Friday, January 18, 2013

Uma simples questão




Como é possível que um lançamento lateral a nosso favor termine como jogada de golo na nossa própria baliza?

Benfica x FC Porto: o clássico à lupa


O encontro do passado Domingo que opôs Benfica e FC Porto já foi aqui analisado em termos gerais, mas partiremos agora para uma análise mais detalhada dos diferentes aspectos de ambas as equipas. Cada uma terá uma secção própria, dividida entre defesa e ataque.

  • Benfica - Defesa

  • O Benfica começou por não pressionar o guarda-redes do FC Porto. Os dois avançados encarnados, Cardozo e Lima, tinham pelo contrário instruções para prestarem atenção aos defesas-centrais do FC Porto, com Enzo Pérez a seguir o médio azul e branco que recuasse (geralmente Fernando).


  • As águias foram também menos pressionantes do que o habitual, optando com frequência por recuar em bloco, permitindo aos portistas mais tempo em posse do que o esperado, especialmente durante a primeira metade.


    • Ainda assim, a equipa da capital denotou dificuldades em ganhar as segundas bolas - nos duelos pelo ar, por exemplo. Neste caso em particular, Jackson Martínez (amarelo) está prestes a disputar o esférico com Jardel. Devido à presença de Defour, Matic não pode aproximar-se de João Moutinho (laranja) tanto quanto desejável. O médio português viria a recolher a bola.




    • A primeira imagem mostra a vulnerabilidade do Benfica a penetrações pelo centro. Sem Cardozo ou Lima a recuarem para ajudar no meio-campo, Fernando e os dois centrais azuis e brancos - neste caso case, Mangala (amarelo) - tinham frequentemente a possibilidade de progredir sem problemas de maior. A linha amarela representa o passe simples na direcção de Martínez que abriu a defesa do Benfica (conforme se vê na segunda imagem).



    • Benfica - Ataque

    • Como resultado da pressão exercida pelos campeões nacionais, nomeadamente durante os primeiros 60 minutos da partida, o Benfica viu-se obrigado a lançar bolas longas na direcção de Cardozo. Contudo, sempre que as águias conseguiram jogar à flor da relva, procuravam ir ao encontro dos seus pontos fortes - as alas. Enquanto Gaitán insistia em flectir para o centro, o flanco direito foi a origem da maioria das ameaças ofensivas do clube da Luz. A primeira imagem ilustra uma situação ofensiva típica da equipa de Jorge Jesus, com cinco jogadores a criarem superioridade numérica na ala. A segunda imagem mostra como Sálvio (azul) procura que Máxi (amarelo) dê largura, enquanto Cardozo (laranja) ocupa o centro. A terceira figura apresenta uma situação semelhante, na qual Lima (amarelo) desposiciona o seu marcador para que Sálvio (laranja) possa entrar pelo centro.

    • FC Porto - Defesa




    • A equipa visitante não teve receio em defender mais à frente e impedir que o seu adversário saísse a jogar a partir de trás. As primeiras duas imagens são do 5.º minuto e são apresentadas para exemplificar a típica pressão exercida pelo FC Porto. Jackson Martínez prestava especial atenção ao central benfiquista do lado direito, ao passo que Lucho se aproximava do central do lado esquerdo (primeira imagem) e/ou do guarda-redes (segunda imagem). A terceira imagem refere-se ao segundo golo do FC Porto. Embora Artur tenha recebido (correctamente) a maior dose de culpa, não é menos verdade que isso apenas produziu resultados para os dragões porque o guarda-redes estava a ser pressionado. Note-se o adiantamento da pressão portista e como Jackson está próximo de Artur quando a bola chega aos seus pés.


    • Sempre que o FC Porto não era capaz de impedir a primeira fase de construção do seu adversário, a equipa encurtava as suas linhas, tentando fechar a maioria das linhas de passe ao Benfica. Neste caso em concreto, Garay tem a bola em seu poder, mas não tem qualquer opção de passe à disposição. O defesa-central acabaria por falhar o passe aéreo.



    • Ao contrário do Benfica, o FC Porto mostrou-se empenhado em defender pelo centro, embora o seu arqui-rival ataque geralmente pelas alas. Na primeira imagem, Gaitán tenta progredir pelo centro, deparando-se com a oposição dos três médios portistas (vermelho). Note-se como Otamendi (amarelo) está preparado para o caso de Gaitán lograr ultrapassar os seus marcadores directos (conforme viria a acontecer). A segunda imagem mostra o bom posicionamento e timing de Otamendi de modo a impedir a progressão do médio argentino.

    • FC Porto - Ataque

    • Com a ausência de James Rodríguez, havia alguma curiosidade relativamente ao posicionamento e movimentação de Defour. Quaisquer dúvidas sobre se Defour replicaria as manobras do mago colombiano dissiparam-se logo no primeiro minuto. A primeira imagem mostra a posição central de Defour (amarelo) enquanto a bola se encontra no flanco esquerdo. A segunda mostra como um simples passe atrasado de Varela para Fernando despoletou a desmarcação do belga nas costas da defesa encarnada.




    • Com a tendência de Defour de flectir para dentro, o FC Porto assemelhava-se com frequência a um 4x4x2 em losango, conforme se pode ver nas imagens mais acima, com Fernando mais recuado, Moutinho à esquerda, Lucho González à direita e Defour por trás de Jackson Martínez, enquanto o extremo Varela oferecia largura à esquerda e o lateral Danilo fazia o mesmo no flanco oposto.


    • Esta imagem em particular ilustra o combate desigual entre os dois meios-campos, com Matic e Enzo Pérez a braços com Fernando (azul), Moutinho (amarelo) e Lucho González (vermelho) - o que significava que um destes três estava livre na maioria das vezes. Note-se como Cardozo e Lima não se envolvem na batalha travada a meio-campo.




    • Fernando foi efectivamente decisivo para inclinar a balança a favor do FC Porto no que diz respeito à luta no centro do terreno. Na primeira imagem, é possível ver Enzo Pérez a tentar pressionar Fernando (amarelo). Lucho apenas tinha de se desmarcar para receber o passe, o que fez de imediato. Na segunda imagem, Fernando (amarelo) ocupa ambos os médios do Benfica, com Lucho a ficar livre para escolher a melhor opção de passe na ala direita. Na terceira figura, é possível ver a liberdade concedida a Danilo - tudo isto uns meros dois segundos após Enzo Pérez tentar pressionar Fernando.


    • Por fim, a importância do recuo de Jackson Martínez (amarelo). A sua predisposição para se mostrar aos seus companheiros de equipa não só abria uma linha de passe adicional, como arrastava consigo um defesa-central, o que significava que o FC Porto tinha espaço para explorar nas costas desse mesmo defesa-central. Note-se como Lucho González passa pelo meio-campo encarnado, quase de perfil com o seu companheiro.

    Monday, January 14, 2013

    Uma celebração do futebol português

    Equipas e movimentações iniciais


    Numa luta cada vez mais acesa entre FC Porto e Benfica, a partida do passado Domingo assumia contornos de grande relevância. Com os dois clubes travando uma batalha pela mais pequena vantagem, havia uma enorme curiosidade à volta deste confronto.

    De quando em vez, é-nos permitido assistir a um encontro que reúne todos os ingredientes - muitos golos, emoção, nuances tácticas, incerteza no resultado. O mais recente Clássico foi um desses momentos. Os forasteiros colocaram-se em vantagem no marcador por duas vezes, com os visitados a igualarem imediatamente dois minutos volvidos em ambas as circunstâncias. As exibições manchadas dos dois guarda-redes poderão ter tido algo a ver com os acontecimentos.

    Com excepção dos erros dos dois guardiões e dos dois outros golos na sequência de lances de bola parada, não houve muitas oportunidades claras de golo - sendo o remate de Cardozo ao poste a poucos minutos do fim a mais clara de todas. O jogo desenrolou-se primordialmente na zona do meio-campo, com ambas as equipas a denotarem dificuldades em encontrar o espaço e competência necessários para fazer o último passe nas melhores condições.


    • FC Porto controla

    Conforme esperado, foi um jogo de pressão alta - pese embora o FC Porto tenha sido estranhamente a equipa que mais pressionou e de forma mais eficaz. Com efeito, o jogador suplementar dos dragões (Fernando e, com maior frequência, Defour) foi decisivo para contornar a tímida pressão benfiquista. Na verdade, o médio belga foi crucial para a supremacia nortenha no centro do terreno, aparecendo muitas vezes em áreas geralmente interditas a um extremo-direito (ainda que nominal).

    Enquanto Matic mantinha Lucho González debaixo de olho, Enzo Pérez jogava mais adiantado com o intuito de impedir que João Moutinho iniciasse os ataques portistas - conforme habitualmente - e, por conseguinte, perturbar o ritmo do FC Porto. No entanto, Lima raras vezes conseguiu ocupar Fernando, com o "trinco" brasileiro a funcionar assiduamente como ponto de apoio para as tabelas dos seus colegas.

    Por seu turno, o Benfica teve grandes dificuldades em sair a jogar, com Jackson Martínez a marcar um defesa-central e Lucho a liderar a pressão da sua equipa, apressando-se a apertar o guarda-redes e/ou o outro defesa-central. Com essa abordagem, os comandados de Vítor Pereira tentavam impedir o Benfica de ter o tempo necessário para tomar a melhor opção ao criar superioridade numérica nas alas e atacar com muitos elementos, como é seu timbre. Sujeitos a essa pressão, os comandados de Jorge Jesus viram-se frequentemente forçados a recorrer a bolas longas, lances em que Cardozo foi muitas vezes superado por Otamendi e Mangala.

    Durante a primeira parte, o FC Porto foi melhor ao nível da pressão e da circulação de bola, ao passo que o Benfica era mais perigoso quando conseguia fazer a bola chegar às alas (particularmente o flanco direito). Apesar do seu sólido registo defensivo até então, os campeões nacionais nem sempre pareceram confortáveis ao lidar com as penetrações de Sálvio. Por outro lado, foi-lhes fácil atacar o seu arqui-rival pelo corredor central - com Matic e Enzo Pérez atraídos por Lucho e Moutinho, Jackson e Defour deram por si em boas posições para fugir aos seus marcadores. O FC Porto terminaria a primeira parte com uns impressionantes 57% de posse de bola.

    Os primeiros 15 minutos do segundo tempo não diferiram em muito da primeira metade. O Benfica continuava a patentear dificuldades em jogar a bola pelo chão - cedendo a posse da mesma com demasiada facilidade - e o FC Porto deu seguimento à sua abordagem pressionante, embora Lucho fosse recuando à medida que os minutos passavam.


    • Benfica melhora progressivamente

    Contudo, com a saída de Enzo Pérez para a entrada de Carlos Martins, o Benfica tornou-se mais batalhador, enquanto o FC Porto começou simultaneamente a acusar o cansaço (a falta de opções no banco foi então evidente, com Izmailov a ser o primeiro a entrar, aos 75 minutos) e deixou de ser capaz de manter a mesma pressão. Após a entrada de Aimar para o lugar de Lima (talvez a maior desilusão da noite) alguns minutos mais tarde, as águias foram encontrando gradualmente o seu ritmo e tornaram-se incómodas para a linha mais recuada dos azuis e brancos.

    Com a sua equipa incapaz de pressionar tanto e tão alto como vinha fazendo até então, Vítor Pereira estava satisfeito com o resultado e menos disposto a correr riscos, instruindo a sua equipa para que recuasse. Animados pela abordagem mais combativa de Carlos Martins e o melhor movimento de Aimar, os jogadores encarnados terminaram o jogo de forma mais eficiente do que no início da partida - e poderiam inclusivamente ter vencido o encontro, caso Cardozo tivesse conseguido dar o melhor seguimento à melhor oportunidade de golo do jogo para além dos golos. No final, a divisão da estatística da posse de bola não poderia ser mais reveladora: 50% para cada equipa.


    • Destaques

    Muito embora não seja hábito deste blog atribuir semelhantes honras individuais, as exibições de dois jogadores merecem um realce particular pelo seu brilho e trabalho árduo. Por um lado, Matic foi fundamental em todos os aspectos do jogo do Benfica. Para além de dificultar as manobras de Lucho González, o sérvio não só esteve irrepreensível nas dobras aos seus companheiros, como teve igualmente forças para se disponibilizar como opção de passe e encontrar avenidas para mostrar o caminho aos seus colegas. Por outro lado, Defour poderá ter passado pela partida quase despercebido, mas a sua combatividade e movimento constante estiveram na base da supremacia portista no centro do terreno - e, por fim, da sua exaustão.