Wednesday, June 16, 2010

Quando se fala de bugalhos

No último jogo de Portugal de preparação para o Mundial que se avizinhava, foi possível ouvir pérolas de todos os quadrantes, especialmente na transmissão em directo de um dos canais abertos. Algures durante o jogo, pudemos constatar que o que interessava ao enfrentar selecções nos jogos de preparação era golear, porque isso transmitia uma sensação de confiança e temor.

Pois bem, depois da vitória da Suíça (que não ganhou um único jogo de preparação) sobre a Espanha (que goleou inclusivamente a Polónia no último encontro antes da competição), talvez fosse útil que algumas pessoas metessem a mão na consciência e pensassem antes de tecer alguns comentários, pelo mesmo motivo pelo qual ninguém pergunta a Mourinho ou Queiroz o que acham sobre o défice oçamental ou a crise do desemprego.

Sem margem para errar

A frase (da autoria de Carlos Queiroz, infeliz à luz de qualquer conceito de liderança, uma vez que, em vez de retirar pressão dos ombros dos jogadores, lhes retirava qualquer margem de manobra) pareceu reger todo o jogo que opôs ontem Portugal à Costa do Marfim.

Tal como acontece em qualquer outra dimensão das nossas vidas, há quem tenha mais medo de perder do que vontade de ganhar, pessoas que perguntam "porquê" em vez de "porque não". Pois bem, Portugal foi ontem um espelho fiel desse estado de espírito, parecendo sempre ter muito mais receio de falhar do que ambição de impor o seu estatuto de favorito, enquanto 3ª classificada do ranking da FIFA. Talvez, em retrospectiva, o tempo venha a dar razão a Carlos Queiroz e à sua estratégia, mas a margem para errar é agora ainda mais diminuta e a pressão não vai parar de crescer.

Monday, June 14, 2010

Quando o resultado não diz tudo

É indiscutível que é impossível escamotear uma vitória. A Holanda levou de vencida a selecção dinamarquesa por 2-0, resultado que parece oferecer pouca matéria de discussão. No entanto, creio que não será tanto assim, dado que a equipa laranja demonstrou algumas lacunas preocupantes para quem costuma aspirar (e falhar) a voos mais altos.

A Dinamarca apresentou-se num 4x4x2 clássico, com Rommedahl ligeiramente atrás do ponta-de-lança Bendtner, escolhendo a linha de meio-campo como zona de pressão preferencial. Em vez de se preocupar com as individualidades holandesas, a equipa de Morton Olsen preferiu sempre concentrar-se na posição da bola, saindo ao seu portador sempre que aquela cruzava a linha do meio-campo. Com isto, aliado à pouca mobilidade dos seus quatro jogadores mais avançados, a Holanda tinha mais posse de bola, mas mostrava grandes dificuldades no último terço do terreno.

Ao invés, o onze da equipa dos vikings não só mostrava uma boa organização defensiva, como provava - lance após lance - ter contra-ataques bem trabalhados e rotinados, colocando a defensiva adversária em guarda. Não fora aquele autogolo assaz estranho e creio que estaríamos a falar de um resultado diferente.

No que diz respeito apenas à laranja (hoje pouco) mecânica, destaque para a invulgar agressividade com que os seus jogadores mais recuados abordavam os adversários e o enorme espaço nas costas que tanto van Bommel como de Jong deixam sempre que se aventuram no ataque. Com efeito, as transições defensivas da equipa das tulipas deixam neste momento muito a desejar. A menos que alguns destes problemas sejam resolvidos num futuro não muito distante, creio que a Holanda terá dificuldades em impor-se a equipas de maior porte.

Curiosidade II


Se até a FIFA permite a transmissão em tempo real dos jogos nos ecrãs dos estádios, de modo a que os espectadores não percam pitada da acção, de que continuamos nós à espera, em Portugal?

Quando a fartura dá em fome


Enquanto via ontem as finais da NBA, dei por mim a perguntar-me a mim mesmo por que motivo apenas no futebol ouço comentadores que parecem saber pouco da poda e que mostram o mesmo entusiasmo que tenho quando sou forçado a ir às compras. Na verdade, qualquer desporto tem comentadores entusiastas, mais do que sabedores da matéria e sempre prontos a explicar-nos coisas que não vemos à primeira (Pedro Catita no futsal da RTP, Tiago Monteiro na Fórmula 1 da Sporttv, Carlos Barroca e Luís Avelãs na NBA, no mesmo canal).

Por que motivo apenas o futebol nos traz comentadores sempre predispostos a dizer que o jogo está a ser fraco ou que não há novidades neste torneio? O futebol não precisa de ser bem "vendido", como qualquer outra modalidade?

Quem poderia adivinhar?

Para minha grande surpresa, Ricardo Quaresma não vingou no Inter de Milão e foi recambiado para o Besiktas, da Turquia. É quase como se a sua atitude de "eu não mudo a minha forma de jogar, a equipa que jogue para mim" não se adaptasse à realidade futebolística do século XXI...

Sunday, June 13, 2010

Quando o pior receio se torna realidade

A Inglaterra domina um jogo com o destino aparentemente traçado. Os Estados Unidos mostram-se incapazes de ameaçar a baliza inglesa e sofrem bastante com a pressão exercida na sua primeira fase de construção. Uma grande parte dos adeptos da equipa de Sua Majestade olhou desconfiada quando viu o nome do guarda-redes titular, dada ser essa a principal dor de cabeça de qualquer seleccionador inglês. Minuto 39. Robert Green, o guardião inglês, dá um frango monumental e confirma todos os receios de treinador e adeptos. Não mais a equipa dos três leões se recompôs e o resultado final foi mesmo um empate.

De resto, este foi mais um jogo em que pudemos constatar o contrário daquilo que lia há alguns dias atrás ao passar os olhos de um colunista da modalidade: segundo o especialista em questão, para nosso grande infortúnio, as equipas iriam apostar neste Mundial num único avançado, ao contrário de épocas passadas - como se isso significasse a morte do futebol bonito ou bem jogado, parecendo esquecer-se que a unanimemente reconhecida equipa do Barcelona joga dessa mesma forma. Ao invés, são já diversas as equipas que optaram por jogar com dois avançados (não lhes chamaremos pontas-de-lança, por não se limitarem a ficar na grande área à espera que a bola lhes chegue), da Inglaterra aos Estados Unidos, passando pela Argentina. A ver vamos que outras surpresas este Mundial nos traz.