Dois dias depois do desaparecimento de qualquer réstia de esperança do Sporting de Braga em manter-se na luta pelo título, é chegado o momento de dissecar os motivos que estiveram na origem da superioridade benfiquista ao longo da maior parte do encontro - e por que motivo o onze de José Peseiro é menos sólido do que as mais recentes anteriores versões do Sporting de Braga.
Na última vez que o Benfica saiu vencedor do Estádio Axa, o Braga ainda era orientado por Jorge Jesus. Ao longo das últimas temporadas, as águias encontraram grandes dificuldades em derrubar a muralha defensiva erigida tanto por Domingos como por Leonardo Jardim - dois treinadores conhecidos pelos seus cuidados defensivos (alegadamente uma das razões que levou o despedimento do técnico madeirense do Olympiakos). Por conseguinte, havia alguma curiosidade em torno dos planos de ambos os treinadores - assistiríamos a um duelo de futebol ofensivo ou testemunharíamos ideias mais conservadoras?
Sem Cardozo, Lima era o único ponta-de-lança dos encarnados - uma alteração significativa face ao modelo actual. Com a introdução de Gaitán, o Benfica ficou disposto num 4x3x3, com Jorge Jesus a tentar claramente controlar o centro. Matic, Enzo Pérez e Gaitán formavam com frequência um triângulo perfeito. Embora ambos os argentinos tivessem autorização para subir no terreno, Gaitán tinha liberdade para vaguear por onde entendesse, no sentido de sobrecarregar a defesa bracarense - na verdade, acabaria por merecer honras de melhor jogador em campo.
A imagem mostra igualmente que, embora o Sporting de Braga tivesse adoptado uma postura mais expectante do que o habitual, Mossoró e Éder tendiam a permanecer mais adiantados, afastados da luta do meio-campo. Custódio e Hugo Viana, longe de poderem ser considerados jogadores rápidos, eram claramente insuficientes para Matic, Gaitán e Enzo Pérez, já para não falar no movimento de Lima.
- 2. O 4x1x4x1 em organização defensiva.
Jorge Jesus não só optou por um 4x3x3 em situação ofensiva, como também escolheu uma forma diferente para defender em Braga - neste caso, um 4x1x4x1, forma defensiva típica para equipas que actuam em 4x3x3. Por certo ciente da ameaça que Mossoró constituía, Jorge Jesus não pretendia permitir que o brasileiro assumisse o comando do encontro com rápidos contra-ataques. Com Matic por trás de Enzo Pérez e Gaitán, Jesus garantiu a presença constante de um jogador entre linhas, a zona de maior conforto para Mossoró.
Este simples ajuste impediu que o Sporting de Braga fosse bem sucedido nas suas transições rápidas, particularmente porque Ruben Amorim, Viana, Custódio e Alan (hoje em dia, pelo menos) não são suficientemente rápidos para acompanhar Éder ou Mossoró nas suas investidas. Na verdade, os minhotos conseguiram por diversas vezes fazer chegar a bola a Éder, vendo-se este sozinho e obrigado a rematar, mesmo quando as circunstâncias não eram as melhores.
- 3. Benfica contorna facilmente a defesa bracarense.
A abordagem mais cautelosa do Sporting de Braga não se traduziu necessariamente num melhor posicionamento defensivo. Com efeito, a equipa da luz não se mostrou particularmente incomodada com a estratégia adversária e encontrou várias vezes formas de a contornar. Neste caso em particular, Lima recua para se afastar do defesa-central (o qual tenta manter-se próximo do avançado) e receber a bola. Lima entrega o esférico ao desmarcado Enzo Pérez, o qual a encaminha por seu turno para Gaitán.
Após entregar a bola a Enzo Pérez, Lima (vermelho) roda rapidamente e explora as costas do seu marcador directo. Sem ninguém a marcá-lo (Viana tenta pressionar em vão Enzo Pérez), Gaitán tem tempo para escolher a melhor opção de passe e isola Lima.
Embora esta jogada específica não tenha originado um golo, é ainda assim um excelente exemplo da forma que o Benfica encontrou para resolver o posicionamento do seu adversário.
O Benfica dominou o encontro durante aproximadamente 75 minutos. Salvio, nomeadamente, foi um dos principais responsáveis, apesar de ter pela frente Ismaily e Ruben Amorim, supostamente colocado na esquerda para estancar a ameaça que o argentino constituía. Na primeira imagem, a bola chega a Salvio, o qual não perde tempo a endossá-la para Gaitán. O movimento de Lima a desposicionar o defesa-central é extremamente importante. Com Ismaily concentrado em Salvio e o defesa-central em Lima, Gaitán (vermelho) passa por Hugo Viana e recebe a bola no espaço.
Aqui, Gaitán (vermelho) está novamente em condições de escolher a melhor opção de passe. Ao fingir aproximar-se para receber a bola, Lima confunde as marcações adversárias e Salvio (azul) fica livre no centro da grande área.
Não obstante a presença de cinco defesas na sua própria grande área, Salvio conseguirá rematar e recolher o ressalto do seu remate.
- 5. As más transições defensivas do Sporting de Braga.
Comecemos pelo início. Veja se consegue contar quantos jogadores do Sporting de Braga se encontram dentro ou em redor da grande área benfiquista. Numa jogada potencialmente benéfica, os minhotos envolvem directamente nada menos do que nove jogadores - o que significa que existe apenas um defensor e o guarda-redes atrás desta imagem.
Quando o livre é batido e corre menos bem, o Sporting de Braga tem imediately quatro jogadores à frente da linha da bola, para além de alguns pouco dispostos em recuar a toda a velocidade.
Três segundos após o livre, o Benfica encontra-se já numa situação de superioridade numérica de 3v2. Note-se que a jogada havia sido inicialmente perigosa para o clube da Luz.
Cinco segundos após o livre, esta é situação com que o Sporting de Braga se depara. Gaitán corre desmarcado, com Lima e Ola John à espera do momento certo.
Oito segundos após um livre potencialmente perigoso a favor da equipa minhota, o Benfica está prestes a entrar na grande área adversária. Lima acabaria por marcar o segundo tento encarnado, graças em parte à pressão pouco efectiva de Haas e a uma intervenção menos conseguida de Beto.
- 6. Sporting de Braga demora a 76 minutos a lançar jogadores na frente.
Após dar por si com uma desvantagem de dois golos e sem grandes oportunidades de voltar ao jogo, o Sporting de Braga pareceu outro no exacto minuto em que João Pedro entrou para o lugar de Ruben Amorim. Foi basicamente a primeira vez que os comandados de José Peseiro insistiram em chegar-se à frente. No caso do golo dos bracarenses, Éder recuou e, ao contrário de situações anteriores, viu alguém explorar o espaço vagado pelo ponta-de-lança. João Pedro (vermelho) ataca inteligentemente o espaço entre o defesa-central e o lateral.
A segunda imagem mostra o sprint sem marcação de João Pedro (vermelho) para chegar ao passe de Éder.
Mantendo a calma sob pressão, João Pedro contorna Artur e introduz a bola na baliza. O Sporting de Braga reduzia a desvantagem para metade, mas era já demasiado tarde.