A Argentina foi há poucos minutos eliminada sem apelo nem agravo aos pés da Alemanha. Arriscar-me-ia aliás a dizer que a selecção das pampas foi a imagem fiel do seu treinador: muito talento, mas muito pouco trabalho e organização. A uma concepção de jogo romântica e quasi-suicida, a formação germânica mostrou que o futebol actual se rede muito mais em torno de uma ideia de colectivo do que à volta de uma vedeta. Na verdade, quase todas as principais estrelas saíram deste mundial vergadas ao peso da impotência. Os comentadores da RTP referiram com alguma surpresa o facto de a equipa alemã parecer ter-se reinventado com a ausência de Ballack, capitão da equipa. Com efeito, o mesmo tinha acontecido, por exemplo, com Cristiano Ronaldo, com a equipa portuguesa a mostrar-se à altura da ausência da sua vedeta. Pessoalmente, creio que, muitas das vezes, as vedetas são mais problema do que solução, uma vez que as equipas ficam muitas das vezes reféns não só do jogo como também dos egos desses jogadores. Como tal, não pode ser surpreendente ver o surgimento de Mueller, Khedira ou Oezil, sem espaço com Ballack na equipa.
Quanto à questão do treinador, associo frequentemente Maradona a Scolari, pela mesma vontade e "venda de sonhos", mas também pela mesma incapacidade de responder presente quando o treinador é efectivamente necessário. A equipa argentina desmoronou-se logo desde o início, com um enorme espaço vazio à frente de Mascherano e com a total inoperância de Di María ou Maxi Lopez, por exemplo. Pior do que isso, o seleccionador alviceleste não foi capaz de ler o jogo e corrigir esse problema, dando azo a que a equipa alemã controlasse sempre as operações.
PS: Numa altura em que o Armagedão se parecia ter abatido sobre as selecções europeias, eis que há uma forte probabilidade de vermos três equipas do Velho Continente nas quatro semifinalistas.
Saturday, July 3, 2010
Thursday, July 1, 2010
O tamanho da camisola
Declaração de interesses: fiz sempre parte dos críticos de Scolari, independentemente da final (perdida) do Euro 2004 ou das boas prestações da Selecção portuguesa - regra geral, contra equipas de valor inferior. A solução Carlos Queiroz sempre me pareceu apetecível por se tratar não só de um mero treinador, mas também (e mais importante) de um exímio planeador a médio/longo prazo. O ex-seleccionador foi capaz, sem dúvida, de apelar ao sentimento patriótico de um país que há muito não sabia o que tal era. Como vendedor de ilusões, Scolari é insuperável; Queiroz é no máximo sofrível. O seu discurso não inflama paixões, os jogadores parecem sempre distantes do "mister" e a sua liderança pareceu ser posta em causa demasiadas vezes (Deco, Nani, Hugo Almeida, entre outros).
No entanto, creio ser injusta a mais recente onda de críticas. Por muito que não se queira aceitar o facto, os seleccionadores são "forçados" a jogar com os jogadores que existem. Dissociar o trabalho de Scolari do onze formado por Mourinho que havia ganho um mês antes a Liga dos Campeões é tarefa ingénua ou mal-intencionada. Aliás, bastará ver a evolução (negativa) à medida que o tempo foi passando, com a turma das quinas a descer sempre um degrau. Convém também não esquecer o importante facto de Scolari ter disputado (e perdido categoricamente) o seu primeiro jogo oficial dois anos depois de ter assumido o cargo. Relembro também o chorrilho de críticas de que Scolari foi alvo quando, num amigável de Guimarães, Portugal foi batido por esta mesma espanha por uns copiosos 3-0.
Por último, o reinado de Scolari teve a meu ver uma incontornável consequência negativa: dada a sua filosofia de tornar a equipa portuguesa numa espécie de clube dos vinte amigos, em que jogavam os melhores independentemente da sua forma, o treinador brasileiro como que aniquilou a renovação que é necessário realizar em todas as selecções. Como tal, não é de estranhar as dificuldades por que Queiroz passou quando teve de inventar um lateral-esquerdo, um guarda-redes (porque Ricardo nunca foi um titular indiscutível por mérito próprio, com ou sem luvas), um trinco, entre outros. Não é coincidência alguma que o melhor período da selecção A tenha correspondido ao maior degrego das selecções jovens.
Quanto à obrigação ou não de Portugal ultrapassar a Espanha, chegar à final e vencer a outra equipa como se de uma mera formalidade se tratasse, gostaria apenas de deter-me em alguns casos paradigmáticos referentes àquilo que consideramos uma equipa de estrela. Se retirarmos Cristiano Ronaldo da equação, quem são as vedetas que consideramos como capazes de vencer um Campeonato do Mundo? Ricardo Costa por oposição a Sérgio Ramos? Raúl Meireles ou Tiago por oposição a Xavi ou Iniesta? Hugo Almeida por oposição a Torres? Os dois centrais portugueses serão porventura o que de mais perto temos de figuras mundiais (mais Ricardo Carvalho do que Bruno Alves, naturalmente) e há limites para a superção das capacidades individuais. Talvez o principal erro desta selecção tenha sido continuar a assumir que está no lote de Argentina, Brasil, Alemanha ou Espanha. Por fim, gostaria também de não ter ficado com a sensação de que Portugal não tinha um plano de contingência caso se apanhasse a perder com a Espanha.
No que diz respeito ao Mundial, serei o primeiro a concordar que Queiroz parece ter imensas dificuldades de "vender o seu produto", de convencer jogadores, imprensa e adeptos, de capitalizar a emoção. No futebol, como em qualquer outra actividade, a forma como se lideram as pessoas é tão ou mais importante do que os méritos técnicos. Não duvido por um momento das competências técnicas do seleccionador nacional, mas isso nem sempre basta para levar outros a acreditarem na liderança.
E é esta questão que me traz ao meu ponto derradeiro. Independentemente dos jogadores que componham a selecção portuguesa (ou qualquer outra equipa), a atitude é algo que não está relacionada com as capacidades técnico-tácticas dos jogadores. Portugal pareceu voltar aos tempos em que parecia querer perder por poucos, em que a bola queimava e em que sobrava uma ou outra lenda, como o pontapé de Carlos Manuel contra a Alemanha. Portugal pode não estar dotado de Messis, Di Marías, Kakás, Robinhos e muitos outros, mas não pode ter receio seja de que equipa for. O que critiquei no primeiro jogo, contra a Costa do Marfim, continua válido, a meu ver. No reinado de Queiroz, Portugal parece ter mais medo de perder (por muitos, por vezes) do que vontade de ganhar.
Monday, June 28, 2010
O espírito de equipa
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