Benfica e FC Porto têm estado envolvidos ao longo da presente temporada numa corrida a dois, deixando todas as restantes equipas para trás. Com o Sporting afastado em definitivo destas andanças e com um Braga menos consistente do que em épocas passadas, águias e dragões defrontam-se no Domingo bem cientes da importância da partida.
De forma algo semelhante à liga espanhola (embora em menor grau), ambas as equipas estão enredadas numa luta entre si - com os empates a tornarem-se nas novas derrotas. Na verdade, encarnados e azuis e brancos entrarão em campo invencíveis - apenas com dois empates no seu registo -, como se estivessem totalmente fora do alcance das restantes equipas da Liga Zon Sagres. O duelo entre estas duas facções é neste momento tão feroz, que algumas das suas características tácticas estão a tornar-se cada vez mais similares. Ao longo dos próximos parágrafos, iremos analisar as batalhas chave.
- Pressão alta
Esta é uma abordagem que o Benfica tem assumido desde que Jorge Jesus tomou o comando do clube da Segunda Circular, um treinador determinado a atacar implacavelmente, oferecer um bom espectáculo e sufocar os seus adversários. Por seu turno, os nortenhos eram por hábito uma equipa mais reservada. Contudo, apesar dos contratempos da época transacta, Vítor Pereira foi capaz de melhorar a pressão exercida pela sua equipa (e, acima de tudo, o respectivo timing). Nesse aspecto, ambas as equipas chegam a este encontro decisivo habituadas a exercer pressão sobre os seus adversários e a ocupar terrenos mais avançados. Irá alguma das equipas optar por uma perspectiva mais conservadora? Caso contrário, irá o FC Porto incomodar o Benfica conforme aconteceu na última temporada ou, ao invés, irá o Benfica retirar o máximo proveito do factor casa e sufocar o FC Porto desde o apito inicial?
Em segundo lugar, as duas equipas sofrem do mesmo mal no que diz respeito à pressão alta. Embora sejam geralmente eficazes a esse nível, ficam com frequência vulneráveis quando os seus adversários logram evitar a primeira zona de pressão. Nessas ocasiões, tanto portistas como benfiquistas são obrigados a defender com três ou quatro jogadores, no máximo, com imenso espaço para proteger. Contra equipas inferiores, essa questão não é um problema na maioria dos casos, mas, face a equipas superiores, poderá tornar-se fatal.
- Matic
Quando o Benfica vendeu Javi García ao Manchester City, os adeptos temeram o pior. O espanhol havia sido até então o pêndulo defensivo de que toda a abordagem eminentemente ofensiva dependia. Apesar dos seus diversos golos em situações de bola parada, Javi García não tinha qualquer problema em ficar em segundo plano, pronto para entrar em acção quando a equipa perdia a bola. A sua intensidade e excelente leitura de jogo permitia-lhe destruir muitos das iniciativas ofensivas adversárias, muitas das vezes em inferioridade numérica. A sua partida não parecia promissora.
Contudo, segundo as palavras do próprio Jorge Jesus, a venda de Javi García apenas foi em frente porque o treinador acreditava ter um jogador mais completo à espera do seu momento. Esse jogador era Nemanja Matic. O sérvio teve por fim a oportunidade de mostrar o seu valor e entrou na equipa de forma quase imperceptível.
Não obstante, Javi García e Matic são jogadores muito diferentes entre si. O antigo médio do Real Madrid era na sua essência um jogador voltado para a fase defensiva do jogo, fazendo valer todas as suas competências ao frustrar as transições ofensivas adversárias. Por outro lado, era menos proficiente na vertente mais ofensiva (com excepção dos já citados esquemas tácticos).
Matic é o oposto. A sua excelente capacidade técnica permite-lhe estar mais à vontade com a bola nos pés e, acima de tudo, transformar imediatamente uma situação defensiva numa oportunidade de golo para a sua equipa devido a uma melhor capacidade de passe. Ao invés, o antigo jogador do Chelsea é mais lento a regressar à sua posição original e fica muito vezes exposto (juntamente com a sua defesa) em contra-ataques rápidos. Se o FC Porto conseguir superar a pressão imediata do Benfica após a perda da bola, as águias poderão vir a sofrer com isso.
- Defour
A ausência de James Rodríguez é um enorme contratempo para o FC Porto. Sem Hulk na equipa, o jovem colombiano tem levado a equipa às costas e assumiu-se como um dos jogadores mais importantes na manobra dos dragões. A sua tendência de partir da direito para o centro do terreno (trocando frequentemente de posição com Lucho González) permite que o FC Porto disponha efectivamente de quatro jogadores no centro - zona em que o Benfica tende a jogar com dois homens. A adaptação progressiva de Danilo ao futebol europeu e às instruções do seu treinador têm-no tornado mais perigoso na ala, evitando que James Rodríguez seja obrigado a dar largura no seu flanco.
De acordo com a maioria dos relatos, Steven Defour irá provavelmente ocupar o lugar do jovem número 10. O belga já jogou noutras ocasiões na direita, mas quase sempre quando o FC Porto tentava desesperadamente chegar à vitória e se transformava num 4x2x3x1. Enquanto jogador semelhante a João Moutinho, Defour é suficientemente inteligente para ocupar quase todas as posições do campo, o que não quer dizer que venha daí a retirar o seu melhor rendimento. Se acabar por jogar como extremo direito, terá igualmente tendência a flectir para o centro, à imagem de James.
Por um lado, sem o colombiano, os azuis e brancos vêem-se quase desprovidos de qualquer criatividade, característica muitas vezes fundamental em encontros tão renhidos. Por outro lado, a presença de Defour poderá transformar os dragões num sistema semelhante a um 4x4x2 em losango, o que deverá inclinar a batalha do meio-campo a seu favor. Se o Benfica conseguir concentrar a partida nas alas, o FC Porto poderá ter uma tarefa difícil pela frente.
- Esquemas tácticos
Apesar de apenas contar com seis golos sofridos, o FC Porto tem denotado algumas dificuldades no que diz respeito a defender livres e cantos - um dos principais pontos fortes do Benfica. O primeiro poste, em particular, fica frequentemente vulnerável, especialmente quando há um ligeiro desvio em direcção ao segundo poste. Numa partida tão disputada, um livre ou canto mal defendido poderá acabar por decidir o resultado.
- Profundidade da equipa
Como se sabe, o FC Porto não possui um plantel propriamente vasto. Sem Atsu, James e Kléber, Vítor Pereira apenas pode contar com o verde Kelvin caso o jogo se desenrole de forma desfavorável - motivo pelo qual o momento da contratação de Izmailov poderá vir a revelar-se crucial. Se os dragões sofrerem o primeiro golo, a fadiga poderá instalar-se e a falta de opções do treinador poderá ficar por demais evidente.
O Benfica, por seu lado, conta com inúmeras opções atacantes, caso surja a necessidade de um plano B e de uma abordagem ainda mais ofensiva. Nolito, Ola John, Rodrigo e Kardec estarão muito provavelmente no banco, à espera da oportunidade de punir os seus adversários quando as suas pernas estiverem menos frescas.