Monday, September 8, 2008

A minha verdade, também

Luís Sobral, editor do MaisFutebol, manifesta no texto abaixo apresentado várias opiniões que se aproximam em grande parte da minha própria visão do mundo futebolístico. Na verdade, tento alhear-me destes pontos negativos, embora reconheça que, quando leio e ouço alguns comentários, dos quais tento alhear-me, penso se será possível apreciar o futebol em estado puro, conforme diz o título deste blogue. A ler com atenção.



Os maus sinais do costume
Luís Sobral

O campeonato português começou com os maus sinais do costume.


Nas duas primeiras jornadas, o cenário foi este: poucos golos, jogo sofríveis, muitos cartões, mais faltas, um sumaríssimo e um adepto que entrou em campo para agarrar um auxiliar, em pleno clássico.


Sim, também houve bons golos. Quatro ou cinco. Bons, mas nenhum inesquecível.


Os comentários do Maisfutebol são um barómetro razoável da realidade: a maior parte dos adeptos que frequentam o jornal e deixam a sua opinião mostram disponibilidade para analisar (estou a ser simpático...) os casos. Mas falta-lhes a paciência para elogiar os grandes momentos. Discorda? Faça um exercício. Procure as crónicas dos jogos do Leixões, da Académica e do Paços de Ferreira, por exemplo. Veja quantos assinalaram os grandes golos de Garcés, Zé Manuel ou Zé Pedro ou quem foi capaz de reconhecer o feito de William.



Não conheço todos os adeptos de futebol, claro. Mas os que comentam aqui, mais os que são ouvidos nas televisões e os que encontro nos cafés são, de uma forma geral, duvidosos apreciadores do jogo. Entusiasmam-se com o seu clube. Criticam o adversário. E por aí fica o seu entendimento do jogo.



Quando chegam aos estádios (e é justo referir que a maior parte das pessoas que assiste a jogos de futebol o faz pela televisão, não participando no acontecimento ao vivo), estes adeptos reproduzem aos gritos o seu modelo de análise (para voltar a ser simpático).



Com a aprovação das massas, treinadores, jogadores e dirigentes mantém a sua estranha forma de estar no futebol.



Olhemos para o mercado, por exemplo. Que justificação existirá para um clube trocar, de uma época para a outra, dez, 15, até 17 jogadores? O bom senso manda responder nenhuma. Mas na realidade isso acontece.



A troca incessante de jogadores e treinadores acentua a insegurança de quem tem de montar uma equipa e dificulta a identificação dos adeptos com aqueles que os representam de camisola vestida no relvado.



Portugal é o país das desculpas tolas e o futebol um laboratório único. Num cenário em que tudo serve de justificação, tão importante como não perder é encontrar o culpado certo. O jogo, a qualidade do futebol, é um detalhe sem importância. No fundo, faz sentido. Há muito que os adeptos deixaram de clamar por bom futebol. Ganhar chega-lhes. Ou pelo menos não perder. ~



Lá bem no fundo, a maioria já ficaria satisfeita se pudesse entrar num relvado e satisfazer o secreto e cobarde desejo de apertar o pescoço a um árbitro. Nem que fosse só por um instante.



Pior que o nosso futebol só mesmo muitos dos adeptos que temos. Bem merecem os joguinhos fracos ao fim-de-semana.



PS: O que mais me irrita no futebol inglês é a estatística ao intervalo. Por exemplo o Tottenham. Vai a casa do Chelsea, chega ao descanso empatado 1-1 e comete apenas um, duas, no máximo três faltas. Como se isto fizesse algum sentido.

A hora do adeus

Ricardo Quaresma já não é jogador do FC Porto. Na verdade, já foi contratado pelo Inter de Milão há oito dias, no último dia do mercado de transferências de Verão. A análise pela perspectiva dos três lados.

  1. A perspectiva do jogador. Ricardo Quaresma já não estava no FC Porto. Na verdade, o próprio tinha assumido isso mesmo por diversas vezes de forma mais ou menos óbvia ao longo dos últimos meses em diversas entrevistas. Achava já ter ganho tudo no FC Porto e pouco mais ter a aprender e evoluir quer com Jesualdo, quer com uma equipa de segunda linha na Europa como o FC Porto. Cada um tem de tomar as suas opções e Quaresma tem de estar preparado para as suas consequências, sejam elas quais forem. Segundo o próprio, queria "voltar a um grande" e o clube azul e branco nem concebeu a hipótese de o colocar a jogar estando a sua cabeça noutro lugar que não dentro do balneário e dos objectivos do clube.
  2. A perspectiva do FC Porto. O clube português "livra-se", por assim dizer, de um jogador que estava a ameaçar tornar-se um foco de instabilidade para o balneário e para o treinador, acima de tudo. Se Quaresma ficasse, seria complicado tê-lo a jogar, o que implicaria algumas dificuldades na gestão do onze, uma vez que seria sempre difícil explicar a sua titularidade a jogadores mais envolvidos nos objectivos do clube, mas seria sem dúvida muito mais complicado colocá-lo no banco. Apesar de dois campeonatos ganhos, Jesualdo continua a não ser uma figura consensual no Dragão e bastariam um ou dois maus resultados para uma grande parte da massa associativa demonstrar o seu desagrado e falta de apoio. O clube obtém um receita razoável, ainda que longe dos números que Pinto da Costa adiantara, acreditando que Quaresma vai provar no Inter que o seu falhanço no Barcelona de Rijkaard se deveu a imaturidade e alguma falta de sorte. O FC Porto pode ter perdido o "mágico", mas ganhou consistência e regularidade.
  3. A perspectiva do Inter. Não, não vou afirmar que Mourinho é o único treinador que consegue pôr Quaresma "na linha". Por mais que Adriaanse não fizesse parte do meu rol de preferências, teve a audácia de mostrar claramente que Quaresma tinha de aprender a ser mais jogador de equipa, mais inteligente e menos egoísta. O jogador parece ter aprendido a lição, mas a sua atitude nos últimos meses estava longe de ser a desejada. Mourinho já mostrou ser capaz de aproveitar jogadores da melhor maneira (de Marco Ferreira a Jankauskas, de van Hooijdonk a Tiago, não esquecendo o exemplo óbvio de Joe Cole, em risco até 2004 de se confirmar como mais uma promessa sempre adiada do futebol inglês) e não perdeu tempo a mostrar a Quaresma os limites, afirmando que o jogador vai ter de se habituar a jogar onde o treinador quiser, nem que seja na bancada.

Conclusão: o FC Porto fez um negócio razoável. Apesar da venda por números relativamente baixos quando comparado com o que Pinto da Costa afirmara anteriormente, o clube português conseguiu resgatar Pelé (naquilo que me parece um bom negócio) e salvaguardar não só compensações financeiras em função do rendimento futuro do jogador, como também a garantia de que o jogador, a regressar para Portugal, apenas o poderá fazer para o FC Porto. Quanto ao Inter, terá de ver se o jogador está definitivamente empenhado em tornar-se um futebolista, e não um malabarista. Basta Quaresma olhar para onde poderia estar se se tivesse dedicado a ser um melhor jogador como Ronaldo o fez, sabendo que há uma altura para adornar, uma hora para arriscar e um momento para ser eficaz, simples e prático. Quaresma ainda não o sabe. Se Mourinho conseguir explicar-lhe essa simples realidade (que o jogador não estava interessado em apreender no FC Porto), poderá explodir em definitivo. Caso contrário, será mais um ilusionista, e nunca um mágico.

Porque os grandes também se enganam...

...quanto mais eu. Sou razoavelmente conhecido no meu meio por não ser um dos maiores defensores de Jesualdo Ferreira, especialmente quando defronta equipas de valia igual ou superior, especialmente fora de casa, altura em que quase sempre opta por apresentar revoluções não só no onze titular como na forma de jogar da sua equipa. Não obstante, tenho de tirar o chapéu à estratégia que adoptou no último clássico entre FC Porto e Benfica. Mostrando conhecer de antemão o sistema táctico de Quique Flores (quanto a mim, estranhamente inflexível), o treinador portista foi inteligente ao colocar os seus jogadores em campo, comprovando perante milhares de (tele)espectadores que o Benfica tem ainda um longo caminho a percorrer.

Com efeito, o 4x3x3 foi colocado de lado em detrimento de um 4x4x2 extremamente moldável, consoante a equipa estivesse em posse de bola ou a defender. Com Fucile na esquerda para travar Di María ou Reyes, Fernando à frente da defesa para encurtar o espaço de acção de Aimar (tarefa que, neste momento parece impossível de executar por Guarín e que retiraria Raúl Meireles das transições rápidas que o treinador portista tanto aprecia), Tomás Costa imbuído de travar as subidas de Leo para que Sapunaru tivesse apenas de se preocupar com Reyes, o combate a meio-campo estava ganho, em termos práticos, uma vez que ainda sobrava Lucho e Meireles para a luta directa, tanto ofensiva como defensiva, com Carlos Martins e Yebda, ainda demasiado "verdes", na minha opinião, para conseguir dar seguimento ao sistema que Quique pretende impor.

É indiscutível que o penalty marcado aos 10 minutos deu ao FC Porto uma margem de manobra e um conforto que não teria tido, possivelmente, se não tivesse logrado colocar-se em vantagem tão cedo. Seja como for, tenho de admitir que Rodríguez foi quase sempre uma dor de cabeça para a defesa benfiquista, com as suas constantes diagonais para o centro do terreno e/ou subidas pelo flanco, sendo que Lisandro fez mais uma exibição muito bem conseguida, dando trabalho de sobra aos centrais benfiquistas e Lucho deambulou por todo o terreno, ofereceu boas combinações aos seus companheiros, deu uma ajuda a defender, sofreu e marcou o penalty e mostrou que qualquer dependência de Quaresma era mera fantasia. Confesso-me curiosíssimo por saber até que ponto a estratégia de Jesualdo frente ao Arsenal daqui por três semanas se revelará acertada. Todos nós acertamos uma vez. Os bons acertam mais do que erram.