Monday, July 28, 2008

Um certo Aimar

Aviso à tripulação: Aimar está longe de ser o meu jogador favorito. Posto isto, posso dizer que fiquei agradevelmente surpreendido com a sua contratação (embora, dadas as constantes actualizações das negociações, "surpreendido" possa parecer uma palavra forte). Creio que a contratação do argentino era não só fundamental para o Benfica conseguir desviar atenções da decisão desfavorável relativa à sua participação na Liga dos Campeões, como também para assegurar aos benfiquistas (jogadores e associados) a continuidade do testemunho da camisola 10. No entanto, este texto não se deve a nada disso. Deve-se, isso sim, à constatação que, afinal, o campeonato português já não é só a localização dos coitadinhos, conforme os Luisões, Quaresmas e Moutinhos deste país nos fazem sentir, defeso após defeso, como se lhes devêssemos prestar vassalagem por se dignarem a passear a sua classe nos nossos campos.

Afinal, ao contrário do que suspeitávamos, há uma porta de entrada grande para o nosso campeonato, não só de saída. Afinal, é possível que um jogador prefira vir jogar para o Benfica em vez de ficar rico a jogar no Newcastle, 12º classificado da liga inglesa. Afinal, o campeonato português ainda vai tendo os seus atractivos, não obstante os constantes assassínios de carácter por quem (supostamente) deveria cuidar dos seus interesses. E isso é bom de ver. E é por isso que Aimar terá ao longo deste campeonato um maior capital de simpatia do que o capitão do Sporting, o central encarnado ou o mago portista.

PS: Algumas palavras rápidas sobre a questão do esclavagismo: gostava muito que o presidente da FIFA me explicasse a comparação absurda entre um dos maiores flagelos da história da humanidade e a impossibilidade de um jogador quebrar um contrato que assinou de livre vontade no momento em que de um outro clube lhe acenam com mais dinheiro. Pensava que era assim que se regiam a maior parte das relações profissionais - assina-se um contrato no melhor interesse de ambas as partes e ou se cumpre ou se submete às decisões da entidade empregadora. Gostava de saber em que sistema esclavagista os "escravos" continuam a receber chorudos salários de clubes onde já não jogam ou nunca jogaram (relembro apenas os casos de Peixe, Ibarra, Porfírio, entre muitos, muitos outros), apesar de há muito não servirem os interesses dos clubes. Num sistema esclavagista, esses jogadores seriam descartados sem qualquer direito.

Um Sporting coeso e equilibrado

O Sporting promete. Pessoalmente, creio que a equipa leonina tem tudo para dar algumas alegrias aos seus sócios e simpatizantes. A direcção da SAD conseguiu fazer excelentes negócios (excepção feita a Izmailov - na minha opinião, demasiado caro para as suas oscilações) com as entradas de Grimi, Caneira, Rochemback e Postiga. No entanto, o maior trunfo terá sido porventura conseguir segurar e precaver as eventuais saídas de Miguel Veloso e João Moutinho. Bem sei que este último anunciou alto e bom som a sua intenção de sair - uma atitude pouco previsível, creio, do capitão do Sporting, que terá perdido porventura algum do capital de confiança junto da SAD, do treinador e dos adeptos ao vir assumir a sua vontade em plena praça pública.

Seja como for, o fim-de-semana revelou aquilo que se imaginava: uma equipa completamente identificada com o seu treinador, concepção de jogo e esquema táctico (apesar de haver ainda, é claro, muito a fazer) e uma segunda linha que rapidamente discutirá a titularidade, especialmente dado o exigente calendário que se avizinha. Não obstante as minhas dúvidas relativamente à versão mais clássica do 4x4x2 que Paulo Bento pretende, uma vez que o Sporting não conta propriamente com muitos médios-ala, a equipa pareceu-me equilibrada nos vários momentos - excepção feita à adaptação de Caneira a trinco, uma opção que julgo meramente circunstancial - e a dupla Liedson-Derlei fará muito provavelmente alguns estragos com a sua capacidade de luta e de pressão alta.

Com este esquema mais clássico, Paulo Bento conseguirá uma maior capacidade de desequilíbrio, mas creio que perderá algum do domínio do jogo que tanto gosta de ter. Rochemback poderá revelar-se uma excelente ajuda no meio-campo na criação de passes de ruptura, mas as suas oscilações físicas (muito provavelmente causadas pelo seu constante excesso de peso e aparente falta daquilo a que se chama "treino invisível") e Romagnoli vai ter de se aplicar a fundo, tal como Vukcevic e Izmailov, para garantirem um lugar no onze. Quanto a Postiga e Djaló, serão boas alternativas a Derlei, especialmente, uma vez que, aos 33 anos e depois de uma operação tão delicada, poderá não ter fôlego para as várias dezenas de jogos que aí vêm. Não houvera um Rui Patrício ainda com algumas "tremideiras" e arriscar-me-ia a apostar no Sporting como campeão.

Um Befinca (ainda) à deriva

E eis que a competição começa lentamente a regressar ao seu local habitual: às televisões. Depois de um bom Campeonato da Europa, todo o verdadeiro adepto de futebol que se preze está ansioso por duas coisas - férias e o início da Superliga. Como tal, os jogos de pré-época são devorados como se de finais da Liga dos Campeões se tratasse. Afinal de contas, há quanto tempo já não vemos a nossa equipa ou os adversários? Neste momento, tudo é importante!

Eu sou sem dúvida um destes incondicionais. Ver FC Porto, Benfica e Sporting vira hábito há muito perdido, absoluta e completamente inculcado. Como tal, não foi com grande surpresa que dei por mim a tentar ver todos os jogos deste fim-de-semana futebolístico. Infelizmente, apenas consegui ver os jogos de Benfica e Sporting.

Costuma dizer a sabedoria (?) popular que os resultados são o que menos interessam por estes dias. Compreendo o princípio que norteia esse argumento, mas não creio que seja tanto assim, e não apenas pelos adeptos, sempre desejosos de ver o seu clube vencer. Não acho, por exemplo, que seja coincidência, azar ou pouco preocupante o saldo final da participação do Benfica neste Torneio do Guadiana. Aliás, se estivesse na posição de homem-forte do clube encarnado, nunca teria sancionado a participação dos encarnados nesta prova. Sabendo, como todos sabemos, que o Benfica é, dos três grandes, aquele onde menos tempo parece haver e que Quique Flores tem ainda muito por fazer, não vejo grande interesse em colocar a equipa frente a um Sporting ao fim de pouco tempo. Não era difícil adivinhar o desfecho final do embate entre estas duas equipas, o que poderá retirar alguma margem de manobra ao treinador da Luz, uma vez que o que os adeptos viram foi uma absoluta incapacidade de atacar, opções confusas, "carradas" de jogadores que não têm nem terão lugar no plantel (Edcarlos é apenas um deles) e imensas experiências. Luís Sobral dizia algo com que concordo: hoje em dia, há inúmeras formas de se conhecer os jogadores que vão fazer parte de um planter - dos vídeos aos relatórios de campo, entre muitas outras. Não são (ou não deveriam ser) três jogos a fazer a diferença.

Compreendo com alguma dificuldade que, para os lados da Luz, se continue a afirmar que ainda vão entrar vários jogadores (independentemente da sua qualidade). Afinal de contas, parece subsistir para as bandas da Segunda Circular o hábito de não definir de princípio o grupo com que se vai trabalhar, fundamentar opções atempadamente ou resolver questões pendentes de modo a oferecer as melhores condições ao treinador. E convenhamos que ter quase 40 jogadores à sua disposição não facilita em nada as decisões do treinador.

De resto, pelo que vi, ainda há muito trabalho a fazer a todos os níveis. Não há, pelo que se vê, qualquer esboço de onze titular e as segundas opções estão ainda muito verdes, estando algumas delas claramente descontextualizadas. Creio que, especialmente devido ao início do campeonato, o Benfica deveria ter optado por opções mais atempadas, decididas e fundamentadas. Das mais recnetes contratações, não apostava que mais do que duas fossem bem sucedidas, no rescaldo da época que nós, treinadores de bancada, haveremos de fazer.