Thursday, April 4, 2013

Quartos-de-final da Liga dos Campeões - os gráficos


As partidas desta semana a contar para os quartos-de-final da Liga dos Campeões ofereceram-nos grandes jogos, repletos de acção. São apresentados mais abaixo alguns gráficos interessantes sobre os encontros.

Mandzukic foi fundamental para a constante pressão do Bayern e a sua capacidade de trabalho é de realçar.

O Borussia de Dortmund apenas poderá queixar-se de si próprio por não ter conseguido conquistar a vitória.
Na segunda metade, os comandados de Jürgen Klopp foram mais incisivos na sua pressão e assumiram o controlo.

A pressão incessante do Bayern de Munique trouxe à tona as limitações técnicas de Barzagli, Bonucci e Chiellini.
Note-se como a maioria dos desarmes e roubos de bola não tiveram lugar na zona dos defesas-centrais.

David Beckham foi a surpresa que Carlo Ancelotti decidiu lançar frente ao Barcelona.
Embora não haja muito a apontar ao médio inglês, o seu contributo foi bastante limitado.

Zlatan Ibrahimovic fez um jogo discreto, de acordo com os seus padrões,
mas conseguiu ainda assim apontar um importante golo.


Wednesday, February 20, 2013

FC Porto vence, mas não resolve eliminatória

Equipas e movimentações iniciais


FC Porto e Málaga disputaram um duelo ibérico muito aguardado para decidir qual das equipas seguiria para a fase seguinte da Liga dos Campeões.

Com James Rodríguez sem os índices físicos necessários para iniciar a partida a titular, Vítor Pereira manteve Izmailov no lugar da jovem estrela colombiana e Varela recuperou o seu lugar no onze titular após a boa exibição de Atsu frente ao Beira-Mar. Por seu turno, o técnico do Málaga, Manuel Pellegrini optou por alinhar com Roque Santa Cruz mais adiantado, com Joaquín na sua posição habitual de extremo-direito e Isco à esquerda. Ao centro, Toulalan e Iturra, ex-União de Leiria, travaram uma batalha desigual contra o trio de médios dos visitados - Fernando, Lucho González e João Moutinho.

Os comandados de Vítor Pereira optaram por uma pressão acentuada desde o primeiro apito, tentando sufocar o adversário e fazer passar uma mensagem de domínio. Moutinho ou Lucho eram os primeiros a liderar a pressão assim que Willy Caballero colocava a bola nos pés de um dos centrais, uma vez que os quatro elementos da linha mais recuada do Málaga mostravam sinais de desconforto em posse.

Pellegrini preferiu estranhamente fazer uso de Júlio Baptista ao invés de um terceiro médio, o que acabaria por se revelar relevante. Com Isco a partir da esquerda (embora nunca se tivesse encostado à linha lateral), uma boa parte da ameaça malaguenha foi eliminada, com o treinador argentino a depositar aparentemente a sua confiança numa abordagem mais directa.

Encostado ao flanco esquerdo, Isco deveria acompanhar as investidas de Danilo - algo que não parecia muito interessado em fazer e que viria a abrir enormes buracos, tanto para Danilo como também para Lucho González. Com Izmailov a funcionar com frequência como quarto médio (com uma posição inicial ligeiramente mais aberta), Toulalan e Iturra deram muitas vezes por si assoberbados no centro, com demasiado espaço para cobrir.

Com efeito, ao contrário da maioria dos 4x2x3x1 e 4x4x2, o Málaga apresentou-se de forma surpreendentemente diferente na sua fase defensiva, optando por não formar duas linhas de quatro jogadores, o que ofereceu uma enorme liberdade de movimentos a Moutinho e Lucho e permitiu que os dois médios portistas ditassem o ritmo da partida. O FC Porto dava início às suas movimentações num dos flancos, fazia a bola entrar rapidamente no centro e rodava-a de súbito para a ala contrária, onde se verificaram inúmeras situações de superioridade numérica.

O FC Porto encontrou muito espaço pelo centro contra Toulalan e Iturra

Contudo, apesar de todo o espaço de que os campeões nacionais desfrutaram, não se mostraram capazes de o converter em oportunidades claras de golo, sentindo falta de alguma criatividade ou intensidade pelas alas. Danilo, em particular, pareceu retroceder e não constituiu qualquer ameaça no seu flanco, afunilando ainda mais o jogo portista.

À medida que os minutos iam passando, o Málaga parecia começar a prejudicar-se a si mesmo, mostrando-se um conjunto ainda mais desconjuntado, especialmente nas transições defensivas, com Toulalan e Iturra forçados - ainda e sempre - a cobrir tanto terreno quanto possível, com pouca ajuda dos jogadores mais adiantados do Málaga (quando questionado por este colunista sobre isso mesmo na conferência de imprensa, Pellegrini negou que essa desprotecção tivesse sido decisiva).

A segunda parte não parecia trazer grandes novidades, com o Málaga aparentemente satisfeito com o resultado e pouco interessado em atacar com muitos homens - algo irónico, uma vez que os seus avançados pouco contribuíram na fase ofensiva e ainda menos ofereceram em termos defensivos. James Rodríguez começou a aquecer e, no momento em que foi chamado para entrar em campo, João Moutinho marcou o único golo da partida no seguimento de uma assistência precisa de Alex Sandro. Era praticamente a primeira vez que um médio azul e branco tentava penetrar na grande área e confundir as marcações adversárias.



Os dragões foram mais rápidos e precisos nos dez minutos que se seguiram ao golo, mas a presença em simultâneo de James Rodríguez e Izmailov aniquilou o flanqueamento do jogo portista. A equipa da casa viria a mostrar-se mais perigosa após a entrada de Atsu para o lugar do extremo russo, esticando o jogo e punindo a lentidão de Sérgio Sánchez e De Michelis.

Em resumo, os espanhóis lograram defender-se da maioria dos ensaios do FC Porto pelo centro, mas foram quase inexistentes no ataque. Se pretenderem assumir uma candidatura séria à fase seguinte, terão de elevar a fasquia de forma considerável. Contudo, subsiste a questão: irá o FC Porto recorrer a uma postura mais cautelosa e permitir que o Málaga domine (abrindo desse modo brechas nas suas costas) ou irão os campeões nacionais insistir em sufocar a potencial ameaça ofensiva adversária?

Friday, February 15, 2013

Bayer Leverkusen x Benfica: as imagens


No seguimento da análise inicial, é agora chegada a altura de uma decomposição mais detalhada do encontro da passada quinta-feira entre Bayer Leverkusen e Benfica. Com efeito, existem alguns factos curiosos (e reveladores) sobre o desempenho das duas equipas.

Roubos de bola efectuados pelas duas equipas. 

Comecemos pelos roubos de bola levados a cabo por ambas as equipas. Conforme referido no artigo anterior, as duas equipas pareceram inverter os seus papéis na perfeição. Com o Benfica a ceder a iniciativa de jogo ao Bayer Leverkusen, a equipa alemã foi muito menos eficaz ao nível defensivo. Habituados a jogarem compactos e a partir para o contra-ataque, os jogadores do Bayer Leverkusen deram por si desposicionados por diversas vezes após ceder a posse da bola. Note-se quão perto das linhas laterais são os roubos de bola realizados pelo Bayer Leverkusen.

Por outro lado, o gráfico pertencente ao Benfica proporciona uma leitura extremamente interessante. Em vez de apontar à jugular, como tantas vezes acontece, as águias não tiveram quaisquer problemas em recuar as suas linhas. Se olharmos com atenção para o gráfico encarnado, constataremos que apenas 2 dos 20 roubos de bola foram efectuados (ligeiramente) à frente da linha divisória.

Outro aspecto interessante desta partida residiu na fluidez dos três avançados do Bayer Leverkusen - Stefan Kiessling, Gonzalo Castro e André Schürrle. Embora todos eles tivessem posições de partida fixas, o seu movimento foi constante e as suas combinações foram alvo de atenção redobrada. Kiessling, por exemplo, foi fundamental ao recuar para receber a bola de costas para a baliza contrária, permitindo que Schürrle explorasse o espaço libertado por Kiessling.

As exibições versáteis de Kiessling e Castro.


  • Dividir em dois

Embora a corrente de jogo não possa ser rachada ao meio em duas metades idênticas, resulta ainda assim interessante separar os dados da primeira e da segunda parte. Comecemos com os desempenhos contrastantes de Castro.

O desempenho de Castro dividido entre as duas partes.

Castro foi um dos jogadores mais decisivos durante toda a primeira parte. Embora tenha começado na direita e permanecido nesse flanco na fase defensiva, o extremo-direito flectia frequentemente para o centro sempre que a sua equipa tinha a bola. Com isso, não só criou inúmeras situações de superioridade numérica contra a dupla de médios do Benfica constituída por Matic e André Gomes (à semelhança do que Defour fez contra o mesmo Benfica), como libertou igualmente a ala para os avanços de Hogasai. Contudo, na segunda parte, o seu contributo foi muito mais limitado, em parte devido à maior colaboração defensiva de Gaitán.

Passes efectuados pelo Bayer Leverkusen no último terço - primeira e segunda parte.

Graças ao movimento e astúcia dos seus três avançados, o Bayer Leverkusen desfrutou de longos períodos de posse de bola e de boas posições para criar perigo (ainda que raramente tenha conseguido concluir as jogadas) durante a metade inicial. Conforme é possível ver no gráfico mais acima, os alemães não só insistiram em jogar pelas alas, como também encontraram enormes facilidades de penetração pelo centro. Na segunda parte, as suas investidas pelo meio foram muito mais forçadas e as jogadas pelos flancos foram frequentemente anuladas pelos encarnados, ao contrário do que havia acontecido nos 45 minutos iniciais.


Remates do Bayer Leverkusen - primeira e segunda parte.

Embora se tenha exibido a melhor nível ao longo do primeiro período, o gráfico mais acima mostra como o Bayer Leverkusen se limitou a remates de longe ao longo da maioria dos primeiros 45 minutos. Foi apenas na segunda parte que a equipa germânica conseguiu aproximar-se da baliza à guarda de Artur Moraes, numa altura em que se mostravam cada vez mais desesperado para marcar pelo menos um golo. A sua melhor e mais fluida fase de jogo não esteve à altura da abordagem mais directa que favoreceram na segunda metade, particularmente após sofrer o golo.

Passes efectuados pelo Benfica no último terço - primeira e segunda parte.

No que diz respeito ao Benfica, a divisão do seu jogo pelas duas partes fornece igualmente conclusões interessantes. Ao analisarmos o gráfico mais acima, poderemos verificar que os passes realizados no último terço foram muitas vezes laterais e que a aposta pelo centro raramente resultou. No entanto, houve ainda assim algumas tentativas de investir num futebol mais rendilhado. Se observarmos o gráfico da segunda metade, veremos que os passes das águias são muito directos e incisivos (quase nunca pelo meio), típico de uma equipa dedicada ao contra-ataque.

Remates do Benfica - primeira e segunda parte.

Embora não haja uma diferença excessiva entre as duas partes no que a remates diz respeito, é contudo evidente que, ao longo dos segundos 45 minutos, o Benfica não só rematou mais, como teve igualmente maior liberdade para rematar em posições mais favoráveis.

Benfica a caminho dos oitavos-de-final da Liga Europa

Equipas iniciais

O encontro entre Bayer Leverkusen e Benfica era (juntamente com a partida que opunha Tottenham e Lyon) provavelmente um dos mais apetecidos desta ronda da Liga Europa. Duas equipas de qualidade, com abordagens e formações distintas, a disputar uma presença na fase seguinte da competição.

Se subsistiam dúvidas de que a Liga Europa não envolve o mesmo tipo de respeito e interesse por parte dos clubes (e, por arrasto, dos adeptos), o jogo da noite passada encarregou-se de as dissipar. Ambos os treinadores optaram por rodar as suas equipas, aparentemente mais preocupados com as partidas do próximo fim-de-semana nos seus campeonatos (o Bayer, por exemplo, defrontará o penúltimo classificado da Bundesliga). Jorge Jesus fez descansar Máxi Pereira, Enzo Pérez, Lima e Sálvio. Sasha Lewandowksi e Sami Hyppia tomaram uma opção semelhante e promoveram diversas alterações na defesa e no meio-campo, deixando o ataque intacto.

Quando ambas as equipas subiram ao relvado, confirmaram-se as suspeitas: o Bayer Leverkusen jogaria em 4x3x3, um sistema que causa frequentemente problemas aos comandados de Jesus. Algumas opiniões antes do jogo apontavam para a possibilidade de Benfica e Bayer Leverkusen poderem vir a inverter papéis enquanto visitados e visitantes - o Benfica pressionando de forma mais intensa e o Bayer Leverkusen a jogar no contra-ataque -, mas verificou-se o contrário.

Apesar de fazer alinhar um onze recheado de jogadores de características mais ofensivas, Jesus decidiu-se por um plano mais calculista, com Ola John e Urreta bem cientes das suas tarefas defensivas. Por sua vez, essa estratégia forçou a equipa alemã a recorrer a um tipo de jogo com que não se sente confortável: assumir iniciativa e dominar a posse de bola. Ainda assim, é de salientar que o actual terceiro classificado da Bundesliga foi capaz de se adaptar com sucesso durante os primeiros 25 minutos. Conforme tantas vezes sucede quando o Benfica defronta um 4x3x3, havia um vazio no centro, uma vez que Gaitán - a jogar nas costas de Cardozo - não recuava, o que permitia que o Bayer Leverkusen tivesse sempre um homem adicional no centro.

Com efeito, tanto Matic como André Gomes sentiam a necessidade de subir no terreno e encostar nos médios do Bayer Leverkusen, de modo a evitar que desfrutassem de demasiado tempo em posse, o que fez com que a linha benfiquista mais recuada se visse frequentemente obrigada a enfrentar por si só a enorme fluidez do trio ofensivo contrário - Castro à direita, Schürrle à esquerda e Kiessling como ponta-de-lança.

Durante os 25 minutos iniciais, a equipa da casa encontrou inúmeras opções de passe pelo meio, com Kiessling a recuar para receber o esférico e entregá-lo a Schürrle ou Bender, o médio mais ofensivo do Bayer Leverkusen. Graças às investidas de Hosogai pelo flanco direito (com Castro a flectir para o centro e libertando o espaço), os alemães lograram conquistar posições extremamente favoráveis, acabando por retirar poucos proveitos devido a abordagens técnicas ou decisões menos precisas.

Após a primeira metade da etapa inicial, as águias foram assumindo gradualmente o controlo do jogo. Embora os encarnados não estivessem a semear o pânico no último terço, o Bayer Leverkusen dava sinais de fragilidade sempre que perdia a bola, com os seus jogadores quase sempre lentos a recuperarem as suas posições, uma característica típica de uma equipa mais habituada a jogar no contra-ataque. Em muitos casos, o posicionamento dos defesas-centrais, em particular, deixou muito a desejar.


  • Segunda parte


A segunda parte não trouxe alterações significativas, com excepção da estranha decisão da dupla técnica do Bayer Leverusken de colocar Sidney Sam no lugar de Schürrle. A equipa mostrou-se imediatamente menos perigosa - na verdade, Sam não chegou a deixar a sua marca no encontro -, indo de encontro às pretensões benfiquistas. A partida não dava ares de evoluir positivamente, particularmente porque Enzo Pérez entrou para o lugar do lesionado André Gomes e Gaitán terá recebido instruções de Jorge Jesus no sentido de colaborar defensivamente.

O Benfica denotou algumas dificuldades em situações de bola parada e esteve inclusivamente perto de sofrer aos 60 minutos, mas a jogada confusa acabou por originar nada mais do que um canto a favor do Bayer Leverkusen, equipa que insistia em abordar as bolas paradas ofensivas com muitos jogadores. Após o duelo pelo ar, as águias partiram rapidamente para o contra-ataque e Cardozo teve todo o tempo (e competência) para simular um primeiro remate e, em seguida, colocar calmamente a bola por cima do ombro do guarda-redes contrário.

O golo pareceu despertar o onze alemão, o qual passou a correr mais riscos no ataque, recuperando a fluidez da primeira metade. O Benfica tentou abrandar o ritmo do jogo, mas permanecia vulnerável aqui e ali às combinações pelo centro. O encontro terminaria com um corte in extremis junto à linha de golo do Benfica, um momento crucial para uma abordagem mais relaxada dentro de uma semana.

O Bayer Leverkusen dá por si numa posição confrangedora. Um empate sem golos colocá-los-ia numa posição favorável, mas será agora forçado a expor-se a um tipo de jogo que em nada favorece as suas características. Para além disso, o Benfica é sempre mais forte a jogar no seu terreno, sendo difícil imaginar os vice-campeões nacionais a desperdiçarem a oportunidade de se apurarem para a próxima eliminatória.

Monday, January 28, 2013

Como conseguiu o Benfica vencer o Sporting de Braga?

Dois dias depois do desaparecimento de qualquer réstia de esperança do Sporting de Braga em manter-se na luta pelo título, é chegado o momento de dissecar os motivos que estiveram na origem da superioridade benfiquista ao longo da maior parte do encontro - e por que motivo o onze de José Peseiro é menos sólido do que as mais recentes anteriores versões do Sporting de Braga.


Na última vez que o Benfica saiu vencedor do Estádio Axa, o Braga ainda era orientado por Jorge Jesus. Ao longo das últimas temporadas, as águias encontraram grandes dificuldades em derrubar a muralha defensiva erigida tanto por Domingos como por Leonardo Jardim - dois treinadores conhecidos pelos seus cuidados defensivos (alegadamente uma das razões que levou o despedimento do técnico madeirense do Olympiakos). Por conseguinte, havia alguma curiosidade em torno dos planos de ambos os treinadores - assistiríamos a um duelo de futebol ofensivo ou testemunharíamos ideias mais conservadoras?


  • 1. O 4x3x3.


Sem Cardozo, Lima era o único ponta-de-lança dos encarnados - uma alteração significativa face ao modelo actual. Com a introdução de Gaitán, o Benfica ficou disposto num 4x3x3, com Jorge Jesus a tentar claramente controlar o centro. Matic, Enzo Pérez e Gaitán formavam com frequência um triângulo perfeito. Embora ambos os argentinos tivessem autorização para subir no terreno, Gaitán tinha liberdade para vaguear por onde entendesse, no sentido de sobrecarregar a defesa bracarense - na verdade, acabaria por merecer honras de melhor jogador em campo.

A imagem mostra igualmente que, embora o Sporting de Braga tivesse adoptado uma postura mais expectante do que o habitual, Mossoró e Éder tendiam a permanecer mais adiantados, afastados da luta do meio-campo. Custódio e Hugo Viana, longe de poderem ser considerados jogadores rápidos, eram claramente insuficientes para Matic, Gaitán e Enzo Pérez, já para não falar no movimento de Lima.


  • 2. O 4x1x4x1 em organização defensiva.


Jorge Jesus não só optou por um 4x3x3 em situação ofensiva, como também escolheu uma forma diferente para defender em Braga - neste caso, um 4x1x4x1, forma defensiva típica para equipas que actuam em 4x3x3. Por certo ciente da ameaça que Mossoró constituía, Jorge Jesus não pretendia permitir que o brasileiro assumisse o comando do encontro com rápidos contra-ataques. Com Matic por trás de Enzo Pérez e Gaitán, Jesus garantiu a presença constante de um jogador entre linhas, a zona de maior conforto para Mossoró.

Este simples ajuste impediu que o Sporting de Braga fosse bem sucedido nas suas transições rápidas, particularmente porque Ruben Amorim, Viana, Custódio e Alan (hoje em dia, pelo menos) não são suficientemente rápidos para acompanhar Éder ou Mossoró nas suas investidas. Na verdade, os minhotos conseguiram por diversas vezes fazer chegar a bola a Éder, vendo-se este sozinho e obrigado a rematar, mesmo quando as circunstâncias não eram as melhores.


  • 3. Benfica contorna facilmente a defesa bracarense.

A abordagem mais cautelosa do Sporting de Braga não se traduziu necessariamente num melhor posicionamento defensivo. Com efeito, a equipa da luz não se mostrou particularmente incomodada com a estratégia adversária e encontrou várias vezes formas de a contornar. Neste caso em particular, Lima recua para se afastar do defesa-central (o qual tenta manter-se próximo do avançado) e receber a bola. Lima entrega o esférico ao desmarcado Enzo Pérez, o qual a encaminha por seu turno para Gaitán.


Após entregar a bola a Enzo Pérez, Lima (vermelho) roda rapidamente e explora as costas do seu marcador directo. Sem ninguém a marcá-lo (Viana tenta pressionar em vão Enzo Pérez), Gaitán tem tempo para escolher a melhor opção de passe e isola Lima.


Embora esta jogada específica não tenha originado um golo, é ainda assim um excelente exemplo da forma que o Benfica encontrou para resolver o posicionamento do seu adversário.


  • 4. Salvio, o criativo.

O Benfica dominou o encontro durante aproximadamente 75 minutos. Salvio, nomeadamente, foi um dos principais responsáveis, apesar de ter pela frente Ismaily e Ruben Amorim, supostamente colocado na esquerda para estancar a ameaça que o argentino constituía. Na primeira imagem, a bola chega a Salvio, o qual não perde tempo a endossá-la para Gaitán. O movimento de Lima a desposicionar o defesa-central é extremamente importante. Com Ismaily concentrado em Salvio e o defesa-central em Lima, Gaitán (vermelho) passa por Hugo Viana e recebe a bola no espaço.


Aqui, Gaitán (vermelho) está novamente em condições de escolher a melhor opção de passe. Ao fingir aproximar-se para receber a bola, Lima confunde as marcações adversárias e Salvio (azul) fica livre no centro da grande área.


Não obstante a presença de cinco defesas na sua própria grande área, Salvio conseguirá rematar e recolher o ressalto do seu remate.


  • 5. As más transições defensivas do Sporting de Braga.

Comecemos pelo início. Veja se consegue contar quantos jogadores do Sporting de Braga se encontram dentro ou em redor da grande área benfiquista. Numa jogada potencialmente benéfica, os minhotos envolvem directamente nada menos do que nove jogadores - o que significa que existe apenas um defensor e o guarda-redes atrás desta imagem.



Quando o livre é batido e corre menos bem, o Sporting de Braga tem imediately quatro jogadores à frente da linha da bola, para além de alguns pouco dispostos em recuar a toda a velocidade.


Três segundos após o livre, o Benfica encontra-se já numa situação de superioridade numérica de 3v2. Note-se que a jogada havia sido inicialmente perigosa para o clube da Luz.


Cinco segundos após o livre, esta é situação com que o Sporting de Braga se depara. Gaitán corre desmarcado, com Lima e Ola John à espera do momento certo.


Oito segundos após um livre potencialmente perigoso a favor da equipa minhota, o Benfica está prestes a entrar na grande área adversária. Lima acabaria por marcar o segundo tento encarnado, graças em parte à pressão pouco efectiva de Haas e a uma intervenção menos conseguida de Beto.


  • 6. Sporting de Braga demora a 76 minutos a lançar jogadores na frente.

Após dar por si com uma desvantagem de dois golos e sem grandes oportunidades de voltar ao jogo, o Sporting de Braga pareceu outro no exacto minuto em que João Pedro entrou para o lugar de Ruben Amorim. Foi basicamente a primeira vez que os comandados de José Peseiro insistiram em chegar-se à frente. No caso do golo dos bracarenses, Éder recuou e, ao contrário de situações anteriores, viu alguém explorar o espaço vagado pelo ponta-de-lança. João Pedro (vermelho) ataca inteligentemente o espaço entre o defesa-central e o lateral.


A segunda imagem mostra o sprint sem marcação de João Pedro (vermelho) para chegar ao passe de Éder.


Mantendo a calma sob pressão, João Pedro contorna Artur e introduz a bola na baliza. O Sporting de Braga reduzia a desvantagem para metade, mas era já demasiado tarde.

Friday, January 18, 2013

Uma simples questão




Como é possível que um lançamento lateral a nosso favor termine como jogada de golo na nossa própria baliza?

Benfica x FC Porto: o clássico à lupa


O encontro do passado Domingo que opôs Benfica e FC Porto já foi aqui analisado em termos gerais, mas partiremos agora para uma análise mais detalhada dos diferentes aspectos de ambas as equipas. Cada uma terá uma secção própria, dividida entre defesa e ataque.

  • Benfica - Defesa

  • O Benfica começou por não pressionar o guarda-redes do FC Porto. Os dois avançados encarnados, Cardozo e Lima, tinham pelo contrário instruções para prestarem atenção aos defesas-centrais do FC Porto, com Enzo Pérez a seguir o médio azul e branco que recuasse (geralmente Fernando).


  • As águias foram também menos pressionantes do que o habitual, optando com frequência por recuar em bloco, permitindo aos portistas mais tempo em posse do que o esperado, especialmente durante a primeira metade.


    • Ainda assim, a equipa da capital denotou dificuldades em ganhar as segundas bolas - nos duelos pelo ar, por exemplo. Neste caso em particular, Jackson Martínez (amarelo) está prestes a disputar o esférico com Jardel. Devido à presença de Defour, Matic não pode aproximar-se de João Moutinho (laranja) tanto quanto desejável. O médio português viria a recolher a bola.




    • A primeira imagem mostra a vulnerabilidade do Benfica a penetrações pelo centro. Sem Cardozo ou Lima a recuarem para ajudar no meio-campo, Fernando e os dois centrais azuis e brancos - neste caso case, Mangala (amarelo) - tinham frequentemente a possibilidade de progredir sem problemas de maior. A linha amarela representa o passe simples na direcção de Martínez que abriu a defesa do Benfica (conforme se vê na segunda imagem).



    • Benfica - Ataque

    • Como resultado da pressão exercida pelos campeões nacionais, nomeadamente durante os primeiros 60 minutos da partida, o Benfica viu-se obrigado a lançar bolas longas na direcção de Cardozo. Contudo, sempre que as águias conseguiram jogar à flor da relva, procuravam ir ao encontro dos seus pontos fortes - as alas. Enquanto Gaitán insistia em flectir para o centro, o flanco direito foi a origem da maioria das ameaças ofensivas do clube da Luz. A primeira imagem ilustra uma situação ofensiva típica da equipa de Jorge Jesus, com cinco jogadores a criarem superioridade numérica na ala. A segunda imagem mostra como Sálvio (azul) procura que Máxi (amarelo) dê largura, enquanto Cardozo (laranja) ocupa o centro. A terceira figura apresenta uma situação semelhante, na qual Lima (amarelo) desposiciona o seu marcador para que Sálvio (laranja) possa entrar pelo centro.

    • FC Porto - Defesa




    • A equipa visitante não teve receio em defender mais à frente e impedir que o seu adversário saísse a jogar a partir de trás. As primeiras duas imagens são do 5.º minuto e são apresentadas para exemplificar a típica pressão exercida pelo FC Porto. Jackson Martínez prestava especial atenção ao central benfiquista do lado direito, ao passo que Lucho se aproximava do central do lado esquerdo (primeira imagem) e/ou do guarda-redes (segunda imagem). A terceira imagem refere-se ao segundo golo do FC Porto. Embora Artur tenha recebido (correctamente) a maior dose de culpa, não é menos verdade que isso apenas produziu resultados para os dragões porque o guarda-redes estava a ser pressionado. Note-se o adiantamento da pressão portista e como Jackson está próximo de Artur quando a bola chega aos seus pés.


    • Sempre que o FC Porto não era capaz de impedir a primeira fase de construção do seu adversário, a equipa encurtava as suas linhas, tentando fechar a maioria das linhas de passe ao Benfica. Neste caso em concreto, Garay tem a bola em seu poder, mas não tem qualquer opção de passe à disposição. O defesa-central acabaria por falhar o passe aéreo.



    • Ao contrário do Benfica, o FC Porto mostrou-se empenhado em defender pelo centro, embora o seu arqui-rival ataque geralmente pelas alas. Na primeira imagem, Gaitán tenta progredir pelo centro, deparando-se com a oposição dos três médios portistas (vermelho). Note-se como Otamendi (amarelo) está preparado para o caso de Gaitán lograr ultrapassar os seus marcadores directos (conforme viria a acontecer). A segunda imagem mostra o bom posicionamento e timing de Otamendi de modo a impedir a progressão do médio argentino.

    • FC Porto - Ataque

    • Com a ausência de James Rodríguez, havia alguma curiosidade relativamente ao posicionamento e movimentação de Defour. Quaisquer dúvidas sobre se Defour replicaria as manobras do mago colombiano dissiparam-se logo no primeiro minuto. A primeira imagem mostra a posição central de Defour (amarelo) enquanto a bola se encontra no flanco esquerdo. A segunda mostra como um simples passe atrasado de Varela para Fernando despoletou a desmarcação do belga nas costas da defesa encarnada.




    • Com a tendência de Defour de flectir para dentro, o FC Porto assemelhava-se com frequência a um 4x4x2 em losango, conforme se pode ver nas imagens mais acima, com Fernando mais recuado, Moutinho à esquerda, Lucho González à direita e Defour por trás de Jackson Martínez, enquanto o extremo Varela oferecia largura à esquerda e o lateral Danilo fazia o mesmo no flanco oposto.


    • Esta imagem em particular ilustra o combate desigual entre os dois meios-campos, com Matic e Enzo Pérez a braços com Fernando (azul), Moutinho (amarelo) e Lucho González (vermelho) - o que significava que um destes três estava livre na maioria das vezes. Note-se como Cardozo e Lima não se envolvem na batalha travada a meio-campo.




    • Fernando foi efectivamente decisivo para inclinar a balança a favor do FC Porto no que diz respeito à luta no centro do terreno. Na primeira imagem, é possível ver Enzo Pérez a tentar pressionar Fernando (amarelo). Lucho apenas tinha de se desmarcar para receber o passe, o que fez de imediato. Na segunda imagem, Fernando (amarelo) ocupa ambos os médios do Benfica, com Lucho a ficar livre para escolher a melhor opção de passe na ala direita. Na terceira figura, é possível ver a liberdade concedida a Danilo - tudo isto uns meros dois segundos após Enzo Pérez tentar pressionar Fernando.


    • Por fim, a importância do recuo de Jackson Martínez (amarelo). A sua predisposição para se mostrar aos seus companheiros de equipa não só abria uma linha de passe adicional, como arrastava consigo um defesa-central, o que significava que o FC Porto tinha espaço para explorar nas costas desse mesmo defesa-central. Note-se como Lucho González passa pelo meio-campo encarnado, quase de perfil com o seu companheiro.