Na minha perspectiva, um dos maiores desafios (seja em que parte da nossa vida for) consiste em conseguir promover uma mudança no decurso normal do dia-a-dia. Num clube de futebol - ou numa empresa -, creio que essa mudança é ainda mais difícil, pois estamos inseridos numa teia de relações socioprofissionais que, não raramente, nos desmotiva ou nos leva para sítios para onde não desejávamos ir.
Vem isto a propósito da continuidade ou não de Paulo Bento e Jesualdo Ferreira à frente de Sporting e FC Porto, respectivamente. Começando pelo técnico sportinguista, parece-me que a qualidade do seu trabalho é inatacável. O clube leonino conseguiu transformar as eternas promessas de títulos (as esperanças dos adeptos sportinguistas eram já quase lendárias) em vitórias efectivas. Custa-me compreender alguns adeptos verde e brancos quando dizem que Paulo Bento deveria sair por já não ter condições de continuar a desempenhar a sua função. Mas que condições são essas? Tem vitórias a mais? Joga quase sempre para ganhar? Não promove o futebol ofensivo de que os adeptos do clube de Alvalade tanto gostam e que tantas vezes lhes trouxe dissabores? Se tivermos em consideração o facto de o orçamento do Sporting ser aproximadamente um terço do de FC Porto e Benfica, o esforço do técnico deveria sair reforçado, na minha opinião. Não obstante o resultado da primeira mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, o trabalho desenvolvido tem sido progressivamente melhor. Há maus resultados pelo caminho? Claro que sim, mas nenhum treinador está livre de os ter. O que importa é perceber o que se aprende com esses contratempos.
E é precisamente na questão dos obstáculos que surgem a meio do caminho que o tema da continuidade de Jesualdo entronca no de Paulo Bento. Se é verdade que não fui um dos principais entustiastas do técnico portista, não é menos verdade que me parecia uma solução bem mais adequada para o cargo do que o seu predecessor (Co Adriaanse). No entanto, Jesualdo tem-me surpreendido pela positiva ao mostrar ser capaz de aprender com os erros (os resultados e, principalmente, as exibições do FC Porto nos jogos grandes dos dois primeiros anos são estranhamente confrangedores) e, durante o processo, manter a equipa num nível mais do que aceitável, apesar da perda de jogadores como Quaresma, Paulo Assunção, Bosingwa, Pepe ou Anderson. Apesar do constante movimento da porta giratória de entradas e saídas do Dragão, a equipa portista tem conseguido equilibrar a embarcação, tropeçando aqui e ali, é certo, mas parecendo sempre ter um rumo definido. E ter um rumo (mesmo que errado) é para mim bem mais relevante do que não ter rumo nenhum.
PS: Escrevo este texto antes de qualquer uma das equipas ter ganho ou perdido qualquer título, porque acho que o trabalho tem de ser avaliado não só mediante os resultados, mas, acima de tudo, pelo ponto de partida e de chegada. Como tal, defenderei a minha posição mesmo que um dos treinadores (ou ambos) não vença qualquer troféu.
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