Nem sempre é fácil ter um blogue actualizado. Curiosamente, até há pouco tempo, debatia-me com a questão posta ao contrário, pois era da opinião que só uma pessoa muito pouco informada sobre o mundo da bola poderia criar um espaço sobre futebol em finais de Maio, quando a competição está prestes a esfriar (descontemos por instantes o fenómeno dos campeonatos europeu e mundial). E no entanto...
Hélder Postiga sempre foi um jogador diferente de muitos dos que vão enchendo plantéis de futebol. Sempre foi, confesso, um jogador cuja difereça tanto me atraía como me repugnava. Lembro-me perfeitamente do primeiro jogo que fez, no preciso dia em que fez 20 anos, a 2 de Agosto de 2002, contra o Atlético de Madrid (não me perguntem por que razão sei estas coisas, mas creio que deverá ter a ver com um desvio no cérebro para este tipo de questões). Ao vê-lo jogar, pareceu-me ver ali algo mais do que nas constantes promessas que vão surgindo nos inícios de época dos vários clubes. Pensei ver ali um jogador inteligente, um avançado no sentido mais lato do termo, e não apenas um ponta-de-lança. No fundo, uma espécie de versão actualizada e (bastante) melhorada de Domingos, o anterior ponta-de-lança "da casa". Nessa época, com o cargo de treinador ocupado por Octávio Machado (um dos insucessos da carreira de Pinto da Costa), o jovem jogador foi conseguindo impor-se paulatinamente, acumulando minutos e alguns golos, inclusivamente. Na época seguinte, já com Mourinho ao leme, Postiga mostrou muitas qualidades para um jovem de 21 anos, assumindo um papel importante na manobra ofensiva da equipa. No final desse ano, seria transferido por quase 9 milhões de euros para o Tottenham.
Esse momento parece ter prejudicado para sempre Hélder Postiga. A partir daí, apenas durante momentos mostrou ser o jogador que poderia ter sido, mau grado os seus constantes abaixamentos de forma. Num ano na liga inglesa, marcou um golo no campeonato e foi devolvido com carimbo de "reprovado" ao FC Porto, que fez questão de o ir buscar num negócio que rondou os cinco milhões de euros, incluindo a ida de Pedro Mendes, um dos jogadores mais subvalorizados da década no FC Porto, na minha modesta opinião. Postiga voltou, mas não voltou o mesmo. Com tiques e maneirismos de vedeta que sempre tinha demonstrado (mas que Mourinho sempre tinha conseguido controlar, fazendo mesmo referência no seu livro a alguns episódios), Postiga pareceu sempre querer mostrar que qualquer clube lhe devia agradecer tê-lo no seu plantel. Adriaanse, que tinha começado por apostar definitivamente nele, não o quis ver mais à frente e despromoveu-o à equipa B. Após um empréstimo ineficaz ao St. Etienne, voltou à equipa principal com a contratação de Jesualdo. Teve o seu oásis em meia época, marcando uma dezena de golos, e eclipsou-se para sempre, aparentemente.
Sempre reinvidicativo em campo (uma das melhores estórias de que me lembro sobre Hélder Postiga foi a escolha de Quaresma, pasme-se, de Postiga como o companheiro mais difícil em campo, por estar constantemente a reclamar com tudo e todos), o avançado de Vila do Conde foi perdendo espaço na equipa e nas opções do treinador, parecendo entrar sempre a contragosto e em velocidade reduzida. Resultado: empréstimo ao Panathinaikos, onde não foi propriamente feliz, tendo inclusivamente perdido o lugar para Manucho.
Todas estas incidências acabam por nos trazer à contratação de Postiga pelo Sporting, por 2,5 milhões de euros por 50% do passe. Neste momento, muitas das vozes portistas à minha volta que se fazem ouvir (incluindo a minha, tenho de admitir) mostram-se aliviadas. Com efeito, o FC Porto acaba por conseguir vender em condições vantajosas (numa futura transferência, o FC Porto recebe 50% da transferência; caso esta seja de pelo menos 6 milhões de euros, o Sporting terá de a aceitar ou pagar a parte correspondente) um jogador que prometia ficar "encalhado" durante muito tempo, permitindo também libertar-se de um dos salários mais chorudos e de uma má influência no balneário dada a sua atitude - nesse aspecto, um jogador nada "à Porto".
No entanto, creio que a história não acaba aqui. O negócio poderá ser bom para o FC Porto neste momento, mas eu esperaria até ao epílogo da questão. O Sporting contratou um bom avançado, com bons dotes técnicos, diferente de Liedson ou Derlei, que lhe tinha vindo a faltar há algum tempo. Postiga já demonstrou por diversas vezes ao longo do tempo que precisa de ser constantemente acarinhado, respondendo quando se sente protegido (Scolari é o melhor exemplo). Se Paulo Bento conseguir "apaparicá-lo" o suficiente nos momentos em que for ao banco, dando-lhe minutos de qualidade, Postiga é capaz de lhe retribuir. Por outro lado, o avançado sente que tem obrigatoriamente de arrepiar caminho, sob pena de ser votado ao esquecimento e a possibilidade Sporting aparece-lhe como uma excelente oportunidade de recuperar algum do prestígio perdido. Por último, o Sporting assum esta contratação antes de um Europeu onde Postiga poderá mostrar-se um pouco mais, podendo vir a oferecer-lhe um certo embalo para a próxima época.
Por estas e por outras, não creio que o balanço deste episódio possa ser feito de forma tão imediata. Esperemos pela época que se avizinha.