Equipas e movimentações iniciais |
Num encontro que opunha as duas equipas italianas que melhor futebol praticam na actualidade, todas as promessas foram cumpridas. Um jogo vivo, intenso, pleno de nuances tácticas e com muitos golos. Embora tenha chegado ao intervalo com uma vantagem de dois golos, o onze napolitano não conseguiu segurar a vitória.
Enquanto admirador confesso das equipas montadas por Walter Mazzarri durante a sua estadia no Nápoles, nutro sempre alguma curiosidade sobre os duelos contra equipas mais poderosas e com sistemas tácticos mais convencionais. Como tal, esta era uma oportunidade a não perder. Contudo, o treinador da Vecchia Signora, Antonio Conte, não optou pelo seu habitual 4x4x2, mas sim por uma espécie de 4x3x3, com Pirlo no seu lugar de eleição, Pepe e Vidal à sua frente para fazerem o trabalho defensivo, Vucinic ligeiramente descaído na meia-direita do ataque, Estigarriglia na ala esquerda e Matri mais adiantado. Aparentemente, os de Turim tinham vantagem de 3x2 no meio-campo, uma zona onde o Nápoles apenas contava (no papel) com Gargano e Inler.
Com Chiellini nominalmente no lugar de lateral-esquerdo, a Juve atacava apenas pelo lado direito, através do excelente Lichsteiner, dando muitas vezes a ideia de ficar apenas com uma linha defensiva de três elementos, dado que Chiellini encostava aos defesas-centrais. Nos primeiros 20 minutos, os bianconeri tiveram o domínio (consentido) do jogo, em boa parte por intermédio do eterno Pirlo. No entanto, o treinador napolitano, conhecido pelos seus micro-ajustes entre e durante as partidas, mudou Pandev para a direita, Lavezzi para a esquerda e Hamsik para uma posição central mais recuada, qual número 10 - em boa medida para estancar a criatividade de Pirlo (ver imagem mais abaixo).
Nápoles em momento defensivo, criando superioridade numérica e anulando Pirlo |
Durante toda a primeira parte, a Juventus não pareceu minimamente interessada em pressionar alto, permitindo que o seu oponente saísse a jogar a seu bel-prazer. Dessa forma, a suposta superioridade numérica que teria no centro do terreno era anulada, especialmente pelas movimentações dos três jogadores mais avançados, não hesitando em recuar para criar linhas de passe e contornar o meio-campo da Juve.
Dessa forma, foi sem surpresa que o Nápoles chegou ao intervalo a vencer por dois golos. Contudo, a segunda parte trouxe uma Juve mais intensa e aguerrida, pressionando logo na primeira zona de construção. Para além disso, Pepe e Vidal pareceram finalmente ter autorização para subirem no terreno. Com efeito, 3 minutos depois, Vidal penetrou no espaço entre a defesa e o meio-campo, assistindo Matri para o 2-1 - tornando o jogo numa montanha-russa.
Com Chiellini finalmente a assumir-se como lateral esquerdo de pleno direito, o adiantamento de Vucinic, a pressão dos seus interiores e o Nápoles a ceder o domínio do jogo, a Juve partiu para cima do adversário, já sem pernasos últimos 20 minutos de intensa pressão da equipa do norte de Itália (devido à intensa sucessão de jogos importantes). Exercendo pressão sobre a primeira fase de construção, os bianconeri abriram brechas na muralha defensiva, brechas essas aproveitadas tanto por Pepe como Vidal.
Em resumo, assistiu-se a um jogo atípico para o campeonato italiano (salvo o resultado, claro está), em que pudemos ver tudo aquilo por que esta liga é conhecida: constantes ajustes tácticos dos treinadores, qual jogo de xadrez. A primeira parte foi de clara vitória estratégica do Nápoles, mas a Juve soube corrigir as suas lacunas ao intervalo e, com isso, permanecer invicta.