É sempre difícil, arriscado e talvez injusto analisar os pontos a melhorar numa equipa que alinhou sem nenhum dos seus defesas-centrais e que estava com dois golos de desvantagem (no conjunto das duas mãos da eliminatória) quando um dos seus melhores jogadores foi expulso. Ainda assim, embora os encarnados tenham saído de Stamford Bridge de cabeça erguida, é precisamente isso que vamos fazer - porque há pormenores que podem - e devem - ser corrigidos, apesar da atitude guerreira do onze benfiquista.
Chelsea e Benfica ofereceram um espectáculo palpitante na passada quarta-feira, num encontro que apuraria o próximo adversário do Barcelona nas meias-finais da Liga dos Campeões. À imagem do que tinha acontecido na partida contra o Sporting de Braga, as águias não se importaram de partir o jogo ao meio, de modo a tirar proveito da lentidão da defensiva contrária. Como tal, ninguém terá sido surpreendido ao assistir, tal como no jogo contra os bracarenses, a um encontro recheado de oportunidades de golo, grandes defesas dos guarda-redes e um público da casa com os nervos à flor da pele.
No presente texto, iremos debruçar-nos sobre 3 questões particulares: posicionamento defensivo, situações defensivas de bola parada e transições defensivas. É justo dizer que o Benfica não teve a sorte do seu lado nos dois jogos, mas não é menos verdade que as equipas mais fortes da Liga dos Campeões tendem a castigar adversários com menor potencial precisamente nesses "detalhes" de menor importância, à primeira vista. Se as águias têm como objectivo capitalizar a experiência adquirida ao longo desta época, deverão ser suficientemente humildes para reconhecer que existe uma diferença considerável entre o futebol português e a prova mais importante a nível europeu - quanto mais depressa o admitirem, mais rapidamente se tornarão um clube a ter em conta por mérito próprio.
1. Posicionamento defensivo. O Benfica é muitas vezes louvado pelo seu implacável futebol de ataque, uma abordagem que quase teve a sua recompensa na passada quarta-feira. No entanto, uma boa cobertura e posicionamento defensivos constituem uma base em que qualquer clube com aspirações de grandeza deve assentar. Independentemente dos danos que tanto Bruno César como Maxi Pereira possam infligir no campo do seu adversário, é igualmente importante que sejam capazes de dominar as suas tarefas defensivas - algo em que nem sempre têm sido bem sucedidos ao longo desta temporada.
Maxi Pereira sobe para marcar Kalou, acabando por ficar lado a lado com Bruno César. Note-se o espaço nas costas dos dois jogadores, com uma cobertura reduzida por parte de Javi García. |
Kalou desmarca-se com uma simples "tabela". Javi García já vai atrasado para fazer a cobertura. |
2. Situações defensivas de bola parada. É do conhecimento público que o Benfica semeia o caos com os seus lances de bola parada na zona ofensiva, mas é menos consesual que os comandados de Jorge Jesus são extremamente vulneráveis quando no outro lado da barricada. Recentemente, os vice-campeões nacionais sofreram golos neste tipo de jogada contra o FC Porto e Sporting de Braga (referindo apenas os jogos de maior dimensão) e, no último encontro, foram felizes ao não verem o Chelsea a marcar a partir de cantos, em particular. Apesar das recentes alterações promovidas por Jesus ao nível da marcação zonal, subsistem ajustes a fazer no sentido de vencer equipas mais fortes.
O Benfica insistiu em concentrar um grande número de jogadores na zona do primeiro poste. Como resultado, David Luiz acaba por ficar sozinho, sem qualquer marcação. Note-se o espaço no segundo poste. |
Após um mau alívio, Luiz recebe a bola sem marcação e quase sem oposição. Capdevila acabou por evitar males maiores, nesta ocasião. |
3. Transições defensivas. Muito provavelmente, o aspectomais importante no futebol moderno. A maioria das equipas sabe que é necessário retirar a bola da zona de pressão a seguir à sua recuperação, uma vez que não é expectável que os adversários tenham o mesmo número de jogadores no lado fraco (longe da bola). Os jogadores estão cada vez mais cientes de que a bola tem de rodar de um lado para o outro - de preferência de forma rápida -, no sentido de encontrar uma brecha. A questão que tende a separar as equipas nos dias que correm é a reacção ao momento em que perdem a bola. É verdade que não se trata de algo que apareça nos resumos, mas veja com os seus próprios olhos e analise com mais atenção. O facto de as melhores equipas serem geralmente as mais eficazes nas transições defensivas não pode ser coincidência - ou acha mesmo que o mérito do Barcelona (por exemplo) se baseia apenas no ataque?
Bruno César e Maxi em zonas avançadas do terreno. Nenhum deles faz falta para parar o contra-ataque. O Benfica está prestes a ter sete jogadores à frente da linha da bola. |
Javi García (o pêndulo da equipa, de punho fechado) faz a intercepção segundos mais tarde e diz aos seus colegas que deveriam ter "matado a jogada" quando tiveram a oportunidade. |
Conclusão. Tudo isto que aqui foi escrito pode ser encarado como algaraviada táctica, mas, muitas das vezes, estes momentos são decisivos para o resultado de um determinado jogo. Embora o Benfica seja capaz de contornar a sua desatenção defensiva na maioria dos jogos do campeonato português, a Liga dos Campeões é muito mais competitiva - e os "tubarões" não se importam de esperar pelas suas presas.
2 comments:
Boas!
Acho que o texto está muito bem escrito, mas penso que te falta uma situação importante: a reacção (/defesa) aos cantos ofensivos. O Benfica também tem sofrido golos e contra-ataques perigosos nestas situações. Sei que está relacionado com o ponto das transições defensivas, mas é uma situação diferente.
Cumprimentos,
Luís Santos
Viva, Luís,
Muito obrigado pelo teu comentário. Ainda que o texto não tivesse a aspiração de fornecer uma análise exaustiva dos pontos a melhorar, creio que o que destacaste faz todo o sentido e constitui efectivamente um ponto muito importante, uma vez que a equipa fica tão desequilibrada para a frente, que abre enormes brechas nas suas costas.
Um abraço,
Vasco
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