Friday, October 19, 2012

Barcelona - um modelo diferente

Este texto será porventura tardio, mas permanece pertinente, uma vez que iremos analisar processos (defensivos) consolidados. Tito Vilanova foi nomeado como sucessor de Pep Guardiola no sentido de dar continuidade a uma determinada filosofia, a qual se revelou frutífera ao longo dos últimos anos. Embora seja verdade que a maioria das linhas gerais se mantém, não é menos verdade que Vilanova abandonou quase por completo a defesa a três (excepto em situações de desvantagem) e que a pressão defensiva é actualmente menos intensa e eficaz. Deitemos um olhar rápido à partida contra o Real Madrid de 7 de Outubro.


  • Golo n.º 1 do Real Madrid
O Real Madrid estava a lograr rodar a bola de flanco para flanco, nomeadamente através dos passes longos de Xabi Alonso. Aqui, a bola acabara de ir da esquerda para a direita, com Özil a devolvê-la ao centro. Com uma pressão defensiva muito menos intensa, os extremos do Barcelona parecem ter dúvidas quanto ao que deverão fazer sem a bola e esquecem-se frequentemente de defender. Neste caso em particular, existem cinco jogadores do Real Madrid na grande área, contra igual número de adversários. Note-se como Ronaldo (azul) é deixado numa situação de 1x1 contra Dani Alves, com imenso espaço para todas as habilidades (área sombreada).


Quando a bola chega a Benzema, um dos defesas-centrais vai ao seu encontro, conforme esperado, e Dani Alves (laranja) hesita entre oferecer cobertura ao seu companheiro de equipa e marcar Ronaldo. Uma vez mais, o extremo direito dos catalães não está minimamente próximo da zona de acção e nem Xavi nem Fàbregas (os médios neste encontro) oferecem qualquer contributo defensivo junto à grande área.


Essa simples hesitação é suficiente para Ronaldo ultrapassar Dani Alves (laranja) e introduzir a bola na baliza  com um potente remate de pé esquerdo.


  • Golo n.º 2 do Real Madrid

No segundo golo da equipa madrilena, houve outra questão pertinente. O Barcelona tem sido esta época menos preciso no capítulo do passe e tem cedido a bola de forma menos criteriosa, especialmente em jogos com maior grau de dificuldade. Aqui, os catalães perdem novamente a bola e a equipa demora mais do que o devido a reencontrar a sua disposição (defensiva). O centro do terreno está totalmente desprotegido (área sombreada) e Dani Alves não está entre a baliza e o seu adversário directo, conforme deveria. Para além do mais, não há ninguém entre a baliza e Özil (no interior da área sombreada).


Com ninguém a sair ao encontro de Özil, Ronaldo passa em sprint pelo lateral-direito do Barcelona. Sem qualquer pressão no meio-campo (os dois interiores catalães estão muito longe da zona de acção), o internacional alemão pode escolher o passe ideal e a tentativa de fora-de-jogo não constituiu qualquer obstáculo para a velocidade e inteligente movimentação de Ronaldo.

  • Conclusão
Não obstante o começo exemplar até este encontro (com 6 vitórias em outros tantos jogos), as exibições do Barcelona têm sido tudo menos perfeitas. A posse de bola tem sido por vezes mais descontinuada, mas, acima de tudo, a abordagem defensiva parece estar a mudar, propositadamente ou não. A pressão imediata que a equipa catalã costumava exercer após o momento de perda da bola está longe do que era, mas a sua abordagem e posicionamento defensivos não mudaram em conformidade, o que ajuda a explicar em parte o súbito aumento de golos sofridos.

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