Tuesday, March 22, 2011

O princípio da demência

Quase todos os anos assistimos por volta desta altura a um fenómeno curioso: do alto da cúpula, os magnânimes responsáveis dos clubes tentam atrair o público - o denominado 12º jogador - para ajudar a atingir os objectivos a que se propuseram, sejam eles chegar às competições europeias ou simplesmente evitar a zona de descida, franqueando as portas a todos os interessados. Fico sempre atónito quando tal acontece, uma vez que essa decisão vem precisamente das mesmas pessoas que não se importam de ter estádios vazios e criar uma relação de alienação quase total entre o clube e o seu público durante a maioria da época.

Por cá, continuamos a ser exímios quando a necessidade aperta, mas positivamente provincianos na organização de eventos de longa duração ou na criação estruturada de condições a médio/longo prazo. Quando o Euro 2004 foi atribuído a Portugal, logo se fizeram ouvir os argumentos costumeiros de que o evento seria benéfico para Portugal, pois os estádios iriam atrair mais público para o futebol. É óbvio que existem hoje melhores condições do que há uns anos atrás, mas o salto não parece ter sido tão exponencial quanto o previsto.

Segundo um estudo recente, a Alemanha, por exemplo, conta com estádios tão ou mais avançados do que os portugueses, mas a sua taxa de ocupação ronda os 90% em todos os jogos. Naturalmente, a maioria das pessoas referirá a questão do poder de compra, mas o cerne da questão reside precisamente aí: o preço dos bilhetes nos estádios germânicos é grosso modo idêntico ao dos portugueses, o que representa um valor real consideravelmente mais baixo. Como se não chegasse, assistir a jogos em que a nossa equipa joga em estádio alheio é incomparavelmente mais barato, não só porque os transportes são mais eficientes e abrangentes, mas também porque os preços - a eterna questão - para os adeptos visitantes não são muito mais caros do que os ingressos para os adeptos locais.

Mas porque o futebol é cada vez menos ir a um estádio para ver 22 jogadores e uma bola, os organizadores alemães investem também em actividades paralelas nas imediações do estádio durante o dia do jogo, de modo a "entreter", por assim dizer, a multidão que quer algo mais, para além, por exemplo, de incluir muitas vezes refeições ligeiras a preços reduzidos. Deste modo, ir ao futebol não só se torna acessível à maioria das carteiras, como se garante um ambiente festivo, em completo contraste com aquilo que vemos semana sim, semana não nos estádios nacionais.

O que nos vale é que, chegados a Março, a altura de aflição nos permite assitir a partidas de futebol mais em linha com o nosso verdadeiro poder de compra.

O princípio da demência II

Todos os anos dou por mim a pensar se não estarei a ler notícias recessas da imprensa britânica, de uma qualquer época anterior. Pois bem, todos os anos, lá por volta de Setembro, todos quantos gostamos de futebol somos confrontados com o futebol da melhor equipa da Europa do momento: o Arsenal, invariavelmente. Por volta dessa altura, verificam-se sempre goleadas à moda antiga (não raramente infligidas a equipas portuguesas), sendo também é nessa altura que vemos a imprensa britânica confirmar que essa será a temporada em que Arséne Wenger prova em definitivo ter razão quando diz, ano após ano, que a sua equipa é jovem e apenas necessita de tempo.

Contudo, não é menos verdade que, todos os anos, vemos o Arsenal debater-se constantemente com lesões dos seus jogadores mais importantes, referir a importância do ano seguinte, confrontar-se com exibições paupérrimas de jogadores que Wenger jura serem os melhores do mundo, atribuir todas as culpas a árbitros, associações e demais, e ser invariavelmente eliminado de todas as competições em que está envolvido, numa seca de troféus que já dura desde 2004. Este ano não foi excepção. Em pouco mais de 2 semanas, a equipa de Wenger perdeu na final da Taça da Liga com o Birmingham, deitando por terra o argumento de que ainda estaria envolvida em todas as competições, e foi eliminada pelo Barcelona sem ter efectuado um único remate à baliza (embora Wenger prefira perder muito mais tempo com a expulsão de van Persie, naturalmente).

Pois bem, este fim-de-semana não foi excepção e, na última competição que lhe resta, a equipa do norte de Londres empatou com o West Bromwich, depois de estar a perder por duas bolas, dando razão a todos quantos afirmar tratar-se de uma equipa sem nervo nos momentos decisivos. Para quem não acreditar, aqui fica mais um desses momentos.