Este texto será porventura tardio, mas permanece pertinente, uma vez que iremos analisar processos (defensivos) consolidados. Tito Vilanova foi nomeado como sucessor de Pep Guardiola no sentido de dar continuidade a uma determinada filosofia, a qual se revelou frutífera ao longo dos últimos anos. Embora seja verdade que a maioria das linhas gerais se mantém, não é menos verdade que Vilanova abandonou quase por completo a defesa a três (excepto em situações de desvantagem) e que a pressão defensiva é actualmente menos intensa e eficaz. Deitemos um olhar rápido à partida contra o Real Madrid de 7 de Outubro.
- Golo n.º 1 do Real Madrid
O Real Madrid estava a lograr rodar a bola de flanco para flanco, nomeadamente através dos passes longos de Xabi Alonso. Aqui, a bola acabara de ir da esquerda para a direita, com Özil a devolvê-la ao centro. Com uma pressão defensiva muito menos intensa, os extremos do Barcelona parecem ter dúvidas quanto ao que deverão fazer sem a bola e esquecem-se frequentemente de defender. Neste caso em particular, existem cinco jogadores do Real Madrid na grande área, contra igual número de adversários. Note-se como Ronaldo (azul) é deixado numa situação de 1x1 contra Dani Alves, com imenso espaço para todas as habilidades (área sombreada).
Quando a bola chega a Benzema, um dos defesas-centrais vai ao seu encontro, conforme esperado, e Dani Alves (laranja) hesita entre oferecer cobertura ao seu companheiro de equipa e marcar Ronaldo. Uma vez mais, o extremo direito dos catalães não está minimamente próximo da zona de acção e nem Xavi nem Fàbregas (os médios neste encontro) oferecem qualquer contributo defensivo junto à grande área.
Essa simples hesitação é suficiente para Ronaldo ultrapassar Dani Alves (laranja) e introduzir a bola na baliza com um potente remate de pé esquerdo.
- Golo n.º 2 do Real Madrid
No segundo golo da equipa madrilena, houve outra questão pertinente. O Barcelona tem sido esta época menos preciso no capítulo do passe e tem cedido a bola de forma menos criteriosa, especialmente em jogos com maior grau de dificuldade. Aqui, os catalães perdem novamente a bola e a equipa demora mais do que o devido a reencontrar a sua disposição (defensiva). O centro do terreno está totalmente desprotegido (área sombreada) e Dani Alves não está entre a baliza e o seu adversário directo, conforme deveria. Para além do mais, não há ninguém entre a baliza e Özil (no interior da área sombreada).
Com ninguém a sair ao encontro de Özil, Ronaldo passa em sprint pelo lateral-direito do Barcelona. Sem qualquer pressão no meio-campo (os dois interiores catalães estão muito longe da zona de acção), o internacional alemão pode escolher o passe ideal e a tentativa de fora-de-jogo não constituiu qualquer obstáculo para a velocidade e inteligente movimentação de Ronaldo.
Não obstante o começo exemplar até este encontro (com 6 vitórias em outros tantos jogos), as exibições do Barcelona têm sido tudo menos perfeitas. A posse de bola tem sido por vezes mais descontinuada, mas, acima de tudo, a abordagem defensiva parece estar a mudar, propositadamente ou não. A pressão imediata que a equipa catalã costumava exercer após o momento de perda da bola está longe do que era, mas a sua abordagem e posicionamento defensivos não mudaram em conformidade, o que ajuda a explicar em parte o súbito aumento de golos sofridos.