Há apenas algumas semanas atrás, o Benfica tinha acabado de perder a liderança do campeonato para o FC Porto, o desfecho da eliminatória da Liga dos Campeões era incerto e parecia forçoso que Jorge Jesus abandonasse o clube. No contexto actual, as águias poderão muito bem conquistar o título nacional, vencer a Taça da Liga e vão lutar com o Chelsea por um lugar nas meias-finais da Liga dos Campeões. No futebol, tudo parece mudar numa questão de minutos, não é verdade?
O encontro de ontem que opôs Benfica a FC Porto a contar para a Taça da Liga foi interessante, longe do que ambos os treinadores tentaram dar a entender - uma eliminatória que nenhuma das equipas parecia querer vencer. A partida foi em tudo semelhante ao último encontro para o campeonato e, como tal, a análise incidirá sobre questões mais específicas.
Benfica
- 1. Semear a lógica no meio do caos. Lembra-se do golo de Maxi Pereira contra o Zenit? Nesse caso, observe mais abaixo o posicionamento do Benfica para o primeiro golo da noite passada e veja se consegue assinalar as diferenças. Uma vez mais, Witsel (rosa), Bruno César (amarelo) e Maxi Pereira (verde) pressionam e criam superioridade numérica no lado esquerdo do adversário.
- 2. Os encarnados permanecem defensivamente vulneráveis no centro. Se o objectivo das águias passa por chegarem mais longe contra clubes mais fortes, como o Chelsea, é imprescindível que sejam capazes de exercer maior e melhor controlo sobre o seu adversário. Ontem, verificaram-se inúmeros casos em que Javi García e Witsel (um pouco mais adiantado) deram por si sozinhos no centro, o que oferece uma enorme facilidade de contornar o meio-campo benfiquista..
- 3. Benfica comprova a sua mestria em bolas paradas. Embora seja difícil compreender o motivo pelo qual as outras equipas parecem prestar pouca atenção a este aspecto da equipa da Luz, o Benfica permanece uma máquina de fazer golos a partir de livres e cantos. O jogo de ontem foi apenas mais um exemplo (há que recordar as três bolas nos ferros no seguimento de jogadas desse género), à imagem do que tinha acontecido no confronto entre estas duas equipas para o campeonato ou no jogo contra o Zenit.
Luisão (amarelo) no segundo poste, libertando Javi García (azul) |
- 4. Benfica mostra uma vez mais que é capaz de promover adaptações no próprio jogo. Após ver a sua defesa batida no golo de Mangala, Jorge Jesus alterou a distribuição da habitual marcação zonal do Benfica.
A habitual marcação zonal do Benfica, sem cobertura à frente da linha. Mangala acabaria por marcar. |
FC Porto
- 1. A ala esquerda continua a ser uma avenida. Não obstante o valor da sua transferência, Alex Sandro demonstrou estar muito verde para estas andanças e não ser substituto à altura de Álvaro Pereira (pelo menos, por agora). Por sua vez, Álvaro Pereira provou mais uma vez que o seu contributo defensivo pode ser questionável, por vezes. Mesmo com João Moutinho a dar o seu contributo defensivo nessa ala, os encarnados insistiram sempre em invadir o lado esquerdo do FC Porto.
- 2. FC Porto deita sal na ferida do seu rival. Cientes de que o Benfica apresentava brechas na abordagem defensiva dos lances de bola parada, os dragões não hesitaram. O golo de Mangala, no seguimento do livre de Moutinho, não foi por certo obra do acaso. A bola foi enviada precisamente para o mesmo sítio que James escolheu, no lance do golo do Maicon, na partida a contar para o campeonato.
O FC Porto voltou a marcar de livre, num lance estranhamente familiar. Na imagem, o golo de Maicon na partida para o campeonato. |
- 3. Os azuis e brancos controlaram melhor o jogo. Com Defour, Moutinho e Lucho, o FC Porto foi capaz de ditar o ritmo do jogo e oferecer uma melhor cobertura defensiva à sua linha mais recuada. Ao contrário do Benfica, onde Javi García fica frequentemente abandonado à sua sorte, o FC Porto protege sempre o centro do terreno.
A equipa nortenha tentou sempre evitar situações de inferioridade numérica e criar diversas linhas de cobertura. |
- 4. O nosso adversário ataca pela direita? Nesse caso, atacamos por esse lado. Embora Hulk tivesse a oposição de Capdevila (uma opção estranha para esta partida, dadas as características dos dois jogadores), o FC Porto tentou explorar as subidas de Maxi Pereira e a menor protecção oferecida por Bruno César. Lucho, geralmente na meia-direita em tarefas defensivas, descaiu muitas vezes para a ala esquerda para criar superioridade numérica.
Maxi Pereira, Javi García e Witsel são atraídos para o lado direito. Note-se a fraca cobertura nas suas costas. |
Com uma simples "tabela", os três jogadores portistas libertam-se mais uma vez das marcações |
Conclusão
Em resumo, foi um jogo interessante e equilibrado. Embora se tratasse de uma competição menor, nenhuma equipa queria perder e, com isso, ceder a vantagem psicológica para os jogos que faltam disputar no campeonato (afinal de contas, o que estava efectivamente em disputa). O FC Porto foi melhor em jogo corrido (acusando o desgaste na segunda metade), mas o Benfica foi extremamente forte nas situações de bola parada.
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