Os treinadores portugueses conseguem juntar o melhor e o pior. Como pior, vem-me imediatamente à cabeça a exibição do Guimarães no jogo fora contra o Portsmouth. Três centrais, dois trincos, equipa sempre atrás da linha da bola, libertando dois/três homens na frente quando tinham a posse de bola. Em pouco tempo, viram-se a perder por dois zero. Foi então que Cajuda (não tão mau como se diz, mas de longe não tão bom como se possa imaginar) resolveu apostar tudo e voltar a jogar normalmente. Resultado? O Vitória dominou o resto desse jogo e nunca mais o Portsmouth conseguiu fazer o que vinha fazendo até então.
No jogo da segunda mão, já com nada a perder, o Vitória agigantou-se, como é típico das equipas lusas, e partiu para cima do adversário. Conseguiram empatar surpreendentemente a eliminatória, mas, quando era novamente necessário, tremeram as pernas e sofreram dois golos. Faltou, como sempre, o chamado "killer instinct". Quantas vezes vimos esse cenário no campeonato português...?
Como melhor, é impossível não me recordar instantaneamente da copiosa derrota inflingida por Jorge Jesus e o seu Braga ao mesmo Portsmouth. 3-0 foi o resultado desse encontro, tendo Jesus tido no fim a enorme coragem de dizer aquilo que alguns de nós pensam mas têm medo de dizer: os treinadores ingleses (por exemplo) são muito básicos e fáceis de entender. É absolutamente evidente que, regra geral, têm equipas muito melhores, mas os treinadores portugueses em nada ficam atrás.
Perdão, não é bem assim. Precisamos quase sempre do estigma de "coitadinhos" para conseguirmos elevar-nos ao nosso estatuto. Precisamos que nos considerem "pequenos", precisamos de estar a fazer muitas contas, de dizer que o árbitro está contra nós por causa dos "grandes da UEFA", etc. É por isso que, para mim, a vitória do Braga foi tão importante - pode ser que, a partir de agora, as equipas portuguesas não tenham medo de olhar as equipas dos outros países como papões, porque, na verdade, não o são. Têm pontos fracos, como todos os plantéis. Têm jogadores menos bons. Têm terrenos e estilos de jogo onde se sentem pouco à vontade. Avancemos para cima dessas fraquezas, mesmo que o adversário seja de peso. Se não arriscarmos, nunca conseguiremos vencer.
Gostaria apenas por último de destacar José Mota. Se Mota fosse italiano, estaria na Roma ou na Fiorentina. Pouco adepto de futebol defensivo, mas obrigando as suas equipas a defender com uma enorme intensidade e levando os seus jogadores a crerem que são muito melhores do que na realidade são, Mota consegue fazer das suas equipas um adversário que ninguém deixa de temer, mesmo quando jogam fora. É óbvio que o FC Porto atravessa um momento complicado, que o Leixões teve alguma sorte em marcar um golo logo a abrir, mas teve o enorme mérito de saber defender longe da sua baliza, de não perder de vista o objectivo de atacar sempre que possível e de explorar as fraquezas do adversário (Mariano na esquerda do FC Porto? Zé Manel na direita do ataque do Leixões). Num repente, o Leixões esteve mais perto de golear do que de sofrer.
Houvesse mais treinadores assim e o campeonato estaria obrigatoriamente nivelado por cima.
1 comment:
Finalmente, após um grande interregno, tivemos a oportunidade de ler os teus comentários. Conforme nos tens habituado, é uma leitura sempre agradável e isenta, mesmo que subjectiva quando se emitem opiniões. Continua.
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