Tive há pouco tempo um professor que dizia que, em Portugal (e no geral), se falava pouco de futebol. Abordavam-se polémicas, cartões, árbitros, penalties, foras-de-jogo, entre muitos outros, mas raramente se discutia qual era o sentido da substituição x, do onze y ou da estratégia z. Ouvi as suas palavras e concordei de imediato, mas acho que só nos últimos tempos consigo ter melhor a noção do que ouvi naquela aula, ao ouvir os pensamentos de um grupo bastante mais alargado de adeptos (?) do desporto-rei. Já não se trata de serem adeptos resultadistas, adjectivo geralmente reservado aos treinadores de forma pejorativa - como se quase todos os treinadores não fossem resultadistas, como se houvesse algo mais a reger o mundo do futebol. Não, já não se trata disso. Trata-se de descortinar as grandes conspirações por trás do penalty não assinalado, do fora-de-jogo que não foi, mas podia ter sido.
Depois do último derby que opôs FC Porto e Sporting, constatei que, de facto, pouco se falou de futebol. Todos os comentadores se apressaram a dizer o quão enfadonho foi o jogo, como constituiu mais um motivo para as pessoas não irem ver jogos. Não seria mais fácil ajudar as pessoas a compreenderem a riqueza do jogo? Não seria mais fácil fazer com que os telespectadores, leitores ou ouvintes tivessem uma melhor noção do que aconteceu durante o jogo? De que forma as equipas se anularam? Que armas utilizaram? Porque é que não se viu Lucho ou João Moutinho? As equipas adoptaram movimentações semelhantes? Quanto mais vou conhecendo, mais acredito que se discutem penalties, foras-de-jogo e faltas por ignorância, pelo facto de a maior parte dos comentadores não desempenhar as suas funções da forma que me parece correcta, ajudando à compreensão do jogo. E assim, continuaremos durante muito tempo a falar do sexo dos anjos.
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