Saturday, November 29, 2008

"Nem tão maus antes, nem tão bons agora"

Acabei agora mesmo de ler esta frase de Jesualdo Ferreira. Mesmo não sendo um dos maiores defensores do treinador do FC Porto, reconheço sem qualquer problema que era um homem com quem gostaria de ter uma conversa franca e aberta, sem os subterfúrgios de quem o quer apanhar num qualquer mal-entendido ou de quem não quer deixar entrever nada do que de menos bom se possa passar na sua casa. A sua frase de hoje serve-me de leitmotiv para escrever sobre o momento do FC Porto. Depois de um início de época algo tremido (as famosas três derrotas consecutivas com Dinamo de Kiev, Naval e Leixões, para além da copiosa derrota no terreno do Arsenal), a equipa azul e branca conseguiu por fim encontrar o seu rumo. Ainda longe de encantar os espectadores com o seu futebol (como aconteceu em alguns momentos da época passada), o plantel do Dragão já começa a dar sinais de outra atitude, acima de tudo.

Creio que uma justificação (forçosamente simplista) incluirá dois pontos fundamentais: o tempo e a estabilização. O primeiro ponto é algo que raramente existe no futebol, especialmente o português, pois esperamos sempre que o nosso clube, seja ele qual for, seja capaz de espezinhar todos os adversários - nacionais e europeus - em menos de um fósforo. Não queremos esperar por uma melhoria constante, pela integração de novos jogadores (muitas vezes, jovens), pela eventual alteração do modelo de jogo no caso da partida de um jogador fundamental na época anterior. Em contraponto, tenho de louvar os dirigentes das SAD dos três "grandes", pois todos eles foram capazes de resistir à tentação face a resultados extremamente pesados que todos eles sofreram ao longo dos últimos dois meses.

O segundo ponto terá necessariamente a ver, na minha opinião, com a estabilização do onze titular. Jesualdo conseguiu por fim reencontrar o seu caminho (parecendo estar muito tempo, talvez demasiado, transviado em relação aos seus princípios fundamentais), assentando cada vez mais numa equipa-tipo, com uma ou outra hesitação. Seja como for, a equipa parece agora muito mais identificada com o modelo de jogo que o treinador pretende implementar e já nem a saída de Lucho é capaz de impedir uma das melhores exibições da época do FC Porto, em pleno inferno turco.

Gostaria no entanto de alertar para algumas fragilidades dos dragões:
  • Rodríguez continua a não conseguir mostrar todos os argumentos que o notabilizaram na Luz. O jogador uruguaio, com efeito, continua a debater-se com enormes dificuldades para mostrar todo o seu potencial, em grande parte por jogar demasiado encostado à linha e por raramente ter liberdade de aparecer de frente para os seus opositores, dificultando em grande medida o seu arranque.
  • Hulk continua a ser o exemplo mais paradigmático de "besta/bestial". Tanto é capaz de reduzir os seus adversários a pó com a sua força e velocidade, como demonstra como é possível desperdiçar óptimas oportunidades de finalização ou de contra-ataque com o seu individualismo. Se o jogo na Turquia era à medida para as suas características, poucos jogos daqui para a frente contarão com um adversário tão voltado para a frente e tão desprotegido nas suas costas, o que nos leva ao terceiro ponto.
  • Sim, as famosas transições rápidas de Jesualdo têm funcionado melhor, sem dúvida. No entanto, o FC Porto raramente irá encontrar, ao longo do que resta da época, adversários tão adequados ao seu modelo de jogo. Na sua maioria, os azuis e brancos vão enfrentar equipas muito mais resguardadas, à espera do erro portista (que não tem sido raro, nesta temporada). As fragilidades do ataque continuado continuam à vista e por resolver. A ver vamos o que nos mostrará o jogo frente à Académica.
  • Lisandro. Creio que não faltará muito para podermos dar resposta a uma questão importante: custará mais dinheiro ao FC Porto aumentar o salário de Lisandro ou não o aumentar?

No comments: