Wednesday, November 11, 2009

RIP (1977 - 2009)

Thursday, November 5, 2009

De Lisboa a Kazan

Depois de mais uma jornada da Liga dos Campeões, creio ser esta uma boa altura para avaliar o momento do Sporting. Paulo Bento está de facto sob fogo, particularmente dos seus próprios simpatizantes e associados. Com efeito, o Sporting está longe de brilhar no principal campeonato português, contrapondo uma carreira europeia sólida na Liga Europa (não esquecendo contudo o afastamento da Liga dos Campeões às mãos da Fiorentina).

Do muito que se tem falado nas últimas semanas sobre o momento da equipa verde e branca, uma grande fatia passa pela já de todos conhecida falta de condições financeiras para lançar uma candidatura consistente à conquista do título, de que o Sporting anda arredado desde 2002, sob o comando de Lazslo Bölöni (e os golos de Mário Jardel, já agora). Embora seja indiscutível que o orçamento do Sporting é mainfestamente inferior ao dos seus maiores rivais, a equipa de Alvalade parece padecer de muitos outros problemas que não terão forçosamente que ver com a maior ou menor capacidade financeira.

Se escrevo este texto agora, escrevo-o depois de ver Dínamo de Kiev e Rubin Kazan fazerem passar os seus adversários - respectivamente, Inter de Milão e Barcelona - por um mau bocado. Na verdade, o campeão russo conquistou aos catalães 4 pontos em 6 possíveis nas duas últimas jornadas. Quanto ao Dínamo, esteve a 10 minutos de cometer igual proeza face à equipa de José Mourinho. Ora, qualquer uma destas equipas está longe de ter o mesmo poderio económico dos seus rivais; no entanto, não foi por isso que o seu empenho, inteligência ou trabalho estratégico foi menor. Em ambos os casos, as equipas mereceram de forma galharda os resultados que lograram. Cientes de que não podiam lutar com as mesmas armas, foram à procura dos pontos fracos - que todas as equipas têm - e demonstraram um enorme espírito de luta e conhecimento das suas capacidades e das dos seus adversários.

Se o Sporting se queixa da falta de condições de que FC Porto e Benfica desfrutam, o que poderá dizer-se do Braga, por exemplo? O empenho, a garra, a vontade e o espírito de equipa não se fazem com dinheiro - muitas vezes, bem pelo contrário. Os responsáveis máximos do futebol do Sporting parecem esquecer-se com alguma frequência deste ponto, ao aludir vezes e vezes sem conta às suas limitações.

Neste momento, a equipa do Sporting padece da ausência de solidez defensiva e de criatividade ofensiva. Ao fim de 4 anos, não haverá quem não saiba como se movimenta o losango de Paulo Bento e respectivas variantes. A equipa parece tolhida, envergonhada e pouco disposta a ir à luta, o que não deixa de ser assaz estranho numa equipa orientada por Paulo Bento. A lateral-esquerda da defesa é um problema, tal como o é a constante indefinicação na frente (Postiga demonstra ainda e sempre a sua capacidade de se ausentar dos jogos e não ser um avançado felino, Caicedo permanece uma incógnita) ou o meio-campo em permanente bulição, onde, não fora o capitão João Moutinho, tudo seria feito de forma ainda mais lenta.

Se Paulo Bento pode ser "chamado à pedra" por alguns destes pontos, o que dizer dos seus superiores hierárquicos, ao não criarem condições (leia-se contratação de jogadores e/ou gestão do plantel) para que o treinador possa de facto atirar-se aos objectivos que deveriam ser partilhados por todos? O plantel sportinguista tem várias lacunas, sendo que nem todas podem ser supridas, ao contrário do que se possa pensar, por jovens acabados de sair da formação do clube. De facto, o Sporting parece continuar a olvidar clubes mais pequenos, onde actuam jogadores com enorme potencial e de grande valia (a curto-médio prazo).

Em suma, não creio que o problema dos leões desta época se resuma a esta época. Pelo contrário, parece ser o final de um trajecto que se vinha desenhando há já algum tempo, mas ao qual ninguém pareceu querer dar demasiada importância. Enquanto o FC Porto era o único rival a dominar, tudo parecia ser aceitável. Agora que o Benfica parece ter finalmente acordado da sua dormência, a situação parece ter-se agravado consideravelmente. Sempre que tiverem dúvidas, vejam o Rubin Kazan ou o Dínamo de Kiev a jogar.

Sunday, November 1, 2009

A Liga dos Campeões

É indiscutível que as equipas britânicas pecam geralmente por uma manifesta falta de inteligência táctica, privando-as muitas vezes de títulos que, se estivéssemos a falar de patinagem artística, estariam garantidos devido a todos os restantes critérios. É óbvio ao espectador menos atento que os onzes ingleses e escoceses têm inúmeras dificuldades de cada vez que defrontam equipas da Europa continental.

Sim, é Espanha que tem as maiores estrelas - de Kaká a Ronaldo, de Xavi a Messi, de Casillas a Ibrahimovic. No entanto, depois de mais uma jornada da liga inglesa, continuo a chegar à mesma conclusão: trata-se da verdadeira liga dos campeões. É impossível deixar de admirar a galhardia com que os 22 jogadores se degladiam - creio ser este o melhor termo -, a garra que aplicam em todos os lances, estando o resultado a zero ou já a resvalar para uma das equipas, o respeito pelos árbitros, a qualidade e total ausência de vontade de protagonismo destes. Claro que há e haverá sempre picardias aqui e ali, mas, regra geral, as pancadas são bem aceites pelos jogadores, os tackles duros (muitas vezes a roçar a lealdade) não são encarados de forma agressiva e não parece haver nunca tendência para o "piscinismo" ou para forçar paragens de jogo para desenvolver as capacidades teatrais geradas por um qualquer sopro de um adversário.

Mesmo tendo noção de todos os defeitos das equipas que compõem o campeonato inglês, não consigo deixar de me deliciar sábado após sábado.

Um choque de titãs

O duelo que opôs os líderes da Liga Sagres no Estádio Axa, em Braga, fizeram por merecer o seu estatuto. Depois do empate desapontante na véspera do candidato FC Porto, Benfica e Sp. Braga deram uma bela imagem do que o campeonato português tem para oferecer: garra, luta, competitividade, qualidade táctica e intensidade - ao ponto de provocar duas expulsões ao intervalo, devido ao sururu à entrada para o túnel no final da primeira parte.

A equipa bracarense entrou mais determinada no jogo e, aos 7 minutos, encontrava-se já na frente graças não só a um excelente golo de Hugo Viana, que aparece neste Sp. Braga completamente renascido -, como especialmente pela sufocante pressão que a turma de Domingos Paciência exercia sobre a saída de bola dos encarnados, sempre necessitados de espaço para as suas incisivas transições ofensivas. Embora a equipa da Luz tenha conseguido equilibrar a contenda em algumas partes do encontro (marcando inclusivamente um golo aparentemente válido), os arsenalistas pareceram ter o jogo controlado, chegando por isso com alguma naturalidade ao segundo golo, aos 77 minutos, depois de um óptimo trabalho de Mateus no lado esquerdo, onde Fábio Coentrão teve imensas dificuldades, conforme se esperava, dada a sua inexperiência na posição de lateral-esquerdo.

Será muito interessante ver até onde este Sp. Braga poderá ir, depois de, em 9 jornadas, ter já vencido os três grandes. Creio que as lesões poderão desempenhar (ou não) um papel fundamental, pois, se a vertente física se mantiver intacta, a equipa da cidade dos arcebispos poderá ter a oportunidade de cometer uma façanha única na sua história.

Saturday, October 31, 2009

A diferença de uma liderança?


Há coisa de uma semana atrás, a Académica defrontou o FC Porto no Estádio do Dragão, tendo sido recentemente alvo de uma reestruturação do departamento técnico, com a saída de Rogério Gonçalves e a entrada de André Villas-Boas, até então olheiro principal do staff técnico de José Mourinho.

Com pouco mais de uma semana de trabalho, a equipa dos estudantes apresentou-se completamente transfigurada, finalmente com uma ideia de jogo e uma organização que, segundo ouvimos dizer à maior parte dos treinadores, demora muitas semanas - senão meses - a conseguir. O resultado poderá não ter sido o mais desejável para as aspirações conimbricences, mas a exibição terá por certo deixado mais aliviado os sempre fiéis da equipa da cidade do Mondego.

Terei curiosidade para ver como se comporta esta Académica perante adversários teoricamente mais acessíveis, mas foi surpreendente constatar a diferença que um conjunto de ideias bem definido pode fazer numa equipa - em qualquer equipa, a qualquer nível, note-se.

Friday, September 18, 2009

Olé!

Quem diria que um dos melhores guarda-redes do mundo não sabe jogar com os pés? Ao que parece, sabe mais do que o suficiente para fazer gato-sapato do sempre intratável Materazzi.



Obrigado, Nazir!

Thursday, September 17, 2009

Uma costela lusa

Depois do jogo de ontem que opôs Barcelona e Inter de Milão, foi possível constatar que o treinador português tem efectivamente uma costela lusa. Na verdade, desde o jogo entre Benfica e Setúbal que não via uma equipa tão acantonada na sua grande área e a ver a bola passar por todos os centímetros do relvado. Ver o Barcelona é um autêntico prazer para qualquer pessoa que tenha gosto (ainda que remoto) por futebol, fazendo parecer que jogar assim é fácil. Ainda que alguns possam catalogar o jogo da equipa catalã de romântico, a verdade é que só Ibrahimovic dispôs de várias oportunidades claras de golo, não esquecendo Messi (de cabeça) ou Dani Alves (o lateral-direito), a título de exemplo.

Todos quantos acompanham os mais recentes feitos deste Barça saberão que enfrentar esta equipa de peito aberto poderá ser suicídio, mas não creio que colocar todos os jogadores atrás da linha da bola e apostar nos lances longos para Eto'o e Milito seja a melhor solução. Continuo a crer que esta época tem tudo para ser muito melhor para os lados de Milão, mas o Barcelona continua a parecer-me a melhor equipa a nível europeu, neste momento.

Friday, September 4, 2009

Da ganância


O Chelsea foi ontem multado em 910 mil euros e condenado à proibição de inscrição de novos jogadores durantes os próximos 18 meses por ter aliciado Gael Kakuta, um jogador que, na altura, tinha menos de 16 anos - acto proibido de acordo com a regulamentação em vigor. Pessoalmente, esta decisão parece-me extremamente acertada, pois creio ser a única forma de impedir que os clubes de maiores dimensões arrebanhem os jovens mais promissores de outros clubes e países, sem grandes preocupações com o seu desenvolvimento enquanto pessoas ou enquadramento social, algo absolutamente necessário quando falamos de jogadores cuja formação (a todos os níveis) está longe de estar concluída.

Esta questão aborda também um lado comercial, de negócio: a FIFA, a UEFA, as federações e os governos não podem realçar constantemente a importância da formação no desporto (e no futebol em particular) e manter simultaneamente leis que favorecem a contratação quase sem despesas de jovens jogadores, fazendo com que os clubes deixem de promover a formação de desportistas por lhes verem ser subtraídos os seus melhores jogadores mediante uma compensação completamente desajustada. Desse modo, a formação deixa de ser uma aposta para passar a ser uma despesa. Porquê continuar a gastar dinheiro a formar jogadores quando se pode simplesmente ir buscar outros jogadores por bagatelas? De quantos mais exemplos de experiências falhadas deste tipo necessitarão os órgãos responsáveis? Quantos mais jovens com futuros comprometidos na vã esperança de serem o próximo Messi ou Ronaldo serão precisos?

Tuesday, September 1, 2009

Nas nuvens II



Quem também andará por certo nas nuvens serão os adeptos do Inter de Milão. Se a equipa treinada por José Mourinho já me parecia mais forte no papel, vê-la defrontar e aniquilar por completo o onze do recém-chegado Leonardo apenas serviu para constatar que os "nerazzurri" estão consideravelmente mais poderosos do que na época passada. Eto'o e Milito fazem o trabalho que Ibrahimovic nunca quis fazer (embora este tenha mais estilo e panache em tudo o que faça, como se sabe), o que permite à equipa de Mourinho jogar mais alto no terreno, fazendo uma pressão mais eficaz sobre o adversário e oferecendo mais alternativas - tanto ao ataque como ao meio-campo.

Sneijder é incomparavalmente melhor do que Stankovic no papel de 10 e Motta é um jogador útil (apesar de ser excessivamente propenso a lesões musculares). Se Mourinho conseguir manter o seu onze preferido em boas condições de saúde, o Inter será um forte candidato a vencer a Liga dos Campeões.

Nas nuvens

O Benfica alcançou ontem a maior goleada dos últimos 15 anos. Não haverá por certo nenhum adepto benfiquista que não se encontre neste momento nas nuvens. Com efeito, a turma da Luz conseguiu fazer algo em que revelava muitas dificuldades no ano passado: "matar" o jogo. Uma das pechas da equipa então treinada por Quique Flores passava precisamente pela falta de poder anular de vez adversários que apresentavam fragilidades evidentes, como ontem foi o caso do Vitória de Setúbal.

Não creio que esta vitória possa ser analisada à luz de um jogo normal, dado que a oposição se apresentou demasido exposta. Por outro lado, não é normal ver o onze do clube encarnado correr até não poder mais ao minuto '89, quando o resultado já mostrava uma vantagem de oito (!!) golos. Esta marca poderá ser um excelente tónico para os lados da Luz, especialmente porque é seguida de duas semanas sem campeonato nacional. Para aqueles que não puderam acompanhar o ritmo desenfreado dos golos, aqui fica um breve resumo.

Monday, August 31, 2009

Da organização


Depois de ver a primeira parte do Benfica-Vitória de Setúbal, não consigo deixar de pensar na desorganização que parece reinar no clube a todos os níveis. Na verdade, não há como não ficar espantado com o facto de o próprio treinador dos sadinos, Carlos Azenha, ter afirmado que, não obstante o clube ter 17 atletas em fim de contrato, não havia um único atleta referenciado pelo departamento de prospecção - particularmente difícil quando não existe um departamento de prospecção. Como consequência directa, Azenha organizou nas últimas largas semanas uma espécie de campo de férias para jogadores livres; na verdade, o número de atletas que foram treinar à experiência cifra-se algures entre as três e quatro dezenas. Como se pode pedir depois algum tipo de competitividade a uma equipa formada deste modo?

Por último, gostaria apenas de referir algo que continua a parecer-me óbvio: o Setúbal entrou no relvado do Estádio da Luz temeroso, organizado num 5-3-2, com vários jogadores fora das suas posições, sendo que Azenha parecia querer transmitir uma mensagem clara de defesa recuada, aparentemente sem qualquer ideia de contra-ataque. Continuo em crer que os jogadores de futebol se regem muito mais por mensagens óbvias, como o onze escalado, por exemplo. Não creio que tenha sido por acaso que os melhores resultados do FC Porto de Jesualdo Ferreira (cujas "invenções" já aqui tinha criticado anteriormente) começaram a surgir quando as invenções desapareceram. Ajustar a equipa em função do adversário, sim; perder a identidade parece-me sempre contraprodutivo.

Para inglês ver?

De quando em vez, tenho a sensação de que viver em Portugal se assemelha a uma importação barata de um mau filme de série B de uma qualquer cave de Hollywood. Não ultrapassando a esfera do futebol (porque não é este o intuito deste blogue), não posso deixar de expressar a minha incompreensão face a todos os Dragon Seats, Red Passes e Game Boxes que pululam por aí. Pasmo que o apelo dos departamentos de marketing e comunicação passe realmente por algo tão descaradamente desenxabido. Não padecendo de um qualquer enviesamento nacionalista, sinto-me perfeitamente à vontade para criticar esta descaracterização do futebol e, por conseguinte, do país.

Wednesday, August 26, 2009

Coerência?


À medida que vamos tentando conhecer um pouco mais sobre a arbitragem nacional, é-nos sempre transmitida a ideia de que os árbitros fazem um óptimo trabalho, que o público, jogadores, treinadores e dirigentes têm uma visão enviesada (o que é verdade, regra geral) e que a formação de que são alvo tem por base uma enorme consistência.

Depois da jornada deste fim-de-semana, continuo a ter a mesma dúvida: por que motivo continuam os responsáveis da arbitragem à espera de uniformizar de uma vez por todas os critérios das marcações de grandes penalidades por mão na bola para que não voltem a repetir-se situações idênticas com decisões diametralmente opostas? Os principais beneficiados seriam os árbitros.

Thursday, August 20, 2009

A bota e a perdigota


De tempos a tempos, vem a terreiro um dos principais responsáveis do futebol europeu e/ou mundial defender uma qualquer teoria sobre aspectos financeiros do futebol - dos tectos salariais às "loucuras" de algumas transferências, entre outros. Pessoalmente, creio que isto reflecte apenas uma total falta de coragem dos mesmos responsáveis em propor e aplicar efectivamente medidas reais e coerentes independentemente do nome dos clubes.

Hoje em dia, quase todos os clubes são socidedades anónimas desportivas. Creio que a questão não passará pela ingerência dos órgãos supervisores na gestão de cada um dos clubes, mas sim pela imposição de regras claras: clubes com dívidas não podem participar nas competições. Se assim fosse, os clubes chegariam por eles mesmos às suas próprias visões da realidade e seriam forçados a compreender as suas verdadeiras capacidades e a viver dentro das suas possibilidades.

Se assim não for, a caravana continuará a passar e a única coisa que se ouvirá serão os soundbytes de Messieurs Platini e Blatter.

Thursday, August 13, 2009

Um sprint a três?



"Mais uma voltinha, mais uma viagem." Este não é o lema do campeonato nacional, mas bem que podia ser. Com efeito, a principal competição futebolística de clubes tem início já amanhã, perfilando-se como favoritos os três candidatros tradicionais - desta feita, com um equilíbrio de forças aparentemente diferente.

Na verdade, o Benfica reforçou-se muito e supostamente bem. O presidente encarnado tentou mais uma vez resolver a falta de títulos atirando dinheiro para cima do problema. Não está em causa o valor dos jogadores benfiquistas, bem pelo contrário, mas sim saber até que ponto este projecto representa algo mais a médio prazo ou apenas e só, como tem sido apanágio, a tentativa deste ano.

Creio que Jesus poderá obter resultados incomparavelmente melhores do que Quique Flores, por vários motivos. Antes de mais, o treinador português conhece o futebol nacional como Quique não conhecia. Além do mais, a equipa encarnada chega a esta fase da época com uma ideia clara sobre o que tem de fazer nos diversos momentos de jogo (independentemente de os fazer bem ou mal), coisa que nem na última jornada o Benfica de Quique conseguiu. No lado inverso, o lado irascível de Jesus e os seus dotes de comunicação poderão criar-lhe alguns anticorpos, tanto dentro como fora do Estádio da Luz. Como principal defeito deste Benfica - até ver -, o mesmo de que padecia o Sporting de Braga na época passada: uma certa falta de flexibilidade táctica, particularmente quando os adversários sabem defender atrás, expondo em demasia a falta de velocidade dos centrais benfiquistas.

No que diz respeito ao Sporting, a versão deste ano parece-me ligeiramente mais fraca. A falta de dinheiro não permitiu o investimento "devido" (nas palavras do próprio presidente leonino) na equipa, subsistindo ainda todas as dúvidas sobre Miguel Veloso, Vukcevic, Postiga, entre outros. Na minha opinião, creio que o valor e a ausência de Derlei não foram devidamente avaliadas. O seu papel no balneário e a sua presença física e anímica faziam deste Sporting uma equipa muito mais aguerrida. Neste momento, os próprios adeptos não parecem crer efectivamente que o clube vá lutar pelo título, especialmente tendo em conta as contratações dos eternos rivais da Segunda Circular.

Quanto ao FC Porto, permanece quanto a mim uma incógnita. Jesualdo Ferreira terá vincados os seus créditos de forma definitiva no ano transacto, ao conseguir reconstruir com sucesso uma equipa repleta de jogadores novos (no bilhete de identidade e/ou no clube). Saber até que ponto conseguirá fazê-lo sem dois dos principais intervenientes dos últimos quatro anos - Lucho e Lisandro - é uma das grandes questões deste campeonato. Hulk deverá explodir em definitivo, mas Belluschi não é Lucho (para o melhor e para o pior) e não há nenhum avançado como Lisandro, o que implicará uma alteração significativa do processo de jogo portista.

Classificação final: FC Porto, Benfica, Sporting. Pessoalmente, não sei se o Benfica tem ainda a estaleca necessária para suportar as vicissitudes do campeonato e até que ponto Jesus se dará bem com todos os holofotes virados para ele. O Sporting deste ano parece-me demasiado fragilizado animicamente, embora tenha condições para se intrometer nas contas do título, naturalmente.

Regresso ao presente




Ao fim de várias semanas de silêncio, eis que a actividade (e a normalidade) regressa a este blogue. Numa tentativa de compensar o vazio dos últimos tempos, seguem-se algumas previsões acerca dos três principais campeonatos europeus: Inglaterra, Itália e Espanha. Começaremos pela coqueluche do momento - a liga espanhola - por lá se encontrar o (ainda) melhor jogador do mundo e o maior investimento numa equipa de futebol desde tempos imemoriais.




Real Madrid - O que dizer e esperar de uma equipa paga a peso de ouro com o (aparentemente) único objectivo de dominar o futebol a nível doméstico e europeu? Kaká e Ronaldo fazem sonhar a afición madridista como nunca, com promessas de futebol vistoso - e quem sabe a hipótese de ultrapassarem finalmente a barreira dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. No entanto, substistem inúmeras pontas soltas por resolver no plantel merengue, o que deverá levar a um balneário pouco coeso e um sem-fim de desvios de atenção sobre o que realmente importa. Qualquer coisa abaixo de campeões será visto como fracasso.

Barcelona - Em equipa que vence, não se mexe - já lá diz o ditado. No entanto, os catalães passaram quase toda a pré-temporada a tentar bulir no seu plantel, apesar do triplete, como que atemorizados com as investidas dos seus arqui-rivais. O único negócio que fizeram foi a troca de Ibrahimovic por Eto'o e 50 milhões de euros - num negócio que não me parece à partida favorecer especialmente a equipa da cidade condal.

Classificação: Creio que, apesar de todos os problemas por que o Real vai passar, a equipa da capital acabará por lograr o campeonato, especialmente porque a velocidade, o talento e a capacidade de trabalho de Eto'o vão ser difíceis de igualar e compensar.




Em Inglaterra, a época parece ter todos os condimentos necessários para ser disputada até ao limite. Se, por um lado, a equipa do Manchester United perdeu a sua figura de proa e "abono de família", o Chelsea viu-se reforçado com Carlo Ancelotti, o ex-treinador do Milan, e o Liverpool continua a sua caminhada estável (ainda que infrutífera em termos de títulos domésticos). Pessoalmente, vejo a revalidação do título do Manchester United particulamente difícil, visto que Michael Owen ainda é uma incógnita e Valencia poderá não explodir já na primeira época - pelo menos, ao nível de um Cristiano Ronaldo. Chelsea e Liverpool não mexeram muito nas suas equipas, preferindo evoluir na continuidade.

Classificação: Chelsea campeão, seguido de Manchester e Liverpool. A equipa da cidade dos Beatles perdeu Xabi Alonso, uma importante peça do meio-campo, continuando assim com algumas dificuldades em manter o elevado ritmo dos seus adversários.




Em Itália, a competição prevê-se extremamente renhida, particularmente entre Inter e Juventus. Com efeito, a vecchia signora reforçou o seu plantel e mudou de treinador (já no final da época passada), parecendo dar razão às vozes dos muitos adeptos que reclamavam por um futebol mais atractivo e com melhores resultados. Diego e Felipe Melo são apenas os dois rostos mais visíveis de uma equipa que terá este ano mais argumentos para se intrometer na luta pelo título. Quanto à equipa de Mourinho, creio que saiu reforçada deste defeso, particularmente com as contratações de Eto'o (o negócio da década, ao ser trocado por Ibrahimovic mais 50 milhões de euros) e Milito, um jogador discreto, mas muito útil. A equipa nerazzura passa a ter mais armas ofensivas e muito mais capacidade de trabalho. Aposto pessoalmente numa campanha europeia incomparavelmente melhor. No que diz respeito ao Milão, a época que se avizinha promete ser penosa. Sem Kaká, apenas com Pato e Pirlo, a equipa milanesa não parece capaz de lutar pelo título.

Classificação: Inter, Juventus, Milan. Apesar de ainda contar com alguns elementos com uma complicada relação idade/rendimento, a equipa de Mourinho e cª. parece ainda deter uma ligeira vantagem sobre a Juve. A ver vamos se essa vantagem é suficiente ou se o treinador da Juventus, Ciro Ferrara, consegue inverter o recente ciclo de vitórias do Inter.

Tuesday, May 19, 2009

Dúvida metódica

Antever-se-á um final feliz quando o actual treinador de um clube (a quem já foram feitas as malas) vence sem apelo nem agravo o seu presumível sucessor?

Quando o dinheiro não é tudo


Há pouco menos de um ano, os três grandes fizeram questão de anuncar um investimento reforçado nas respectivas equipas futebolísticas, alegadamente devido ao facto de o campeonato da época 2008/09 apenas consagrar o acesso directo à Liga dos Campeões ao vencedor do campeonato nacional. Contudo, apenas Sporting e FC Porto lograram fazer boas campanhas tanto a nível doméstico como internacional (não obstante o atropelamento do Sporting pelo Bayern Munique).

Pelo contrário, os encarnados apostaram forte numa época que devia devolver o clube aos títulos e lugares de destaque em consonância com a sua história. Com efeito, a época finda com o Benfica a limitar-se a confirmar o terceiro lugar - precisamente frente a um dos seus adversários directos.

Como é possível ver pela interessante análise do site MaisFutebol, o mais recente percurso do Benfica aponta para um distanciamento gradual do primeiro lugar, antes ficando mais próximo da quarta posição.

Ao invés, parece-me justo realçar o excelente desempenho de Braga e Nacional, equipas que efectuaram investimentos significativamente inferiores, mas que parecem ter uma visão estratégica a médio/longo prazo mais abrangente e frutífera.

Creio que o melhor exemplo do que acaba de ser dito passa pela valorização que ambos os clubes conseguem fazer dos seus treinadores e jogadores, ao contrário do clube da Luz, de onde os seus activos saem muitas das vezes pela porta pequena.

Continuo a defeder que ao Benfica falta um desenvolvimento sustentado e sustentável, alicerçado num projecto cuidadosamente concebido, que contemple uma visão a médio prazo, visão que não seja posteriormente posta em causa ao mais ligeiro contratempo. Os resultados não nos dizem toda a verdade. É necessário saber interpretar o caminho que se trilhou para chegar até lá. Só assim se eliminam defeitos e aprimoram qualidades.

Thursday, May 14, 2009

Mais um ano à deriva


"Mais uma voltinha, mais uma viagem." Pois bem, somos novamente chegados a Maio e já se ouve falar há algum tempo de contratações para os lados do Estádio da Luz. Porque estes eventos nunca surgem isolados, a vinda de novos jogadores é quase sempre acompanhada do sururu à volta do novo treinador dos encarnados, uma vez que o actual não cumpriu mais uma vez os objectivos. Na verdade, este texto está a ser escrito hoje, mas podia muito bem ter sido escrito em cada um dos últimos 15 anos, período durante o qual o maior clube português contou com 17 treinadores, tendo sido campeão por duas vezes.

Esperei que Rui Costa conseguisse trazer algum bom senso à nação benfiquista, convencendo o seu presidente e restantes dirigentes de que nem sempre o melhor caminho para o sucesso é fazer tabula rasa do ano que finda - especialmente com a época ainda a decorrer. Infelizmente, não foi o caso. O Benfica irá previsivelmente proceder mais uma vez a uma revolução no balneário, servindo novamente de porta giratória e parecendo ter uma invulgar característica: a de não aprender com os próprios erros. Se olhar para Norte custa tanto ao seu presidente, pois que olhe para o outro lado da Segunda Circular, onde se trabalha com mais seriedade, rigor e noção de continuidade. Caso contrário, o presente do Benfica tenderá a perpetuar-se.

Quando uma boa decisão se transforma num erro


Serei o primeiro a afirmar que o sucesso de um treinador de futebol não se mede apenas em títulos. No entanto, enquanto via na passada semana a equipa de Arsène Wenger a ser mais uma vez eliminada sem apelo nem agravo às mãos do Manchester United, não consegui deixar de me interrogar sobre os critérios de avaliação do trabalho de um treinador. Sim, o mister francês granjeou uma reputação de descobrir jovens talentos, mas a equipa londrina parece sempre um onze desgarrado, ainda e sempre sem maturidade táctica e mental para vingar nos momentos decisivos. Onde pára o dedo do treinador? Quando é que este Arsenal deixa de ser uma equipa em constante evolução - especialmente quando está longe de estar coarctada em termos orçamentais?

Um peso pesado


Será coincidência que a melhor série de resultados (e de exibições, acrescento eu) do Sporting tenha coincidido com a lesão de Rochemback? Com o brasileiro de fora, a equipa leonina conseguiu melhorar a marcação defensiva e alcançar uma maior variedade em termos de passe e movimentação. Será apenas coincidência?

O duplo pivô

As últimas semanas têm sido férteis em acontecimentos a todos os níveis. Num dos últimos fins-de-semana, tive oportunidade de encher a barriga de futebol e poder voltar a escrever com mais alguma propriedade. Foi assim que me deparei com o aparente falhanço daquilo a que os espanhóis chamam “doble pivot”, que, na prática, mais não é do que a colocação de dois jogadores à frente da defesa vocacionados para tarefas ofensivas e defensivas.

Com efeito, tanto Real Madrid como Benfica demonstraram a enorme falibilidade deste sistema. Responder-me-ão os mais conhecedores que não são os sistemas que decidem os jogos, antes as suas dinâmicas. Estou inteiramente de acordo. Defendo apenas que há sistemas mais eficazes e de fácil compreensão para os dias que correm. É preciso não esquecer que os tempos ditam algumas tendências no que diz respeito a tácticas, tácticas essas que são mais facilmente apreendidas pelos jogadores a curto prazo.

No que diz respeito ao Benfica, por exemplo, continuo a sustentar que o modelo de jogo de Quique Flores poderá vir a vingar (quanto mais não seja por contar com melhores valores individuais), mas continuo sem ver uma exibição consistente e refinada por parte dos encarnados. O sistema e as movimentações poderão até estar bem delineados, mas algo na mensagem do treinador espanhol parece não estar a chegar aos destinatários. Depois de quase uma época a ver o Benfica jogar, os movimentos dos seus jogadores parecem-me sempre muito mais circunstanciais do que fruto de uma rotina pensada e burilada.

Quanto ao Real Madrid, cometeu o (enorme) pecado de – à boa maneira espanhola – tentar combater o adversário olhos nos olhos. Com o Barça inspirado, esse poderá ser um erro fatal, como acabou por se revelar. Na verdade, ao ver o Real Madrid, pareceu-me estar na presença de uma equipa (inglesa) de há décadas atrás. Diarra e Gago no centro do terreno, incumbidos de fazer frente às inúmeras investidas do Barcelona por essa zona do campo, deixando Higuaín, Raúl e Robben plantados lá na frente. Se, nos dias que correm, já é quase impensável ver jogadores que não participem em todas as fases do jogo, arriscar isso contra este Barça é por certo o caminho para o fracasso, desenganem-se os mais recentes detractores do Chelsea. Mesmo tendo chegado primeiro à vantagem, a equipa madrilena continuou a jogar em cima, não optando por se resguardar, tendo a situação piorado a olhos vistos quando se lançaram aparentemente à toa para cima do adversário quando deram por si atrás no marcador.

Em resumo, porque o texto já vai longo, creio que o duplo pivô tem algumas falhas intrínsecas, como, por exemplo, o enorme espaço entre linhas – tanto na horizontal como na vertical – que subsiste entre os sectores da equipa. Por outro lado, parece-me também importante destacar o facto de este sistema deixar implícita uma reduzida organização e solidariedade ao nível da tarefa, ao deixar um grande número de acções para o mesmo grupo de jogadores.

Thursday, April 9, 2009

O clímax de uma época

O FC Porto fez na passada terça-feira uma das suas melhores exibições de sempre na Europa. É justo prestar uma homenagem a Jesualdo Ferreira - não só pelo jogo contra o Manchester United, mas, acima de tudo, pelo período que distou entre a sua contratação e o dia de hoje.

Na verdade, o jogo em Manchester foi para mim o apogeu de uma linha cronológica que começou quando Jesualdo foi contratado para colmatar a vaga deixada em aberto pelo errático Co Adriaanse. Pegando numa equipa que não tinha sido montada à sua imagem, o treinador portista foi capaz de ser campeão nessa época, não logrando convencer a tradicionalmente exigente massa associativa portista. Na época seguinte, mais do mesmo, incluindo exibições muito pouco convincentes frente a adversário do mesmo gabarito, excepção feita à exibição produzida na Luz a seguir a mais uma derrota europeia.

No entanto, foi neste ano - depois de perder Quaresma, Bosingwa e Paulo Assunção - que Jesualdo mostrou os seus verdadeiros dotes, quanto a mim. Ao ver-se forçado a reconstruir uma equipa (por muito que alguns jogadores importantes tenham ficado, a forma de jogar de equipa teve de ser radicalmente alterada, o que muda muitos processos) e a contornar o constante apagamento de Lucho González, o treinador azul e branco mostrou a sua verdadeira fibra e terá, digo eu, convencido de vez os adeptos portistas. Ser capaz de, em pouco tempo, passar da equipa frágil e sem identidade que perdeu contra Leixões e Dínamo de Kiev em poucos dias (não esquecendo a copiosa derrota contra o Arsenal) para a equipa que mostrou aos excessivamente confiantes adeptos ingleses que também se pode jogar bom futebol fora da sua ilha não está ao alcance de muitos. Pelo facto, tiro o meu chapéu.

Gostaria no entanto de fazer uma pequena ressalva. Não obstante todos os méritos apontados a Jesualdo, continuo firme nas minhas convicções (que creio serem validadas pelas mais recentes exibições dos dragões) segundo as quais o melhor caminho para o sucesso passa por uma identificação clara dos nossos objectivos e não nos encolhermos perante nomes teoricamente mais sonantes, como o técnico portista fez não raras vezes frente a clubes mais cotados. Talvez o maior mérito de Jesualdo seja o facto de ter conseguido aprender com os seus próprios erros. Acima de tudo, interessa sermos melhores hoje do que éramos ontem. Esse é para mim o principal indicador de sucesso.

A tradição ainda é o que é

O Boavista FC emitiu anteontem um comunicado onde apontava o dedo a várias instituições devido à eventual preferência dada por várias árbitros à Oliveirense, equipa envolvida na luta pela fuga à despromoção, à imagem do Boavista.

Qualquer consideração que pudesse ter por Álvaro Braga Júnior, presidente do Boavista, desvanceceu-se depois de ler o comunicado em questão. Como tantas e tantas vezes acontece, os presidentes dos clubes refugiam-se em todas as desculpas mais ou (regra geral) menos plausíveis para escamotearem a falta de algumas virtudes. Triste, acima de tudo.

Thursday, April 2, 2009

Onde reside a força?

Numa declaração proferida esta semana, Carlo Ancelotti, treinador do AC Milan, afirmou algo que reflecte a minha opinião pessoal. Segundo o técnico transalpino, o Liverpool é a equipa mais difícil de defrontar. Ancelotti admitiu que o Manchester United era mais forte, mas que era uma equipa que deixava jogar o adversário, ao contrário dos de Liverpool, que defendem muito bem e têm um contra-ataque quase perfeito, nas palavras do técnico rossonero.

Esta afirmação vem de encontro à minha perspectiva sobre o sorteio da Liga dos Campeões, pois creio que, apesar de o Manchester United ser um adversário temível, tem algumas características que poderão vir a revelar-se favoráveis ao FC Porto ao longo da eliminatória. De todas as equipas presentes no sorteio dos quartos-de-final, o Liverpool parecia-me a mais problemática - por defender muito bem e por apostar num tipo de jogo frequentemente semelhante ao que o FC Porto irá previsivelmente adoptar nesta eliminatória.

O estado da nação


Por vias da minha actividade profissional, dei por mim na semana passada a visitar algumas fábricas de uma região portuguesa aparentemente em crise. Confesso que, ao início, a minha apreensão era grande - receava que o choque de realidades fosse demasiado abrupto. No entanto, a única coisa que posso fazer é tecer os mais rasgados elogios aos gerentes e administradores das empresas - que parecem continuar a conseguir fazer milagres, descobrindo constantemente nichos de mercado - e, acima de tudo, aos funcionários dessas empresas, por continuarem a dar o litro, por preferirem trabalhar a viver à custa dos muitos subsídios que por aí há, por não virarem a cara aos momentos difíceis.

Mas o que tem isto a ver com futebol? Na minha opinião, tudo. Foi revigorante ver empresas com mais de 800 funcionários a operarem na perfeição, com todo o respeito pelos direitos dos trabalhadores. Foi estranhamente inesperado entrevistar colaboradores das mais variadas empresas e constatar que o respeito que a administração possa ter ou não por essas pessoas continua a ser tão ou mais importante do que o salário ao final do mês (embora todos nós gostássemos de ganhar mais dinheiro, naturalmente). Mas, acima de tudo - no que diz respeito a este blogue, pelo menos -, foi um óptimo alimento para a alma verificar que é possível ter as contas controladas, saber onde param os activos, quanto se pode gastar no período fiscal seguinte ou onde estão os possíveis nichos de mercado do futuro.

A única coisa que me vinha à mente era sempre idêntica: porque é que é tão difícil fazer isto no futebol? Por que razão continuamos a fazer vista grossa a tantas evidências de que algo está mal? Quantas mais greves como as do Estrela da Amadora ou do Vitória de Setúbal teremos de ver até nos capacitarmos que temos mesmo de inverter a situação?

"Mea culpa"


Há muitos motivos pelos quais admiro o trabalho de José Mourinho, actual treinador do Inter de Milão. Aprecio a sua capacidade de trabalho, de análise da sua equipa e do adversário, de contínua sistematização das suas ideias no treino e no jogo e de conseguir retirar rendimento de jogadores que, à primeira vista, pareciam estar fadados para o insucesso. Aprendi a vê-lo colocar jogadores medianos a render o que nunca tinham rendido até então e nunca mais renderam desde esse momento (o caso de Joe Cole ou Marco Ferreira vem-me imediatamente à memória).

No entanto, há uma outra parte de Mourinho que me cativa: a sua frontalidade em algumas ocasiões. Numa entrevista realizada ontem num canal televisivo italiano, o treinador português não teve qualquer problema em admitir que a contratação de Quaresma não só tinha sido um erro, como admitiu também tratar-se de um erro seu. Não conheço muitos treinadores que não se refugiem na diplomacia das respostas-tipo a este tipo de questões, mesmo depois de se retirarem do activo. Mourinho não teve papas na língua e assumiu uma má contratação (e dispendiosa) feita pelo clube no qual ainda se encontra.

Na minha opinião, são pequenas atitudes como estas que vão aproximando os adeptos das equipas de Mourinho dos jogadores. Mourinho podia ter contornado a questão ou atirado a responsabilidade para um qualquer infortúnio do destino. Ao invés, assumiu a sua culpa, mostrando aos adeptos interistas que não só é capaz de errar, como também de reconhecer os seus próprios erros. Qualquer adepto ficaria contente por ver o seu treinador fazer um mea culpa por uma contratação cara falhada, não?

A lei da simulação


Lisandro López foi ontem castigado com um jogo por ter originado o penalty que viria a dar o golo do FC Porto no recente derby que opôs FC Porto e Benfica. Já ouvi hoje inúmeras vozes levantarem-se contra a decisão pelos mais diversos motivos - desde logo, perguntando se esta terá sido o único caso desta estirpe nos últimos dois anos desde que o actual regulamente foi aprovado. Não obstante as eventuais questões que possam levantar-se à volta da decisão, creio que terá sido dado um bom passo. Esperemos que, daqui para a frente, quem pretenda simular faltas hesite antes de o fazer. Todos nós que gostamos de futebol teríamos a ganhar.

Como praticante, reconheço que é quase sempre necessária uma boa dose de matreirice. No entanto, traço uma distinção clara entre ser mais inteligente do que o adversário e levá-lo a cometer falta e fingir ser tocado para daí tirar vantagem. Colocando a questão em termos práticos: saber posicionarmo-nos para provocar a falta ao adversário é sinal de inteligência e boa leitura de jogo. Mergulhar sem qualquer acção do oponente é faltar à verdade desportiva.

O único comentário adicional que gostaria de tecer é tão só e apenas: mantenha-se a consistência e haja coragem para continuar a tomar estas decisões.

PS: Não obstante tudo o que escrevi atrás, creio que os órgãos disciplinares da Liga poderão vir a deparar-se com um problema, pois haverá agora muito mais vozes atentas a possíveis simulações e que bradarão igual tratamento. A ver vamos se não se abrirá mais uma caixa de Pandora na arbitragem portuguesa.

Tuesday, March 10, 2009

Como perpetuar um mito

Uma das frases repetidas até à exaustão ao longo dos últimos anos é a crescente importância dos lances de bola parada. Hoje em dia, é quase impossível ver e ouvir um jogo na televisão ou no rádio e não ouvir um comentador referir o carácter decisivo deste tipo de jogadas.

Na verdade, a análise estatística dos mais recentes eventos desportivos (três últimas edições da Liga dos Campeões e o mais recente Campeonato Europeu de Futebol), patente nos Relatórios Técnicos disponibilizados pela UEFA a quem pretender analisá-los, remete-nos para outro tipo de conclusões, indicando que a preponderância destes lances tem vindo a diminuir progressivamente. Na verdade, no último Europeu, por exemplo, verificou-se que apenas 1 em cada 64 destas jogadas terminava em golo, o que remete para um baixo índice de eficácia e reduzida probabilidade de golo.

Se, até há algum tempo, se constatava de facto que as bolas paradas decidiam muitas vezes jogos - especialmente por muitas das equipas não estarem alertas para esse facto -, hoje em dia, a maior parte das equipas opta por defender à zona e com uma densa ocupação do espaço em frente à sua baliza, impedindo muitas das vezes as movimentações necessárias para a marcação de um golo.

Ao invés, o que os mais recentes números nos dizem é que uma grande fatia dos golos marcados surgem de rápidas transições ofensivas, seja através da recuperação da bola em zonas adiantadas do campo (por conseguinte, com menor número de defensores pela frente) ou por intermédio de contra-ataques de dois/três toques.

Podemos portanto inferir que, neste momento, que a capacidade de uma equipa mudar rapidamente a sua atitude entre os momentos ofensivos e defensivos se revela cada vez mais decisiva. O futebol caminha aos poucos para uma maior rapidez - não só atlética, mas, acima de tudo, de processos de decisão.

Friday, March 6, 2009

Nós no século XX(I)


Carlos Queiroz, o seleccionador nacional, deu ontem uma interessante e reveladora entrevista num dos canais da TV Cabo. Não fazia a mínima ideia de que o treinador da selecção iria lá estar (não tenho por hábito ver programas de televisão que falem sobre futebol por motivos óbvios), mas fiquei completamente colado ao ecrã, pois estava lá, para além de Queiroz, Luís Freitas Lobo (e João Pinto, para ser totalmente verdadeiro).

A meio do programa, dei por mim a pensar que tinha voltado ao passado. Comecei a ouvir argumentos que já outros tinham ouvido noutros lados. Voltáramos à questão dos naturalizados, com Liedson à cabeça, mas ainda mal refeitos do trauma de Deco e Pepe. Infelizmente, tenho ouvido de muitos treinadores e jogadores de top - o que os responsabiliza ainda mais face à opinião pública - que os naturalizados não deveriam jogar na selecção. Afinal de contas, não eram verdadeiros portugueses, como nós. Creio que não terá faltado muito para ouvirmos a expressão "portugueses de segunda".

Que mentalidade retrógada vem a ser esta? Todos os jogadores que jogam neste momento pela selecção cumprem todos os requisitos previstos na lei para poderem ser considerados portugueses. Não creio que a lei indique que haja maior ou menor nível de portugalidade. Onde está essa linha? É o Bilhete de Identidade? É o nome? Faz mais sentido ter na selecção jogadores como Manuel da Costa, por exemplo, incapaz de dizer duas palavras em português e que conhece o país pelas três visitas que cá fez quando era rapaz? Quem somos nós para dizer que um jogador como Liedson, a título de exemplo, não se sente português? Um homem que vive e trabalha neste país há praticamente seis anos, onde tem a sua família (ou parte dela) e onde criou raízes?

Este comportamento, infelizmente típico em nós, vem sempre escamoteado de alguma forma. No caso de ontem, a questão era o futuro do futebol de formação português. A questão está completamente posta de pernas para o ar: se Liedson se naturalizar e mostrar que quer representar a selecção, não estará automaticamente apto a fazê-lo. Terá, como todos os outros, de mostrar que merece lá estar, independentemente do seu local de nascimento ou residência. A isto Queiroz respondeu de forma simples, mas muito inteligente: virando-se para João Pinto, disse "Sabem como é que vão conseguir ultrapassar o problema dos estrangeiros? Jogando melhor do que eles, sendo melhores do que eles."

São estes comportamentos, sempre enevoados por algum argumento mais ou menos intelectual, que fazem com que racismo e xenofobia perdurem. Poderíamos discutir os critérios da lei - se deveriam ser mais apertados ou específicos -, mas dizer que a quem opta por ser português não é permitido sê-lo de pleno direito parece-me desonesto e imoral. Quando isto acontece num país de gerações de emigrantes...

Monday, March 2, 2009

O futebol

Tive há pouco tempo um professor que dizia que, em Portugal (e no geral), se falava pouco de futebol. Abordavam-se polémicas, cartões, árbitros, penalties, foras-de-jogo, entre muitos outros, mas raramente se discutia qual era o sentido da substituição x, do onze y ou da estratégia z. Ouvi as suas palavras e concordei de imediato, mas acho que só nos últimos tempos consigo ter melhor a noção do que ouvi naquela aula, ao ouvir os pensamentos de um grupo bastante mais alargado de adeptos (?) do desporto-rei. Já não se trata de serem adeptos resultadistas, adjectivo geralmente reservado aos treinadores de forma pejorativa - como se quase todos os treinadores não fossem resultadistas, como se houvesse algo mais a reger o mundo do futebol. Não, já não se trata disso. Trata-se de descortinar as grandes conspirações por trás do penalty não assinalado, do fora-de-jogo que não foi, mas podia ter sido.

Depois do último derby que opôs FC Porto e Sporting, constatei que, de facto, pouco se falou de futebol. Todos os comentadores se apressaram a dizer o quão enfadonho foi o jogo, como constituiu mais um motivo para as pessoas não irem ver jogos. Não seria mais fácil ajudar as pessoas a compreenderem a riqueza do jogo? Não seria mais fácil fazer com que os telespectadores, leitores ou ouvintes tivessem uma melhor noção do que aconteceu durante o jogo? De que forma as equipas se anularam? Que armas utilizaram? Porque é que não se viu Lucho ou João Moutinho? As equipas adoptaram movimentações semelhantes? Quanto mais vou conhecendo, mais acredito que se discutem penalties, foras-de-jogo e faltas por ignorância, pelo facto de a maior parte dos comentadores não desempenhar as suas funções da forma que me parece correcta, ajudando à compreensão do jogo. E assim, continuaremos durante muito tempo a falar do sexo dos anjos.

A ruptura na continuidade

Na minha perspectiva, um dos maiores desafios (seja em que parte da nossa vida for) consiste em conseguir promover uma mudança no decurso normal do dia-a-dia. Num clube de futebol - ou numa empresa -, creio que essa mudança é ainda mais difícil, pois estamos inseridos numa teia de relações socioprofissionais que, não raramente, nos desmotiva ou nos leva para sítios para onde não desejávamos ir.

Vem isto a propósito da continuidade ou não de Paulo Bento e Jesualdo Ferreira à frente de Sporting e FC Porto, respectivamente. Começando pelo técnico sportinguista, parece-me que a qualidade do seu trabalho é inatacável. O clube leonino conseguiu transformar as eternas promessas de títulos (as esperanças dos adeptos sportinguistas eram já quase lendárias) em vitórias efectivas. Custa-me compreender alguns adeptos verde e brancos quando dizem que Paulo Bento deveria sair por já não ter condições de continuar a desempenhar a sua função. Mas que condições são essas? Tem vitórias a mais? Joga quase sempre para ganhar? Não promove o futebol ofensivo de que os adeptos do clube de Alvalade tanto gostam e que tantas vezes lhes trouxe dissabores? Se tivermos em consideração o facto de o orçamento do Sporting ser aproximadamente um terço do de FC Porto e Benfica, o esforço do técnico deveria sair reforçado, na minha opinião. Não obstante o resultado da primeira mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, o trabalho desenvolvido tem sido progressivamente melhor. Há maus resultados pelo caminho? Claro que sim, mas nenhum treinador está livre de os ter. O que importa é perceber o que se aprende com esses contratempos.

E é precisamente na questão dos obstáculos que surgem a meio do caminho que o tema da continuidade de Jesualdo entronca no de Paulo Bento. Se é verdade que não fui um dos principais entustiastas do técnico portista, não é menos verdade que me parecia uma solução bem mais adequada para o cargo do que o seu predecessor (Co Adriaanse). No entanto, Jesualdo tem-me surpreendido pela positiva ao mostrar ser capaz de aprender com os erros (os resultados e, principalmente, as exibições do FC Porto nos jogos grandes dos dois primeiros anos são estranhamente confrangedores) e, durante o processo, manter a equipa num nível mais do que aceitável, apesar da perda de jogadores como Quaresma, Paulo Assunção, Bosingwa, Pepe ou Anderson. Apesar do constante movimento da porta giratória de entradas e saídas do Dragão, a equipa portista tem conseguido equilibrar a embarcação, tropeçando aqui e ali, é certo, mas parecendo sempre ter um rumo definido. E ter um rumo (mesmo que errado) é para mim bem mais relevante do que não ter rumo nenhum.

PS: Escrevo este texto antes de qualquer uma das equipas ter ganho ou perdido qualquer título, porque acho que o trabalho tem de ser avaliado não só mediante os resultados, mas, acima de tudo, pelo ponto de partida e de chegada. Como tal, defenderei a minha posição mesmo que um dos treinadores (ou ambos) não vença qualquer troféu.

Tuesday, February 10, 2009

Uma questão de bom senso


Tenho algumas dificuldades em entender algumas coisas no futebol português, começando desde já pela arbitragem. Ao que parece, são os próprios árbitros e seus representantes que dão constantemente tiros nos pés, optando por sacrificar quem dá o corpo às balas, em nome das aparências, ao que parece.

Começando pelo início, como é bom de ver, a questão remete para a arbitragem de Pedro Proença no clássico que opôs FC Porto a Benfica. Na minha opinião, foi um óptimo derby, bem disputado, sem picardias nem violência de qualquer tipo, "rasgadinho" (como se costuma dizer), mas honesto. Proença contribuiu, e muito, a meu ver, para esse jogo, não entrando no modo Lucílio Baptista (apitando todos os contactos, para que não haja jogadas rápidas que possam comprometer seja o que for) e não abusando dos cartões, antes optando pela via pedagógica. Por outras palavras, permitiu que o jogo rolasse à sua velocidade normal, não precisou de distribuir sanções disciplinares para controlar o jogo (como tantos fazem), mas teve dois pequenos pecados - não marcou um penalty (real) sobre Lucho González e apontou para a marca dos onze metros castigando uma falta (fictícia) de Yebda sobre Lisandro.

Se houvesse um mínimo de honestidade, creio que não seria muito difícil ver quão difícil foi o trabalho do árbitro nesses dois lances, com particular incidência para o segundo, que é o verdadeiro tópico de discussão. Yebda foi o único jogador do Benfica convencido de que não era penalty. Os restantes jogadores viraram as costas num acto de conformidade, vendo-se inclusivamente Katsouranis a dar um raspanete ao seu companheiro pela (aparente) falta escusada.

Solução dos responsáveis máximos da arbitragem? Colocar Pedro Proença na jarra, como de costume. Há uma divisão clara entre erros de palmatória e erros que só são cometidos por quem tem de apitar naquele momento, sem recurso a mais nada. Seria de mais pedir a estes responsáveis que soubessem ver esta diferença? Seria de mais pedir-lhes para colocarem Proença a jogar na próxima jornada, fazendo passar aos clubes a mensagem de que os erros não são todos iguais e que uma boa arbitragem terá sempre erros? Não faz sentido mandar um jogador para o banco por falhar um golo de baliza aberta... Se eu fosse árbitro, já não o seria ou nunca o teria sido.

PS: Da mesma forma que há sumaríssimos, não seria possível castigar um jogador que arranca um penalty ou um cartão amarelo ao adversário por simulação? Se Lisandro fosse castigado, por exemplo, os avançados não pensariam duas vezes da próxima vez que se mergulhassem?

A história de uma vaca


Carlos Queiroz, seleccionador nacional, abordou ontem a questão da convocatória de alguns jogadores menos conhecidos, mudando desde já o hábito que se vinha instalando de singela colocação da lista de convocados na Internet sem mais adendas. Para além disso, mudou também outros hábitos, como, por exemplo, o de justificar alguns convocados ou até de falar do futuro da selecção a longo prazo, ou ainda de sacrificar algumas "vacas sagradas", como Bosingwa ou Quim. O seleccionador comparou ainda a selecção a uma vaca, que, se não for alimentada e cuidada, deixará de dar leite a médio prazo, deixando implícita a justificação de uma renovação da selecção nacional.

Não querendo de todo crucificar Scolari (para tal, ver texto mais abaixo), creio que Queiroz veio no momento certo. Poderemos discutir noutro lado se o ex-treinador adjunto do Manchester United é a pessoa certa para treinar a selecção nacional, dadas as suas características e perfil pessoais, mas não tenho grandes dúvidas em afirmar que Queiroz veio trazer uma lufada de ar fresco a algumas gavetas que estavam fechadas há demasiado tempo.

Parece que, finalmente, os amigáveis podem ser utilizados para experimentar outros jogadores que não apenas o núcleo duro. Ao que parece, os jogadores que não cumpram os mínimos que Queiroz julga razoáveis deixam de ser chamados. Parece também que não é preciso jogar em determinados clubes ou campeonatos para se ser chamado. Parece ainda que ser jovem e ter potencial não é necessariamente uma condição para não jogar nas equipas de Scolari.

Bem sei que muitos dirão que não é assim que se cria um grupo, uma verdadeira família. Mas quem disse que era essa a forma certa de fazer uma selecção? Não deveria o responsável máximo das selecções ter uma preocupação a longo prazo com o futuro das várias equipas nacionais? Será difícil estabelecer a co-relação entre os feitos de Scolari e o desaparecimento da selecção nacional de todas as competições de formação? Qual foi o contributo do treinador brasileiro para o desenvolvimento da modalidade em Portugal? Sim, trouxe as bandeiras e os cachecóis e um amor à selecção como nunca antes se vira (excepto o Euro '96), mas isso por si só é suficiente? Quem devemos responsabilizar pela asfixia das camadas jovens das nossas selecções que haverão de nos representar daqui a alguns anos? Onde estão os substitutos de Figo, Rui Costa, Baía ou Fernando Couto?

O Sargentão


Luiz Felipe Scolari foi ontem despedido do Chelsea, como todos saberão. Pessoalmente, apenas posso dizer que a minha única surpresa foi tal ter demorado tanto a acontecer. Estou certo (já ouvi muitos comentários nesse sentido) de que se ouvirão durante os próximos dias muitas pessoas da nossa esfera pública e privada dizer que Felipão se adequa mais às selecções nacionais do que a clubes, entre muitas outras coisas. Para mim, constato que, quanto mais aprendo sobre futebol, mais acho que é muito fácil distinguir entre quem trabalha bem e quem não o faz. Não se trata de ganhar títulos ou não, mas sim de projectar o futuro com base nas informações que se tem à mão.

Big Phil não conseguiu dar-se bem no Chelsea. Pergunto apenas em que clube é que conseguirá ser bem sucedido, uma vez que o clube londrino oferece as melhores condições e alguns dos melhores jogadores do mundo. Os bons treinadores não se distinguem entre treinadores de selecções ou de clubes, entre campeonatos de Itália ou de Espanha. Capello, Rijkaard, Mourinho e , por exemplo, são treinadores que já mostraram serviço em vários clubes, com várias realidades. As equipas de Scolari sempre mostraram falta de soluções (ofensivas e defensivas), bem mascaradas com o querer e vontade que tantas pessoas lhe reconhecem. No entanto, há um dado curioso levantado há algum tempo por um jornalista do MaisFutebol: nunca o treinador brasileiro conseguiu vencer um título num país não católico. Curioso, no mínimo.

Não querendo contestar o mérito que por certo terá tido nos resultados de que tantos abrem mão, não querendo analisar o resto da questão, não posso negar que tenho uma enorme curiosidade para ver os próximos passos de Scolari. Para já, como já o tinha referido aqui aquando da sua ida para o Chelsea, a minha análise confirma-se. Se me enganar, também estarei cá para o reconhecer.

Tuesday, February 3, 2009

"A festa do futebol"

Ouvi tantas e tantas vezes esta expressão, que, aos poucos, fui-me alheando da mesma. Já não conseguia entusiasmar-me mais com os comentadores que a atiravam a eito, muitas vezes sem que disso houvesse reflexo no que estavam a reportar. No entanto, é impossível não sentir uma alegria de alguma forma contagiante quando se utilizam as palavras "Mantorras" e "Futebol". Não sei ao certo o que aconteceu ao jogador angolano que o impediu de mostrar tudo o que tinha em si, mas, ao fim de tantos anos da sua via crucis, Pedro Mantorras continua a dar alegrias aos benfiquistas - mesmo que seja apenas por se levantar do banco para aquecer.

Todos nós vamos de uma forma ou de outra aos estádios à procura de algo que sublime as nossas tendências, que represente aquilo que gostaríamos que a nossa vida fosse - mais artística, mais batalhadora, mais resiliente. Uma outra parte de nós não consegue deixar de sentir uma certa empatia pelos protagonistas de contos de fadas ou de histórias de azar, como é o caso do 9 encarnado. Como tal, estou certo de que houve muitos adeptos de outras cores que não deixaram de sorrir quando viram Mantorras fazer aquilo que os diversos avançados do Benfica não conseguiram fazer em muito mais tempo em campo, numa simplicidade extrema, como se não fosse difícil.

Basta atentar nos sorrisos abertos dos adeptos benfiquistas, como se o resultado tivesse de repente deixado de ser o mais importante de uma partida de futebol...

Thursday, January 29, 2009

A nota da semana


Tendo crescido e sido criado em Paranhos e com uma boa parte da minha família intimimamente ligada à história do Salgueiros, não pude deixar de sentir uma certa nostalgia ao ver o velho clube outrora de Vidal Pinheiro voltar à ribalta do futebol. Com outro nome e noutras divisões, é certo, mas com brio e sempre com a sua fiel legião de seguidores. Na verdade, o Salgueiros tem tido uma média de espectadores na ordem dos dois milhares, algo de que muitos clubes da primeira Liga nem sequer se aproximam.

No último Domingo, dois históricos da cidade do Porto encontraram-se no Estádio do Bessa, promovendo uma festa a que os cameponatos distritais raramente têm acesso, provando que há clubes, como o Salgueiros ou o Leixões, que têm uma mística para a qual é muito difícil encontrar explicação. Pela minha parte, apenas posso desejar que um clube tão querido e apoiado como o Salgueiros recupere rapidamente o seu lugar entre os grandes, mas sem se esquecer de evitar os erros que quase lhe custaram a ruína.

Um jogo de bandeja


Tantas e tantas vezes ouvimos falar mal do futebol que se pratica pelo nosso burgo, que, por vezes, é-nos difícil constatar que estamos perante um bom jogo de futebol quando se nos depara. Passamos tanto tempo a ser bombardeados com as "polémicas" das arbitragens, que nos esquecemos daquilo a que o futebol se resume verdadeiramente. Pois bem, o jogo de ontem foi um presente caído dos céus. Com transmissão em sinal aberto, num campo em óptimas condições, defrontaram-se duas equipas que apenas quiseram disputar o jogo pelo jogo, expressão típica que tenciona descrever um encontro em que duas equipas não estão interessadas em quezílizas estapafúrdias ou picardias com tudo o que encontrarem pela frente.

Eu faço parte dos tolos que, quando não podem ver os jogos em directo, os visionam ao final da noite, para poder apreciar todos os desenvolvimentos do jogo. Com sorte, consigo até não saber o resultado, o que só aumenta o suspense. Cansado como estava, o mais provável seria adormecer, mas foi-me impossível dormir ao ver uma equipa como o Leixões, com um orçamento reduzido, sem grandes opções defensivas, assumir o jogo no Dragão como se de um gigante europeu se tratasse.

Quanto mais vou percebendo de futebol, mais admiro José Mota, um técnico algo áspero na primeira impressão, mas que percebe de futebol como poucos em Portugal, particularmente no âmbito das equipas mais pequenas. Ver os matosinhenses pressionar alto, assumir as despesas ofensivas do jogo, não se intimidarem por se encontrarem a perder aos cinco minutos encheu-me de esperança; afinal, é possível praticar um futebol positivo, por mais limitados que sejam os recursos. Com mais treinadores e jogos assim, os estádios voltariam a encher-se - disso não tenho a mínima dúvida.

Tuesday, January 27, 2009

Um sonho

E se dirigentes, jogadores e treinadores que falassem dos árbitros antes ou depois dos jogos fossem castigados? Do que se falaria durante a semana...?

A acção do líder


À imagem de muitos adeptos do futebol, sempre fui um admirador confesso de Mourinho. Não me revejo em algumas das suas atitudes para com o jogo, mas reconheço que o seu percurso tem sido de facto muito particular. No entanto, não posso deixar de reconhecer que a sua passagem pelo Inter está a ser tudo menos pacífica, especialmente porque os adeptos deste clube estavam habituados não só a vencer (são actualmente tricampeões de Itália), como a vencer com alguma souplesse.

Ora, hoje por hoje, a equipa de Mourinho está longe de convencer seja quem for e, aparentemente, o seu modelo de jogo parece estar desadequado em relação aos seus jogadores, mas especialmente em relação aos seus adeptos. Foi estranho ouvir os assobios da massa associativa nerazzura no último Domingo ao constatar que a sua equipa não foi capaz de fazer uma jogada com pés e cabeça até ao minuto 42. Creio que a prova mais fiel sobre como o plantel parece não saber onde está foi o acto irreflectido de Mourinho que lhe valeu a expulsão. E quando os jogadores vêem o treinador perder a cabeça assim tão facilmente, o mais provável é que lhe sigam o exemplo.

Tuesday, January 20, 2009

Taças e Calendários


A taça da discórdia, também conhecida como Taça da Liga, tem conhecido algumas opiniões mais ou menos inflamadas relativamente à sua reduzida utilidade e aproveitamento. Têm-se ouvido inúmeras opiniões sobre a sua diminuta pertinência e sobre a indiferença com que alguns clubes a recompensam (nomeadamente o FC Porto). Pessoalmente, creio que haverá alguns pontos acertados, mas diria que, no geral, a Taça da Liga pode vir a tornar-se uma competição interessante.

Em primeiro lugar, é mais um troféu. Ou seja, é mais um título para os treinadores conquistarem e taparem com isso algumas das lacunas das suas equipas (Paulo Bento gabou-se incessantemente sobre o feito de chegar à final da Taça da Liga, no ano passado, por exemplo). Em segundo lugar, é mais uma oportunidade para as equipas ditas pequenas poderem chegar um pouco mais longe e dar nas vistas. Terceiro, é uma competição que vem ajudar a preencher o espartano calendário competitivo português e que vem permitir que os chamados "grandes" possam rodar jogadores e ir introduzindo paulatinamente os jovens das camadas de formação.

Admito sem problemas que há pontos negativos na Taça da Liga. Ninguém sabe em que moldes se realiza, não há horários minimamente estáveis (inacreditável a forma como jogos decisivos para o mesmo grupo não se realizam à mesma hora) e os frutos que se podem retirar daí são relativamente diminutos. Pessoalmente, creio que interessará reorganizar a calendarização da prova e oferecer ao seu vencedor, por exemplo, um lugar na Taça UEFA, o que abriria por certo o apetite de quase todas as equipas.

Gostaria apenas de deixar uma nota relativamente à calendarização da época. Sempre que o campeonato parece estar finalmente pronto a arrancar, há uma interrupção - seja para a Taça de Portugal, para a Taça da Liga, para a Selecção Nacional ou outra coisa qualquer. Compreendo com muita dificuldade esta aniquilação do carácter competitivo do principal campeonato português, no qual somos chegados à ultima jornada da primeira volta quase sem dar por ela, uma vez que quatro jornadas seguidas é coisa que ainda não existiu. A minha questão é a seguinte: os dirigentes do futebol português acham mesmo que as nossas equipas estão sobrecarregadas e que não podem fazer dois jogos por semana?

Ovos e omoletes



O Inter sofreu às mãos do Atalanta a maior e mais humilhante derrota da época, num duelo que por certo terá deixado os adeptos portistas em particular atónitos, uma vez que o onze do treinador de maior sucesso do clube azul e branco foi copiosamente batido pela equipa de Luigi del Neri, treinador conhecido pelo despedimento sumário de que foi alvo no Dragão e pelos sucessivos falhanços que foi coleccionando ao longo da sua carreira.

No entanto, a questão não se limita à derrota em si. Todas as equipas têm dias maus, jornadas em que nada do que o treinador faça ou peça parece funcionar. Domingo foi um desses dias para a equipa do Inter. No entanto, o problema parece-me mais abrangente e estrutural. Mourinho foi contratado para substituir Mancini, um treinador que tinha vencido os últimos três campeonatos (em circunstâncias muito particulares, mas das quais já ninguém se lembra), mas que não conseguia alcançar o mesmo sucesso na Liga dos Campeões. Ou seja, Mourinho está obrigado a vencer o campeonato, o que nunca é fácil, em Itália, e a fazer melhor figura do que Mancini na Liga dos Campeões. Ora, dado que o sorteio ditou o embate entre Inter e Manchester, há uma forte possibilidade de Mourinho sair pela mesma porta por que o treinador italiano tantas vezes saiu - os oitvaos-de-final.

Mourinho não quis entrar no Inter como a maior parte dos treinadores, pedindo revoluções de balneário e contratações milionárias. Pediu apenas Mancini (o extremo brasileiro ex-Roma), Quaresma (vá-se lá saber porquê, mas quem sou eu para contestar Il Speciale?) e Deco ou Lampard. Infelizmente para Mourinho, nenhum destes dois optou por ingressar na equipa nerazzurra, o que deixou Mourinho com vários problemas.

A primeira questão começa logo na defesa. Maicon é dono e senhor da lateral-direita, empurrando o decano capitão Zanetti para outras funções. No entanto, não há propriamente titulares indiscutíveis no resto da defesa. Burdisso parece fora do seu ambiente (ver jogo contra o Panathinaikos, por exemplo), Materazzi é uma opção irregular, Samuel prometeu muito, mas nunca chegou a cumprir, Chivu parece ter mais cinco anos do que tem na realidade, Córdoba é um bom defesa, mas tens uns meros 173 cm e Maxwell é esforçado, mas não mais do que isso.

Contudo, é no meio-campo que reside o principal problema. Mourinho conta com Cambiasso e Zanetti, dois mouros de trabalho, mas conta também com Vieira e Dacourt (dois médios completamente ultrapassados), Stankovic, Muntari e o próprio Zanetti (qualquer um deles longe de conseguir pegar no jogo, apesar da combatividade de todos eles) e um Figo que, quando joga, tem por hábito pegar no jogo, para tentar dar a Mourinho aquilo de que este tanto gosta: o domínio dos tempos de jogo.

Ou seja, o técnico português tem à sua disposição um plantel débil, repleto de lacunas e de jogadores que se julgam muito melhores do que são devido aos salários inflaccionados, envelhecido e pouco moldável - características que Mourinho nunca cunhou nas suas equipas. Devido às elevadíssimas exigências em relação ao seu trabalho e às opções (insuficientes) de que dispõe, o Special One está mais perto do que nunca de desiludir todos aqueles que pensavam que ter Mourinho na equipa era garantia de sucesso a todos os níveis.

PS: É muito estranho ver uma equipa de Mourinho completamente à deriva, a sofrer golos constantemente, aparentemente desorganizada e sem alguém que pense o jogo. Quem quiser pode ver aqui um breve resumo do Atalanta-Inter:

Tuesday, January 13, 2009

O silêncio após o ruído


Incomoda-me imenso que as pessoas apenas pareçam saber reclamar do azar e nunca reconheçam quando a sorte lhes toca com a mesma ênfase. Vem a isto a propósito (neste caso, embora destaque desde já que os restantes treinadores e dirigentes tendem a fazer o mesmo) do último Benfica-Braga, onde a exibição do árbitro foi tão má, que até foi possível ver um ou outro benfiquista mais ferrenho assumi-lo em praça pública. Não me interessa honestamente quem foi beneficiado ou prejudicado. Interessa-me, isso sim, que ainda há não muito tempo a arbitragem do Benfica-Nacional parecia um caso de polícia, ao passo que, agora, ninguém do clube da Luz vem referir as prementes reformas do sector da arbitragem que urge fazer, etc, etc. Infelizmente, quase todos os responsáveis do futebol acabam por fazer o mesmo. Felizmente, nem todos nós somos crédulos ao ponto de não ver nessas palavras e atitudes uma mera tentativa de esconder defeitos próprios.

Acertar em tudo


No passado Domingo, FC Porto e Trofense empataram a zero no Dragão. Mais uma vez, os pupilos de Jesualdo voltaram a falhar onde menos era costume. No entanto, ao contrário de muitos jogos desta época, em que os azuis e brancos não conseguiram simplesmente rubricar uma exibição convincente, os dragões foram capazes neste jogo de criar inúmeras oportunidades, tendo acertado em tudo o que mexia à frente da baliza, incluindo a linha de golo. Se quiserem ver pelos vossos próprios olhos o que a ansiedade é capaz de fazer, vejam a última jogada do jogo aqui.

No entanto, gostaria apenas de referir um ponto. Ouvi mais uma vez em pouco tempo os intervenientes do lado do FC Porto mencionarem que poderiam estar ali a noite toda, que a bola não entraria. Por mais que saiba que isso acontece num ou noutro jogo, não deixa de ser estranho quando começa a acontecer em vários seguidos. E os dragões já não marcam no seu estádio há 210 minutos. Todos nós temos azar, mais cedo ou mais tarde, mas, quando começamos a queixar-nos do azar repetidamente, começa a soar a desculpa de mau pagador...

Para quem quiser ver o chorrilho de oportunidades desperdiçadas:

O país dos pinos


Depois de ver o Sporting-Marítimo, percebi como a Liga portuguesa se resume em traços muito gerais a uma equipa de treinos, apenas. Percebi também por que razão somos sujeitos não raras vezes ao futebol agora chamado "resultadista" (como se houvesse outro). Na verdade, no último Sábado, o Sporting foi capaz de adormecer o ritmo do jogo e pôr-se a jeito de sofrer um dissabor que o Marítimo nunca soube aproveitar. Para os jogadores verde-rubros, havia sempre mais uma finta, mais um movimento, algo mais a fazer - havia sempre mais um pino para contornar, tal como nos treinos. Sempre. Assim, em vez de criarem perigo, não foram sequer capazes de fazer um remate enquadrado na baliza para aquecer o pobre guardião do Sporting.
Com equipas assim, porque não pensar em retirar as balizas?

Monday, January 5, 2009

Um olhar pelo estrangeiro

Tive oportunidade de assistir este fim-de-semana a um curioso programa de televisão num canal que, em boa verdade, nem sei bem qual era nem qual o seu propósito. Interessa para aqui, isso sim, que pude presenciar durante uns quinze a vinte minutos o dia-a-dia da gestão de um clube da elite europeia - o Ajax. Estranhamente, tanto treinadores como dirigentes não pareciam importar-se minimamente de serem perseguidos por câmaras e microfones enquanto tomavam as decisões do seu dia-a-dia.

Muito mais estranho, contudo, era o modo como se tomavam decisões naquele clube na época de 1997-2000. As decisões de prolongar contratos ou não eram tomadas numa breve reunião onde se discutiam inúmeras outras coisas, as combinações de resultados que permitiram que o Ajax entrasse ou não na Liga dos Campeões eram discutidas no túnel de acesso do campo onde se iria realizar o último jogo, as palavras e acções de treinadores e jogadores da equipa principal pareciam retiradas de um filme surreal onde ninguém sabia muito bem o que estava ali a fazer, entre muitas outras pérolas que permitiram confirmar que o mundo do futebol continua extremamente desorganizado e uma tertúlia muito pouco profissionalizada de círculos fechados.

Deixo-vos apenas como exemplo a imagem (ainda que mental) de um Jan Wouters - à altura treinador da equipa, sem qualquer ideia sobre o que fazer nem qualquer tipo de controlo sobre a sua equipa - como treinador de uma das principais equipas da Europa, com uma carreira com menos de três curtos anos sem qualquer feito digno de registo, a ser despedido em pleno jogo de centenário do clube, ao passo que os dirigentes apenas pareciam saber querer despedi-lo, mas sem noção de quem viria a seguir ou com que perfil.

Para aqueles de nós que acham que tudo o que se faz de mal tende a concentrar-se em Portugal, seria bom deitar uma vista de olhos.

Da derrota do Benfica

Gostaria de fazer aqui um pequeno parêntesis para abordar o actual momento do Benfica. Antes de mais, a vertente física. Onde está a propalada forma física encarnada, sendo que nenhum jogador parece capaz de aguentar uma série com mais de três jogos e os que conseguem ostentam tão má forma? Bem sei que, segundo Mourinho e restantes discípulos, não existe forma física per se, mas apenas englobada no seu todo, mas o trabalho de Pako Ayesterman não está a dar os frutos necessários, parece-me.

Quanto à questão táctica, talvez ainda não tenha à minha disposição todos os dados para poder fazer uma avaliação mais justa, mas Quique Flores parece-me não ter compreendido ainda que não parece ter esquema para os jogadores que tem. Mais, parece-me não ter adversários para os adversários que vai encontrar. Com efeito, continuo a ser da opinião que o sistema que Quique trabalha de forma privilegiada continua a ter um enorme defeito: o organizador de jogo continua a ser um dos dois membros centrais do meio-campo (geralmente, Yebda ou Carlos Martins). Dessa forma, a equipa parece ficar sempre desequilibrada quando perde a bola, por mais que Ruben Amorim tente compensar essas ausências, uma vez que Reyes raramente defende (Di María ainda menos), Aimar está algures lá na frente, Binya parece completamente alienado nesta equipa (reforço o que já aqui tinha dito no lançamento desta época) quase encostado a Suazo, e Carlos Martins é Carlos Martins, sempre capaz do melhor e do pior, com inteligência táctica insuficiente para cumprir um papel tão importante e suceptível de falhas, na minha opinião. E equipas mais pequenas (especialmente a jogar em casa) ansiosas por aproveitar esse espaço não faltam.

2009 já chegou...

... e o futebol não mudou. Excepção feita à rima de má qualidade (involuntária, mas necessária), o futebol trouxe aquilo que sempre conhecemos até aqui: a famosa passagem de besta a bestial em menos de um fósforo. De um lado, João Eusébio, o agora ex-treinador do Rio Ave, que não resistiu à derrota em casa contra o Vitória de Guimarães. Na verdade, continuo sem compreender bem os dirigentes que despedem treinadores desta forma, aparentemente sem qualquer razão de ser. Tomando em consideração as limitações e objectivos do clube vilacondense, quais são ao certo os pecadilhos do treinador? Jogar de forma pouco atractiva? Sofrer até atingir a manutenção no principal campeonato português?

Um pouco mais abaixo, Quique Flores, vítima de apupos (juntamente com alguns jogadores, especialmente o eterno Binya). Na verdade, creio que Quique está neste momento a ser refém de si próprio. Mais concretamente, parece-me que o treinador benfiquista está a ser julgado à luz da ilusão que os adeptos benfiquistas já tinham criado de que dobrar o Natal em primeiro equivaleria a chegar em primeiro em Maio. Afinal, as dificuldades e a remodelação de que todos os dirigentes da Luz falavam eram apenas para desviar as atenções dos adversários... Ou seja, o aparente sucesso da equipa (embora pouco suportado por exibições convincentes) elevou Quique aos píncaros, apenas para lhe ser tirado o tapete quinze meros dias depois.