Portugal foi afastado definitiva e inapelavelmente do Campeonato da Europa de 2008. Scolari sai, quanto a mim, pela porta pequena, perdendo contra uma das equipas alemãs mais acessíveis dos últimos anos. Sabia-se que as bolas paradas eram o calcanhar de Aquiles da selecção lusa (como já o tinha dito anteriormente aqui) e um dos pontos fortes da Alemanha. Pois bem, parece que todos os dias adicionais resultantes do primeiro lugar do grupo garantido atempadamente serviram apenas para fazer descansar os titulares. Como se não chegasse, quem tem Ricardo na baliza arrisca-se sempre a sofrer e a perder.
Comecemos pelo início. Portugal jogou manifestamente melhor do que a Alemanha durante 20 minutos. Não obstante a diferente estrutura táctica da Alemanha relativamente aos jogos anteriores (um sinal claro do muito respeito que a Selecção impunha), Portugal não se atemorizou e o triângulo do meio-campo, juntamente com Simão (uma primeira parte de muito bom nível), confundiram frequentemente as marcações alemãs. No entanto, quem falha oportunidades como as de Nuno Gomes ou Moutinho antes do golo alemão perde o direito de se queixar da sorte.
A meio da primeira parte, a Alemanha fez a sua primeira jogada de perigo. Bosingwa, parecendo ainda e sempre algo alienado (como ao longo de todo o Europeu), deu demasiadas facilidades a Podolski, que centrou para a diganol de Schweinsteiger, ultrapassando Paulo Ferreira (parecendo muitas vezes muito desconfortável na sua posição adaptada). Pouco depois, no primeiro lance de bola parada, a Alemanha marcou novamente. Ronaldo voltou a ser decisivo, mas desta feita na baliza errada, ao perder o seu marcador directo. Mais uma vez, a marcação homem-a-homem de Portugal nas bolas paradas comprometia. Portugal via-se a perder por 2-0 tendo criado mais e melhores ocasiões de golo, mas falhando rotudamente quando não se pode. E é também por isso que alguns valem muitos milhões e outros consideravelmente menos.
Portugal continuou embalado nas asas de Deco (que jogo!), que jogava ora curto, ora comprido, flanqueando ou tabelando, e continuou a empurrar uma Alemanha que tinha cometido o pecado de baixar o seu bloco, dando a Portugal o que tanto gosta: posse de bola. Com o golo de Nuno Gomes, o intervalo surgiu numa altura em que todos esperavam o empate. Portugal surgiu mais afoito na segunda parte, tentando encostar os germânicos às cordas, mas não há táctica, vontade e coração que aguente os constantes sofrimentos causados pelos desaires de Ricardo. Num momento em que Portugal procurava o empate, sofreu o terceiro golo em mais uma saída extemporânea do n.º 1 português.
O que se seguiu foi "classic Scolari": uma total falta de plano B, como se a derrota não fosse um cenário minimamente possível, e uma leitura de jogo absolutamente antiquada e ultrapassada. Foi, por isso, sem qualquer surpresa, que vi o tempo escoar-se sem que Portugal parecesse criar qualquer tipo de perigo. A saída de Nuno Gomes levou Ronaldo para o meio, mas Nani decide demasiadas, demasiadas vezes mal - levando à perda de bolas importantes naqueles momentos. A entrada de Postiga colocou Portugal a jogar num 4x2x4 assumido, com Meireles e Deco ao meio, mas para pouco mais serviu do que para equilibrar um pouco mais as contas finais. Portugal perdia por demérito próprio - como um dos jornais de hoje dizia, entregou o ouro ao bandido tímido.
Quanto a Scolari, confirmei o que vinha apregoando há algum tempo a esta parte. À medida que o núcleo duro de Mourinho se foi desvanecendo e se foi criando a necessidade de renovar (de forma competente) a equipa, esta foi perdendo mecanismos, qualidades e resultados. Como prova, basta dizer que Ronaldo não fez um Europeu fantástico, longe disso, pois a equipa raramente lhe dava os espaços necessários e que os resultados foram em constante declínio desde o Euro 2004 até hoje - final, semi-final, quartos-de-final. Com dificuldades na leitura de jogo, Scolari demonstrou mais uma vez que as suas equipas têm tendência para soçobrar nos momentos decisivos, muitas vezes por aparente falta de trabalho de casa, de observação e de treino metódico. A motivação é uma componente essencial da competição, sem dúvida alguma, mas não é, nem pode ser, a única. É por isso que alguns vencem mais vezes do que outros.
Resta agora ver se Holanda e Espanha, as duas restantes selecções do "bom futebol" mostram argumentos diferentes na hora da verdade.
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