse, o FC Porto entra amanhã em campo, num dia que coincide com a realização de encontros particulares de selecções.

Ao mesmo tempo, o Barcelona, adversário dos portistas na passada sexta-feira, estão a jogar neste preciso momento. Se considerarmos que os encarnados jogaram em casa e os bracarenses na Suíça (o que não implica mais de duas horas e meia de viagem), que motivo poderá invocar a Liga para continuar a descaracterizar o campeonato e a queixar-se simultaneamente da falta de adeptos nos estádios?

Friday, August 19, 2011

Começar com o pé esquerdo e terminar com o direito

No primeiro jogo no Dragão a contar para o campeonato, o FC Porto defrontou o Gil Vicente. Com as duas equipas a apresentarem os mesmos onzes da primeira jornada, foi sem surpresa que se assistiu à repetição de alguns defeitos e virtudes. Com efeito, os dragões entraram algo nervosos, especialmente na circulação de bola entre defesas e Souza: Foi precisamente num desses momentos, logo aos 2 minutos, que o Gil Vicente pressionou um mau domínio de Sapunaru, conquistando um penalty, cometido por um Otamendi já em desespero de causa.

Se os azuis e brancos já estavam nervosos, o golo adversário não ajudou em nada. Souza continua a demonstrar algumas dificuldades na construção (é raro o passe ao primeiro ou segundo toque) e os de Barcelos traziam a lição bem estudada, jogando em bloco baixo e apostando não só nas transições rápidas, mas também na pressão bem exercida aos alvos azuis identificados como menos fortes em posse de bola.

Ainda assim, o querer atirou o FC Porto para a frente e foi graças a um penalty sobre Hulk - convertido sobre o mesmo - que chegou à igualdade, ao minuto 10. Com a igualdade, os dragões foram-se assenhorando do jogo, afastando os nervos, e foi no seguimento de um desses lances que chegaram ao segundo golo, por intermédio de Sapunaru (num canto bem batido por Hulk), que assim se redimia do lance menos feliz do golo dos gilistas.

Os campeões nacionais pareciam querer acalmar o jogo e exercer finalmente o seu domínio, mas a equipa de Barcelos não se mostrou interessada e continuou a mostrar que vinha para jogar, ainda que com as suas armas. Assim, tiveram uma oportunidade de golo clamorosa, aos 23', que João Vilela falhou perante Helton.

A segunda parte trouxe um FC Porto mais afoito tanto a defender como a atacar e, com isso, conseguiu aumentar a vantagem para dois golos logo ao terceiro minuto, numa verdadeira bomba de Hulk. 3 minutos depois, Kléber e Hulk construíram uma bela jogada para a nova referência de área azul e branca cabecear ao lado do poste esquerdo.

As substituições serviram para atiçar um pouco um dragão mais interessado em controlar o jogo, após a vantagem. Belluschi e Djalma entraram para os lugares de Guarín e Varela, respectivamente, e essas alterações trouxeram uma maior mobilidade, em particular a de Belluschi, sempre predisposto a fazer passes de ruptura e explorar os espaços.

Até final, assistimos a uma tentativa de reacção da turma de Barcelos, potenciada pela continuação de alguma falta de agressividade defensiva por parte do FC Porto. Apesar de tudo, não houve grandes sustos, mas fica a nota para o próximo jogo, contra um adversário incomparavelmente mais difícil.

Positivo:

- Atitude do Gil Vicente. Se todas as equipas demonstrassem a mesma vontade de discutir o resultado (ainda que com as suas armas, como é óbvio), talvez o campeonato nacional fosse capaz de atrair mais adeptos.

Negativo:

- Momento defensivo do FC Porto. A equipa parece estar ainda algo confusa sobre quando deve ou não fazer pressão. Como tal, criam-se involuntariamente autênticos buracos, partindo a equipa e expondo-a às transições.


Monday, July 4, 2011

O outro lado do jogo

Muitas das vezes, detemo-nos apenas com aquilo que o futebol nos oferece de mais imediato - os golos, as defesas, os carrinhos, entre outros. No entanto, especialmente tomando em consideração as diversas competições internacionais para os escalões mais jovens em curso ou prestes a ter início, seria porventura importante debruçarmo-nos sobre o que acontece aos que não conseguem ser transferidos para paisagens mais verdejantes.

Um desses exemplos é abordado na edição de hoje de O JOGO, conforme segue mais abaixo (a identidade do clube não é de todo importante, no caso em questão).


Benfica "fez" vida negra a avançado argentino

Valentín Viola, avançado argentino de 19 anos, viu a sua carreira sofrer um revés a partir do momento em que o Benfica se interessou pela sua contratação. Segundo o diário "Olé", o clube da Luz sondou o Racing Avellaneda (de onde saiu Fernández) pelo jogador, com o emblema do país das pampas a pedir cerca de 1,7 milhões de euros. As águias desistiram e a partir daí tudo se complicou para Viola. O avançado, formado no Racing Avellaneda, exigiu um aumento salarial, o que foi recusado, e ficou agora a saber que não fará parte das opções para a próxima época.


Estaremos dispostos a não olhar a meios à procura de novos Messis?

Tuesday, June 28, 2011

O mundo ao contrário

Infelizmente para o futebol em geral, mas mais ainda para o clube em questão, o Sporting parece continuar a estar a ferro e fogo, dando sinais de que, tal como se suspeitava, os resultados da equipa principal mais não eram do que um reflexo de problemas que corriam mais fundo. Ao ler num jornal a entrevista dada pelos principais "olheiros" do Sporting, é impossível não concluir que, ao contrário do que muitos de nós gostam de fazer crer, o futebol ainda é gerido por caprichos, capelinhas e modas do momento. Não me parece haver outro ponto de chegada face ao que nos foi agora confirmado por quem está por dentro da realidade do clube, ainda que manifestamente incompatibilizado com a actual direcção. Com efeito, muitas das pessoas que rodeiam os clubes (em particular os grandes) parecem muito mais interessadas em querer servir-se a si mesmas do que servir o clube.

Os sinais que o futebol, no seu âmbito global, continua a enviar para o exterior continuam a ser de um amadorismo e de compadrios que apenas parecem encontrar par na política.

Wednesday, June 22, 2011

Olhando para as estrelas - N.º 1

Abre-se aqui um espaço para falar do que verdadeiramente move o futebol: os jogadores. Ao ver alguns jogos do Campeonato Mundial de sub-17, houve um jogador que sobressaiu: Patrick Olsen. O médio dinamarquês do Brondby parece um jogador muito mais maduro do que a sua idade daria a entender, dando já mostras de plena noção de espaço, tempo de passe e capacidade de decisão, o que poderá deixar antever um futuro risonho a este centrocampista.

A queda de um mito

A notícia da contratação de André Villas-Boas pelo Chelsea foi o golpe final na esperança do comum adepto de que o futebol fosse algo mais do que apenas um negócio, destroçando qualquer resquício de romantismo que pudesse ter sobrado. Com efeito, a nação portista sentia-se um pouco mais protegida face a uma possível deserção do seu valioso técnico dadas as suas incontáveis manifestações de portismo, deixando cair sempre que necessário a sua paixão pelo clube, culminando na já célebre expressão da "cadeira de sonho", jurando que treinar a equipa do seu coração seria uma das suas máximas ambições.

Ao professar tantas vezes (aquilo que se sabe agora ser) uma mentira, ganhou não só o direito a que todos os adeptos portistas ficassem do seu lado, mas também a responsabilidade de cumprir o que tantas vezes prometeu ao longo da época (incluindo após vencer três das cinco competições desta época).

Se os adeptos azuis e brancos sofreram com a saída de Mourinho, a de Villas-Boas foi incomparavelmente mais dramática. Se, por um lado, Mourinho nunca propalou a sua dedicação incondicional ao clube, Villas-Boas vai mais longe ao deixar o clube desamparado, dado que não foi contratado nenhum dos treinadores desejados em virtude da sua permanência.

Não se trata aqui de atacar a oportunidade profissional do treinador do Chelsea, pois cabe única e exclusivamente a cada um decidir o que julga ser melhor para si. Trata-se sim de constatar que se nem um treinador da casa, ferrenho adepto confesso do clube, cede à tentação de atropelar a sua palavra, demonstrando um absoluto desrespeito pelo compromisso que celebrou de livre vontade, o que podemos esperar nós da legião de contratados que todos os anos chegam aos clubes portugueses, sem qualquer pejo em admitir logo nas primeiras entrevistas que estão em Portugal meramente para dar o salto para um local melhor? Numa empresa convencional, quem seria o patrão que contrataria um funcionário que admitisse na primeira conversa estar ali apenas enquanto não surge algo melhor?

Se tomarmos em consideração que nunca como hoje os clubes tiveram semelhantes condições económicas e que nunca como hoje o futebol foi um negócio tão rentável (através de sites, canais de televisão, jornais, entre outros) como resultado directo do investimento dos fãs, não deixa de ser irónico que essa sensação de pertença a um símbolo, a um espírito, a um clube seja estilhaçada por aqueles que dela vivem.

Resta aos adeptos continuarem a torcer pelas duas dúzias de jogadores e treinadores que, naquele momento, por feliz acaso, não tinham sítio melhor para estar.

Monday, May 2, 2011

Bipolaridade (ou como o contexto altera as decisões)

O último texto deste blogue tinha versado sobre a lição táctica que Sir Alex Ferguson, treinador do Manchester United, tinha ministrado ao seu adversário da Liga dos Campeões. Pois bem, parece haver algo na turfa inglesa que leva os treinadores a não tomarem as opções mais lógicas e racionais em jogos da Premier League, optando ao invés por decisões apenas compreensíveis segundos os cânones ingleses.

Num jogo que opunha Arsenal e Manchester United e que era decisivo para as contas do campeonato, a equipa de Ferguson optou - como costuma fazer contra este adversário - por ceder a posse de bola e explorar o contra-ataque. No entanto, a estratégia não parecia estar a funcionar e a equipa de Wenger não parecia disposta a abdicar da vitória.

Raras são as vezes em que o resultado de uma substituição é tão notório. Num onze que incluía já Ji Sung Park, Nani, Rooney e Hernández como opções atacantes (num 4-4-1-1 bem definido), o treinador escocês optou por desfazer a dupla Anderson-Carrick no meio-campo, substituindo o médio brasileiro por Valencia (outro atacante), trazendo Park para o centro do campo, onde o sul-coreano nunca teve qualquer rotina. Na jogada imediatamente a seguir, Park não fechou o seu espaço, como Anderson, vinha fazendo até então, e o seu opositor directo entrou na área e marcou calmamente o golo da vantagem dos londrinos.

O que se viu no resto do jogo deixou ainda mais perplexos quaisquer amantes do futebol que não tenham passaporte inglês. A perder, o manager do United optou por tirar o único médio que tinha para fazer entrar - pasme-se - Michael Owen. Como resultado, o onze de Manchester perdeu de vez o controlo do jogo e, por seu turno, o Arsenal fez o que melhor sabe: manter a posse de bola sem qualquer objectivo final.

Wednesday, April 27, 2011

Um simples aperitivo

O Capuchinho Vermelho

No futebol actual, não sobra muito espaço para os contos de fadas. Com efeito, à medida que as competições vão sendo afinadas, cada vez se vão estreitando as possibilidades de clubes de menores dimensões atingirem fases mais avançadas de provas como a Liga dos Campeões. Ao que parece, o Schalke 04 nunca foi informado desse facto.

Dir-se-ia que o simples facto de ocupar o 10º lugar no respectivo campeonato e de ser uma das defesas mais batidas da Liga dos Campeões - por oposição ao Manchester, com apenas 3 golos sofridos ao longo de toda esta edição - levaria a que os alemães tivessem tomado pelo menos algumas medidas para contrapor ao jogo mais compacto do onze britânico. Ao invés, o que se viu foram 90 minutos de total previsibilidade, não de jogo ou de movimentações, mas sim de resultado.

O Schalke parece não ter entrado sequer no novo milénio. Longe vão os tempos em que equipas apenas dotadas de competências ofensivas logravam atingir altos voos. Hoje em dia, a organização é fundamental e, acima de tudo, o espaço entre as diferentes linhas das equipas. Não é possível pretender discutir uma eliminatória quando os três avançados recuam quase a passo (à la Jardel) e um dos médios-centro tenta seguir-lhes as pisadas. Ao ver o Schalke partir a equipa por iniciativa própria, começaram a subsistir dúvidas sobre se o adversário que tinham pela frente havia sido analisado; Rooney, Giggs e Carrick jogavam a seu bel-prazer, sem qualquer marcação minimamente incisiva, fazendo com que os germânicos pouco mais fizessem do que correr atrás da bola (mas não muito).

Uma última palavra para Manuel Neuer - um guarda-redes de agilidade e reflexos impressionantes que brillhará por certo noutras paragens num futuro não muito distante. Resta saber se a sua capacidade de concentração se mantém tão apurada ao jogar numa equipa que lhe garanta um número consideravelmente menor de intervenções.

Thursday, April 14, 2011

Tuesday, April 12, 2011

Lar, doce lar

Nos últimos tempos, tem sido frequente ouvirmos falar da "casa táctica" de Luís Freitas Lobo. No fundo, aquilo a que o atento observador se refere é a disposição e movimentações com que a equipa se identifica, quer de forma natural (pela predisposição dos seus jogadores), quer pelo trabalho do seu treinador.

Não querendo de forma alguma descurar o restante trabalho de José Couceiro, aquilo que salta claramente à vista é a capacidade do treinador sportinguista de conferir à equipa uma coerência táctica - posicionamento, movimentações, transições - que Paulo Sérgio nunca conseguiu implementar nos longos meses em que esteve à frente do clube. Com essa estabilidade, a equipa verde e branca logrou manter-se afastada - tanto quanto possível - da confusão reinante no clube, trazendo alguma alma e dignidade a um "grande" do futebol português.

Em momentos mais complicados, as coisas mais simples poderão revelar-se decisivas. Ao teimar em não estabilizar um onze, um esquema táctico e uma forma de jogar, Paulo Sérgio apenas serviu para agudizar uma intranquilidade que já grassava na equipa. Ao invés, Couceiro optou pela estratégia inversa: dar continuidade a uma ideia de jogo e reunir os jogadores em torno da mesma. Os resultados estão à vista.

Uma suspeita materializada

Sporting de Braga e Vitória de Guimarães defrontaram-se ontem naquilo que prometia ser um encontro escaldante, com a rivalidade entre os dois lados nos píncaros. De facto, até os tradicionalmente pacatos treinadores Domingos Paciência e Manuel Machado se envolveram em algumas escaramuças verbais, no seguimento da recusa do Vitória em adiar o jogo, de modo a que os seus adversários pudessem ter mais alguns dias de descanso até à partida contra o Dínamo de Kiev, a contar para a Liga Europa.


No entanto, o jogo trouxe-nos algo diverso. Os vitorianos nunca pareceram interessados em discutir o resultado, parecendo acreditar que o cansaço acumulado do oponente seria suficiente para abrir brechas na (recentemente) sólida muralha bracarense. Com efeito, mesmo fazendo descansar alguns titulares - como Vandinho, Alan, Paulo César, por exemplo -, Paciência nunca deixou de querer ganhar o jogo. Por seu turno, Machado contentava-se em ver a sua equipa a defender bem, limitando as suas transições ofensivas às bolas longas invariavelmente lançadas pelo guarda-redes Nilson na direcção de Toscano e Targino (ou seja, rumo ao flanco direito do Sporting de Braga).


A primeira parte resumiu-se a uma batalha estratégica. O Vitória baixava as suas linhas, tentando não dar espaços aos extremos Ukra e Hélder Barbosa, com o Sporting de Braga algo renitente em incorporar os seus laterais nas manobras ofensivas e algo lento na variação do centro de jogo. Se juntarmos a isso uma falta de dinâmica dos extremos bracarenses nas movimentações e um bom posicionamento defensivo dos de Guimarães, será fácil compreender a falta de oportunidades de golo durante o primeiro tempo - excepção feita ao remate de Targino no primeiro minuto, salvo in extremis por Miguel Garcia.


No segundo tempo, porém, as coisas foram diferentes. Alan entrou para o lugar de Hélder Barbosa e essa mudança revelou-se decisiva. O extremo brasileiro mostrou-se mais incisivo, ganhando mais faltas em zonas perigosas e obrigando a uma maior atenção por parte da defensiva adversária. Por seu turno, Machado tentou ir à procura de um resultado mais satisfatório, colocando Edgar em campo e, pouco depois, Rui Miguel no lugar do inoperante Jorge Ribeiro (prejudicado pelo seu posicionamento como "10").


Como seria de esperar, este posicionamento mais ofensivo abriu brechas na manta vitoriana, capitalizadas pelo golo de Paulão no seguimento de um canto. Note-se que o golo surge de uma gritante falta de concentração defensiva num lance de bola parada, sendo o melhor exemplo do que vinha começando a ser evidente: o Vitória, com muito pouca posse de bola e, pior, com má qualidade no tempo em que a tinha, desgastou-se e os seus jogadores começaram a acusar o desgaste de andar sempre atrás do esférico.


A partir de então (e com o segundo golo a surgir 2 minutos depois), os vimaranenses não mais encontraram o rumo e desorientaram-se por completo. Embora a linha da frente tentasse pressionar, o resto da equipa não acompanhava, partindo a equipa em dois blocos, falha que o Sporting de Braga aproveitou na perfeição.


Em resumo, este jogo serviu para comprovar definitivamente que, nos dias que correm, os bracarenses são quem manda na disputa muito particular que se verifica eternamente no Minho. O Vitória demonstrou ter ainda um longo caminho a percorrer em direcção à estabilização da sua equipa e a uma participação frequente nas competições europeias - uma participação que os bracarenses têm sabido capitlaizar e aproveitar.

Wednesday, April 6, 2011

O cordeiro e o lobo

A imprensa (desportiva) britânica é sempre capaz de me fazer sorrir. Em primeiro lugar, porque não só têm um sentido de humor apurado, como lhes é permitido fazer uso do mesmo, sem com isso perderem autoridade para falar seja de que tema for. Em segundo lugar, porque a sua insularidade os leva a conceber e proferir afirmações que parecem absolutamente incapazes de terem sido pensadas por quem sabe algo sobre futebol.

Nos dias que antecederam o confronto entre Real Madrid e Tottenham, quase parecia que à equipa da capital espanhola não restava qualquer hipótese, ainda para mais depois da primeira derrota caseira de uma equipa de Mourinho em 9 anos. Folheando os jornais, blogues e artigos de opinião, lia-se todo o tipo de justificações para a passagem dos Spurs à fase seguinte, incluindo um texto particularmente brilhante sobre como o complexo de inferioridade da equipa inglesa seria o ideal para ultrapassar os madrilenos.

Curiosamente, para a maioria dos colunistas das terras de Sua Majestade, a vertente táctica parece ser sempre algo quase pecaminoso ou contagioso. Quando Rafael van der Vaart se mudou de Madrid para Londres, há época e meia, os jornais fizeram grandes parangonas sobre o facto de Harry Redknapp, o treinador da equipa, nunca falar sobre tácticas. Quando van der Vaart explodiu na competição nacional, estava-se perante a derradeira prova de que a táctica era prejudicial.

Se é um facto que o factor motivacional é absolutamente preponderante no desporto (mas não só, claro está), o jogo de ontem foi uma das melhores formas de ver o que a táctica pode fazer. Aos 3 minutos, os Spurs já perdiam, com uma absoluta confusão sobre quem deveria marcar quem ou que espaço. Luka Modric e Gareth Bale, os dois melhores jogadores da equipa, começaram fora das suas posições, sendo que o galês Bale, a grande ameaça do clube inglês, não tocou na bola nos primeiros dez minutos. Peter Crouch, num acesso mais de vontade do que de malícia, viu no jogo de ontem dois cartões amarelos em menos de 15 minutos, deixando a sua equipa com menos um jogador. E o que se viu? Ao invés de uma equipa ciente das sua limitações e necessidades, vimos uma equipa desorganizada, sem capacidade de sair a jogar, sem noção de defesa posicional e que partiu por completo a meio da segunda parte. Redknapp teria muito aprender com a forma como as equipas de Mourinho nunca se partem, mesmo com dez, em desvantagem, num terreno com um ambiente sufocante (lembre-se o jogo entre Barça e Inter em Camp Nou, na última edição da Liga dos Campeões, por exemplo).

A táctica não se destina a aborrecer e limitar os jogadores. Pelo contrário, pretende ajudá-los ao mostrar-lhes as melhores soluções (espera-se) para os diversos cenários que podem ocorrer durante um jogo, para que possam explanar todo o seu futebol. Curiosamente, hoje não se abordam na imprensa inglesa as tácticas de que Redknapp nunca fala.

Friday, April 1, 2011

Benfica v FC Porto: 3 motivos para a vitória do FC Porto

À medida que o grande clássico se aproxima, a tensão vai aumentando, conforme se pode ler aqui. Num encontro tão carregado de emoções como este, dada a actual classificação - simetricamente oposta em relação à época passada -, haverá com certeza motivos que farão pender a balança para um lado e para o outro. Analisemos o lado dos dragões.



  1. O momento. Se dúvidas havia sobre a capacidade de André Villas-Boas liderar um grupo do calibre da equipa azul e branca, têm vindo a ser reduzidas a pó pelo jovem treinador. Na verdade, os dragões têm vindo a quebrar recordes de invencibilidade (permanecem a única equipa imbatível nos campeonatos europeus) e aprestam-se não só para conquistar o título nacional, como para tentar chegar ao fim da competição sem derrotas. Se juntarmos a isso as repetidas passagens às eliminatórias seguintes da Liga Europa, poderemos facilmente constatar que estamos perante uma equipa plena de confiança.
  2. A melhoria táctica. Relativamente a outros anos (nomeadamente a época de Jesualdo Ferreira), o FC Porto está actualmente mais ciente da sua capacidade de reter a bola, sendo assim mais capaz de controlar a partida, em vez das costumeiras transições rápidas. Como tal, num jogo em que o adversário terá por certo a intenção de sufocar desde o primeiro minuto, a posse de bola de Moutinho, Belluschi e/ou Guarín poderá revelar-se fundamental para roubar tempo e espaço ao Benfica.
  3. A vontade. Para muitos dos jogadores do FC Porto, esta é a primeira oportunidade de conquistar um título. Para outros, trata-se da hipótese de reaver um título perdido no ano passado para os eternos rivais. Tanto uns como outros quererão por certo concretizar a conquista, ainda para mais em casa do actual campeão. Conforme se pode ler aqui, a rivalidade entre arqui-rivais parece ser algo que se sente mais no Porto, cidade e clube.

Benfica v FC Porto: 3 motivos para a vitória do Benfica

À medida que o grande clássico se aproxima, a tensão vai aumentando, conforme se pode ler aqui. Num encontro tão carregado de emoções como este, dada a actual classificação - simetricamente oposta em relação à época passada -, haverá com certeza motivos que farão pender a balança para um lado e para o outro. Comecemos pela equipa encarnada.


  1. O embalo. Não obstante um início titubeante, o Benfica tem vindo a melhorar tanto os seus resultados como as suas exibições a olhos vistos. Com efeito, a equipa de Jorge Jesus parece, hoje por hoje, absolutamente identificada com os princípios preconizados pelo seu treinador (uma pressão defensiva mais intensa e jogo carrilado pelos "asas" Gaitán e Sálvio). Se considerarmos que os encarnados continuam a atropelar tudo e todos no seu caminho (excepção feita aos dois últimos jogos no campeonato, onde alinharam quase todas as segundas e terceiras opções), poderemos imaginar que não se vislumbram facilidades para os portistas.
  2. A melhoria táctica. Jorge Jesus parece ter finalmente (re)encontrado a sua fórmula mágica. Substituir jogadores como Ramires ou Di María não é fácil, como já se disse e repetiu em muitos locais, mas o timoneiro do Benfica conseguiu não só moldar Gaitán e Sálvio (tanto ofensiva como, acima de tudo, defensivamente), como logrou também achar o melhor onze para conciliar as maiores virtudes desta equipa. Os 5-0 sofridos no Dragão são já uma miragem distante.
  3. O jogo mais importante da época. Embora a táctica seja um elemento fundamental do jogo, a parte psicológica é fulcral em qualquer partida futebolística, conforme se pôde ver no ano passado no FC Porto x Benfica, em que, apesar de os encarnados serem a melhor equipa do campeonato sem sombra de dúvida, os azuis e brancos não quiseram ceder o seu título de campeões aos rivais no seu reduto. O mesmo se passará no Domingo: ninguém quer ver a festa do maior rival em sua casa.

Tuesday, March 22, 2011

O princípio da demência

Quase todos os anos assistimos por volta desta altura a um fenómeno curioso: do alto da cúpula, os magnânimes responsáveis dos clubes tentam atrair o público - o denominado 12º jogador - para ajudar a atingir os objectivos a que se propuseram, sejam eles chegar às competições europeias ou simplesmente evitar a zona de descida, franqueando as portas a todos os interessados. Fico sempre atónito quando tal acontece, uma vez que essa decisão vem precisamente das mesmas pessoas que não se importam de ter estádios vazios e criar uma relação de alienação quase total entre o clube e o seu público durante a maioria da época.

Por cá, continuamos a ser exímios quando a necessidade aperta, mas positivamente provincianos na organização de eventos de longa duração ou na criação estruturada de condições a médio/longo prazo. Quando o Euro 2004 foi atribuído a Portugal, logo se fizeram ouvir os argumentos costumeiros de que o evento seria benéfico para Portugal, pois os estádios iriam atrair mais público para o futebol. É óbvio que existem hoje melhores condições do que há uns anos atrás, mas o salto não parece ter sido tão exponencial quanto o previsto.

Segundo um estudo recente, a Alemanha, por exemplo, conta com estádios tão ou mais avançados do que os portugueses, mas a sua taxa de ocupação ronda os 90% em todos os jogos. Naturalmente, a maioria das pessoas referirá a questão do poder de compra, mas o cerne da questão reside precisamente aí: o preço dos bilhetes nos estádios germânicos é grosso modo idêntico ao dos portugueses, o que representa um valor real consideravelmente mais baixo. Como se não chegasse, assistir a jogos em que a nossa equipa joga em estádio alheio é incomparavelmente mais barato, não só porque os transportes são mais eficientes e abrangentes, mas também porque os preços - a eterna questão - para os adeptos visitantes não são muito mais caros do que os ingressos para os adeptos locais.

Mas porque o futebol é cada vez menos ir a um estádio para ver 22 jogadores e uma bola, os organizadores alemães investem também em actividades paralelas nas imediações do estádio durante o dia do jogo, de modo a "entreter", por assim dizer, a multidão que quer algo mais, para além, por exemplo, de incluir muitas vezes refeições ligeiras a preços reduzidos. Deste modo, ir ao futebol não só se torna acessível à maioria das carteiras, como se garante um ambiente festivo, em completo contraste com aquilo que vemos semana sim, semana não nos estádios nacionais.

O que nos vale é que, chegados a Março, a altura de aflição nos permite assitir a partidas de futebol mais em linha com o nosso verdadeiro poder de compra.

O princípio da demência II

Todos os anos dou por mim a pensar se não estarei a ler notícias recessas da imprensa britânica, de uma qualquer época anterior. Pois bem, todos os anos, lá por volta de Setembro, todos quantos gostamos de futebol somos confrontados com o futebol da melhor equipa da Europa do momento: o Arsenal, invariavelmente. Por volta dessa altura, verificam-se sempre goleadas à moda antiga (não raramente infligidas a equipas portuguesas), sendo também é nessa altura que vemos a imprensa britânica confirmar que essa será a temporada em que Arséne Wenger prova em definitivo ter razão quando diz, ano após ano, que a sua equipa é jovem e apenas necessita de tempo.

Contudo, não é menos verdade que, todos os anos, vemos o Arsenal debater-se constantemente com lesões dos seus jogadores mais importantes, referir a importância do ano seguinte, confrontar-se com exibições paupérrimas de jogadores que Wenger jura serem os melhores do mundo, atribuir todas as culpas a árbitros, associações e demais, e ser invariavelmente eliminado de todas as competições em que está envolvido, numa seca de troféus que já dura desde 2004. Este ano não foi excepção. Em pouco mais de 2 semanas, a equipa de Wenger perdeu na final da Taça da Liga com o Birmingham, deitando por terra o argumento de que ainda estaria envolvida em todas as competições, e foi eliminada pelo Barcelona sem ter efectuado um único remate à baliza (embora Wenger prefira perder muito mais tempo com a expulsão de van Persie, naturalmente).

Pois bem, este fim-de-semana não foi excepção e, na última competição que lhe resta, a equipa do norte de Londres empatou com o West Bromwich, depois de estar a perder por duas bolas, dando razão a todos quantos afirmar tratar-se de uma equipa sem nervo nos momentos decisivos. Para quem não acreditar, aqui fica mais um desses momentos.

Wednesday, January 26, 2011

Uma incompetência gritante


As questiúnculas da arbitragem nunca encontraram lugar neste espaço, pois não acho que o futebol deva sequer girar em torno das mesmas. No entanto, há sempre lugar para a discussão sobre uma perspectiva mais abrangente da arbitragem e seus meandros. Depois de ver a actuação de Bruno Paixão no passado sábado, continuo sem compreender os critérios (absolutamente insondáveis) que permitem não só que Paixão continue a apitar, como seja dos árbitros mais antigos de primeira categoria.

Se é verdade que jogadores e treinadores encontram não raramente nos juízes de campos as desculpas perfeitas para escamotear as suas responsabilidades, não é menos verdade que o mero nome do árbitro em questão é mais do que suficiente para pôr os cabelos em pé a muitos dos treinadores portugueses, graças ao seu desrespeito pelo espírito do jogo, à sua ineficácia técnica e disciplinar e à forma como não parece aprender, erro após erro após erro.

Tuesday, January 25, 2011

A inversão do paradigma

Antes da Lei Bosman, em 1995, era quase impossível aos jogadores de futebol decidir sobre o seu futuro, pois o clube que representavam tinha sempre a última palavra. Com a alteração desse estatuto, os jogadores passaram a ter o poder de escolher o clube que queriam representar e durante quanto tempo queriam representá-lo. Há uma panóplia de estudos que, com base em evidências sólidas, apontam a correlação entre o disparar dos ordenados dos jogadores e esta legislação.

Hoje em dia, vemos o absoluto oposto: jogadores que forçam a saída dos clubes ameaçando os mesmos que, se não quiserem vendê-los quando e para onde querem, abandonam a entidade patronal sem que esta tenha direito a qualquer compensação. Abordo esta questão a propósito do interesse do Real Madrid em Ruud van Nistelrooy (ex-jogador dos merengues).

O jogador holandês foi transferido para o Hamburgo há duas épocas, pois encontrava-se já na fase descendente da sua carreira e não encontrava o espaço que julgava merecedor para a sua valia. Como tal, rumou à Alemanhã, em tudo à imagem do que aconteceu com o antigo capitão da mesma equipa, Raúl. Subitamente, o Real, com todos os problemas que vem enfrentando devido à escassez de opções na posição 9, manifesta o seu interesse em Nistelrooy, que força a saída, mostrando-se disposto a pagar do seu próprio bolso para jogar novamente no Santiago Bernabéu.

O Hamburgo, clube que desembolsou largos milhões de euros pela transferência e salário do jogador, negou a pretensão do jogador, demonstrando o evidente: o momento da época é crítico, o clube fez um forte investimento no jogador, definiu um determinado número de anos para a duração do contrato e, como tal, não está minimamente interessado em sair prejudicado de toda esta confusão.

Pois bem, pudemos ler há pouco as palavras do empresário do holandês, que veio a terreiro manifestar o descontentamento do jogador: "Ele não consegue entendê-lo, e é um problema. É muito, muito doloroso para ele. É triste porque o Hamburgo não sabe o que fez a Ruud com esta decisão."

Em suma, hoje em dia, qualquer futebolista crê poder assustar e "aterrorizar" o seu clube, não dando qualquer prova de interesse em cumprir o contrato que assinou, com todas as possibilidades de escolha e decisão. Mais do que o amor à camisola, perdeu-se o respeito pela palavra e pelo acordo.

Sunday, January 16, 2011

A nova vida de Ramires

Ramires foi contratado esta época pelo Chelsea ao Benfica, tendo deixado uma lacuna de difícil preenchimento. No entanto, confesso que, até ontem, não tinha visto nas suas exibições muito mais do que o esforço e profissionalismo que o jogador brasileiro sempre põe em campo. Contra o Blackburn, o médio andou mais nas imediações das suas zonas preferenciais, como se pode ver pelo gráfico mais abaixo, onde estão descritos os roubos de bola efectuados. Com efeito, Ramires limitou mais a sua acção a fechar (e muito bem o seu lado direito) e a compensar as subidas de Michael Essien.

Pessoalmente, creio que terá sido a melhor exibição que já vi Ramires fazer esta época, talvez por não lhe ser cobrado tanto em termos ofensivos, ficando mais à vontade para realizar as suas tão típicas transições rápidas. Talvez agora o seu rendimento possa estabilizar nos elevados níveis a que nos habituou.











 by Guardian Chalkboards

O corte epistemológico

Quando éramos miúdos, o meu pai recorria frequentemente a uma explicação sempre que nos depáravamos com algo que não nos queria explicar naquele momento: o corte epistemológico. Na altura, essas duas palavrinhas tiravam-me do sério. Hoje, ao ver o jogo entre Liverpool e Everton, dei por mim a pensar nessa tão habitual expressão. Durante as várias épocas em que Raúl Meireles esteve no FC Porto, habituámo-nos a ver um jogador atreito ao cansaço, quase roçando o rótulo de frágil. Como tal, continuo a não conseguir evitar ficar surpreendido ao vê-lo na Premier League, a jogar de três em três dias, com uma frescura física invejável e com uma intensidade que ninguém, creio, lhe adivinhava.

É verdade que perdeu em algumas facetas do seu jogo; com a maior intensidade, a sua eficácia de passe sofre, como seria de esperar, naturalmente. No entanto, parece hoje em dia muito mais adaptado às exigências do futebol moderno, em vez de parecer ter sido atingido por um relâmpago, como acontecia tantas e tantas vezes quando o FC Porto defrontava equipas de outra estaleca ao nível europeu.

Deixo mais abaixo um mapa representativo dos seus passes (certos e falhados), onde julgo ser possível ver a sua elasticidade de movimentos, mantendo ainda a capacidade de marcar golos.










 by Guardian Chalkboards

Monday, January 10, 2011

A subtileza de uma contratação



Este não é um texto sobre a contratação de jogadores mais ou menos conhecidos, mais ou menos valiosos, mais ou menos dispendiosos. Pelo contrário, trata-se de uma contratação que não chegará às primeiras páginas de qualquer diário ou semanário desportivo. No seguimento do despedimento de Roy Hodgson enquanto treinador do Liverpool e consequente atribuição do cargo a Kenny Dalglish, antiga glória do clube, a primeira acção do novo responsável técnico do clube foi acrescentar Steve Clarke à sua equipa técnica. Naquilo que muitos verão como uma mera contratação trivial, antevejo uma movimentação inteligente de um treinador principal que não comanda uma equipa há mais de dez anos e que não está disposto a deixar nada ao acaso. Veremos dentro em breve se todas as limitações de que Hodgson se lamentava eram de facto tão impeditivas assim.

Um bom 2011

Começamos 2011 com vontade de voltar a falar de futebol e de nos maravilharmos com gestos aparentemente impossíveis. Para hoje, a ementa segue mais abaixo: