Thursday, May 29, 2008

A outra face de uma mesma moeda

Porque não sou rancoroso, aqui fica um texto muito bom sobre um rapaz que suscita sempre discussões mais ou menos acaloradas, especialmente em adeptos do FC Porto. O texto é do MaisFutebol, escrito por Sérgio Pereira.

Quaresma, a trivela e as curvas do futebol

Sérgio Pereira

Se há coisa que me irrita no futebol português, e longe de ser uma pessoa conformada ainda há muita coisa que me irrita no futebol português, são os assobios a Quaresma. Confesso que às vezes apetece-me saltar do lugar e sair pela bancada a esbofetear toda a gente. Detém-me o bom senso. Felizmente. O bom senso e o sentido de perigo.
Assobiar Quaresma é como que pedir por um futebol a preto e branco. Sem cor. Sem arte. Sem emoção. Sem margem de erro. Desumano, portanto. Um futebol quase robótico. Por isso, e enquanto não vir Fernando Aguiar fintar dois belgas e marcar de trivela ao ângulo, não me peçam para compreender os assobios.
Diz-se fintar dois belgas e marcar ao ângulo como pode dizer-se dar um nó em Nelson e rematar ao ângulo. Ou serpentear por entre a defesa da Naval e atirar outra vez ao ângulo. Ou pegar na bola à entrada da área do V. Guimarães e disparar mais uma vez ao ângulo. Ou largar uma bomba por cima da defesa do Sp. Braga (que raio!) ao ângulo.
Por isso, e na impossibilidade de sair a distribuir porrada, fico no meu lugar à espera da próxima trivela que reponha a justiça. Ou pelo menos o silêncio. O silêncio dos culpados. Acredito aliás que os assobios surgem de dois tipos de pessoas: os invejosos e os medíocres. Os invejosos por razões óbvias. Os medíocres porque são invejosos.
Até admito que Quaresma perde muitas bolas, que não é solidário e que defende pouco. Mas cria arte e é corajoso. Tão corajoso que nem parece português. Se calhar é por isso que o assobiamos. É que nós não somos descendentes dos marinheiros que deram novos mundos ao mundo. Somos descendentes dos que cá ficaram. Provavelmente a assobiar.




Concordando ou não com o teor do texto, creio que é uma boa peça, que permite ver o outro lado de uma questão abordada no primeiro post deste blog.

2 comments:

Anonymous said...

O assobio é sem dúvida alguma uma forma deselegante de manifestar o desagrado, a inveja ou um qualquer outro sentimento menos nobre. Contudo, devo confessar-te que a vontade de provar a nossa superioridade, cresce exponencialmente a cada assobio na bancada. E como antiga atleta (de uma outra modalidade, é certo) confesso-te que é quando sabe melhor fazer a festa, marcar um golo ou um ponto. Talvez por isso o Quaresma (longe de ser o meu jogador favorito) "use" a sua superioridade técnica para provar o gozo e a vontade que eu tenho a certeza leva consigo para o campo em todos os jogos. Deixa por isso os assobios. Vê-os como parte da festa!

Vasco Mota Pereira said...

Concordo que o assobio não seja propriamente a forma mais elegante de marcar seja que posição for. No entanto, muitas das vezes, creio que é apenas um desabafo de quem está em tensão, querendo que a finta saia e surja o golo da sua equipa. Os assobios nem sempre são reveladores de algo deselegante: por vezes, são apenas uma manifestação de respeito (Jardel ou Mourinho são exemplos claros de um passado recente) pelo adversário, ainda que encapotada por um aparência agressiva. Dito isto, não duvido por um instante que Quaresma se "alimente" dos assobios, sejam de adeptos apoiantes ou advesrários. Acima de tudo, quer mostrar tudo o que sabe fazer; passar a bola não é suficiente, quando há formas muito mais bonitas de a fazer chegar a um companheiro. A minha grande crítica a Quaresma é não parecer ter qualquer noção de quando pode fazer isso e quando tem de corresponder aos interesses superiores da equipa, não promovendo o seu desequilíbrio. Talvez seja só eu a ser medíocre ou invejoso por nunca ninguém me ter assobiado. :)