Luís Sobral, editor do MaisFutebol, manifesta no texto abaixo apresentado várias opiniões que se aproximam em grande parte da minha própria visão do mundo futebolístico. Na verdade, tento alhear-me destes pontos negativos, embora reconheça que, quando leio e ouço alguns comentários, dos quais tento alhear-me, penso se será possível apreciar o futebol em estado puro, conforme diz o título deste blogue. A ler com atenção.
Os maus sinais do costume
Luís Sobral
O campeonato português começou com os maus sinais do costume.
Nas duas primeiras jornadas, o cenário foi este: poucos golos, jogo sofríveis, muitos cartões, mais faltas, um sumaríssimo e um adepto que entrou em campo para agarrar um auxiliar, em pleno clássico.
Sim, também houve bons golos. Quatro ou cinco. Bons, mas nenhum inesquecível.
Os comentários do Maisfutebol são um barómetro razoável da realidade: a maior parte dos adeptos que frequentam o jornal e deixam a sua opinião mostram disponibilidade para analisar (estou a ser simpático...) os casos. Mas falta-lhes a paciência para elogiar os grandes momentos. Discorda? Faça um exercício. Procure as crónicas dos jogos do Leixões, da Académica e do Paços de Ferreira, por exemplo. Veja quantos assinalaram os grandes golos de Garcés, Zé Manuel ou Zé Pedro ou quem foi capaz de reconhecer o feito de William.
Não conheço todos os adeptos de futebol, claro. Mas os que comentam aqui, mais os que são ouvidos nas televisões e os que encontro nos cafés são, de uma forma geral, duvidosos apreciadores do jogo. Entusiasmam-se com o seu clube. Criticam o adversário. E por aí fica o seu entendimento do jogo.
Quando chegam aos estádios (e é justo referir que a maior parte das pessoas que assiste a jogos de futebol o faz pela televisão, não participando no acontecimento ao vivo), estes adeptos reproduzem aos gritos o seu modelo de análise (para voltar a ser simpático).
Com a aprovação das massas, treinadores, jogadores e dirigentes mantém a sua estranha forma de estar no futebol.
Olhemos para o mercado, por exemplo. Que justificação existirá para um clube trocar, de uma época para a outra, dez, 15, até 17 jogadores? O bom senso manda responder nenhuma. Mas na realidade isso acontece.
A troca incessante de jogadores e treinadores acentua a insegurança de quem tem de montar uma equipa e dificulta a identificação dos adeptos com aqueles que os representam de camisola vestida no relvado.
Portugal é o país das desculpas tolas e o futebol um laboratório único. Num cenário em que tudo serve de justificação, tão importante como não perder é encontrar o culpado certo. O jogo, a qualidade do futebol, é um detalhe sem importância. No fundo, faz sentido. Há muito que os adeptos deixaram de clamar por bom futebol. Ganhar chega-lhes. Ou pelo menos não perder. ~
Lá bem no fundo, a maioria já ficaria satisfeita se pudesse entrar num relvado e satisfazer o secreto e cobarde desejo de apertar o pescoço a um árbitro. Nem que fosse só por um instante.
Pior que o nosso futebol só mesmo muitos dos adeptos que temos. Bem merecem os joguinhos fracos ao fim-de-semana.
PS: O que mais me irrita no futebol inglês é a estatística ao intervalo. Por exemplo o Tottenham. Vai a casa do Chelsea, chega ao descanso empatado 1-1 e comete apenas um, duas, no máximo três faltas. Como se isto fizesse algum sentido.