Sunday, June 10, 2012

A História a repetir-se


Equipas e movimentações iniciais


Portugal e Alemanha ofereceram-nos o primeiro jogo de xadrez do Europeu. Os três encontros até então tinham divergido daquela que era a expectativa consensual - confrontos fechados com poucos golos. O onze português não apresentou qualquer surpresa, com Hélder Postiga e João Pereira a ocuparem os lugares de Hugo Almeida e Miguel Lopes, mas Joachim Löw, o treinador alemão, optou por Mats Hummels em vez de Per Mertesacker, provavelmente para disponibilizar uma cobertura defensiva mais veloz para as investidas de Cristiano Ronaldo.

Portugal reconheceu desde logo a superioridade alemã e abordou a partida de forma cautelosa. Resistindo à tentação de recuar o bloco em demasia, a estratégia dos homens de Paulo Bento era evidente: impedir que o adversário chegasse com a bola controlada ao último terço do terreno. Para tal, tentaram sufocar a primeira fase de construção alemã, com Moutinho e Meireles a encaixarem em Schweinsteiger e Khedira, respectivamente. Contudo, a presença de Hummels fazia com que a Alemanha fosse capaz de contornar facilmente esse obstáculo, particularmente porque Hélder Postiga não parecia saber quem deveria marcar.

Hummels proporcionou uma melhor circulação de bola à Mannschaft.

Ao fim de 20 minutos, a selecção nacional começou a ter cada vez mais dificuldades em encontrar as linhas para contra-atacar. Incapaz de jogar pela direita, a principal alternativa passava pelos passes longos de Fábio Coentrão na direcção de Ronaldo ou Postiga, com pouco sucesso. Para além disso, não obstante a preocupação com Ronaldo demonstrada ao longo das conferências de imprensa antes do jogo, foi evidente que Löw havia feito os seus trabalhos de casa, dado que Miguel Veloso era sempre marcado de perto por Özil ou Gómez. Por seu turno, isso fazia com que as opções portuguesas fossem previsíveis e não muito bem sucedidas.

Portugal tentou sufocar o meio-campo alemão.

Com ambas as equipas aparentemente mais receosas de uma derrota do que interessadas na vitória, a segunda parte não foi muito diferente. Nenhum dos onzes foi capaz de tirar máximo proveito dos seus pontos fortes. Embora a Alemanha fosse mais pró-activa, continuava sem conseguir encontrar espaço pelo centro do terreno e começou a procurar a ameaça aérea de Gómez com maior insistência. Por outro lado, as transições lusas não chegavam ao seu destino devido aos inúmeros passes (simples) transviados e movimentações assíncronas.

Löw tentou alterar o estado das coisas ao pedir a Schweinsteiger que jogasse mais adiantado, de modo a que Özil pudesse explorar o espaço livre à frente da defesa portuguesa. A estratégia resultou parcialmente, com o maestro alemão a criar facilmente situações de superioridade numérica nas alas (Ronaldo e Nani tinham instruções claras para não acompanharem o seu adversário directo e fornecerem a bola de saída), mas não obteve o resultado final pretendido. No que se refere a Portugal, sem alguém com o perfil de Rui Costa ou Deco, era difícil agitar o jogo a partir do meio-campo, com ambos os extremos demasiado agarrados às suas posições de partida.

O empate parecia ser o resultado mais previsível até ao 72º minuto, quando Mário Gómez demonstrou que, embora não ofereça o envolvimento de Klose na construção de jogo, possui uma rara capacidade de transformar uma bola solta num golo num fracção de segundo. A partir desse momento, Portugal teve de correr atrás do resultado e Bento lançou Varela para o lugar de Meireles (Nélson Oliveira já tinha substituído Postiga ao 69º minuto) para um último esforço. Após o golo sofrido, a selecção mostrou como pode ser mais perigosa se não se limitar a esperar pelo adversário e, ao invés, estiver disposta a fazer uso das suas armas em zonas mais avançadas.

Muito embora seja provável que os jogadores, treinador e adeptos portugueses venham a queixar-se do infortúnio e referir as duas bolas nos ferros, a verdade é que Portugal apenas poderá queixar-se de si mesmo. Por mais importante que a organização de uma equipa seja, isso por si só não poderá ser o único ponto do plano de jogo, se se pretender atingir o sucesso. Bento tentará levantar o moral dos seus jogadores afirmando que Portugal desfrutou das melhores ocasiões de golo, mas talvez fosse melhor pedir aos seus jogadores que não receassem assumir o que fazem de melhor.


Este artigo estará igualmente disponível (na versão inglesa) em PortuGOAL.net.

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