No passado sábado, o Tottenham de André Villas-Boas derrotou o Manchester United no seu próprio reduto, algo que os Hotspurs não logravam há 23 anos - o que poderá vir a revelar-se decisivo para a equipa de AVB. Todos os golos dos Lilywhites tiveram origem na preocupante tendência patenteada pelo United de não estar à altura de adversários mais capazes, ao longo dos últimos anos (nomeadamente após a partida de Carlos Queiroz).
Com Carrick e Scholes no centro do terreno, e Nani e Giggs nas alas, o aparecimento de espaço no meio-campo defensivo do United previa-se frequente, mas a pavorosa exibição do seu meio-campo e defesa deverá estar a deixar Sir Alex Ferguson bastante preocupado. Nesse sentido, partir-se-á para a análise dos golos do Tottenham em maior detalhe, de modo a elucidar algumas das fragilidades dos Diabos Vermelhos.
- Golo n.º 1
Houve alguns padrões repetitivos ao longo do jogo, no que diz respeito ao posicionamento defensivo. Neste caso em particular, é possível constatar que tanto Carrick (verde) como Scholes (azul) estão afastados da zona da bola, incapazes de proporcionar uma cobertura defensiva adequada. As linhas amarelas tracejadas representam a "tabela" iniciada por Vertonghen (que viria a marcar o golo).
Jermaine Defoe (amarelo) leu o jogo na perfeição e deslocou-se imediatamente para a ala, desposicionando com isso Rio Ferdinand. A "tabela" permite a Vertonghen superar a ténue oposição de Nani.
O movimento de Defoe abre um enorme buraco no centro da defesa do Manchester United (área sombreada). Carrick (verde) e Scholes (azul) já estão atrasados e longe da posição ideal.
Mesmo ao fim de alguns segundos, Carrick (verde) e Scholes (azul) continuam atrasados em relação ao lateral-esquerdo do Tottenham, o qual teve de controlar a bola e resistir à oposição dos seus marcadores. Ferdinand hesita também e a área crítica do campo (área sombreada) na qual Vertonghen irá marcar permanece desprotegida.
- Golo n.º #2
O Manchester United acaba de perder a bola. Scholes (azul) não pressiona Dembélé (o portador da bola) nem oferece cobertura. A área sombreada representa o enorme buraco no meio que se abria frequentemente para os contra-ataques da equipa londrina. Gareth Bale (vermelho) começou próximo da sua área e acabaria por marcar o golo.
Dembélé passa facilmente por Scholes e nenhum jogador do Manchester United se aproxima para encurtar o espaço ou obrigar o Tottenham a deslocar-se para as alas. Gareth Bale já passou pelo seu "marcador" e tem campo livre à sua frente (área sombreada).
Uma vez mais, Defoe (amarelo) demonstra uma compreensão intuitiva do jogo e começa a fazer o movimento oposto, desposicionando Jonny Evans. Bale (vermelho) recebe a bola sem qualquer marcação e não há ninguém nas imediações. Scholes (azul) está já 5 metros atrás do seu adversário. O Tottenham criava facilmente uma situação de 2x2 em poucos segundos.
Mesmo ao fim de todo este tempo, Evra permanece bem aberto na ala, local em que não pode ser útil à equipa. Defoe (amarelo) prossegue o seu movimento e Bale (vermelho) ataca o espaço vagado pelo seu companheiro de equipa - movimento ofensivo típico. Note-se a distância entre o extremo galês e Ferdinand (laranja). Bale viria a ultrapassar o defesa-central inglês para marcar o segundo golo.
Com Evans fora da jogada, graças ao trabalho árduo de Defoe, Bale (vermelho) tem caminho livre à sua frente em direcção à baliza. Uma vez mais, nem Carrick, nem Scholes, nem Evra ou Rafael estão suficientemente próximos para ajudar. O golo de Bale foi facilitado em demasia e as equipas na Liga dos Campeões estarão atentas à oportunidade de castigar a abordagem defensiva do United.
- Golo n.º #3
O United acaba de perder a bola, uma vez mais. Dembélé ultrapassa facilmente Scholes (azul) e fica liberto de qualquer marcação.
Com Scholes já fora da jogada, Dembélé pode escolher o melhor passe. A área sombreada representa o enorme buraco que o United abriu novamente entre as linhas e como uma simples bola longa pode contornar todo o meio-campo do United.
Usando da máxima franqueza, esta jogada foi quase inenarrável. Ferdinand (laranja) é novamente desposicionado no seguimento do passe longo de Dembélé na direcção de Defoe. Carrick (verde) e Scholes (azul) não pressionam nem proporcionam cobertura. Como se não bastasse, Rafael (vermelho) parece continuar sem compreender alguns dos fundamentos básicos da sua posição e permanece em linha com Ferdinand e Evans, em vez de dar alguns passos atrás. Note-se como Bale se apercebe imediatamente desse facto e pede a bola no espaço, com o braço. Clint Dempsey (amarelo) dá por si sem qualquer marcação na área mais importante do terreno.
Defoe coloca à bola à frente de Bale para o remate deste último. Carrick (verde) e Scholes (azul) não oferecem qualquer resistência aos seus oponentes. Na área mais importante do terreno, Evans está só (área sombreada) contra três jogadores do Tottenham. Como seria de esperar, Dempsey não teve qualquer dificuldade em aproveitar a defesa incompleta de Lindegaard e marcar o terceiro golo do Tottenham no encontro.
- Conclusão
Se o Manchester United pretende apresentar uma candidatura séria ao título e/ou melhorar o seu rendimento na Europa relativamente às prestações catastróficas da época passada, convirá recorrer a um extensivo trabalho ao nível do posicionamento defensivo. Caso contrário, irá certamente sofrer às mãos de qualquer equipa que se mostre capaz de contra-atacar pelo centro. À medida que o tempo vai passando, é cada vez mais difícil de compreender ao certo o que leva Sir Alex Ferguson a insistir em deixar o seu meio-campo tão desprotegido.
No que ao Tottenham diz respeito, embora não tenha marcado nem contribuído com qualquer assistência, Jermaine Defoe foi fundamental para a vitória, conforme Michael Cox fez notar de forma tão pertinente. A sua movimentação inteligente foi essencial para arrastar os marcadores dos seus companheiros para fora das suas posições e deverá servir para mostrar que o trabalho de um ponta-de-lança envolve muito mais do que apenas inserir a bola na baliza.
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