Friday, October 5, 2012

FC Porto conquista vitória com exibição dominadora


Equipas e movimentações iniciais

No primeiro jogo no seu estádio a contar para a Liga dos Campeões, o FC Porto apresentou-se de forma dominante contra o principal adversário do seu grupo. Vítor Pereira optou por Danilo, Fernando e Varela em detrimento de Miguel Lopes, Defour e Atsu, respectivamente. O treinador do Paris Saint-Germain, Carlo Ancelotti, não efectuou grandes alterações no seu onze, com Ménez junto a Ibrahimovic e Nenê por trás dos dois jogadores mais avançados.

Não é todos os dias que se vê uma equipa portuguesa a assumir o papel de favorita, particularmente na Liga dos Campeões e contra um conjunto recheado de estrelas, como o Paris Saint-Germain. Aparentemente nada impressionados com os valores financeiros patentes em toda a imprensa ao longo dos dias anteriores, os comandados de Vítor Pereira mostraram-se decididos a colocar os parisienses em dificuldades e comprovaram a sua evolução desde a temporada transacta (e desde o último encontro contra o Rio Ave).

Os dragões apresentaram uma linha defensiva bastante subida, muito provavelmente com o intuito de impedir que Ibrahimovic jogasse demasiado próximo da grande área do FC Porto, acreditando que nem Ménez nem Nenê constituiriam grande perigo em penetrações vindas de trás. Quanto ao Paris Saint-Germain, a ordem passava por assumir um bloco baixo e aguardar que a pressão portista inicial acabasse por desvanecer com o tempo.

Frente ao 4x3x1x2 do adversário (com Nenê a actuar por trás de Ibrahimovic e Ménez), os campeões portugueses acentuaram ainda mais as suas habituais características ofensivas, explorando e criando situações de superioridade numérica nas alas - nomeadamente (e de forma quase exclusiva) a esquerda. Com James a vaguear entre o centro e a direita e com Varela na esquerda, o FC Porto insistiu no seu lado esquerdo com Alex Sandro, Moutinho e Varela. Com a largura natural oferecida por este último, o meio-campo em losango de Ancelotti ficava demasiado aberto para conseguir dar resposta às ofensivas.

O desenho da jogada era simples e prolongou-se durante quase todo o encontro. Alex Sandro iniciava a movimentação em zonas mais avançadas (próximo da linha do meio-campo), ocupando mediatamente  Chantôme (o qual, verdade seja dita, raramente jogou em áreas mais interiores, como deveria ter feito). Varela era marcado por Van der Wiel e Verratti surgia a marcar Moutinho, receoso que o médio português tomasse conta do centro - acabando por abrir o meio do campo a James ou Lucho. Com a mesma movimentação e algumas triangulações, a equipa portuguesa criou uma chuva de oportunidades de golo.

O típico movimento do FC Porto pela esquerda.
Verratti foi desposicionado de forma demasiado fácil.

Com o contributo defensivo diminuto de Ibrahimovic e Ménez e com Nenê a actuar de forma intermitente, o FC Porto teve frequentemente liberdade de jogar a seu bel-prazer no flanco esquerdo ou pelo centro, uma vez que a ajuda de Matuidi ou dos defesas-centrais chegava sempre (muito) tarde. Como tal, não será um grande risco dizer que os mais de 20 remates à baliza de Sirigu davam muitas vezes origem 'a oportunidades claras. No que diz respeito ao plano de ataque do Paris Saint-Germain, na maioria dos casos, não parecia haver nenhum, para além de esperar que o rebelde atacante sueco sacasse um dos seus coelhos da cartola (o que quase resultou à passagem do 11º minuto, após um toque de calcanhar em estilo).

O único momento em que os parisienses se assumiram como uma ameaça efectiva foram os primeiros 10 minutos da segunda parte, altura em que os médios do FC Porto perderam as suas coordenadas e se mostravam demasiado sôfregos em chegar ao golo, quase sendo castigados pelo atrevimento. Contudo, a calma de Lucho e a resistência de Moutinho devolveram a ordem aos dragões e estes puderam retomar as suas intenções.

Não obstante todas as oportunidades desperdiçadas, o FC Porto foi um justo vencedor - de tal forma que poderá vir a arrepender-se de não ter marcado mais. O golo de James Rodríguez poderá ter chegado tardiamente para os adeptos portistas, mas significou que os três pontos permaneceriam no Dragão. Após as últimas vitórias sucessivas, esperava-se muito mais do Paris Saint-Germain, equipa que apenas poderá queixar-se de si própria. Na verdade, dar-se-ão por satisfeitos por regressarem a Paris apenas com um golo sofrido. Por outro lado, é difícil entender por que motivo Ancelotti, geralmente exímio na sua leitura de jogo, não contrapôs qualquer solução para contrariar a vantagem natural do seu adversário nas alas.

Monday, October 1, 2012

Os golos do Tottenham à lupa


No passado sábado, o Tottenham de André Villas-Boas derrotou o Manchester United no seu próprio reduto, algo que os Hotspurs não logravam há 23 anos - o que poderá vir a revelar-se decisivo para a equipa de AVB. Todos os golos dos Lilywhites tiveram origem na preocupante tendência patenteada pelo United de não estar à altura de adversários mais capazes, ao longo dos últimos anos (nomeadamente após a partida de Carlos Queiroz).

Com Carrick e Scholes no centro do terreno, e Nani e Giggs nas alas, o aparecimento de espaço no meio-campo defensivo do United previa-se frequente, mas a pavorosa exibição do seu meio-campo e defesa deverá estar a deixar Sir Alex Ferguson bastante preocupado. Nesse sentido, partir-se-á para a análise dos golos do Tottenham em maior detalhe, de modo a elucidar algumas das fragilidades dos Diabos Vermelhos.

  • Golo n.º 1



Houve alguns padrões repetitivos ao longo do jogo, no que diz respeito ao posicionamento defensivo. Neste caso em particular, é possível constatar que tanto Carrick (verde) como Scholes (azul) estão afastados da zona da bola, incapazes de proporcionar uma cobertura defensiva adequada. As linhas amarelas tracejadas representam a "tabela" iniciada por Vertonghen (que viria a marcar o golo).




Jermaine Defoe (amarelo) leu o jogo na perfeição e deslocou-se imediatamente para a ala, desposicionando com isso Rio Ferdinand. A "tabela" permite a Vertonghen superar a ténue oposição de Nani.




O movimento de Defoe abre um enorme buraco no centro da defesa do Manchester United (área sombreada). Carrick (verde) e Scholes (azul) já estão atrasados e longe da posição ideal.




Mesmo ao fim de alguns segundos, Carrick (verde) e Scholes (azul) continuam atrasados em relação ao lateral-esquerdo do Tottenham, o qual teve de controlar a bola e resistir à oposição dos seus marcadores. Ferdinand hesita também e a área crítica do campo (área sombreada) na qual Vertonghen irá marcar permanece desprotegida.

  • Golo n.º #2


O Manchester United acaba de perder a bola. Scholes (azul) não pressiona Dembélé (o portador da bola) nem oferece cobertura. A área sombreada representa o enorme buraco no meio que se abria frequentemente para os contra-ataques da equipa londrina. Gareth Bale (vermelho) começou próximo da sua área e acabaria por marcar o golo.




Dembélé passa facilmente por Scholes e nenhum jogador do Manchester United se aproxima para encurtar o espaço ou obrigar o Tottenham a deslocar-se para as alas. Gareth Bale já passou pelo seu "marcador" e tem campo livre à sua frente (área sombreada).




Uma vez mais, Defoe (amarelo) demonstra uma compreensão intuitiva do jogo e começa a fazer o movimento oposto, desposicionando Jonny Evans. Bale (vermelho) recebe a bola sem qualquer marcação e não há ninguém nas imediações. Scholes (azul) está já 5 metros atrás do seu adversário. O Tottenham criava facilmente uma situação de 2x2 em poucos segundos.




Mesmo ao fim de todo este tempo, Evra permanece bem aberto na ala, local em que não pode ser útil à equipa. Defoe (amarelo) prossegue o seu movimento e Bale (vermelho) ataca o espaço vagado pelo seu companheiro de equipa - movimento ofensivo típico. Note-se a distância entre o extremo galês e Ferdinand (laranja). Bale viria a ultrapassar o defesa-central inglês para marcar o segundo golo.




Com Evans fora da jogada, graças ao trabalho árduo de Defoe, Bale (vermelho) tem caminho livre à sua frente em direcção à baliza. Uma vez mais, nem Carrick, nem Scholes, nem Evra ou Rafael estão suficientemente próximos para ajudar. O golo de Bale foi facilitado em demasia e as equipas na Liga dos Campeões estarão atentas à oportunidade de castigar a abordagem defensiva do United.

  • Golo n.º #3



O United acaba de perder a bola, uma vez mais. Dembélé ultrapassa facilmente Scholes (azul) e fica liberto de qualquer marcação.




Com Scholes já fora da jogada, Dembélé pode escolher o melhor passe. A área sombreada representa o enorme buraco que o United abriu novamente entre as linhas e como uma simples bola longa pode contornar todo o meio-campo do United.




Usando da máxima franqueza, esta jogada foi quase inenarrável. Ferdinand (laranja) é novamente desposicionado no seguimento do passe longo de Dembélé na direcção de Defoe. Carrick (verde) e Scholes (azul) não pressionam nem proporcionam cobertura. Como se não bastasse, Rafael (vermelho) parece continuar sem compreender alguns dos fundamentos básicos da sua posição e permanece em linha com Ferdinand e Evans, em vez de dar alguns passos atrás. Note-se como Bale se apercebe imediatamente desse facto e pede a bola no espaço, com o braço. Clint Dempsey (amarelo) dá por si sem qualquer marcação na área mais importante do terreno.




Defoe coloca à bola à frente de Bale para o remate deste último. Carrick (verde) e Scholes (azul) não oferecem qualquer resistência aos seus oponentes. Na área mais importante do terreno, Evans está só (área sombreada) contra três jogadores do Tottenham. Como seria de esperar, Dempsey não teve qualquer dificuldade em aproveitar a defesa incompleta de Lindegaard e marcar o terceiro golo do Tottenham no encontro.


  • Conclusão


Se o Manchester United pretende apresentar uma candidatura séria ao título e/ou melhorar o seu rendimento na Europa relativamente às prestações catastróficas da época passada, convirá recorrer a um extensivo trabalho ao nível do posicionamento defensivo. Caso contrário, irá certamente sofrer às mãos de qualquer equipa que se mostre capaz de contra-atacar pelo centro. À medida que o tempo vai passando, é cada vez mais difícil de compreender ao certo o que leva Sir Alex Ferguson a insistir em deixar o seu meio-campo tão desprotegido.

No que ao Tottenham diz respeito, embora não tenha marcado nem contribuído com qualquer assistência, Jermaine Defoe foi fundamental para a vitória, conforme Michael Cox fez notar de forma tão pertinente. A sua movimentação inteligente foi essencial para arrastar os marcadores dos seus companheiros para fora das suas posições e deverá servir para mostrar que o trabalho de um ponta-de-lança envolve muito mais do que apenas inserir a bola na baliza.