Tuesday, January 20, 2009
Taças e Calendários
A taça da discórdia, também conhecida como Taça da Liga, tem conhecido algumas opiniões mais ou menos inflamadas relativamente à sua reduzida utilidade e aproveitamento. Têm-se ouvido inúmeras opiniões sobre a sua diminuta pertinência e sobre a indiferença com que alguns clubes a recompensam (nomeadamente o FC Porto). Pessoalmente, creio que haverá alguns pontos acertados, mas diria que, no geral, a Taça da Liga pode vir a tornar-se uma competição interessante.
Em primeiro lugar, é mais um troféu. Ou seja, é mais um título para os treinadores conquistarem e taparem com isso algumas das lacunas das suas equipas (Paulo Bento gabou-se incessantemente sobre o feito de chegar à final da Taça da Liga, no ano passado, por exemplo). Em segundo lugar, é mais uma oportunidade para as equipas ditas pequenas poderem chegar um pouco mais longe e dar nas vistas. Terceiro, é uma competição que vem ajudar a preencher o espartano calendário competitivo português e que vem permitir que os chamados "grandes" possam rodar jogadores e ir introduzindo paulatinamente os jovens das camadas de formação.
Admito sem problemas que há pontos negativos na Taça da Liga. Ninguém sabe em que moldes se realiza, não há horários minimamente estáveis (inacreditável a forma como jogos decisivos para o mesmo grupo não se realizam à mesma hora) e os frutos que se podem retirar daí são relativamente diminutos. Pessoalmente, creio que interessará reorganizar a calendarização da prova e oferecer ao seu vencedor, por exemplo, um lugar na Taça UEFA, o que abriria por certo o apetite de quase todas as equipas.
Gostaria apenas de deixar uma nota relativamente à calendarização da época. Sempre que o campeonato parece estar finalmente pronto a arrancar, há uma interrupção - seja para a Taça de Portugal, para a Taça da Liga, para a Selecção Nacional ou outra coisa qualquer. Compreendo com muita dificuldade esta aniquilação do carácter competitivo do principal campeonato português, no qual somos chegados à ultima jornada da primeira volta quase sem dar por ela, uma vez que quatro jornadas seguidas é coisa que ainda não existiu. A minha questão é a seguinte: os dirigentes do futebol português acham mesmo que as nossas equipas estão sobrecarregadas e que não podem fazer dois jogos por semana?
Ovos e omoletes
O Inter sofreu às mãos do Atalanta a maior e mais humilhante derrota da época, num duelo que por certo terá deixado os adeptos portistas em particular atónitos, uma vez que o onze do treinador de maior sucesso do clube azul e branco foi copiosamente batido pela equipa de Luigi del Neri, treinador conhecido pelo despedimento sumário de que foi alvo no Dragão e pelos sucessivos falhanços que foi coleccionando ao longo da sua carreira.
No entanto, a questão não se limita à derrota em si. Todas as equipas têm dias maus, jornadas em que nada do que o treinador faça ou peça parece funcionar. Domingo foi um desses dias para a equipa do Inter. No entanto, o problema parece-me mais abrangente e estrutural. Mourinho foi contratado para substituir Mancini, um treinador que tinha vencido os últimos três campeonatos (em circunstâncias muito particulares, mas das quais já ninguém se lembra), mas que não conseguia alcançar o mesmo sucesso na Liga dos Campeões. Ou seja, Mourinho está obrigado a vencer o campeonato, o que nunca é fácil, em Itália, e a fazer melhor figura do que Mancini na Liga dos Campeões. Ora, dado que o sorteio ditou o embate entre Inter e Manchester, há uma forte possibilidade de Mourinho sair pela mesma porta por que o treinador italiano tantas vezes saiu - os oitvaos-de-final.
Mourinho não quis entrar no Inter como a maior parte dos treinadores, pedindo revoluções de balneário e contratações milionárias. Pediu apenas Mancini (o extremo brasileiro ex-Roma), Quaresma (vá-se lá saber porquê, mas quem sou eu para contestar Il Speciale?) e Deco ou Lampard. Infelizmente para Mourinho, nenhum destes dois optou por ingressar na equipa nerazzurra, o que deixou Mourinho com vários problemas.
A primeira questão começa logo na defesa. Maicon é dono e senhor da lateral-direita, empurrando o decano capitão Zanetti para outras funções. No entanto, não há propriamente titulares indiscutíveis no resto da defesa. Burdisso parece fora do seu ambiente (ver jogo contra o Panathinaikos, por exemplo), Materazzi é uma opção irregular, Samuel prometeu muito, mas nunca chegou a cumprir, Chivu parece ter mais cinco anos do que tem na realidade, Córdoba é um bom defesa, mas tens uns meros 173 cm e Maxwell é esforçado, mas não mais do que isso.
Contudo, é no meio-campo que reside o principal problema. Mourinho conta com Cambiasso e Zanetti, dois mouros de trabalho, mas conta também com Vieira e Dacourt (dois médios completamente ultrapassados), Stankovic, Muntari e o próprio Zanetti (qualquer um deles longe de conseguir pegar no jogo, apesar da combatividade de todos eles) e um Figo que, quando joga, tem por hábito pegar no jogo, para tentar dar a Mourinho aquilo de que este tanto gosta: o domínio dos tempos de jogo.
Ou seja, o técnico português tem à sua disposição um plantel débil, repleto de lacunas e de jogadores que se julgam muito melhores do que são devido aos salários inflaccionados, envelhecido e pouco moldável - características que Mourinho nunca cunhou nas suas equipas. Devido às elevadíssimas exigências em relação ao seu trabalho e às opções (insuficientes) de que dispõe, o Special One está mais perto do que nunca de desiludir todos aqueles que pensavam que ter Mourinho na equipa era garantia de sucesso a todos os níveis.
PS: É muito estranho ver uma equipa de Mourinho completamente à deriva, a sofrer golos constantemente, aparentemente desorganizada e sem alguém que pense o jogo. Quem quiser pode ver aqui um breve resumo do Atalanta-Inter:
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