Dou início a este artigo parafraseando um antigo treinador do FC Porto, alguém que, entretanto, foi coleccionado uma ou outra mão-cheia de títulos. Dizia esse líder que não entendia a forma física isoladamente, mas sim num contexto que integrava a forma física, técnica, táctica e psicológica. Se me debruço sobre este antes da análise do jogo propriamente dita, é pelo simples facto de muitos de nós terem colocado em causa desde há vários meses os métodos e resultados da preparação física ministrada pela equipa técnica. Aparentemente, o desgaste físico é irrisório mesmo quando se faz uma longa viagem de regresso e se joga um encontro importante para o campeonato - desde que se ganhe, claro está.
Aproveitando o embalo da partida de Donetsk, Vítor Pereira optou por manter exactamente o mesmo onze, incluindo Maicon a lateral-direito, mas desta feita com uma diferença: em vez de jogar a par de Fernando, como na Ucrânia, Moutinho jogava no seu lugar habitual, mais próximo de Defour. Por seu turno, o Sporting de Braga parecia querer mostrar desde logo que ia ao Dragão disputar o jogo olhos nos olhos, com Mérida atrás de Lima, com Alan e Paulo César nas alas.
Os primeiros minutos da partida confirmaram que a estratégia de Donetsk não tinha sido um caso isolado. Com efeito, o treinador portista parece ter aprendido a lição e a pressão alta - estouvada e aleatória - parece definitivamente afastada. Pelo contrário, os dragões jogavam num bloco mais baixo, preferindo aproveitar as costas do meio-campo bracarense. Com os seus movimentos interiores, Djalma e James causavam uma superioridade numérica no centro do terreno, uma vez que tanto Alan como Paulo César se mostravam renitentes em acompanharem os seus adversários directos. Com isso e com um Defour particularmente dinâmico na abertura de linhas de passe e movimentações sem bola, as alas ofensivas abriam-se repetidamente (em especial para Álvaro Pereira, como seria de esperar), fornecendo bons indícios.
O Sporting de Braga tentou opor a esta atitude portista um veneno semelhante, com Hugo Viana e particularmente Quim a não terem receio de dirigirem passes longos para Lima, com tendência para descair para as alas. No entanto, com a equipa menos subida, o timing da pressão azul e branca foi incomparavelmente melhor do que os últimos jogos e a defesa raramente foi apanhada em contrapé, uma vez que os médios estavam sempre mais próximos - Fernando, como sempre, foi inultrapassável.
Graças em boa parte a essa segurança defensiva, as transições ofensivas mostravam-se muito mais perigosas, uma vez que a equipa não corria o risco de se partir. Com Hulk no meio, notavam-se ainda algumas lacunas no brasileiro, resultantes da falta de rotina da posição, nomeadamente em lances de contra-ataque, em que o apoio frontal é tão fundamental como saber o momento certo para libertar a bola.
À medida que os minutos iam passando, a equipa minhota foi começando a perder alguma compostura defensiva, perdendo os momentos para introduzir a transição, dada a maior certeza no momento defensivo. Assim, ainda que não havendo grandes lances de perigo a demonstrá-lo, o FC Porto mantinha-se sempre por cima do encontro e foi sem surpresa que chegou ao primeiro golo - um belo movimento ofensivo, com Defour a arrancar para trás e a confundir marcações com a sua penetração, libertando para James para este cruzar para a cabeça de Hulk a régua e esquadro. Corria o minuto 36.
A segunda parte trouxe um dragão mais cauteloso e um Sporting de Braga algo perdido em relação ao que pretendia do jogo, proporcionando uma fase mais incaracterística até aos 63', altura em que Djalma e Defour deram lugar a Cristián Rodríguez e Souza, respectivamente. O público nas bancadas pareceu não gostar da intenção de Vítor Pereira de fechar o castelo a sete chaves e os minutos seguintes pareceram comprovar que os jogadores também não. Com a saída de Defour, os portistas dispuseram-se num 4x2x3x1, com Moutinho nas costas de Hulk, o que, na modesta opinião deste cronista, poderia ter sido um erro mais complicado do que acabou por vir a ser - Souza é consideravelmente mais lento do que Moutinho na pressão sobre a bola e na ocupação de espaços e Moutinho nunca será um 10. Dessa forma, a equipa não só passou a ter mais dificuldades a defender, como não conseguia encontrar a saída de pressão que Defour oferecia até então.
Pouco depois, o Braga demonstrava querer o empate, pelo menos. Hugo Viana viu o seu perigoso remate prensado aos 68' (depois de uma má transição ofensiva) e Alan permitiu uma bela defesa a Helton com um grande remate. Adivinhavam.se momentos enervantes, com as bancadas já inquietas. Contudo, Leonardo Jardim cometeu o pecado de retirar o equilibrador Djamal, deixando Hugo Viana sozinho na zona do meio-campo. Ora, foi precisamente essa área que viria a ser fundamental para o segundo golo portista, no minuto imediatamente a seguir. Na única vez que Moutinho conseguiu abrir espaços mais à frente, tabelou com Hulk, que beneficiou da ausência de pressão de Djamal (Viana ainda vinha em recuperação), flectiu para o meio e marcou um grande golo.
O jogo parecia resolvido quando Kléber, que tinha entrado para o lugar de James, encostou para o terceiro, depois de mais uma arrancada de Hulk pela direita. A equipa visitante estava absolutamente partida e o terceiro golo permitiu que a equipa entrasse em descompressão, aparentemente mais interessada em comungar da festa com o público. Assim, o penalty cometido por Hulk aos 87' parecia nada mais do que um fait-divers, mas a apatia colectiva permitiu ainda o bis de Lima aos 91', proporcionando dois minutos finais de algum nervosismo - sem necessidade alguma, note-se.
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