Saturday, March 3, 2012

A continuação de um novo trilho



No seguimento dos mais recentes desenvolvimentos desta publicação, é um orgulho revelar que é possível ler o artigo (na versão inglesa) sobre o clássico Benfica-FC Porto da passada sexta-feira no site PortugGOAL.net, no endereço http://www.portugoal.net/index.php/more-liga-sagres-news/31786-benfica-porto-tactical-breakdown.

Volte-face no campeonato


Equipas e movimentações iniciais


O encontro de sexta-feira entre Benfica e FC Porto foi anunciado como potencialmente decisivo para a corrida do título. Com as equipas em igualdade pontual a 9 jornadas do fim, o resultado final não significaria necessariamente uma certeza matemática quanto ao futuro campeão, mas uma vitória causaria forçosamente estragos nas aspirações do adversário. Nenhum dos treinadores foi particularmente inspirador ao longo da semana nas suas comunicações públicas e, como tal, previa-se um jogo fechado.

  • 1. Os primeiros 20 minutos
O FC Porto surpreendeu o seu adversário ao não entrar em campo na expectativa, aguardando a oportunidade de tirar proveito do bloco alto do Benfica; pelo contrário, os dragões iniciaram o jogo pressionando em zonas avançadas do terreno, com Janko a vigiar Luisão, Lucho a marcar Javi García (ou Garay, dependendo de qual deles transportava a bola) e Moutinho com um olho em Witsel, caso este baixasse para receber a bola. Vítor Pereira pretendia claramente estrangular a primeira fase de construção do Benfica colocando o seu meio-campo entre as habituais duas zonas de cinco jogadores das águias.

Benfica com dificuldade em sair a jogar, devido à pressão alta do FC Porto

Foi evidente que o Benfica não estava à espera desta atitude por parte dos seus oponentes, errando inúmeros passes num momento do jogo em que costuma ser muito forte - a primeira fase de construção. No entanto, o facto que abriu efectivamente o jogo foi o golo madrugador de Hulk, ao fim de apenas 7 minutos. Os campeões nacionais ficaram ainda mais confiantes, ao passo que a turma da Luz parecia algo perdida. Durante os primeiros 20 minutos, os dragões roçaram a perfeição na tentativa de impedir que a bola chegasse a Aimar - e o facto de nenhum dos médios interiores do Benfica recuar para oferecer uma saída não ajudava em nada. 

Com Witsel com instruções para actuar ao lado de Javi García e sem o contributo defensivo de Aimar, o triângulo do meio-campo dos azuis e brancos não tinha dificuldades em contornar as suas duas linhas de quatro jogadores, oferecendo demasiado espaço entre sectores. 

As duas linhas de quatro do Benfica, abrindo demasiado espaço para Lucho e Moutinho

Para agravar a situação dos encarnados, Djalma foi extremamente útil não só ao arrastar Maxi Pereira para o centro do terreno (deixando o uruguaio sem saber se deveria acompanhar o seu adversário directo ou ocupar o seu espaço original), mas ao contribuir defensivamente, de modo a que o meio-campo dos visitantes não fosse atropelado.

  • 2. 20 - 63 minutos
Ao fim dos primeiros 20 minutos, a equipa da casa começou a equilibrar o jogo. Witsel avançou no terreno, o que permitiu que se assumisse finalmente como a ligação entre defesa e ataque, permitindo-lhe igualmente pressionar o FC Porto na sua própria fase de construção, recuperando a bola mais perto da baliza dos portistas. Por seu turno, os dragões recuaram, possivelmente com o intuito de tirar proveito da velocidade de Hulk nas costas da defesa das águias.

Durante mais de metade da primeira parte, Fernando marcou Nolito (o qual substituiu Bruno César no onze) de perto, tentando evitar que se virasse para a baliza e, com isso, criasse desequilíbrios. No entanto, após o período inicial, Nolito foi capaz de se virar para a baliza ou tirar a bola da sua zona em direcção a Aimar, o qual dispunha de bastante espaço de manobra, uma vez que Fernando não se encontrava na sua posição habitual.

Como tal, foi sem grande surpresa que o Benfica chegou à igualdade aos 41 minutos - particularmente porque o FC Porto tem demonstrado alguma falta de intensidade em lances de bola parada ao longo da época. Foi contudo mais surpreendente ver o segundo golo dos encarnados numa jogada que vêm repetindo ao longo da temporada - ao que parece, o gabinete de observação de adversários dos visitantes tem algum trabalho de casa a fazer. O plano dos nortenhos para a segunda parte (baixar o bloco e tentar lançar o contra-ataque, como se pode ver na imagem mais abaixo) tinha de ser revisto.

FC Porto em organização defensiva no início da segunda parte: um claro e expectante 4x1x4x1

Vítor Pereira não hesitou em lançar James Rodríguez, mas, numa decisão que teria tudo para lhe custar o lugar, substituiu Rolando pelo colombiano, significando que Maicon passaria para defesa-central pela esquerda e Djalma seria o lateral-direito de improviso. De acordo com a antevisão deste jogo, o Benfica não foi capaz de controlar o jogo e a equipa começou a partir-se em duas sub-equipas de cinco, abrindo brechas evidentes no meio-campo. Na verdade, só assim se explica que James e Fernando tenham sido capazes de recuperar a bola a 60 metros da baliza do Benfica e que o primeiro adversário que encontraram tenha sido Luisão, na cabeça da área. Estávamos no 63º minuto - o marcador registava nova igualdade.

  • 3. 63 - 90 minutos
O segundo golo portista foi claramente um soco no estômago da equipa de Jorge Jesus e a equipa começou a quebrar física e mentalmente. Foram-se abrindo cada vez mais espaços e, por conseguinte, não foi surpreendente ver, pouco depois, Hulk com imenso espaço nas costas de Emerson, dando lugar à sua expulsão. A opção de Jesus de colocar Gaitán a lateral-esquerdo significava que Hulk e Djalma tinham pela frente Gaitán e Nolito, os quais não são propriamente os melhores defesas do mundo. Como era previsível, os visitantes depararam-se subitamente com larguíssimas auto-estradas. 

Com um jogador a mais, o FC Porto foi inteligente ao circular a bola, tentando cansar o adversário. Quando o jogo se encaminhava já para o seu final, Vítor Pereira assumiu novo risco ao substituir João Moutinho por Kléber, transmitindo à equipa, em alto e bom som, que queria vencer o jogo. Os azuis e brancos viriam a marcar o golo da vitória poucos segundos depois, num livre de James para a cabeça de Maicon.

  • Conclusão
O FC Porto teve alguma felicidade na forma como chegou à vitória, mas a estratégia inicial de pressionar o Benfica deu bons resultados. As águias fizeram prova dos seus habituais pontos fortes, mas foram previsivelmente frágeis na questão que até a maioria dos adeptos já sabe: à medida que os minutos vão passando, a equipa tem tendência para se partir em dois e expor a sua linha defensiva em demasia (apenas com o contributo de Javi García).

Friday, March 2, 2012

Benfica - FC Porto - Antevisão

Equipas prováveis
Ignorando por momentos o risco que constitui fornecer qualquer tipo de antevisão, são apresentados mais abaixo alguns aspectos que poderão revelar-se importantes para o encontro desta noite entre FC Porto e Benfica. O clássico de hoje à noite poderá não ser decisivo em termos pontuais, como nos querem fazer crer os treinadores de ambas as equipas, mas poderá revelar-se decisivo em termos psicológicos.


  • 1. A ala esquerda
Dadas as características das equipas e (naturalmente) dos jogadores que as compõem, poder-se-á apostar que um dos principais campos de batalha será a zona do lateral-esquerdo de cada uma das equipas. Por um lado, Emerson é claramente o elo mais fraco desta equipa, tanto pelo seu rendimento ofensivo relativamente inócuo como, acima de tudo, por nem sempre tomar a melhor opção em termos de posicionamento defensivo. Por outro lado, Bruno César demonstra uma clara tendência para flectir para o centro e, como se não bastasse, o lado direito conta com Maxi Pereira e Nico Gaitán, o flanco ofensivo dos encarnados por excelência. Com Janko a titular, Hulk poderá regressar ao seu lugar de eleição e tirar proveito da fragilidade do lado esquerdo, sendo que Bruno César não tem por hábito ser um trabalhador nato na ajuda ao seu lateral.

Por seu turno, é conhecido o gosto de Álvaro Pereira em subir pela sua ala e presentear os seus colegas com centros (chegando mesmo a exagerar na opção), deixando inúmeras vezes o seu flanco desprotegido e obrigando frequentemente Otamendi a fazer compensações para as quais não está equipado. Com Gaitán nesse lado e Aimar a poder vir a ocupar esse espaço, não restarão muitas dúvidas sobre a mais do que provável inclinação do campo para as duas alas defensivas.

  • A batalha do meio-campo
É hoje senso comum que os vice-campeões nacionais são mais fortes a atacar pelo centro do terreno, tanto pela presença de Witsel, Aimar e Bruno César como pelo dispositivo táctico habitualmente preferido por Jorge Jesus. Como tal, as águias poderão sobrecarregar com frequência o trio do meio-campo portista, criando inúmeras dificuldades. Tomemos o caso de Aimar a título de exemplo. Se Fernando acompanhar Aimar para que os seus defesas-centrais não tenham de o fazer, o Benfica poderá tirar proveito das subidas de Witsel ou das inflexões de Bruno César nessa zona do terreno. Se Fernando não o fizer, o FC Porto correrá o risco de ver Aimar ditar o ritmo do jogo e, com isso, abrir linhas de passes para as rupturas de Gaitán e Maxi, por exemplo.

Ao invés, não obstante a contratação de Witsel (orientada especificamente para conferir maior controlo em jogos desta natureza), o onze de Jesus tem uma tendência para ficar partido e ficar particularmente vulnerável às transições ofensivas do adversário, o que corresponderia na perfeição às características de Hulk, Moutinho e Lucho. Se é verdade que Vítor Pereira terá de encontrar solução para não ser constantemente confrontado com uma inferioridade numérica a meio-campo, não é menos verdade que Jesus não poderá dar-se ao luxo de ver a sua equipa partir-se em duas facções de 5 - como demonstração disso mesmo, o Benfica apenas conseguiu manter a sua baliza inviolada em 6 ocasiões, ao passo que o FC Porto o conseguiu em 12.

  • 3. Lances de bola parada
Desde que Jesus chegou ao clube da Luz, os lances de bola parada têm constituído quase uma obsessão. Com efeito, os encarnados já lograram por diversas vezes desbloquear jogos mais complicados com lances estudados, com Luisão e Javi Garcia como ameaças mais directas, geralmente ao segundo poste. Por outro lado, Cardozo continua a assumir-se como um perigo em qualquer livre descaído para a direita a menos de 25 metros. 

Quanto ao FC Porto, trata-se de uma equipa com menor aproveitamento desses lances (algo que transitou da época passada, em que a ausência de Bruno Alves anulou a grande referência dos portistas para este tipo de lances). Maicon costuma representar a maior ameaça, mas não conta geralmente com companhia para distrair atenções. 

Em suma, este último aspecto poderá revelar-se decisivo, uma vez que será dos poucos pontos em que as equipas têm menor tendência a equivalerem-se.

  • Conclusão
É já um lugar-comum ouvirmos dizer que estes jogos se vencem nos detalhes, escamoteando o facto de esses mesmos detalhes serem regularmente fruto do trabalho diário invisível que não aparece nos jornais. Se considerarmos que o Benfica costuma ser fortíssimo em casa, que dispõe de diversas opções em termos de bolas paradas (muitas vezes fundamentais neste tipo de jogos) e que irá por certo pretender marcar cedo, poderemos ter uma boa noção do que poderá ser o jogo - ainda que o medo de perder de ambas as equipas possa suplantar a vontade de ganhar. Se juntarmos a isso o facto de o FC Porto não ter ganho esta época um único jogo com equipas de nível semelhante ou superior (o encontro contra o Sporting de Braga não foi aqui incluído, uma vez que nem os próprios bracarenses estão interessados em assumir o estatuto de iguais), poderemos inferir que aos portistas espera uma tarefa hercúlea.

Thursday, March 1, 2012

Tomada de decisão

Muito se tem falado nos tempos mais recentes da capacidade de tomada de decisão no desporto em geral, mas no futebol em particular. Com exemplos como este, não haverá treinador ou coach a deitar as mãos à cabeça (para os mais distraídos, o jogador que marca está a lançar ao cesto errado).

Tuesday, February 28, 2012

Um candidato em definitivo

Equipas e movimentações iniciais
Num dérbi minhoto extremamente apetecível que opunha duas equipas em excelente momento de forma, o Sporting de Braga foi mais forte e tornou impossível esconder a sua candidatura ao título, distando 3 pontos de FC Porto e Benfica, antes do clássico da próxima sexta-feira. Por seu turno, havia alguma expectativa face à prestação do Vitória de Guimarães no reduto do seu arqui-rival, tendo vencido o líder Benfica na jornada transacta.

Uma das expressões mais batidas no futebol afirma que os sistemas não ganham jogos, uma vez que não passam do papel. No entanto, sem contestar de forma alguma a validade de todos os sistemas e respectivas dinâmicas, há algumas disposições tácticas que oferecem uma ocupação mais racional do espaço em termos teóricos. Este encontro permitiu um confronto típico entre o 4x3x3 (em estreia quase absoluta) de Leonardo Jardim e o 4x2x3x1 de Rui Vitória, que rapidamente se percebeu ser um 4x4x1x1, na prática.

  • 1. O duelo táctico:
Em organização defensiva, o Vitória formava duas linhas de quatro homens. Em parte por ter certamente analisado o seu adversário e em parte por necessidade (Mossoró não tinha condições físicas para ser titular), o treinador do Sporting de Braga lançou Ruben Amorim no onze titular, invertendo o seu triângulo. Dessa forma, os visitados tinham uma enorme facilidade em criar triangulações nas alas entre o defesa-lateral, o médio e o extremo - especialmente no lado direito - e, com essa simples movimentação, contornar as duas linhas defensivas do adversário, conforme se pode ver mais abaixo.



Uma simples triangulação criou uma jogada que por pouco não deu golo

Como se esse pormenor táctico não bastasse, Rui Vitória surpreendeu ao dar todo o tempo do mundo a Hugo Viana quando este estava em posse da bola, particularmente tendo em consideração que a eliminação dos bracarenses às mãos do Besiktas mostrou à evidência quanto a marcação incisiva a Hugo Viana prejudica o jogo do resto da equipa.

  • 2. O duelo dos guarda-redes
Qualquer discussão em torno de sistemas tácticos, modelos de jogo ou dinâmicas dentro do próprio de jogo são temas vãos quando uma equipa se apanha a perder ao terceiro minuto através de um erro de um jogador seu. Quando esse mesmo jogador (particularmente numa posição tão sensível quanto a do guarda-redes) repete o mesmo erro passados 15 minutos, a equipa ressente-se da falta de confiança e tem tendência a jogar a medo. Do outro lado, Quim exibiu quanto evoluiu ao longo dos últimos tempos ao mostrar mais uma vez ter perdido a tendência que tinha também de sair com pouco a-propósito.



  • 3. A transição defensiva
Um dos aspectos em que este Sporting de Braga de Jardim se mostra mais forte reside precisamente na transição defensiva - ou seja, no momento imediatamente a seguir a perder a posse de bola. Com efeito, a reacção dos bracarenses à perda da bola mostra-se cada vez mais evoluída, conseguindo não só evitar que o adversário desfira os seus contra-ataques, mas logrando inclusivamente recuperar o esférico em zonas muito adiantadas. No exemplo, mais abaixo, note-se o número de jogadores do Sporting de Braga que se aproxima da bola, numa jogada em que esta havia sido perdida poucos metros e segundos antes. Este momento, tantas vezes desprezado pelos treinadores, é muitas vezes uma das principais diferenças entre equipas medianas e equipas maduras, capazes de outros voos.

Reacção rápida à perda da bola
O resultado final (4-0) será porventura o reflexo da expulsão de Freire ainda antes do fim da primeira parte, numa altura em que a sua equipa perdia já por dois golos de diferença, obrigando-a a expor-se a contra-ataques no processo. Ainda assim, estes três factores ajudam a mostrar que, mesmo que o defesa-central vitoriano não tivesse sido expulso, o Sporting de Braga continuaria mais próximo de vencer o jogo e - com isso - de se assumir como um verdadeiro candidato ao título.