Paulo Assunção rescindiu unilateralmente o contrato com o FC Porto. A notícia surgiu hoje, quinta-feira, e promete aquecer alguns debates de café, blogs e fóruns. Acima de tudo, diria eu, discutir-se-á a questão da razoabilidade desta lei ou se a posição de Paulo Assunção é ou não justa, levando em consideração a questão interesses do jogador/lealdade ao clube. Pessoalmente, prefiro concentrar-me mais na vertente futebolística da questão.
O FC Porto conseguiu nos últimos anos uma hegemonia em tudo semelhante à que havia conseguido na decáda anterior. No entanto, esta hegemonia teve contornos bastante diferentes, não só porque teve episódios internacionais (destacando-se a conquista da Taça UEFA e da Liga dos Campeões), como também originou um maior êxodo de jogadores fundamentais para a estrutura. Basta relembrar que, nos últimos 5 anos, o FC Porto deixou de contar com Vitor Baía, Jorge Costa, Deco, Anderson, Pepe, Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Maniche, Costinha, Derlei, McCarthy, Alenitchev, entre outros. No entanto, conseguiu sempre encontrar soluções para prolongar o seu domínio (a nível nacional, pelo menos).
É indiscutível que jogadores como Quaresma, Lisandro ou Bosingwa desequilibram muitas das vezes as contas a favor de um determinado clube. No entanto, e porque o mundo se rege sempre pela teoria dos opostos, é sempre necessário alguém que equilibre os pratos da balança. Durante os últimos três anos, esse alguém foi Paulo Assunção. Ao longo dos reinados de Adriaanse e Jesualdo, Paulo Assunção fez tudo o que havia para fazer na sua posição e conseguiu (com a ajuda da restante equipa, naturalmente) levar consigo uma estabilidade difícil de alcançar de outra forma. Quando o arrojado treinador holandês quis implementar o sistema de três defesas, obrigando Paulo Assunção a descer para segundo central ou a compensar as subidas de Bosingwa, Assunção não desmereceu, muito pelo contrário. Quando Jesualdo o quis devolver ao seu habitat natural e lhe pediu para ser o fiel da balança do seu 4x3x3, Assunção não hesitou. Na verdade, foi muitas vezes o seu papel que permitiu que Lucho e Raúl Meireles, respaldados por um homem que parecia sempre estar no sítio certo, fizessem uma pressão mais subida e, em situações de ataque, deambulassem por zonas mais avançadas, continuando também a compensar as subidas de Bosingwa.
Todas estas armas foram utilizadas por Jesualdo Ferreira de forma mais consciente e relaxada por saber que podia contar com Paulo Assunção, capaz de correr quilómetros e quilómetros, roubar inúmeras bolas e entregá-las "redondinhas" aos seus companheiros mais avançados.
Quanto a mim, por mais estranho que possa parecer à primeira vista, o desafio da substituição de Paulo Assunção será dos mais difíceis que se colocaram ao FC Porto nos últimos anos, superando em grande escala, na minha opinião, Anderson ou Pepe (apenas para referir as transferências da época transacta). Muito do êxito da campanha do FC Porto na época que se avizinha residirá na capacidade que o clube demonstrar em escolher um substituto à altura.
Thursday, May 29, 2008
O homem invisível
A outra face de uma mesma moeda
Porque não sou rancoroso, aqui fica um texto muito bom sobre um rapaz que suscita sempre discussões mais ou menos acaloradas, especialmente em adeptos do FC Porto. O texto é do MaisFutebol, escrito por Sérgio Pereira.
Quaresma, a trivela e as curvas do futebol
Sérgio Pereira
Se há coisa que me irrita no futebol português, e longe de ser uma pessoa conformada ainda há muita coisa que me irrita no futebol português, são os assobios a Quaresma. Confesso que às vezes apetece-me saltar do lugar e sair pela bancada a esbofetear toda a gente. Detém-me o bom senso. Felizmente. O bom senso e o sentido de perigo.
Assobiar Quaresma é como que pedir por um futebol a preto e branco. Sem cor. Sem arte. Sem emoção. Sem margem de erro. Desumano, portanto. Um futebol quase robótico. Por isso, e enquanto não vir Fernando Aguiar fintar dois belgas e marcar de trivela ao ângulo, não me peçam para compreender os assobios.
Diz-se fintar dois belgas e marcar ao ângulo como pode dizer-se dar um nó em Nelson e rematar ao ângulo. Ou serpentear por entre a defesa da Naval e atirar outra vez ao ângulo. Ou pegar na bola à entrada da área do V. Guimarães e disparar mais uma vez ao ângulo. Ou largar uma bomba por cima da defesa do Sp. Braga (que raio!) ao ângulo.
Por isso, e na impossibilidade de sair a distribuir porrada, fico no meu lugar à espera da próxima trivela que reponha a justiça. Ou pelo menos o silêncio. O silêncio dos culpados. Acredito aliás que os assobios surgem de dois tipos de pessoas: os invejosos e os medíocres. Os invejosos por razões óbvias. Os medíocres porque são invejosos.
Até admito que Quaresma perde muitas bolas, que não é solidário e que defende pouco. Mas cria arte e é corajoso. Tão corajoso que nem parece português. Se calhar é por isso que o assobiamos. É que nós não somos descendentes dos marinheiros que deram novos mundos ao mundo. Somos descendentes dos que cá ficaram. Provavelmente a assobiar.
Concordando ou não com o teor do texto, creio que é uma boa peça, que permite ver o outro lado de uma questão abordada no primeiro post deste blog.
Quaresma, a trivela e as curvas do futebol
Sérgio Pereira
Se há coisa que me irrita no futebol português, e longe de ser uma pessoa conformada ainda há muita coisa que me irrita no futebol português, são os assobios a Quaresma. Confesso que às vezes apetece-me saltar do lugar e sair pela bancada a esbofetear toda a gente. Detém-me o bom senso. Felizmente. O bom senso e o sentido de perigo.
Assobiar Quaresma é como que pedir por um futebol a preto e branco. Sem cor. Sem arte. Sem emoção. Sem margem de erro. Desumano, portanto. Um futebol quase robótico. Por isso, e enquanto não vir Fernando Aguiar fintar dois belgas e marcar de trivela ao ângulo, não me peçam para compreender os assobios.
Diz-se fintar dois belgas e marcar ao ângulo como pode dizer-se dar um nó em Nelson e rematar ao ângulo. Ou serpentear por entre a defesa da Naval e atirar outra vez ao ângulo. Ou pegar na bola à entrada da área do V. Guimarães e disparar mais uma vez ao ângulo. Ou largar uma bomba por cima da defesa do Sp. Braga (que raio!) ao ângulo.
Por isso, e na impossibilidade de sair a distribuir porrada, fico no meu lugar à espera da próxima trivela que reponha a justiça. Ou pelo menos o silêncio. O silêncio dos culpados. Acredito aliás que os assobios surgem de dois tipos de pessoas: os invejosos e os medíocres. Os invejosos por razões óbvias. Os medíocres porque são invejosos.
Até admito que Quaresma perde muitas bolas, que não é solidário e que defende pouco. Mas cria arte e é corajoso. Tão corajoso que nem parece português. Se calhar é por isso que o assobiamos. É que nós não somos descendentes dos marinheiros que deram novos mundos ao mundo. Somos descendentes dos que cá ficaram. Provavelmente a assobiar.
Concordando ou não com o teor do texto, creio que é uma boa peça, que permite ver o outro lado de uma questão abordada no primeiro post deste blog.
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