Equipas e movimentações iniciais |
Portugal e República Checa foram as primeiras equipas a lutar por um lugar nas meias-finais da presente edição do Campeonato Europeu. Como seria de esperar, fomos presenteados com uma abordagem mais tímida por parte de ambas as equipas, uma vez que se tratava de uma partida a eliminar e nenhuma das equipas queria voltar para casa depois de chegar tão longe.
Nesta fase da competição, é eminentemente óbvio que todos fizeram os seus trabalhos de casa e, muitas das vezes, os dois onzes tentam anular as qualidades dos seus adversários, ao invés de fazerem valer as suas. Por conseguinte, não foi propriamente surpreendente ou inesperado ver defesas-centrais a fazerem uso de passes longos, dado o pouco espaço de manobra a meio-campo.
Com Dadira no lugar de Rosicky (sem condições físicas para jogar de início), o seleccionador checo Michal Bilek tentou preencher o centro do terreno e tornar a sua equipa estreita, replicando de alguma forma o que havia feito contra a Rússia. Paulo Bento respondeu colocando Nani e Ronaldo em posições mais interiores, esperando que os defesas-laterais ocupassem as zonas exteriores.
Portugal não teve um início feliz e, à semelhança da partida contra a Alemanha, falhou inúmeros passes (simples), complicando uma das principais qualidades da selecção lusa: as rápidas transições ofensivas. Na verdade, foram os checos a comandar as operações durante os primeiros 25 minutos, explorando preferencialmente as alas, conforme esperado.
Meireles tenta fechar ao meio enquanto Selassie avança no terreno, sem a vigilância de Ronaldo. |
Ao tentar cobrir a sua posição e a de Ronaldo, Meireles já vai atrasado. Esta situação em particular deixou muitas vezes Coentrão exposto. |
Tanto Raúl Meireles como João Moutinho estavam demasiado receosos de abandonar as suas posições iniciais e ceder a batalha do meio-campo, algo que se arrastou até ao minuto 25, altura em que Moutinho apareceu finalmente em zonas mais adiantadas e isolou Ronaldo com um fantástico passe de ruptura. Embora a jogada tivesse sido invalidada pelo árbitro, foi o toque a reunir de que a equipa necessitava.
Moutinho (amarelo) avança finalmente no terreno e Ronaldo (vermelho) flecte para dentro. |
Ronaldo (vermelho) é exímio na exploração das costas das defesas, especialmente quando dispõe de passes de ruptura como o de Moutinho (amarelo). |
O rendimento de Portugal melhorou substancialmente ao fim dos primeiros 25 minutos. |
Paulo Bento acertou em cheio nas instruções e correcções ao intervalo. A primeira jogada da segunda parte foi um tiro de aviso aos checos. Meireles fez em menos de 30 segundos o que Portugal ainda não tinha feito até então - algo que um médio deverá fazer num 4x3x3 (especialmente se o ponta-de-lança não for móvel, como é o caso de Hugo Almeida). Para além de receber a bola entre os sectores adversários, Meireles subiu para ocupar o espaço libertado por Ronaldo, o qual estava já à espera de um possível cruzamento. Esta jogada seria uma réplica simétrica do golo de Ronaldo.
Meireles (amarelo) recebe a bola entre linhas pela primeira vez no jogo. |
Meireles (amarelo) sobe pelo lado esquerdo, permitindo que Ronaldo (vermelho) se liberte e procure o cruzamento. |
Com a equipa entusiasmada, todos os sectores estavam mais próximos, permitindo que os médios e defesas jogassem mais à frente e recolhessem as sempre importantes segundas bolas. Ainda que a pressão portuguesa não fosse sufocante, servia para desgastar a equipa checa, chegando mesmo a anular os tímidos contra-ataques dos comandados de Bilak.
Moutinho e Meireles libertaram-se finalmente dos seus grilhões tácticos e começaram não só a rodar a bola, mas também a criar situações de superioridade numérica nas alas para que Ronaldo e Nani ocupassem zonas interiores em que causassem maior perigo. Os gráficos dos passes de Moutinho constituem um bom exemplo disso mesmo: no final da primeira parte, o médio do FC Porto era o quinto jogador com maior número de passes. No fim do encontro, estava no topo da lista, a alguma distância do segundo.
Moutinho mostrou-se muito mais activo e incisivo durante a segunda parte. |
Não obstante os inúmeros remates (na sua maioria, longe do alvo), Portugal não se mostrava capaz de acabar com o jogo, o que poderia revelar-se custoso mais adiante. Com os checos desgastados e aparentemente descrentes, o golo de Portugal parecia apenas uma questão de tempo. E, com efeito, o tento surgiu por intermédio do inevitável Ronaldo, ansioso por anular mais dois remates aos ferros em momentos anteriores. Moutinho atacou a ala, tal como Meireles havia feito no primeiro lance da segunda parte, e centrou para uma cabeçada imparável do avançado do Real Madrid. O resultado estava decidido.