Friday, March 2, 2012

Benfica - FC Porto - Antevisão

Equipas prováveis
Ignorando por momentos o risco que constitui fornecer qualquer tipo de antevisão, são apresentados mais abaixo alguns aspectos que poderão revelar-se importantes para o encontro desta noite entre FC Porto e Benfica. O clássico de hoje à noite poderá não ser decisivo em termos pontuais, como nos querem fazer crer os treinadores de ambas as equipas, mas poderá revelar-se decisivo em termos psicológicos.


  • 1. A ala esquerda
Dadas as características das equipas e (naturalmente) dos jogadores que as compõem, poder-se-á apostar que um dos principais campos de batalha será a zona do lateral-esquerdo de cada uma das equipas. Por um lado, Emerson é claramente o elo mais fraco desta equipa, tanto pelo seu rendimento ofensivo relativamente inócuo como, acima de tudo, por nem sempre tomar a melhor opção em termos de posicionamento defensivo. Por outro lado, Bruno César demonstra uma clara tendência para flectir para o centro e, como se não bastasse, o lado direito conta com Maxi Pereira e Nico Gaitán, o flanco ofensivo dos encarnados por excelência. Com Janko a titular, Hulk poderá regressar ao seu lugar de eleição e tirar proveito da fragilidade do lado esquerdo, sendo que Bruno César não tem por hábito ser um trabalhador nato na ajuda ao seu lateral.

Por seu turno, é conhecido o gosto de Álvaro Pereira em subir pela sua ala e presentear os seus colegas com centros (chegando mesmo a exagerar na opção), deixando inúmeras vezes o seu flanco desprotegido e obrigando frequentemente Otamendi a fazer compensações para as quais não está equipado. Com Gaitán nesse lado e Aimar a poder vir a ocupar esse espaço, não restarão muitas dúvidas sobre a mais do que provável inclinação do campo para as duas alas defensivas.

  • A batalha do meio-campo
É hoje senso comum que os vice-campeões nacionais são mais fortes a atacar pelo centro do terreno, tanto pela presença de Witsel, Aimar e Bruno César como pelo dispositivo táctico habitualmente preferido por Jorge Jesus. Como tal, as águias poderão sobrecarregar com frequência o trio do meio-campo portista, criando inúmeras dificuldades. Tomemos o caso de Aimar a título de exemplo. Se Fernando acompanhar Aimar para que os seus defesas-centrais não tenham de o fazer, o Benfica poderá tirar proveito das subidas de Witsel ou das inflexões de Bruno César nessa zona do terreno. Se Fernando não o fizer, o FC Porto correrá o risco de ver Aimar ditar o ritmo do jogo e, com isso, abrir linhas de passes para as rupturas de Gaitán e Maxi, por exemplo.

Ao invés, não obstante a contratação de Witsel (orientada especificamente para conferir maior controlo em jogos desta natureza), o onze de Jesus tem uma tendência para ficar partido e ficar particularmente vulnerável às transições ofensivas do adversário, o que corresponderia na perfeição às características de Hulk, Moutinho e Lucho. Se é verdade que Vítor Pereira terá de encontrar solução para não ser constantemente confrontado com uma inferioridade numérica a meio-campo, não é menos verdade que Jesus não poderá dar-se ao luxo de ver a sua equipa partir-se em duas facções de 5 - como demonstração disso mesmo, o Benfica apenas conseguiu manter a sua baliza inviolada em 6 ocasiões, ao passo que o FC Porto o conseguiu em 12.

  • 3. Lances de bola parada
Desde que Jesus chegou ao clube da Luz, os lances de bola parada têm constituído quase uma obsessão. Com efeito, os encarnados já lograram por diversas vezes desbloquear jogos mais complicados com lances estudados, com Luisão e Javi Garcia como ameaças mais directas, geralmente ao segundo poste. Por outro lado, Cardozo continua a assumir-se como um perigo em qualquer livre descaído para a direita a menos de 25 metros. 

Quanto ao FC Porto, trata-se de uma equipa com menor aproveitamento desses lances (algo que transitou da época passada, em que a ausência de Bruno Alves anulou a grande referência dos portistas para este tipo de lances). Maicon costuma representar a maior ameaça, mas não conta geralmente com companhia para distrair atenções. 

Em suma, este último aspecto poderá revelar-se decisivo, uma vez que será dos poucos pontos em que as equipas têm menor tendência a equivalerem-se.

  • Conclusão
É já um lugar-comum ouvirmos dizer que estes jogos se vencem nos detalhes, escamoteando o facto de esses mesmos detalhes serem regularmente fruto do trabalho diário invisível que não aparece nos jornais. Se considerarmos que o Benfica costuma ser fortíssimo em casa, que dispõe de diversas opções em termos de bolas paradas (muitas vezes fundamentais neste tipo de jogos) e que irá por certo pretender marcar cedo, poderemos ter uma boa noção do que poderá ser o jogo - ainda que o medo de perder de ambas as equipas possa suplantar a vontade de ganhar. Se juntarmos a isso o facto de o FC Porto não ter ganho esta época um único jogo com equipas de nível semelhante ou superior (o encontro contra o Sporting de Braga não foi aqui incluído, uma vez que nem os próprios bracarenses estão interessados em assumir o estatuto de iguais), poderemos inferir que aos portistas espera uma tarefa hercúlea.

2 comments:

Fernando Teixeira said...

Um caro amigo Vasco,

Bruxo não és mas que pareces pareces…

1. A ala esquerda – Em cheio, não acrescento nada às tuas previsões depois de ver o jogo;
2. O Bruno Cesar não jogou mas quem teve no lugar dele fez a mesma coisa. E parece que Fernando anulou o Aimar muito bem.
3. Em cheio again, Benfica joga para os lançes de bola parada e com isso faz um golo;

Concluo com isto que a tua previsão demonstra grande conhecimento das teorias técnico-tácticas mas principalmente demonstra grande perspicácia na previsão do jogo.
Parabéns mais uma vez.

Tenho grande orgulho em ser teu amigo e poder ler os teus posts

FT

Vasco Mota Pereira said...

Obrigado pelas palavras de incentivo. Infelizmente, não acertei em tudo, mas a fortuna bafejou-me em algumas opiniões, é verdade. :)

Um abraço,

Vasco