Wednesday, March 28, 2012

A Liga dos Campeões em todo o seu esplendor

Equipas e movimentações iniciais


Benfica e Chelsea defrontaram-se ontem no Estádio da Luz para apurar quem seguiria para as meias-finais da Liga dos Campeões. O que se viu foi uma partida típica da prova rainha a nível europeu, com a equipa de menor dimensão a jogar melhor futebol e os favoritos a resistirem a ondas de ataques sucessivos (ficando perto de sofrer um golo), marcando nos últimos minutos num rápido contra-ataque.

Jorge Jesus, treinador dos encarnados, escalou o onze esperado, com Gaitán e Bruno César nas alas e Aimar por trás de Cardozo. Ao invés, o treinador interino do Chelsea, Roberto Di Matteo, promoveu seis alterações e deixou Bosingwa, Cahill, Essien, Lampard, Sturridge e Drogba de fora (com a chamada altamente improvável de Paulo Ferreira à titularidade), assumindo o objectivo para o encontro - e demonstrando que todos os jogadores do plantel do Chelsea terão a sua oportunidade.

O plano de jogo dos londrinos era de fácil compreensão: actuar em bloco baixo, ceder a iniciativa de jogo, tentar controlar a posse de bola (mesmo que tal não significasse progredir com a mesma) e um contra-ataque, se possível. O Benfica mostrava-se receoso de exercer a sua habitual pressão alta e, com isso, os defesas e médios blues puderam desfrutar de inúmeros momentos para abrandar o ritmo de jogo à sua conveniência, incomodando os adeptos encarnados. Di Matteo tinha feito o trabalho de casa e fez alinhar Kalou (mais diligente e consciente em termos tácticos) na ala esquerda, no sentido de tentar estancar a via preferencial do ataque das águias - o flanco direito. Para além disso, Torres tinha ordens para descair para o espaço que Maxi Pereira abria nas suas costas, de modo a tirar proveito do posicionamento mais atrevido do lateral-direito - e arrastando o seu marcador directo consigo.

Torres recebe uma bola longa nas costas de Maxi Pereira, arrastando Luisão consigo.
Kalou ocupa o espaço criado pelo seu companheiro.

Nesta imagem, Luisão tenta recuperar a posição e é o omnipresente Javi García que faz a compensação.

Esta simples movimentação liberta Meireles e oferece-lhe espaço para rematar
(Maxi, já atrasado, ocupa o lugar de Javi García)

Como habitualmente, o Benfica atacou primordialmente pela direita, com Gaitán, Witsel e Aimar a ocuparem alternadamente a ala, tentando desposicionar Meireles e Mikel - tendo sido bem sucedidos em determinados momentos, mas de forma menos frequente do que o esperado. O problema residia no já infame lado esquerdo. Embora Emerson venha a ser alvo de inúmeras críticas ao longo de toda a temporada, a culpa nem sempre é exclusivamente sua, como o encontro de ontem demonstrou. Ramires, jogando sobre a direita, mas em zonas mais centrais do que Kalou, ajudava a criar superioridade numérica no centro do terreno e tentou repetidamente ultrapassar Emerson, uma vez que Bruno César (e Gaitán, depois de se mudar definitivamente para a esquerda) raramente recuava, deixando demasiado espaço para o Queniano Azul explorar (veja-se a área amarela no gráfico no início da página). Como se constataria mais tarde, esse seria o erro fatal do Benfica.

Ramires (n.º 7), presumível médio-direito, ocupou zonas mais centrais
Embora pareça tratar-se de um contra-ataque, é apenas uma normal jogada corrida.
Ramires tem já imenso espaço à sua volta

Com ambas as equipas dispostas de forma semelhante, tudo se resumiria à velocidade e criatividade. O Chelsea, conforme analisado noutro artigo, é actualmente uma equipa mais calma, bem organizada e menos vulnerável a desmarcações e contra-ataques. Paulo Ferreira foi essencial para a recém-descoberta estabilidade no lado direito da equipa londrina, graças à sua maior fiabilidade defensiva e melhor compreensão das tarefas de um defesa-lateral. As águias teriam de ser mais expeditas na segunda parte.

Foi precisamente isso que se verificou. Tal como acontece recorrentemente nas fases mais adiantadas desta competição, os favoritos foram alvo de ataques cerrados durante os primeiros 15 minutos da segunda parte, um período em que o Benfica podia (e deveria) ter marcado. Cech fez grandes defesas, David Luiz salvou corajosamente um potente remate de Cardozo em cima da linha e parecia que a fortaleza do Chelsea estava prestes a ruir. Era evidente que a maior velocidade de Witsel (jogador que demonstrou novamente ser a peça que faltava ao Benfica para encontros desta magnitude), Aimar e Gaitán (o qual rendeu muito mais na esquerda) estava a causar dificuldades a Meireles e - particularmente - Mikel, especialmente porque Torres estava mais uma vez longe do seu melhor, incapaz de segurar uma bola. Com Mata perdido (parece óbvio que não tem características para iniciar os seus movimentos a partir do centro), Ramires oferecia a única saída para os blues.

Jesus queria desesperadamente vencer o jogo e substituiu Aimar e Bruno César por Rodrigo e Matic, o que significava que Witsel iria para a direita, Matic ocuparia o seu lugar ligeiramente à frente de Javi García e Rodrigo jogaria por trás de Cardozo - e foi então que tudo começou a esfumar-se. À imagem do que tem acontecido em algumas ocasiões, a tentativa do Benfica de vencer o jogo desequilibrou toda a equipa. A influência de Witsel diminuiu na direita e a equipa lisboeta começou a perder o controlo da partida. Embora o golo do Chelsea seja a súmula dos seus actuais pontos fortes (experiência, resiliência, meio-campo mais compacto e contra-ataques), é algo que se tem visto com inusitada frequência no Benfica: a sua vontade de vencer a todo o custo significa muitas das vezes que a equipa fica partida.

Início da jogada que culminaria no golo do Chelsea. Note-se quão adiantado Emerson está, sem cobertura ofensiva.

Após a impressionante corrida de Ramires, cabe a Torres prosseguir a jogada.
Matic prova que ainda não está à altura de jogos desta importância.
A seta verde indica o local em que deveria estar para oferecer cobertura defensiva.

Por fim, há algo que vale a pena referir. Os treinadores afirmar repetidamente que há sempre uma estratégia por trás das suas decisões, mas, por vezes, é difícil fazer sentido. Qual será a lógica de deslocar Witsel para a direita e devolvê-lo à posição original uma dezena de minutos depois? Como é evidente, Jesus está longe de ser o único treinador a fazê-lo; resta-nos apenas esperar que, um dia, um treinador nos dê uma resposta honesta a esta questão.

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