Como que para comprovar a minha ignorância e a falibilidade das minhas "previsões", a Rússia perdeu ontem de forma absoluta. Não perdeu, como a Turquia, porque a sorte lhe foi madrasta, por ter do outro lado uma equipa alemã com a estrelinha de campeã ou por um qualquer capricho do árbitro. Pelo contrário, ao invés do que tinha dito, a selecção russa foi categoricamente derrotada, com a mesma diferença de golos do jogo da primeira jornada: 3-0. Muito honestamente, creio que a Rússia perdeu por culpa própria. Não faltam nem faltarão os arautos das qualidades espanholas, de Xavi a Iniesta (excelente assistência no primeiro golo - vamos fazer de contas que a intenção não era rematar à baliza, mas sim um passe magistral para Xavi), de Fabregas a Villa, o grande ausente da final; eu não serei um desses arautos.
A Rússia perdeu porque nem sequer entrou em campo. Na verdade, o seu Europeu pareceu terminar no momento em que o árbitro deu como terminado o jogo dos quartos-de-final frente à Holanda. Enquanto via esse jogo com amigos, foram vários os que manifestaram a sua surpresa para com a forma física da Rússia, como se parecessem querer trucidar os holandeses, independentemente do lugar nas meias-finais. Nenhum de nós conseguia perceber como é que aquela selecção parecia estar em tão melhor forma física e de que forma é que todo aquele entusiasmo não teria reflexos nocivos no jogo seguinte. Pois bem, os reflexos foram muito mais do que nocivos. A selecção russa não compareceu ao jogo.
Há que dar mérito ao plano de jogo espanhol, naturalmente, mas não demasiado. Não creio, à semelhança dos vários textos que já li hoje, que tenha sido a Espanha a anular as principais armas russas. Se é certo que Sérgio Ramos escolheu precisamente o jogo de ontem para me fazer ver que é melhor jogador do que eu penso, colocando imensas dificuldades a Zhirkov, não é menos verdade que a Rússia esteve longe de desenvolver as suas movimentações e muito mais longe de interpretar bem a táctica da Espanha (que não surpreendeu nada nem ninguém com a sua forma de jogar). Tenho noção de que "queimei a língua", como se costuma dizer, ao apostar na Rússia para vencer a Espanha, mas não nego que o jogo da armanda espanhola emperra muito facilmente se lhe retirarem o comando do jogo (como os russos haviam feito à Holanda) e com uma pressão mais alta, uma vez que os castelhanos privilegiam o ritmo lento e em progressão, ficando muitas vezes desposicionados ao defender.
Parabéns à Espanha - acima de tudo, por ter conseguido chegar até aqui, algo que não faziam há várias décadas. Esta geração demonstrou, não obstante todas as suas falhas, maior força de carácter do que as anteriores fornadas de Michel, Hierro, Butragueño, entre outros.
Gostava apenas de acrescentar uma última nota: a Espanha dominou todo o jogo, indiscutivelmente, mas os golos apenas surgiram depois da substituição de Villa por Fabregas. Com esta alteração, a Espanha deixou de ser a única equipa a actuar com dois pontas-de-lança (com Villa a sobrepor-se de forma notória a Torres em todos os aspectos), para passar a actuar mais perto de um 4x2x31, muito semelhante ao alemão). Duvido que Aragonés arrisque na colocação de Güiza no onze inicial, o que, a acontecer, deverá proporcionar um maior equilíbrio entre as partes.
Friday, June 27, 2008
E o teimoso sou eu
Há quem diga, de entre aqueles que me conhecem, que sou muito teimoso, ainda mais que o próprio Scolari, o que não é tarefa muito fácil, como todos sabemos - não, não vou aproveitar para colocar mais uma vez o ex-seleccionador em causa. Sou teimoso, sim, por continuar a achar que a Alemanha não tem necessariamente futebol para estar onde está. Dir-me-ão que sim, claro que tem; afinal de contas, está na final do Europeu. Pessoalmente, tento ver os resultados de uma forma mais crítica do que o simples "ganhou, é bom". Aliás, foi precisamente esse olhar que me permitiu arriscar o palpite de que a Grécia não voltaria a ir longe com Otto Rehagel, apesar da vitória no Euro 2004 ou que Portugal não passaria da primeira fase (passou, bem o sei, mas apenas para perder com uma equipa "a sério" logo em seguida).
A Alemanha tem bons jogadores (Podolski e Schweinsteiger, Frings e Ballack, por exemplo), obviamente, mas é uma equipa desequilibrada e com óbvios pontos fracos. A dulpa de centrais está longe de convencer, o guarda-redes germânico assemelha-se em vários aspectos a Ricardo e é relativamente simples contrariar a sua construção de jogo. No entanto, pelo que parece, nada disso é suficiente para permitir uma vitória aos adversários. A Alemanha sofreu mais uma vez, na passada quarta-feira, enormes sustos perante o seu oponente - a Turquia. Durante a primeira parte, houve bolas na trave, combinações muito perigosas e a propósito, pressão alta por parte dos turcos, mas tudo isso rendeu apenas um golo. Como se não chegasse, a Alemanha marcou logo a seguir. Na verdade, o domínio turco (honra seja feita não só à sua bravura, que roça por vezes a inconsciência de quem tudo quer e... tudo perde, mas também à lição de futebol que deu ao adversário, sabendo o que atacar e quando) foi de tal ordem, que a Alemanha apenas rematou três vezes. Para mal dos otomanos, os três remates foram certeiros.
É óbvio que não vou alinhar pelo argumento de que os resultados teutónicos são apenas fruto da sorte. É indiscutível que há mérito na forma como abordam as bolas paradas, por exemplo, nas diagonais de Schweinsteiger e no pé esquerdo de Podolski - apenas sugiro que o substrato é menor do que o que os resultados poderão dar a entender, para mim. Estou na verdade muito curioso com a resposta da Alemanha frente à "La Roja", que parece vir em crescendo de forma, especialmente depois da vitória de ontem, mesmo sem o seu melhor marcador. Pessoalmente, creio que o seu 4x2x3x1 resultará muito melhor para travar as investidas castelhanas do que frente aos turcos, sempre muito mais mexidos e mais disponíveis para constantes trocas de posições.
A Alemanha tem bons jogadores (Podolski e Schweinsteiger, Frings e Ballack, por exemplo), obviamente, mas é uma equipa desequilibrada e com óbvios pontos fracos. A dulpa de centrais está longe de convencer, o guarda-redes germânico assemelha-se em vários aspectos a Ricardo e é relativamente simples contrariar a sua construção de jogo. No entanto, pelo que parece, nada disso é suficiente para permitir uma vitória aos adversários. A Alemanha sofreu mais uma vez, na passada quarta-feira, enormes sustos perante o seu oponente - a Turquia. Durante a primeira parte, houve bolas na trave, combinações muito perigosas e a propósito, pressão alta por parte dos turcos, mas tudo isso rendeu apenas um golo. Como se não chegasse, a Alemanha marcou logo a seguir. Na verdade, o domínio turco (honra seja feita não só à sua bravura, que roça por vezes a inconsciência de quem tudo quer e... tudo perde, mas também à lição de futebol que deu ao adversário, sabendo o que atacar e quando) foi de tal ordem, que a Alemanha apenas rematou três vezes. Para mal dos otomanos, os três remates foram certeiros.
É óbvio que não vou alinhar pelo argumento de que os resultados teutónicos são apenas fruto da sorte. É indiscutível que há mérito na forma como abordam as bolas paradas, por exemplo, nas diagonais de Schweinsteiger e no pé esquerdo de Podolski - apenas sugiro que o substrato é menor do que o que os resultados poderão dar a entender, para mim. Estou na verdade muito curioso com a resposta da Alemanha frente à "La Roja", que parece vir em crescendo de forma, especialmente depois da vitória de ontem, mesmo sem o seu melhor marcador. Pessoalmente, creio que o seu 4x2x3x1 resultará muito melhor para travar as investidas castelhanas do que frente aos turcos, sempre muito mais mexidos e mais disponíveis para constantes trocas de posições.
Monday, June 23, 2008
Quem quer empatar acaba por perder, muitas das vezes
Esta é uma das frases mais frequentemente ouvidas aos comentadores sábios e sabidos do futebol. Apesar de não deixar de ter algum fundo de verdade, nem sempre se aplica. Especialmente no caso dos italianos. Confesso que nutro um certo tipo de amor/ódio pela selecção transalpina. Por um lado, não consigo ficar indiferente à forma como as sucessivas selecções italianas conseguem dominar o jogo, asfixiar o adversário, sofrer constantes ondas ofensivas dos adversários, criar três ocasiões de golo (por vezes, menos) e marcar numa delas. É um misto de sobriedade, disfarce das próprias insuficiências, cinismo e eficácia que me deixa sempre inclinado a admirá-los. Por outro lado, como espectador, não posso dizer que fique entusiasmado sempre que penso que a Itália vai jogar - antevêem-se sempre jogos com poucos golos, sem muitas ocasiões para marcar, muito faltoso e de resultado quase sempre certo. Ou seja, retira tudo o que de bom há no futebol: imprevisibilidade, espectáculo, golos.
Já tinha escrito anteriormente que a Itália sem Pirlo e Gattuso seria significativamente diferente. Com efeito, não há ninguém nesta selecção que possa preencher o lugar de Pirlo, seja na posição 6 ou 10, uma vez que tanto Perrotta como de Rossi são jogadores com características completamente diferentes. Desta feita, a Itália apostou num 4x4x2 (losango, na maior parte do tempo), deixando Luca Toni sempre sozinho na frente, com Cassano - um dos maiores flops da história do futebol - a descair para o flanco esquerdo, tentando aproveitar as subidas despropositadas de Sérgio Ramos e a falta de adaptação ao lugar de defesa-direito. Com de Rossi, Perrotta, Aquilani e Ambrosini (o elemento "estranho" neste meio-campo da Roma), a Itália abafava muito do jogo de que a Espanha necessita para criar espaços. Jogando mais atrás do que o costume e apostando nas constantes bolas longas para Cassano e/ou Toni, a Itália não teve qualquer problema em dar a iniciativa de jogo à Espanha, com os quatro elementos do meio-campo sempre mais preocupados em defender.
Como tal, não foi minimamente surpreendente ver que a Xavi, Iniesta e Senna não conseguiam fazer o que queriam: constantes trocas de posições e de bola, tentando abrir espaços para as diagonais de Villa e Torres. Dado que a selecção italiana jogava muito encostada à sua área, não havia lugar às acelerações com e sem bola dos avançados espanhóis. Villa foi porventura o único a conseguir jogar entre as linhas defensivas italianas, fugindo às suas marcações.
A selecção italiana passou os 120 minutos satisfeita com o empate, assente no pressuposto de que, uma vez que tinham o melhor guarda-redes, os penalties seriam apenas um procedimento necessário e obrigatório, mas de resultado garantido. Afinal de contas, os espanhóis jogavam contra o fardo da tradição: tinham perdido 3 vezes no dia 22 de Junho nos quartos-de-final de uma competição e não venciam a Itália em competições oficiais há 88 anos. Nada melhor do que vencer o jogo para "matar o borrego" de uma vez por todas. E assim foi.
Não consigo afirmar que a Espanha mereceu ganhar, mas sei que não merecia perder. A Itália refugiou-se constantemente naquele deixar passar o tempo tão característico de uma Juventus ou Milan, com os seus jogadores a congratularem-se no final dos 120 minutos regulamentares, como se a vitória estivesse ali à espreita, garantida, certa. Desta feita, Buffon não foi suficiente, apesar de ter defendido um dos cinco remates. A Itália ficou órfã da classe de Pirlo e da garra de Gattuso e mostrou que o seu banco estava repleto daquilo a que os americanos chamam "role players" (jogadores de suporte), mas ninguém capaz de mudar os acontecimentos do jogo. E quando assim é...
Quanto à Espanha, demonstrou novamente enormes dificuldades para segurar um ponta-de-lança forte (Ibrahimovic já tinha sido um pesadelo), alguma debilidade na recuperação das posições defensivas e um Sérgio Ramos que insiste em apostar na sua suposta velocidade e técnica, mas que acaba por desequilibrar (e muito) a defensiva castelhana. Os russos têm sido mestres em saber aproveitar esses espaços e não me admiraria nada se visse Arshavin e/ou Zhirkov em grande velocidade repetidas vezes.
Já tinha escrito anteriormente que a Itália sem Pirlo e Gattuso seria significativamente diferente. Com efeito, não há ninguém nesta selecção que possa preencher o lugar de Pirlo, seja na posição 6 ou 10, uma vez que tanto Perrotta como de Rossi são jogadores com características completamente diferentes. Desta feita, a Itália apostou num 4x4x2 (losango, na maior parte do tempo), deixando Luca Toni sempre sozinho na frente, com Cassano - um dos maiores flops da história do futebol - a descair para o flanco esquerdo, tentando aproveitar as subidas despropositadas de Sérgio Ramos e a falta de adaptação ao lugar de defesa-direito. Com de Rossi, Perrotta, Aquilani e Ambrosini (o elemento "estranho" neste meio-campo da Roma), a Itália abafava muito do jogo de que a Espanha necessita para criar espaços. Jogando mais atrás do que o costume e apostando nas constantes bolas longas para Cassano e/ou Toni, a Itália não teve qualquer problema em dar a iniciativa de jogo à Espanha, com os quatro elementos do meio-campo sempre mais preocupados em defender.
Como tal, não foi minimamente surpreendente ver que a Xavi, Iniesta e Senna não conseguiam fazer o que queriam: constantes trocas de posições e de bola, tentando abrir espaços para as diagonais de Villa e Torres. Dado que a selecção italiana jogava muito encostada à sua área, não havia lugar às acelerações com e sem bola dos avançados espanhóis. Villa foi porventura o único a conseguir jogar entre as linhas defensivas italianas, fugindo às suas marcações.
A selecção italiana passou os 120 minutos satisfeita com o empate, assente no pressuposto de que, uma vez que tinham o melhor guarda-redes, os penalties seriam apenas um procedimento necessário e obrigatório, mas de resultado garantido. Afinal de contas, os espanhóis jogavam contra o fardo da tradição: tinham perdido 3 vezes no dia 22 de Junho nos quartos-de-final de uma competição e não venciam a Itália em competições oficiais há 88 anos. Nada melhor do que vencer o jogo para "matar o borrego" de uma vez por todas. E assim foi.
Não consigo afirmar que a Espanha mereceu ganhar, mas sei que não merecia perder. A Itália refugiou-se constantemente naquele deixar passar o tempo tão característico de uma Juventus ou Milan, com os seus jogadores a congratularem-se no final dos 120 minutos regulamentares, como se a vitória estivesse ali à espreita, garantida, certa. Desta feita, Buffon não foi suficiente, apesar de ter defendido um dos cinco remates. A Itália ficou órfã da classe de Pirlo e da garra de Gattuso e mostrou que o seu banco estava repleto daquilo a que os americanos chamam "role players" (jogadores de suporte), mas ninguém capaz de mudar os acontecimentos do jogo. E quando assim é...
Quanto à Espanha, demonstrou novamente enormes dificuldades para segurar um ponta-de-lança forte (Ibrahimovic já tinha sido um pesadelo), alguma debilidade na recuperação das posições defensivas e um Sérgio Ramos que insiste em apostar na sua suposta velocidade e técnica, mas que acaba por desequilibrar (e muito) a defensiva castelhana. Os russos têm sido mestres em saber aproveitar esses espaços e não me admiraria nada se visse Arshavin e/ou Zhirkov em grande velocidade repetidas vezes.
O pódio do vencedor
A Rússia não deu qualquer hipótese à Holanda e apurou-se para as meias-finais do Campeonato da Europa de 2008. Não fora o golo (muito) tardio de van Nistelrooy e a Holanda teria, tal como Portugal, perdido o jogo em 90 minutos, muito por culpa própria (ver post mais abaixo). Assim sendo, foi forçada a ir a um prolongamento a todos os títulos humilhante. Apesar do dia de descanso extra, apesar de ser a favorita, apesar de ter marcado um golo em cima da hora (supostamente desmoralizando assim um adversário que já contava com a derrota), apesar de quase todos os seus titulares terem assistido de fora ao jogo com a Roménia - apesar de tudo isto, a Holanda era uma equipa física e animicamente abatida e a Rússia encarregou-se de comprovar isso mesmo, fazendo um prolongamento como há muito não se via e demolindo qualquer resistência laranja. Os russos marcaram dois golos no prolongamento, enviaram uma bola à barra, mas, acima de tudo, demonstraram uma capacidade física invulgar - com certeza explicável pelo facto de irem apenas a meio da época, e não no final da mesma, como a maioria dos restantes participantes no Europeu.
A Rússia fez aquilo que dela (eu) esperava. Na verdade, apesar de não apostar na Rússia como vencedora do Euro, não tinha grandes dúvidas de que passaria a Holanda sem grandes problemas, uma vez que tinha mostrado ser muito mais equipa e muito mais flexível às nuances tácticas dos diferentes jogos e respectivos momentos. Ou seja, Guus Hiddink demonstrou mais uma vez estar talhado para este tipo de confrontos, conseguindo não só potenciar ao máximo as capacidades dos seus jogadores, como também anular as forças do adversário. Hiddink sabia que a Holanda precisava de bola para atacar, mas que, ao fazê-lo, ficava muito exposta. Como resultado, roubou a iniciativa de jogo e aproveitou o constante desequilíbrio e falta de vocação defensiva dos seus muitos jogadores atacantes (van Persie, Sneijder, van der Vaart, van Nistelrooy). Para piorar a situação para o lado holandês, os russos apostaram no seu futebol de constantes movimentações, provando que, apesar de a técnica ser importantíssima, a sábia ocupação dos espaços faz maravilhas. Como diz o ditado, "um bom jogador resolve um jogo; uma boa equipa resolve campeonatos".
Tenho muita curiosidade em saber até que ponto a Rússia vain conseguir aguentar esta pressão que surge agora de ser a equipa do momento (sucedendo precisamente à Holanda), não podendo já apostar na táctica de contra-golpe, própria de quem é apenas um outsider. A partir de agora, tal como aconteceu com a suposta Laranja Mecânica, todos os olhares estarão voltados para a equipa de Hiddink. No fundo, esta selecção russa é a versão transnacional do Zenit que venceu a última edição da Taça UEFA - dois jogadores que desequilibram os pratos da balança, mas que não deixam de ajudar a equipa enquanto colectivo (uma característica que ainda falta a Cristiano Ronaldo, por exemplo), um elenco de suporte que sabe o que tem a fazer, movimentando-se para os espaços vazios de modo a libertarem as estrelas, e deslocações muito a proprósito.
Pessoalmente, creio que a Rússia não tem ainda o traquejo e a manha necessários para conseguir levar de vencida uma Alemanha, por exemplo, mas desenganem-se os espanhóis se pensarem que vão ver uma reedição do primeiro jogo da sua selecção, frente a esta mesma Rússia.
A Rússia fez aquilo que dela (eu) esperava. Na verdade, apesar de não apostar na Rússia como vencedora do Euro, não tinha grandes dúvidas de que passaria a Holanda sem grandes problemas, uma vez que tinha mostrado ser muito mais equipa e muito mais flexível às nuances tácticas dos diferentes jogos e respectivos momentos. Ou seja, Guus Hiddink demonstrou mais uma vez estar talhado para este tipo de confrontos, conseguindo não só potenciar ao máximo as capacidades dos seus jogadores, como também anular as forças do adversário. Hiddink sabia que a Holanda precisava de bola para atacar, mas que, ao fazê-lo, ficava muito exposta. Como resultado, roubou a iniciativa de jogo e aproveitou o constante desequilíbrio e falta de vocação defensiva dos seus muitos jogadores atacantes (van Persie, Sneijder, van der Vaart, van Nistelrooy). Para piorar a situação para o lado holandês, os russos apostaram no seu futebol de constantes movimentações, provando que, apesar de a técnica ser importantíssima, a sábia ocupação dos espaços faz maravilhas. Como diz o ditado, "um bom jogador resolve um jogo; uma boa equipa resolve campeonatos".
Tenho muita curiosidade em saber até que ponto a Rússia vain conseguir aguentar esta pressão que surge agora de ser a equipa do momento (sucedendo precisamente à Holanda), não podendo já apostar na táctica de contra-golpe, própria de quem é apenas um outsider. A partir de agora, tal como aconteceu com a suposta Laranja Mecânica, todos os olhares estarão voltados para a equipa de Hiddink. No fundo, esta selecção russa é a versão transnacional do Zenit que venceu a última edição da Taça UEFA - dois jogadores que desequilibram os pratos da balança, mas que não deixam de ajudar a equipa enquanto colectivo (uma característica que ainda falta a Cristiano Ronaldo, por exemplo), um elenco de suporte que sabe o que tem a fazer, movimentando-se para os espaços vazios de modo a libertarem as estrelas, e deslocações muito a proprósito.
Pessoalmente, creio que a Rússia não tem ainda o traquejo e a manha necessários para conseguir levar de vencida uma Alemanha, por exemplo, mas desenganem-se os espanhóis se pensarem que vão ver uma reedição do primeiro jogo da sua selecção, frente a esta mesma Rússia.
A mesma Holanda de sempre
São muitas raras as vezes que uma selecção chega e um Campeonato da Europa e do Mundo e leva tudo à sua frente - do jogo de abertura até à final. Não tenho uma memória assim tão boa que me permita puxar dos galões e dizer que isso nunca aconteceu. Creio que o último exemplo de um vencedor mais ou menos antecipado foi o Brasil de... Scolari, em 2002, com um Ronaldo em forma, apostado em recuperar o seu prestígio (e uma transferência para o Real Madrid) e uma ausência gritante de adversários de valor. Seja como for, esse Brasil raramente chegou a jogar bem e a encantar.
Este é um dos principais problemas do futebol e dele padecem tanto jogadores como comentadores supostamente conhecedores. Hélder Postiga, por exemplo, disse nos últimos dias que apostava na Holanda para vencer o Europeu por marcar muitos golos. Não tenho a certeza se a frase é mais assustadora pelo seu conteúdo ou pelo facto de a pessoa que a proferiu ser supostamente um jogador de topo, alguém que deveria saber mais sobre os motivos por que se ganham e perdem jogos. No futebol, quase toda a gente gosta dos que dão mais espectáculo, dos que sabem fazer as melhores fintas, dos que marcam golos de fora da área, dos que vencem e quase humilham os adversários. Só assim se percebe que o Brasil, por exemplo, tenha tantos adeptos incondicionais provenientes de outros países. Não nos enganemos: o jeito para a modalide é muito importante. No entanto, feliz ou infelizmente, não é tudo, e os holandeses parecem não conseguir perceber onde está o meio-termo.
Se raramente uma selecção faz justiça ao adágio romano "veni, vidi e vici", tal poderá ser explicado pela dificuldade em manter sempre o mesmo nível ao longo de 3/4 semanas, pelo facto de essa selecção passar a estar debaixo dos holofotes e todas as outras quererem derrotá-la, mas principalmente, na minha opinião, porque os jogadores passam a ter um certo complexo de superioridade, uma espécie de relaxamento por saberem que marcam muitos golos e que o seu futebol de ataque é aparantemente invencível. Pessoalmente, creio que a Holanda cedeu a todos estes pecados.
Depois de terminarem o famoso "grupo da morte" com 9 pontos, frutos de três vitórias, 9 golos marcados e apenas 1 sofrido, vencendo as finalistas do último Mundial por três golos de diferença, todas as atenções se viraram para a Holanda, que passou a ser o inimigo público. De repente, a expressão "futebol total" voltou às bocas do mundo, fazendo com que muita gente ficasse absolutamente deslumbrada com os golos, os contra-ataques, laterais que assistiam e marcavam. E é aqui que me custa compreender algumas pessoas e posições: compreendo perfeitamente que o "comum mortal" se sinta atraído pelo futebol holandês (eu também gosto muito de jogo ao primeiro toque, fintas, golos de fora da área ou antecedidos de 34 toques), mas isso não equivale a dizer que se trata de uma boa equipa. Com um olhar mais atento, detectar-se-iam, ainda na primeira fase, todos os defeitos que a Holanda viria a demonstrar na derrota com a Rússia: o tal futebol total, seguido da descompensação total, com defesas "duros de rins", apesar de experientes, e uma torre de dois médios defensivos - muito bons a destruir, mas com muitas dificuldades sob pressão e na construção de jogo. A comunicação entre defesas/médios defensivos e as linhas mais avançadas aparentava ser muito frágil e facilmente anuláveis. Restava saber até que ponto a Holanda conseguiria dar a volta ao problema. Em poucas palavras, não conseguiu.
À semelhança do que já aqui referi aqui relativamente à questão de Scolari e Portugal, van Basten sofre também ele do problema de não parecer imaginar-se no papel de derrotado. A Holanda não tinha plano B, não parecia saber o que fazer se se apanhasse a perder e parecia não ter treinadas alternativas ao seu plano de jogo habitual. Uma das coisas mais importantes em qualquer modelo de jogo é precisamente avaliar as fragilidades da própria equipa e tentar mascará-las e encontrar-lhes solução. Nem Portugal nem a Holanda tiveram arte e engenho e saíram do Euro com toda a justiça.
Este é um dos principais problemas do futebol e dele padecem tanto jogadores como comentadores supostamente conhecedores. Hélder Postiga, por exemplo, disse nos últimos dias que apostava na Holanda para vencer o Europeu por marcar muitos golos. Não tenho a certeza se a frase é mais assustadora pelo seu conteúdo ou pelo facto de a pessoa que a proferiu ser supostamente um jogador de topo, alguém que deveria saber mais sobre os motivos por que se ganham e perdem jogos. No futebol, quase toda a gente gosta dos que dão mais espectáculo, dos que sabem fazer as melhores fintas, dos que marcam golos de fora da área, dos que vencem e quase humilham os adversários. Só assim se percebe que o Brasil, por exemplo, tenha tantos adeptos incondicionais provenientes de outros países. Não nos enganemos: o jeito para a modalide é muito importante. No entanto, feliz ou infelizmente, não é tudo, e os holandeses parecem não conseguir perceber onde está o meio-termo.
Se raramente uma selecção faz justiça ao adágio romano "veni, vidi e vici", tal poderá ser explicado pela dificuldade em manter sempre o mesmo nível ao longo de 3/4 semanas, pelo facto de essa selecção passar a estar debaixo dos holofotes e todas as outras quererem derrotá-la, mas principalmente, na minha opinião, porque os jogadores passam a ter um certo complexo de superioridade, uma espécie de relaxamento por saberem que marcam muitos golos e que o seu futebol de ataque é aparantemente invencível. Pessoalmente, creio que a Holanda cedeu a todos estes pecados.
Depois de terminarem o famoso "grupo da morte" com 9 pontos, frutos de três vitórias, 9 golos marcados e apenas 1 sofrido, vencendo as finalistas do último Mundial por três golos de diferença, todas as atenções se viraram para a Holanda, que passou a ser o inimigo público. De repente, a expressão "futebol total" voltou às bocas do mundo, fazendo com que muita gente ficasse absolutamente deslumbrada com os golos, os contra-ataques, laterais que assistiam e marcavam. E é aqui que me custa compreender algumas pessoas e posições: compreendo perfeitamente que o "comum mortal" se sinta atraído pelo futebol holandês (eu também gosto muito de jogo ao primeiro toque, fintas, golos de fora da área ou antecedidos de 34 toques), mas isso não equivale a dizer que se trata de uma boa equipa. Com um olhar mais atento, detectar-se-iam, ainda na primeira fase, todos os defeitos que a Holanda viria a demonstrar na derrota com a Rússia: o tal futebol total, seguido da descompensação total, com defesas "duros de rins", apesar de experientes, e uma torre de dois médios defensivos - muito bons a destruir, mas com muitas dificuldades sob pressão e na construção de jogo. A comunicação entre defesas/médios defensivos e as linhas mais avançadas aparentava ser muito frágil e facilmente anuláveis. Restava saber até que ponto a Holanda conseguiria dar a volta ao problema. Em poucas palavras, não conseguiu.
À semelhança do que já aqui referi aqui relativamente à questão de Scolari e Portugal, van Basten sofre também ele do problema de não parecer imaginar-se no papel de derrotado. A Holanda não tinha plano B, não parecia saber o que fazer se se apanhasse a perder e parecia não ter treinadas alternativas ao seu plano de jogo habitual. Uma das coisas mais importantes em qualquer modelo de jogo é precisamente avaliar as fragilidades da própria equipa e tentar mascará-las e encontrar-lhes solução. Nem Portugal nem a Holanda tiveram arte e engenho e saíram do Euro com toda a justiça.
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