Monday, May 7, 2012

O derradeiro confronto de estilos


Equipas e movimentações iniciais

Na passada segunda-feira, Newcastle e Manchester City encontraram-se em nome das suas ambições. O City jogava para o título, após derrotar o Manchester United há uma semana atrás e o Newcastle pretendia continuar a aspirar a um lugar na Liga dos Campeões do próximo ano. Embora tenha sido um jogo interessante, debruçar-nos-emos sobre aspectos específicos e na forma como traduzem uma visão diferente sobre o futebol.

Com efeito, esta partida foi um dos melhores exemplos do confronto entre o futebol inglês e o continental. Tal como Roberto Mancini, o treinador do Newcastle, Alan Pardew, optou por manter o mesmo onze que vencera em Stamford Bridge há alguns dias - um 4x4x2 híbrido, dado que Gutiérrez colabora defensivamente e actua em terrenos mais interiores do que Ben Arfa. Para além disso, Ba ficava atrás de Cissé, descaindo para a esquerda.

Por seu turno, o Manchester City também manteve a mesma equipa e abordagem, embora Yaya Touré tivesse actuado de forma mais contida do que o habitual - antes de se deslocar para zonas mais avançadas, no decorrer da segunda parte. Com Nasri, Tévez e Silva, os forasteiros mostravam-se extremamente móveis e, devido à baixa estatura dos seus avançados, insistiam em atacar pela ala.


  • Ataque
Conforme explicitado mais atrás, as duas equipas denotavam abordagens bastante diversas. O Newcastle dava ares de uma típica equipa britânica dos anos 90. Com Ba e Cissé, a equipa da casa não tinha pejo em lançar bolas longas (especialmente o guarda-redes Tim Krull), geralmente com Ba a tentar lançar Cissé. Quando não resultava, Ben Arfa era o escolhido, na esperança de uma acção mais individualista.

Por outro lado, os homens de Mancini mantiveram-se fiéis ao seu futebol de passe e movimentação. Tal como referido, Touré preocupou-se mais com as suas tarefas defensivas, mas os Citizens continuaram a carregar pelo flanco direito. Ao contrário do seu adversário, criaram superioridade numérica nas alas, particularmente quando Tévez descaía para esse lado, juntamente com Nasri e Zabaleta. Com Cabaye mais adiantado, Tioté tinha de optar por cobrir essa ala e deixar o centro aberto ou deixar Santon e Gutiérrez à sua sorte. Na maioria das vezes, decidiu-se pela segunda opção.

  • Defesa
A partida de ontem foi o exemplo acabado de como desconstruir a estratégia das duas linhas de quatro homens. O Newcastle utilizou esta aparentemente redescoberta abordagem e sofreu muito à custa disso. Ao dar-se ao luxo de deixar pelo menos dois homens na frente (Ba e Cissé e, por vezes, Ben Arfa), o meio-campo dos visitados foi constantemente ultrapassado com simples triangulações, embora se trate de uma equipa bem trabalhada ao nível defensivo. Ainda assim, foi estranho não ver o habitualmente perfeccionista Pardew efectuar os ajustes necessários ao intervalo.

Foi evidente que Mancini estudou o seu oponente, tendo colocado Touré sobre a direita do seu meio-campo para ajudar Kompany e Zabaleta nos duelos aéreos com Ba e Cissé. Ao fazê-lo, os homens de Mancini foram capazes de suster a ameaça do Newcastle, uma vez que a sua bola de saída preferencial não surtia efeito. Com este aspecto em particular, Mancini demonstrou uma vez mais preferir uma abordagem cerebral (continental) ao invés de emocional (britânica). O único erro do City ao longo da partida residiu na liberdade conferida a Ben Arfa, jogador que poderia ter sido decisivo, mas o seu líder técnico foi suficientemente inteligente para introduzir Nigel de Jong, de modo a que Barry pudesse prestar mais atenção a Ben Arfa.

  • Transições
Um outro aspecto relevante foi a reacção de ambas as equipas à perda da bola. Com o seu 4x4x2, os jogadores do Newcastle foram apanhados por diversas vezes em contrapé por não conseguirem recuperar as suas posições de forma suficientemente rápida ou porque Cabaye não tinha pernas para recuar. Ao invés, Barry e Touré mantiveram-se sempre sóbrios e os dois defesas-centrais (especialmente Kompany) não hesitaram em avançar para quebrar os movimentos ofensivos do Newcastle.

Com dois avançados possantes como Ba e Cissé, é estranho que o lado por onde os Magpies optam por atacar - a esquerda - seja ocupado por dois jogadores incapazes de cruzar com o pé esquerdo e com tendência natural para flectir para dentro. Quando o jogo começou a ficar partido (Silva raramente recua nas segundas partes), a equipa da casa poderia ter causado danos, mas nem Santon nem Gutiérrez foram capazes de fazer um cruzamento com conta, peso e medida.

  • Conclusão
No cômputo geral, foi um interessante e evidente confronto de estilos entre duas filosofias futebolísticas vincadamente distintas. O City ficou mais próximo do seu potencial máximo, ao passo que as fragilidades do Newcastle e a ausência de um plano B ficaram à vista, muito embora se trate de uma equipa que conta com algumas pérolas - o caso de Cabaye vem imediatamente à memória, juntamente com Cissé, como não poderia deixar de ser.

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