Friday, August 22, 2008

O craque da minha vida

Dando seguimento ao anterior texto, da autoria de Sérgio Pereira, venho destacar o craque da minha vida. Ao contrário do jornalista do MaisFutebol, não tive grandes dúvidas. Sim, aprecio imenso a forma de estar e de jogar de alguns jogadores - sendo Deco e Pirlo os exemplos mais imediatos, pelo que jogam, fazem jogar e pela sua modéstia -, mas nenhum jogador me marcou mais do que Vítor Baía, o até há pouco aparentemente insubstituível e eterno guarda-redes portista.

Antes de mais, a declaração de conflito de interesses: cresci portista e acabei por virar guarda-redes. Como no caso de quase todos os miúdos que vão parar a essa posição, não tinha grande jeito para a bola e essa acabava por ser a única posição que me permitia jogar sempre. Como tal, fui ficando e fui tentando aprender com tudo o que via à minha volta. Nessa altura, Baía defendia as redes do FC Porto há já alguns anos e sempre tinha admirado a sua serenidade e qualidade, tanto entre como fora dos postes.

No entanto, o que não faltam por aí são bons guarda-redes, prontos a serem idolatrados pelos mais diversos motivos. Não obstante, havia algo mais, para mim: Baía era o primeiro a sair em defesa do clube, juntamente com Jorge Costa ou João Pinto, não se refugiava no silêncio quando as coisas saíam mal, era exigente consigo mesmo e com os outros e impunha uma atitude de respeito de toda a gente. Sempre calmo e munido do seu habitual fair play, não hesitava em defender o seu grupo, os seus colegas, sempre que lhes parecessem atacados por algum lado.

Sofri a bom sofrer durante a penúria de Baía em Barcelona. Custava-me ver como o melhor guarda-redes que eu já tinha visto jogar ser criticado (quase sempre de forma justa, embora por vezes exagerada), cometer fífias que ninguém lhe conhecia, comprometer resultados e ser tratado de forma venal por Van Gaal. Ainda me custa, hoje em dia, ver a reacção dos catalães quando se fala de Baía - possivelmente o maior flop de sempre, dizem eles. Para os portistas, isso era quase inconcebível e, como tal, foi sem surpresa que foi recebido de braços abertos por uma vasta multidão quando foi emprestado ao FC Porto durante a última metade da época 1998/99. De repente, o clube recuperava o seu guarda-redes, o seu filho pródigo, um dos seus símbolos máximos.

Felizmente, o final da sua carreira ainda lhe proporcionou juntar mais de uma mão-cheia de títulos ao seu (até agora) insuperável pecúlio, ao vencer a Liga dos Campeões e a Taça UEFA com o clube do seu coração. Acima de tudo, ficar-me-á para sempre na memória a sua vontade infindável de vencer, as muitas defesas fantásticas que o vi fazer, a sua constante frontalidade e defesa dos valores que julgavam ser os mais correctos. Num mundo (de futebol, mas não só) cada vez mais estéril, estereotipado e oco, no qual os jogadores receiam pensar em pisar o risco, Baía parecia-me um oásis. A todos aqueles que o criticavam por não saber estar no banco, Baía deu uma lição: na sua última temporada enquanto jogador, esteve sempre no banco, sempre de pé a apoiar, a comandar, quase como técnico principal, e era para ele que muitos jogadores (inclusivamente Quaresma, o enfant térrible) corriam quando marcavam um golo. Nunca se lhe ouviu uma palavra ou um gesto de descontentamento, de enfado, de superioridade. O clube acima de tudo.

Thursday, August 21, 2008

O craque das nossas vidas

Mais um belo texto e uma questão sempre pertinente: o craque das nossas vidas.


O craque das nossas vidas
Sérgio Pereira


A ideia surgiu ao ler um texto de um colega aqui da redacção num blog brasileiro. Um jornalista pedia a vários outros jornalistas que escrevessem sobre o craque da vida deles. Num instante estava eu próprio a perguntar-me quem era o craque da minha vida. É incontrolável.

Nesta altura o leitor deve estar a fazer a mesma pergunta. Se não se importa, vou interrompê-lo por mais um bocadinho. Afinal este texto é meu e faço com ele o que quero.

O craque é o mais genuíno que existe no futebol. Podemos gostar de uma equipa, de uma selecção ou de uma ideia. Eu, já disse, gosto da filosofia do Barcelona. Mas um craque é diferente. Uma equipa, uma selecção ou uma ideia é amor. Um craque é paixão.

Um craque é recordação de sorriso nos lábios. Todos teremos um craque. O craque das nossas vidas. José Mourinho, por exemplo, tem Lampard. Scolari tem Ricardo e Ulisses Morais tem Jorge Baptista.

Eu, confesso, tenho Pedro Barbosa. Podia ter Rui Costa. Podia ter Deco. Definitivamente podia ter Deco. Podia ter Figo, o Figo do último ano em Barcelona, o Figo do golo ao Real Madrid com Roberto Carlos pregado ao chão. Podia até ter Lucho González, o comandante que joga sempre de fato de gala.

Mas não, eu tenho Pedro Barbosa.

Quando penso em craque da minha vida, o nome de Pedro Barbosa surge-me mais rápido do que ele próprio alguma vez foi. Mas não interessa. A mim é Pedro Barbosa que me traz a recordação de sorriso nos lábios.

Talvez pelo golo com a camisola nacional em Eidhoven. Ou talvez por nenhuma razão em particular.

Pedro Barbosa sempre foi o mais próximo que vi da nostalgia de infância. A forma como parava, olhava e pensava fazia-me lembrar um miúdo no recreio da escola. Depois caminhava. Enquanto todos corriam, ele caminhava. Parecia provocação, mas não, ele era mesmo assim.

Nele tudo era natural. E ao mesmo tempo tão belo. A bola parecia mais educada. A simulação era mais redonda e o remate mais arqueado. Falta-lhe a consagração de outros jogadores, mas que importa? As paixões não se explicam e Pedro Barbosa é o craque da minha vida.

Agora sim, pode fazer a mesma pergunta a si próprio.

Wednesday, August 20, 2008

3x3 - Parte III

Passemos agora para o outro lado da Segunda Circular para ver os altos e baixos do Sporting.

Mais:
  1. Plantel equilibrado. Finalmente o Sporting consegue iniciar uma época com um plantel bom e equilibrado. As saídas foram mais do que razoáveis, escoando os excessos, e os jogadores contratados estão não só identificados com o futebol português, mas também, na maior parte dos casos, com a equipa leonina, especificamente. Rochemback, Postiga, Caneira (para além das confirmações de Grimi e Izmailov) vêm oferecer a Paulo Bento uma maior amplitude de opções, tanto ao nível do esquema táctico como da rotatividade que poderá empregar nas diferentes fases da época - algo que não pôde fazer no ano passado.
  2. Estrutura dirigente consciente e inteligente. A SAD do Sporting terá os seus defeitos, naturalmente, mas soube contratar a preceito e com um enorme rigor financeiro. Para além disso, assume-se como um organismo no qual Paulo Bento se pode respaldar (como já vimos em situações delicadas na última época) sempre que a sua nau se desgovernar. Uma boa ligação entre as chefias, técnica e administrativa, continua a ser fundamental e, não raras vezes, uma garantia de sucesso.
  3. Dinâmica de vitória. Apesar de ter o orçamento mais pequeno dos três grandes, Paulo Bento conseguiu incutir uma excelente dinâmica de conquista, assumindo-se como uma verdadeira máquina de conquistar taças. A vitória da última Taça de Portugal e das duas últimas Supertaças (a Taça da Liga foi perdida nos penalties) demonstrou que esta equipa, em boas condições, é capaz de produzir bom futebol - de forma inteligente e perspicaz.

Menos:

  1. Alas. O treinador do Sporting sempre deu preferência ao 4x4x2 losango, apesar de, nesta pré-época, ter mostrado que queria ter à sua disposição, pelo menos, um 4x4x2 mais clássico. No entanto, parece-me que lhe faltam as alas, habitualmente preenchidas pelas subidas de Grimi e Abel. No entanto, na longa época que se avizinha, não creio que os dois laterais consigam aguentar o exigente ritmo de todas as competições ao mesmo nível e, como se viu, na época passada, o Sporting sofre muito quando não consegue fazer subir os seus laterais. Para além disso, em jogos mais fechados, os jogadores leoninos mostraram algumas dificuldades em jogar pelas alas, pois não existem jogadores talhados para isso - os melhores serão Izmailov, Derlei, Djaló ou até Vukcevic, que poderão descair para as alas, sem contudo se afirmarem como verdadeiros extremos.
  2. Balneário. O Sporting arriscou bastante ao contratar bons jogadores para posições que já estavam aparentemente preenchidas. Postiga, Rochemback e Vukcevic, por exemplo, são jogadores que, como já se viu noutras ocasiões, são capazes de colocar os seus interesses e frustrações acima dos interesses do grupo. Paulo Bento terá de ser muito inteligente a gerir todas as situações de rotatividade e titularidade, sob pena de ficar com um balneário fissurado.
  3. Rui Patrício. Uma equipa "grande" precisa de um grande guarda-redes. Não necessariamente de um guarda-redes que faça muitas defesas vistosas, mas sim de alguém fiável e pouco dado ao erro (o exemplo de Ricardo parece-me óbvio). Não obstante a sua exibição na Supertaça, o guarda-redes sportinguista ainda precisa de amadurecer e desenvolver algumas das suas capacidades. Na verdade, não creio que transmita ainda a segurança necessária aos seus companheiros de defesa, não se encontrando, na minha opinião, ao nível de Quim ou Helton. Na última época, os seus erros custaram alguns pontos. A ver vamos o que nos traz esta temporada.

Conclusão:

Paulo Bento tem à sua disposição o melhor plantel das últimas épocas. Se conseguir manter o seu plantel concentrado nos objectivos certos, terá tudo para conseguir o campeonato que foge há seis anos à equipa de Alvalade. A gestão interna do balneário afigura-se difícil, mas Paulo Bento já mostrou anteriormente que não permite grandes veleidades a jogadores com complexos de vedeta.

3x3 - Parte II

Façamos agora uma viagem mais a Norte, rumo às paragens do Dragão.


Mais:

  1. Manutenção da estrutura. O FC Porto é campeão há três anos consecutivos e venceu a Liga dos Campeões e a Taça UEFA há muito pouco tempo. É um clube que tem um hábito e uma sede de vitória quase viciante. Os (poucos) jogadores da casa identificam-se quase por completo com o espírito guerreiro que reina no Dragão. O treinador ficou para o seu terceiro ano de reinado, situação muito rara para os lados das Antas, assim como uma boa parte do onze titular.
  2. Plantel. A equipa azul e branca continua a contar com jogadores muito acima da média, de Lucho a Lisandro, de Bruno Alves a Helton, incluindo naturalmente Rodríguez. Embora seja verdade que os bons jogadores por si só nada vencem, não há dúvida de que ajudam imenso.
  3. Apito Dourado. Por mais que a pena aplicada ao FC Porto não tenha tido resultados práticos na classificação das equipas (apenas a pontuação foi alterada), toda a controvérsia gerada em torno do mérito da equipa na conquista do campeonato e inerente lugar na Liga dos Campeões beliscou o brio do grupo, a avaliar pelas palavras de vários jogadores, especialmente o seu capitão, Pedro Emanuel. Arriscar-me-ia a dizer que o plantel do campeão vão ter algo a provar este ano, particularmente depois de mais uma derrota frente ao Sporting.

Menos:

  1. Campeões. Em todas as equipas habituadas a vencer, há sempre uma parte descendente do ciclo, um momento em que as diferentes vontades não se alinham. Parte dos jogadores quer rumar a outras paragens (falo especialmente de Lucho, Quaresma e Lisandro, por exemplo), parte sente-se menos motivada por já ter conquistado tudo o que havia para conquistar, dando origem a uma falsa sensação de superioridade face aos adversários, tendo em conta que os últimos três títulos foram parar ao mostruário do Dragão.
  2. Falta de alternativas. Se é verdade que o Benfica dispõe de poucas opções viáveis no banco, os suplentes do FC Porto ainda estão longe de mostrar que podem ser concorrentes à altura do onze titular. Bollatti, Fernando, Candeias, Tomás Costa, entre outros, ainda parecem estar uns furos abaixo do que é exigido ao campeão nacional, particularmente se tivermos em conta de que ainda terão de se adaptar à Liga dos Campeões, também. Vejo com alguma dificuldade a aposta quase exclusiva em jogadores estrangeiros, pouco ou nada identificados com o futebol nacional.
  3. Saídas. A partida de Paulo Assunção e Bosingwa, para além da saga de Quaresma sem fim à vista, deixaram o FC Porto órfão de muitos dos seus mecanismos. Creio que Jesualdo terá muitas dificuldades neste início de época, uma vez que Guarín defende bastante pior do que Paulo Assunção (apesar de conferir outra dinâmica ofensiva), o que obriga Lucho e Raúl Meireles a desdobrarem-se no apoio defensivo, desgastando-se e desposicionando-se para os movimentos ofensivos. Sapunaru ainda está longe de conseguir dar a profundidade ofensiva emprestada por Bosingwa - responsável por grande parte das saídas de bola da equipa, se nos recordarmos. Se Quaresma sair, efectivamente (o que me parece altamente improvável), as alas do FC Porto estarão substancialmente enfraquecidas.

Conclusão:

O FC Porto parece-me notoriamente enfraquecido, quando comparado com a época transacta. A equipa e o plantel estão mais desequilibrados e o onze titular afigura-se manifestamente superior às alternativas. Jesualdo continua a não conseguir apagar a imagem dos sucessivos falhanços nas alturas mais críticas e alguns jogadores querem sair. Pessoalmente, diria que este ano tem tudo para ser uma época difícil para o FC Porto, especialmente tendo em conta o calendário apertado logo ao início. Um mau princípio de ano poderá condicionar tudo, neste caso.

3x3 - Parte I

Três equipas. Três pontos positivos. Três pontos negativos. Uma conclusão.

Comecemos antes de mais pelo Benfica - por ser o clube português com mais adeptos, por ser aquele que arrasta mais debates televisivos aparentemente intermináveis independentemente de estar a jogar bem ou mal, por ser, enfim, o Benfica.

Mais:
  1. A habitual euforia que todos os Verões (após o campeonato) se apodera do clube da Luz. O defeso é para o Benfica, ainda e sempre, a época de todas as esperanças, o momento em que todos esquecem o ano anterior - geralmente nefasto - e apostam tudo nos novos craques e no novo treinador. Pessoalmente, parece-me que, este ano, o circo montado à volta do maior clube português foi apesar de tudo menor (não obstante a novela da contratação de Aimar) e que isso poderá ter efeitos positivos a breve prazo. Veremos quanto tempo dura este estado de graça.
  2. Rui Costa. Bem sei que elogiar Rui Costa e o seu papel é já um cliché, apesar de não estar há mais de dois meses em funções. Seja como for, a escolha do treinador foi sua, bem como a responsabilidade de lidar com algumas das contratações mais difíceis de sempre do futebol português. Trouxe ânimo a todos - e não só aos benfiquistas - ao trazer Aimar e Reyes e ao manter Cardozo. O futebol português agradece.
  3. Quique Flores. É mais do que possível que, daqui a seis meses, o treinador do Benfica esteja a ser atacado por todo o lado, "estando-se mesmo a ver" no que iam dar os seus métodos e opções. Pessoalmente, parece-me uma excelente escolha. Calmo, ponderado, sem os trejeitos dramáticos de Camacho, mas com muito mais substância futebolística, poderá ser, se lhe derem tempo, um dos mais bem sucedidos treinadores do Benfica dos últimos tempos.

Menos:

  1. A habitual "depressão" que habitualmente se gera após um ou outro desaire, especialmente devido às enormes expectativas que todos os anos os adeptos benfiquistas depositam na sua equipa, criticando-a sem pejo em seguida por não conseguir atingir os objectivos. Num ano em que o clube contratou muita gente nova e dispensou outros tantos, não será fácil acompanhar o ritmo de quem tem outro andamento, apesar de tudo.
  2. Banco. O Benfica poderá ter um onze muito razoável (embora mantenha as minhas dúvidas em algumas das posições), mas a falta de opções no banco é gritante, especialmente tendo em conta que a época é muito longa - 3 competições internas e a Taça UEFA. Creio que Quique Flores não poderá promover uma grande rotatitividade.
  3. Yebda e Binya. O meio-campo do Benfica, não obstante todos os elogios feitos a Carlos Martins, está longe ainda de estar perfeitamente oleado. Na verdade, no esquema táctico preferido do técnico encarnado, tanto o franco-argelino como o camaronês me parecem extremamente agressivos e permeáveis em termos tácticos. Não foi raro ver autênticos buracos defensivos deixados tanto por Martins como por Yebda, num esquema que implica que os dois médios-centro sejam extremamente inteligentes. A analisar a reacção da equipa quando estiver a perder; pessoalmente, parece-me extremamente permeável.

Conclusão:

Salvo alguma hecatombe simultânea em Porto e Sporting ou uma caminhada surpreendentemente fulgurante da equipa encarnada, não creio que o Benfica tenha já este ano capacidade para conseguir ombrear com os seus mais directos rivais. Ainda assim, parecem-me estar lançadas boas bases para um futuro promissor.

A história repete-se

O Sporting venceu mais uma vez uma Supertaça ao FC Porto. Nada poderia ser mais taxativo e repetitivo. Uma vez mais, a equipa de Jesualdo Ferreira perdeu uma competição a disputar num único jogo, demonstrando novamente enormes dificuldades contra adversários que saibam estudar bem os seus oponentes, como é o caso de Paulo Bento. Creio que se impõe que Jesualdo reflicta demoradamente nas suas estatísticas quando confrontado com o treinador leonino. Na verdade, os dragões parecem sempre deparar-se com inusitadas dificuldades sempre que jogam contra a equipa de Alvalade, especialmente ao nível táctico. Com efeito, o 4x4x2 do Sporting, com avançados móveis e defesas-laterais que sabem subir para apoiar o ataque, parece ser sempre demasiado complicado para o tradicional 4x3x3 do treinador portista, que parece sempre inventar quando não deveria, aparentemente.

Seja como for, tenho de admitir que o Sporting não fez o jogo fantástico que os seus adeptos querem fazer crer, muito pelo contrário. Na verdade, após os primeiros dez minutos, o onze verde e branco parecia completamente perdido em termos organizacionais - mais por seu demérito do que por mérito das investidas da turma das Antas. Rodríguez parecia ser o único com força e sentido de oportunidade para levar as suas intenções avante, sendo apenas parado pelas constantes faltas do meio-campo e defesa sportinguistas. Ao marcar o golo ao cair do pano da primeira parte, o Sporting ficou com uma mão na taça e não mais a largou.

Apesar da vitória, relembro que foi o próprio Paulo Bento quem referiu que o resultado não espelhava de forma justa a diferença entre as duas equipas, uma postura louvável e honesta, coisa rara nos treinadores de futebol. Na verdade, o Sporting pareceu-me ainda longe do seu esplendor organizacional e da sagacidade táctica que o seu treinador parece pedir sempre aos seus jogadores. Djaló marcou dois golos, é certo, é a coqueluche da nossa praça nos dias que correm, mas parece-me continuar a sofrer de longas ausências do jogo, deixando a equipa por vezes manca e recuperando o seu ânimo apenas quando as coisas lhe correm melhor.

Por seu turno, Farías continua a demorar a explodir de uma vez. Apesar das oportunidades que lhe têm sido dadas ao longo do tempo, o avançado argentino continua longe de impressionar treinador e adeptos. A opção de Jesualdo por colocá-lo a ponta-de-lança fez com que a equipa portista perdesse todas as referências e mecanismos, pois a rotina de jogar na frente com Lisandro, um jogador muito mais poderoso, móvel e rápido, perdeu-se por completo. Como tal, o FC Porto perdeu não só um extremo, mas também um ponta-de-lança, tendo sido possível ver os passes transviados de Lucho devido à manifesta falta de velocidade de Farías.

Pessoalmente, continuo a crer que o Sporting tem não só o melhor plantel, como o melhor treinador. Convém não esquecer que o orçamento leonino é manifestamente inferior ao orçamento azul e branco, o que atesta bem a capacidade de fazer mais e/ou melhores omoletes com menos ovos, com contratações acertadas e extremamente criteriosas. Pela minha parte, tenho enormes dúvidas quanto à adaptação de Guarín à posição 6 (foram notórias as suas dificuldades em grandes porções do jogo) e quanto aos laterais-esquerdos, todos eles com grandes debilidades num ou noutro nível, excepção feita ao adaptado Fucile. Creio que a recente aposta portista (quase exclusiva) no mercado sul-americano é muito arriscada, uma vez que a adaptação ao campeonato português é quase sempre demorada e, algumas vezes, nunca chega a acontecer efectivamente.