Sunday, January 16, 2011

O corte epistemológico

Quando éramos miúdos, o meu pai recorria frequentemente a uma explicação sempre que nos depáravamos com algo que não nos queria explicar naquele momento: o corte epistemológico. Na altura, essas duas palavrinhas tiravam-me do sério. Hoje, ao ver o jogo entre Liverpool e Everton, dei por mim a pensar nessa tão habitual expressão. Durante as várias épocas em que Raúl Meireles esteve no FC Porto, habituámo-nos a ver um jogador atreito ao cansaço, quase roçando o rótulo de frágil. Como tal, continuo a não conseguir evitar ficar surpreendido ao vê-lo na Premier League, a jogar de três em três dias, com uma frescura física invejável e com uma intensidade que ninguém, creio, lhe adivinhava.

É verdade que perdeu em algumas facetas do seu jogo; com a maior intensidade, a sua eficácia de passe sofre, como seria de esperar, naturalmente. No entanto, parece hoje em dia muito mais adaptado às exigências do futebol moderno, em vez de parecer ter sido atingido por um relâmpago, como acontecia tantas e tantas vezes quando o FC Porto defrontava equipas de outra estaleca ao nível europeu.

Deixo mais abaixo um mapa representativo dos seus passes (certos e falhados), onde julgo ser possível ver a sua elasticidade de movimentos, mantendo ainda a capacidade de marcar golos.










 by Guardian Chalkboards

3 comments:

Anonymous said...

Todas estas análises são engraçadas e trazem algum benefício ao futebol. De qualquer modo será que não vão influenciar negativamente o jogo, tornando-o "científico", sem margem para a iniciativa individual, que fazem algumas jogadas serem belas?

MMP said...

o anónimo sou eu. Só por nabice não me identifiquei

Vasco Mota Pereira said...

Não concordo muito com o que dizes, confesso. O futebol continuará sempre a ser aleatório, na minha perspectiva. Acho é que poderemos analisar pontos fortes e fracos da nossa equipa e do adversário. Os rasgos individuais podem resolver um problema, claro, mas nunca serão uma solução estrutural para os dois problemas fundamentais: como marcar e não sofrer.