Scolari é o novo treinador do Chelsea. A notícia foi veiculada pelo site do próprio clube inglês ontem à noite e apanhou uns quantos de surpresa, entre os quais me incluo. Gostaria de dividir a questão em duas partes: razoabilidade da escolha de Abramovich e timing.
Pessoalmente, estou muito curioso em ver o que Scolari é capaz de fazer num clube de topo, com elevadas exigências e uma atenção mediática quase sem par. Se Scolari se zanga com os brandos jornalistas portugueses por lhe colocarem questões que não aprecia, creio que é capaz de os valorizar de outra forma quando conhecer os célebres paparazzi britânicos, especialmente se ele reagir com o seu habitual feitio irascível. Para além do mais, a cultura do futebol britânico poderá coincidir com a sua em termos de futebol guerreiro, mas lembremo-nos que Mourinho foi despedido por "oferecer pouco espectáculo". A fasquia para Scolari estará mais alta do que nunca (Abramovich despediu Mourinho e, alguns meses volvidos, o seu sucessor que levou o clube a lutar pelo título até à última jornada e à final da Liga dos Campeões) e todos os olhos estarão atentos. A ver...
Por outro lado, temos a questão do momento (in)oportuno do comunicado. O técnico brasileiro fez questão de dizer que só tratava do seu futuro depois do Europeu, entre muitas outras coisas, e o anúncio surge antes da ponta final de uma competição muito importante para os portugueses por todos os motivos. Creio que Scolari se pôs a jeito de ouvir as críticas (a menos que vença o Europeu) vindas de todos os quadrantes. Não quero com isto dizer que Scolari não devesse ter agido em favor dos seus interesses, bem pelo contrário, mas creio que pecou imenso pelo timing. Com que moral poderá pedir a Cristiano Ronaldo que não fale do Real ou a outros jogadores que se concentrem na selecção? Por mais que afirme já ter informado os jogadores, os líderes vêem-se muito mais pelo exemplo do que pelas palavras...
1 comment:
De sargentão a sargentinho: crónica dum fiasco anunciado
O Sargentão já ganhou muita coisa: duas Libertadores, um campeonato brasileiro, vários estaduais, um Mundial, outras taças com nome que nem os argentinos que levam 15 anos a cheirar se lembram (Concacafs ou algo assim). Não vou meter a medalha de prata de 2004 nem a de lata de 2006 porque ainda não sou redactor da Bola para considerar derrotas como parte integrante do currículo. Ganhou várias coisas, é certo. No entanto, o melhor contributo de Scolari para o futebol (em geral) foi ter conseguido tirar do dicionário a palavra Ryad. De repente, os feitos juvenis de bons rapazes deixaram de ter um valor transcendental e voltaram para o sítio que lhes é de direito: paredes dos cafés de Avintes ou mesmo no bar do Jorge Costa. Deixou-se de falar nisso e no JVP, que Deus o tenha. Com Scolari começou-se a falar e a acreditar coisas de verdade, em jogadores lançados, em vitórias e em títulos. E por lá perto andou.
Por outro lado, Scolari cometeu inúmeros erros. No Brasil toda a gente se lembra da célebre ordem dirigida aos seus jogadores (“Quebra ele”), gravada pelos sempre discretos microfones da Globo. Edílson (lembram-se?) acabou rapidamente no chão, quebrado, mas feliz e com um sorriso na cara, como bom malandro. Scolari, gaúcho furioso e mauzão, de cara fechada era a imagem do mau perder. Outros erros de Scolari? A gramática, o Ricardo e o espalhafato da sua ida para Inglaterra.
E aqui entramos no que realmente interessa: o Europeu.
Por cá (terra em que acaba de chegar Deco para resolver “assuntos pessoais”), noutro dia apostei com um espanhol convencido (eta povo chato e cego, quando se mete selecção no meio!) que Portugal arrumaria nos quartos, seja lá contra quem fosse, com um gol de canto. Mantenho a aposta. Se alguém quiser meter dinheiro, é só avisar. (E já agora, tenho uma vontade de apostar na Itália na final).
No entanto, passadas duas jornadas, nunca pensei que chegaria ao ponto de dizer que o calcanhar de Aquiles de Portugal não se chamasse Ricardo.
Mas sim o próprio Sargento. Aquele que de certa forma fez esquecer as glórias do Otto (também brasileiro, gordo e com nome de cão), será sem sombra de dúvida o responsável do fiasco. Scolari sairá pela porta pequena, quando tinha tudo para sair nos braços da galera, será criticado, quando tinha tudo para receber uma estátua que o mitificasse (na Luz, por exemplo, sofrendo com a chegada da águia que se aproxima). Sim, Scolari acaba de fazer o mesmo que a águia do Barbas faz longe das câmaras. E é pena. Há muito que não me dava tanto gozo ver Portugal, há muito aliás que não torcia por Portugal. De repente, tenho vontade de torcer contra. Talvez por ser brasileiro, já estou farto de ver na televisão a equipa que treina com 12 mil pessoas nas bancadas. Já estou farto de ver focas com a bola no nariz. Farto de transações em pleno estágio, como que se de uma fábrica de exportação de banana se tratasse. Farto de jogadores bonitos. Farto de cair “surpreendentemente” nos quartos de final.
E nisso tudo há e terá que haver sempre um responsável. E Scolari é o primeiro da fila. É certo, o gol será de canto e veremos um Ricardo lamentável na fotografia (se tiver sorte de sair). Mas o gol na própria baliza tem sido metido de forma colectiva desde que começou a competição, sob os olhares brandos e conciliadores do sargentinho. Esquisito, ele que até bem pouco era tão intolerante com determinadas situações, exigindo sempre concentração absoluta. Como mudam as coisas...
Desculpa lá, mestre, estrear-me e não falar de bola. Devo estar a ficar velho e desgastado. Qualquer dia falo que tudo isso é uma indústria e me viro para a liga das estrelas. Seja como for, não podia deixar de passar. Abrir o jornal (online) e saber que o Deco está em Barcelona para assinar pelo Chelsea, quando devia estar em Neuchatel, irrita-me!
Que a falta de profissionalismo e do tão propalado “amor à camisola das quinas” não passe factura.
Um forte abraço.
Valdir (o do bigodinho)
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