Saturday, March 3, 2012

Volte-face no campeonato


Equipas e movimentações iniciais


O encontro de sexta-feira entre Benfica e FC Porto foi anunciado como potencialmente decisivo para a corrida do título. Com as equipas em igualdade pontual a 9 jornadas do fim, o resultado final não significaria necessariamente uma certeza matemática quanto ao futuro campeão, mas uma vitória causaria forçosamente estragos nas aspirações do adversário. Nenhum dos treinadores foi particularmente inspirador ao longo da semana nas suas comunicações públicas e, como tal, previa-se um jogo fechado.

  • 1. Os primeiros 20 minutos
O FC Porto surpreendeu o seu adversário ao não entrar em campo na expectativa, aguardando a oportunidade de tirar proveito do bloco alto do Benfica; pelo contrário, os dragões iniciaram o jogo pressionando em zonas avançadas do terreno, com Janko a vigiar Luisão, Lucho a marcar Javi García (ou Garay, dependendo de qual deles transportava a bola) e Moutinho com um olho em Witsel, caso este baixasse para receber a bola. Vítor Pereira pretendia claramente estrangular a primeira fase de construção do Benfica colocando o seu meio-campo entre as habituais duas zonas de cinco jogadores das águias.

Benfica com dificuldade em sair a jogar, devido à pressão alta do FC Porto

Foi evidente que o Benfica não estava à espera desta atitude por parte dos seus oponentes, errando inúmeros passes num momento do jogo em que costuma ser muito forte - a primeira fase de construção. No entanto, o facto que abriu efectivamente o jogo foi o golo madrugador de Hulk, ao fim de apenas 7 minutos. Os campeões nacionais ficaram ainda mais confiantes, ao passo que a turma da Luz parecia algo perdida. Durante os primeiros 20 minutos, os dragões roçaram a perfeição na tentativa de impedir que a bola chegasse a Aimar - e o facto de nenhum dos médios interiores do Benfica recuar para oferecer uma saída não ajudava em nada. 

Com Witsel com instruções para actuar ao lado de Javi García e sem o contributo defensivo de Aimar, o triângulo do meio-campo dos azuis e brancos não tinha dificuldades em contornar as suas duas linhas de quatro jogadores, oferecendo demasiado espaço entre sectores. 

As duas linhas de quatro do Benfica, abrindo demasiado espaço para Lucho e Moutinho

Para agravar a situação dos encarnados, Djalma foi extremamente útil não só ao arrastar Maxi Pereira para o centro do terreno (deixando o uruguaio sem saber se deveria acompanhar o seu adversário directo ou ocupar o seu espaço original), mas ao contribuir defensivamente, de modo a que o meio-campo dos visitantes não fosse atropelado.

  • 2. 20 - 63 minutos
Ao fim dos primeiros 20 minutos, a equipa da casa começou a equilibrar o jogo. Witsel avançou no terreno, o que permitiu que se assumisse finalmente como a ligação entre defesa e ataque, permitindo-lhe igualmente pressionar o FC Porto na sua própria fase de construção, recuperando a bola mais perto da baliza dos portistas. Por seu turno, os dragões recuaram, possivelmente com o intuito de tirar proveito da velocidade de Hulk nas costas da defesa das águias.

Durante mais de metade da primeira parte, Fernando marcou Nolito (o qual substituiu Bruno César no onze) de perto, tentando evitar que se virasse para a baliza e, com isso, criasse desequilíbrios. No entanto, após o período inicial, Nolito foi capaz de se virar para a baliza ou tirar a bola da sua zona em direcção a Aimar, o qual dispunha de bastante espaço de manobra, uma vez que Fernando não se encontrava na sua posição habitual.

Como tal, foi sem grande surpresa que o Benfica chegou à igualdade aos 41 minutos - particularmente porque o FC Porto tem demonstrado alguma falta de intensidade em lances de bola parada ao longo da época. Foi contudo mais surpreendente ver o segundo golo dos encarnados numa jogada que vêm repetindo ao longo da temporada - ao que parece, o gabinete de observação de adversários dos visitantes tem algum trabalho de casa a fazer. O plano dos nortenhos para a segunda parte (baixar o bloco e tentar lançar o contra-ataque, como se pode ver na imagem mais abaixo) tinha de ser revisto.

FC Porto em organização defensiva no início da segunda parte: um claro e expectante 4x1x4x1

Vítor Pereira não hesitou em lançar James Rodríguez, mas, numa decisão que teria tudo para lhe custar o lugar, substituiu Rolando pelo colombiano, significando que Maicon passaria para defesa-central pela esquerda e Djalma seria o lateral-direito de improviso. De acordo com a antevisão deste jogo, o Benfica não foi capaz de controlar o jogo e a equipa começou a partir-se em duas sub-equipas de cinco, abrindo brechas evidentes no meio-campo. Na verdade, só assim se explica que James e Fernando tenham sido capazes de recuperar a bola a 60 metros da baliza do Benfica e que o primeiro adversário que encontraram tenha sido Luisão, na cabeça da área. Estávamos no 63º minuto - o marcador registava nova igualdade.

  • 3. 63 - 90 minutos
O segundo golo portista foi claramente um soco no estômago da equipa de Jorge Jesus e a equipa começou a quebrar física e mentalmente. Foram-se abrindo cada vez mais espaços e, por conseguinte, não foi surpreendente ver, pouco depois, Hulk com imenso espaço nas costas de Emerson, dando lugar à sua expulsão. A opção de Jesus de colocar Gaitán a lateral-esquerdo significava que Hulk e Djalma tinham pela frente Gaitán e Nolito, os quais não são propriamente os melhores defesas do mundo. Como era previsível, os visitantes depararam-se subitamente com larguíssimas auto-estradas. 

Com um jogador a mais, o FC Porto foi inteligente ao circular a bola, tentando cansar o adversário. Quando o jogo se encaminhava já para o seu final, Vítor Pereira assumiu novo risco ao substituir João Moutinho por Kléber, transmitindo à equipa, em alto e bom som, que queria vencer o jogo. Os azuis e brancos viriam a marcar o golo da vitória poucos segundos depois, num livre de James para a cabeça de Maicon.

  • Conclusão
O FC Porto teve alguma felicidade na forma como chegou à vitória, mas a estratégia inicial de pressionar o Benfica deu bons resultados. As águias fizeram prova dos seus habituais pontos fortes, mas foram previsivelmente frágeis na questão que até a maioria dos adeptos já sabe: à medida que os minutos vão passando, a equipa tem tendência para se partir em dois e expor a sua linha defensiva em demasia (apenas com o contributo de Javi García).

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