O trabalho é muitas vezes uma desculpa. Dá muito jeito para arranjarmos uma justificação para não fazermos algo que queremos ou, pior, para não fazermos algo que queremos, mas para o qual não temos a força de vontade necessária. Outras vezes há em que é de facto difícil conseguir conciliar tudo - família, vida pessoal, trabalho (sempre em frente ao computador) e... campeonato da Europa de futebol! Com todas estas condicionantes e a miríade de "treinadores de bancada" que por aí andam (alguns deles a comentarem na televisão), quem é que consegue manter um blogue actualizado sobre futebol? Infelizmente, eu falhei redondamente.
Seja como for, aqui vão as minhas considerações - já tardias, pois era minha intenção escrever antes de os jogos começarem, fazer algumas previsões, comentar a exibição de Portugal do primeiro jogo e avançar com alguns dados para o segundo.
Portugal surpreendeu-me. Não tenho qualquer pejo em admiti-lo. Não sou exactamente um dos maiores defensores de Scolari (na minha opinião, tem grandes lacunas ao nível da leitura de jogo e da concepção táctica da sua própria equipa), embora não creia também que só tem defeitos. Acho que é capaz de unir um grupo como poucos, mas que tem momentos em que dá a entender que tanto podia treinar futebol como outra modalidade qualquer. Dito isto, tenho de admitir que Portugal me surpreendeu pela positiva por dois motivos: em primeiro lugar, Simão Sabrosa. Não sendo um apaixonado pelo seu futebol, tenho para mim que confere um equilíbrio muito maior à equipa do que Quaresma ou Nani (temi que Scolari fosse optar pelo maior brilho do campeonato inglês). Ronaldo joga de forma um pouco anárquica na Selecção, voluntária ou involuntariamente, com constantes diagonais para a zona do ponta-de-lança, o que faz com que Simão tenha um papel muito importante numa ala em que o defesa-lateral é adaptado. Quando Ronaldo flecte para o meio, abre espaço a Bosingwa, o qual, quando Portugal constrói as jogadas de trás para a frente, se coloca invariavelmente na linha de meio-campo. Em segundo lugar, Moutinho. Este sim, um dos maiores segredos para o constante fluir do jogo da Selecção. Deco é fundamental (sempre foi, para mim), sem sombra de dúvida, mas Moutinho substitui Maniche ao ponto de aqueles que previram que este ia fazer muita falta ao jogo de Scolari já nem se lembrarem dele. Moutinho faz o constante vaivém de apoio tanto a Petit como a Deco, mostrando o quanto aprendeu a jogar em todas as posições do losango de Paulo Bento nos últimos anos
Qualquer uma das exibições de Portugal teve momentos muito bons. É um facto que a Selecção tremeu após o primeiro golo da República Checa, marcado um pouco "a frio" e expondo porventura a maior insuficiência desta selecção (jogadores como Deco, Simão, Moutinho ou Petit diminuem drasticamente a média de alturas e o hábito de disputar bolas pelo ar), mas não perdeu por completo as suas coordenadas, o que demonstra alguma estabilidade, embora a situação pudesse ter sido mais gravosa frente a uma selecção mais desenvolta a atacar.
Nas fases mais adiantadas da prova, Portugal terá alguns problemas, creio eu, face a equipas que joguem com o bloco mais subido e que tapem a primeira fase de construção - entre os centrais e Deco ou Moutinho. Paulo Ferreira parece-me bem adaptado ao lugar (teve dois excelentes cruzamentos de pé esquerdo, ontem), o meio-campo funciona com classe, embora Petit demonstre, como sempre, algumas dificuldades quando tem de encostar aos centrais para criar superioridade numérica quando confrontado com dois avançados adversários. Bosingwa parece estar ainda sobre o efeito alienante da contratação pelo Chelsea e está longe de demonstrar neste Europeu todo o seu potencial. De resto, Portugal parece estar de facto, ao contrário do que eu imaginar, em condições de fazer boa figura.
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