A Liga dos Campeões chegou ao fim na noite de quarte-feira, depois de um jogo empolgante e muito bom. Foram quase três horas de incerteza, emoção e oscilações tácticas e não só. As equipas apresentaram-se como se esperava (pessoalmente, fiquei surpreendido com Alex Ferguson, pois não imaginava que se arriscasse a jogar com Rooney e Tévez): o Chelsea no seu habitual 4x3x3, Joe Cole na direita do ataque, Malouda na esquerda e o melhor trio do meio-campo à disposição de Avram Grant - Makelele, Lampard e Ballack. O Manchester United apresentava por seu lado um 4x4x2 (até há pouco tempo, a imagem de marca de Alex Ferguson), com Ronaldo e Hargreaves na esquerda e direita do ataque, respectivamente, e um meio-campo constituído por Scholes e Carrick.
O jogo começou com as coordenadas previsíveis. O Manchester United predispôs-se imediatamente a atacar a baliza do Chelsea, que, por seu turno, se contentava em defender a sua baliza - afinal de contas, uma das suas vocações - e espreitar o contra-ataque de quando em vez. Até marcar o golo, a equipa de Manchester praticou o seu futebol habitual: saídas de bola através dos centrais, com os defesas-laterais a encostarem-se imediatamente à linha do meio-campo, tanto através de passes longos como entregando a bola a Scholes, para que este organizasse o jogo ofensivo da sua equipa. Carrick jogava quase sempre na mesma linha de Scholes (foram várias as vezes em que foi possível ver os dois de perfil, quase), deixando a Ronaldo, na esquerda, as iniciativas ofensivas. Hargreaves cumpria mais uma função neste seu primeiro ano no United, depois de lateral, médio ofensivo e médio de contenção, abrindo espaços na direita tanto para as entradas de Wes Brown, o defesa-direito de serviço, como para as penetrações de Rooney e Tévez. Estes dois atacantes moviam-se na frente do ataque com as características que lhe são conhecidas, deslocando-se tanto para os flancos para servirem de ponto de apoio a Hargreaves ou Ronaldo como recuando no terreno para encararem a baliza de frente. Graças a estas movimentações (e à menor coordenação defensiva de Ballack e Malouda, por exemplo), o Chelsea foi dominado durante 25 minutos, tendo inclusivamente sofrido o primeiro golo de Cristiano Ronaldo, após cruzamento de Wes Brown (de pé esquerdo). Marcado o golo, o Manchester pensou ter o jogo resolvido e deixou de se movimentar conforme o tinha feito até então, passando a apostar mais no trio Ronaldo-Rooney-Tévez, encostando frequentemente Hargreaves ao duo do meio-campo.
Como consequência, o Chelsea foi equilibrando a contenda, com Lampard e Ballack a disporem agora de mais espaço para o seu futebol curto e de variações de flanco. Joe Cole foi continuando a fazer o seu trabalho de sempre, ora progredindo pela ala, ora descaindo para o centro, para que Essien (um mouro de trabalho com uma preparação física impressionante) entrasse em profundidade. Não foi por isso surpreendente que o Chelsea chegasse ao golo, com alguma sorte, diga-se, depois de um remate interceptado de Essien, com Lampard a chegar antes de van der Sar, que havia escorregado. O golo surgiu ao cair do pano da primeira parte, o que alterou radicalmente o que se antevia para a segunda parte.
A segunda parte foi dominada por completo pelo Chelsea, em boa parte graças ao jogo mais próximo do meio-campo do Chelsea e às mais e melhores deambulações de Joe Cole. Drogba, esse, continuava na sua luta incansável no ataque, dando pano para mangas a Ferdinand e Vidic, ao contrário de Malouda, uma absoluta sombra dos seus tempos em Lyon. Assim, e porque Scholes "pedia" a substituição há já algum tempo e porque Carrick se limita a defender, parecendo ter sempre receio de se aventurar em iniciativas ofensivas, o Chelsea foi encostando o Manchester às cordas, criando ocasiões de perigo para a baliza adversária, mas sem conseguir marcar. Drogba conseguiu ainda enviar uma bola ao poste com um remate fantástico, mas insuficiente.
O prolongamento desenrolou-se da mesma forma, mostrando um Chelsea obstinado na sua missão e um Manchester enredado nas suas próprias paredes tácticas, com Rooney e Tévez a perderem fulgor e Hargreaves definitivamente encostado ao meio-campo, dadas as dificuldades em travar Lampard e Ballack. A entrada de Kalou permitiu ao Chelsea ter duas alas durante breves instantes, até à entrada do eternamente inoperante Anelka, um dos maiores bluffs da história do futebol. Lampard teve ainda tempo para enviar nova bola à barra e Drogba conseguiu ser expulso depois de uma escaramuça com Vidic, entre outros, o que teve o condão de despertar a agressividade (a todos os níveis) do Chelsea.
Chegámos assim aos penalties, onde os nervos se revelam e os guarda-redes se podem revelar decisivos. Ronaldo foi o único a falhar, em 9 penalties, e Terry "apenas" tinha de fazer o que lhe competia, o que não conseguiu. Anelka mostrou a sua falta de nervo, ao rematar de forma denunciada e ao vir mostrar-se agastado após o jogo por jogar pouco, fora da sua posição e ainda lhe pedirem para marcar um dos primeiros 5 penalties, o que recusou, por ter entrado há pouco tempo. Com atitudes destas, não admira que alguns marquem e comemorem vitórias, enquanto outros se preocupam com o salário ou minutos de jogo.
Conclusões finais: Avram Grant deverá ter selado em definitivo o seu destino, ao não conseguir ganhar qualquer título, perdendo pelo caminho duas finais que teve na mão (algo impensável até há pouco tempo, para os lados de Stamford Bridge). Abramovich deve estar neste momento arrependido e há algum tempo à procura de um novo timoneiro, depois de ver falhar a sua estratégia (??). Ronaldo conseguiu a sua consagração europeia, apesar de não ter efectuado uma exibição brilhante (não obstante o excelente golo marcado), mostrando todas as suas dificuldades quando marcado por um bom defesa e quando a equipa adversária se mostra inteligente, não lhe oferecendo os espaços de que precisa para se virar para a baliza e embalar. Alex Ferguson ganhou o seu segundo troféu europeu em mais de 20 anos e mostrou que o Manchester esteve este ano uns furos acima do normal, graças também aos muitos milhões de euros dispendidos no defeso.
Creio que, ao fim e ao cabo, este desfecho poderá ser considerado o mais justo, se tivermos em conta as exibições e resultados de ambas as equipas ao longo da época, tendo o Manchester revelado uma maior estabilidade, tanto interna como externa. Veremos dentro de pouco tempo quem será o novo responsável técnico do Chelsea e até que ponto os milhões de Abramovich (que tantos pensavam ser a razão do sucesso de Mourinho) conseguirão fazer novos milagres.
No comments:
Post a Comment